Artigos de Associados

SAÚDE EMOCIONAL

2.6-Saúde emocional

Nelson Frederico Seiffert

 

2.6.1-O que é emoção

A emoção é um fenômeno complexo, multifacetado, que tem sido definido em muitas maneiras diferentes por diferentes psicólogos. A pergunta, o que é uma emoção depende para quem e quando é feita a pergunta. No linguajar do dia a dia, emoções são frequentemente concebidas como sentimentos, ou espécies particulares de experiências subjetivas, ou sensações corporais que são incluídas em muitas definições de psicólogos. A emoção tem sido caracterizada como reações expressivas, (tais como sorrisos), por reações fisiológicas (como aceleração de batimentos cardíacos), por ligar-se a um comportamento (fuga, ou procura de aconchego), por cognições (como sentimento de injustiça) e por suas funções (defesa por exemplo).

A maioria dos psicólogos concordam que experiências subjetivas, reações expressivas, reações fisiológicas, reações comportamentais, espécies particulares de cognições, compreendem o domínio do que consideram ser a emoção, mas não estão de acordo sobre quais destes componentes é o mais importante, e qual poderia ser usado para formar uma definição do que é a emoção. No entendimento de que é um fenômeno complexo, multifacetado, nenhum de seus componentes pode ser usado isoladamente para uma definição plena do que é emoção. Ao lado de considerar que a emoção consiste em uma experiência subjetiva, relacionada a reações fisiológicas, cognições, comportamentos, reações expressivas, as emoções precisam ser entendidas por suas funções, que tem elevado significado em conduzir nossa vida ao longo do tempo.

Segundo Cornelius (1996) a pesquisa da emoção em psicologia, discerne quatro perspectivas gerais para orientar como definir, estudar e explicar a emoção, a Perspectiva Darwiniana, Perspectiva Jamesiana, Perspectiva Cognitiva, Perspectiva Construtivista Social, Tabela1.

Tabela 1- Quatro tradições teóricas de pesquisa sobre emoção em Psicologia
Fonte: Cornelius, 1996

Outro pesquisador, Strongman (2004), em seu livro sobre “The Psychology of Emotion”, efetuou uma ampla revisão das teorias de diversos autores, que tratam o sujeito através de uma grande diversidade de perspectivas, que tentam explicar os processos envolvidos na expressão das emoções, podendo ser citadas: Teoria Fenomenológica; Teoria Fisiológica; Teoria Cognitiva; Teorias Ambiciosas; Teoria das Emoções Especiais; Teoria Desenvolvimentista; Teoria Social; Teoria Clínica.

A teoria das emoções teve suas origens na filosofia. Os assuntos relacionados ao tema têm evoluído significativamente e a interação entre a emoção e a cognição ganhou grande importância, e os psicólogos estão cada vez mais atentos ao trabalho de filósofos, sociólogos, antropólogos, linguistas, da área das neurociências, cujo desenvolvimento, afetam a forma como a emoção é estudada.

Uma longa tradição filosófica no ocidente, quase que negligenciou considerar a vida afetiva do ser humano. Nós somos, no entanto, seres emocionais e comovidos, seres de emoções. As emoções nos habitam antes de nosso nascimento e nos habitarão no momento de nossa morte. Possuem uma importância considerável para todos aspectos e em todos domínios de nossa vida.

São as emoções que nos tornam sensíveis ao mundo. Elas nos fazem povoar o mundo com outros seres, de coisas, sobre os quais nós somos sensíveis. São elas que preenchem nossos amores, nossas amizades, nossas intimidades, que enriquecem nossos pensamentos, que nos motivam e nos fazem agir, lutar ou renunciar. Elas irrigam nossas relações, nossas criações, nosso desejo de viver. Elas são a seiva do ser.

As emoções nos ligam aos outros. E porque nós estamos em contato permanente com os outros por nossa simples presença, pelos nossos sentimentos, por nossos corpos, por nossas criações, por nossas ações, por nossa memória (que permite evocar aqueles que já não estão mais presentes), de estar em ligação com pessoas ausentes, nós somos seres de relacionamento. Por sermos seres de relação, nós somos seres de apego, praticamos com alguns de nossas semelhantes ligações particulares de afeição, de amor de indiferença e igualmente de ódio. Através destas ligações nós somos frequentemente suportados e nos suportamos. Por estas ligações, uma parte de outras pessoas vive em nós e uma parte de nós vive em outras pessoas. Por estas ligações, nós compartilhamos frequentemente com outros, o peso da confrontação com o envelhecimento e a finitude (Gineste & Pellissier, 2014).

2.6.2-Neurofisiologia da emoção

O conhecimento corrente considera que existem mecanismos neurofisiológicos que estão subjacentes a maioria das emoções. Nosso conhecimento sobre o cérebro e o sistema nervoso tem evoluído significativamente nas últimas décadas. A Neurociência encontra-se entre as ciências que evoluiu mais rapidamente no conhecimento científico contemporâneo, e está bastante evidenciado que o sistema nervoso autônomo desempenha um papel importante na experiência da emoção.

O sistema nervoso está convencionalmente dividido em duas maiores áreas, o Sistema Nervoso Central, que inclui o cérebro, a medula espinhal, e o sistema nervoso periférico, o qual por sua vez, está dividido no sistema somático, que consiste nas fibras nervosas que transportam e recebem impulsos do cérebro aos músculos, e o sistema nervoso autônomo, que consiste em fibras nervosas que transportam e recebem impulsos do cérebro aos diferentes órgãos como o coração, pulmão, estômago, glândulas. Nervos periféricos também transportam informações dos órgãos dos sentidos, músculos e glândulas de retorno ao cérebro.

O sistema nervoso autônomo possui esta designação, porque seus vários componentes controlam as funções automáticas de glândulas e órgãos que são necessários a sobrevivência do indivíduo. Nós não temos, por exemplo, o controle consciente do comando do batimento cardíaco, do enchimento de nossos pulmões através da respiração. O sistema nervoso autônomo efetua estas operações para nós, e pode-se dizer, que ele mantém nosso corpo em estado de equilíbrio (homeostase) e constantemente ajusta o nível de atividade do nosso sistema de suporte da vida em resposta às demandas do ambiente.

O sistema nervoso autônomo é funcionalmente e anatomicamente dividido em dois sistemas, o sistema nervoso simpático e o sistema nervoso parassimpático. Convencionalmente, o sistema nervoso simpático parece servir para excitar os vários órgãos sob seu controle. Durante exercícios pesados ou em situação em que o indivíduo for subitamente surpreendido por um estímulo que induz ao perigo, é o ramo do sistema simpático que acelera o batimento cardíaco do coração. Responde como um todo, de forma que a maior parte dos tecidos inervados por nervos do sistema simpático são simultaneamente influenciados.

O sistema nervoso parassimpático, por outro lado, é usualmente considerado por exercer uma influência modulatória ou inibitória sobre órgãos excitados pelo sistema simpático. Faz com que o coração volte ao seu batimento normal após ter ocorrida a excitação que causou um aumento da frequência de batimentos cardíacos. No entanto não atua apenas em oposição ao sistema simpático, mas atua especificamente sobre outros órgãos, como no caso das glândulas lacrimais, que estão mais sob controle do sistema parassimpático.

A ativação pelo sistema simpático e parassimpático de órgãos que são inervados por ambos sistemas, pode ter efeitos muito diferentes e não necessariamente opostos. Em contraste ao sistema simpático, o parassimpático tipicamente exerce sua influência individualmente sobre órgãos alvo, e não induz uma reação geral na maior parte dos tecidos e órgão inervados, como no caso do sistema simpático.

Os sistemas nervosos, simpático e parassimpático, são o “hardware” que torna possível tipos de alterações corporais que são consideradas como componentes essenciais da emoção. É bem conhecido que, o sistema nervoso autônomo, particularmente o ramo do sistema simpático, e com isto, as vísceras (coração, pulmão, fígado, etc.) respondem como um todo durante situações que envolvem situações de estresse agudo ou de perigo. Também tem sido constatado que diferentes emoções são acompanhadas por diferentes padrões de resposta corporal e que, provavelmente, corresponde a necessidades específicas do corpo, quando se encontra em uma situação particular de emoção. Tais padrões ocorrem contra cenários de fundo de mais “ativação simpática difusa”, que acompanha a resposta do corpo a muitos tipos de diferentes situações, que reclamam por algum tipo de ação por parte do indivíduo (Cornelius, 1996).

2.6.3-Saúde emocional e psicologia das emoções

De acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde) a saúde emocional é um estado de bem-estar onde o indivíduo realiza suas próprias habilidades, lida com os fatores estressantes normais da vida, trabalha produtivamente e é capaz de contribuir com a sociedade.

O cérebro é o centro do controle do movimento, da fome, do sono, da sede e de quase todas as atividades vitais necessárias à sobrevivência. Todas as emoções, como o amor, o ódio, o medo, a ira, a alegria e a tristeza, também são controladas pelo cérebro. Ele está encarregado ainda de receber e interpretar os inúmeros sinais enviados pelo organismo e pelo exterior. O envelhecimento satisfatório não é apenas uma necessidade humana, mas depende da forma como os indivíduos conduzem o processo de envelhecimento. Em princípio, medidas de auto-gestão contribuem para o quadro individual de saúde corporal e psíquica ao longo de toda a vida, mas em geral, as pessoas apenas efetuam controles preventivos ou tratamento, quando afetados por algum problema específico.

Pessoas idosas são por regra geral atingidas por perdas de recursos, sejam financeiros, sociais ou em diversos campos da saúde funcional física ou psíquica. Neste aspecto é importante a pessoa considerar necessária uma abordagem ampla de autogestão, direcionada a manutenção de suas aptidões gerais, funcionalidades orgânicas e psíquicas e adoção de medidas que contribuam para o seu bem-estar, inclusive o bem-estar emocional. No entanto, este tipo de intervenção, previsto pela Gerontologia Aplicada, é ainda pouco comum, e é possível propor programas que incorporem aspectos gerais de auto-gestão direcionados a manutenção da saúde, autonomia e do bem-estar psíquico e emocional (Steverink, 2012).

Para este objetivo concorre um importante campo de estudos e pesquisa abrangido pela Psicologia das Emoções, que trata do estudo científico das emoções (Srongman, 2004).

Uma emoção é um estado mental e fisiológico associado a uma ampla variedade de sentimentos, pensamentos e comportamentos. Trata-se de um primeiro fator determinante do sentimento de bem-estar subjetivo e parece desempenhar um papel central em muitas atividades humanas. Resultante desta importância, o tema vem sendo explorado, em muitas, senão na totalidade das ciências humanas. Existe, contudo, muita controvérsia sobre como as emoções são definidas e classificadas. A palavra emoção deriva do latim “emovere”, que significa, e: para fora, movere passar”.

Muitos pesquisadores distinguem sentimento de emoção, onde sentimento refere-se à experiência subjetiva da emoção. Alguns pesquisadores acreditam que emoções podem ocorrer inconscientemente, e, portanto, que a emoção é um fenômeno mais geral do que sua sensação subjetiva. Uma segunda distinção incide sobre a diferença entre a emoção e a causa da emoção. Alguns teóricos argumentam que pelo menos algumas emoções podem ser causadas sem qualquer pensamento prévio ou atividade cognitiva e apontam para reações imediatas a um estímulo externo como o medo, a uma ameaça à segurança, a percepção de um odor familiar, etc. Há um debate entre fundamentos cognitivos e não cognitivos sobre o processo de formação das emoções. A teoria somática da emoção alega que respostas corporais são essenciais para emoções e que podem ser constatadas por provas neurológicas. Argumenta-se que a experiência emocional é, em grande parte, devida à experiência de mudanças corporais, que poderiam ser viscerais, posturais ou expressas por reações faciais. Consideram que o evento de uma nova situação conduz a um estado corporal alterado. A percepção destas mudanças corporais leva a manifestação de emoções como choro, culpa, ciúme raiva, irritação, etc. As teorias que argumentam que a atividade cognitiva, sob forma de decisões, avaliações ou pensamentos precedentes é necessária para que ocorra uma emoção consideram o fato de que as emoções são sobre alguma coisa ou têm intencionalidade, podendo a atividade cognitiva ser consciente ou inconsciente.

Muitas disciplinas diferentes têm produzido trabalhos sobre emoções e incluem a psicologia, a neurociência, sociologia, psiquiatria, antropologia, etologia, arqueologia, economia, criminologia, direito, ciência política, história, geografia, educação, filosofia, linguística, literatura, comunicação.

http://redepsicologia.com/psicologia-das-emocoes

2.6.3.1-Neuropsicologia e o comportamento emocional

No campo de estudos da Psicologia das Emoções a Neuropsicologia é a ciência que pesquisa a relação entre o cérebro e o comportamento humano. Tem como objetivo estudar e compreender o comportamento humano considerando o funcionamento das diversas estruturas e áreas do sistema nervoso. Estuda as funções corticais superiores, como a atenção, a memória, a linguagem, o raciocínio lógico-matemático, a percepção visual, as funções executivas, entre outras funções cognitivas.

A Neuropsicologia considera “a participação do cérebro nessas funções mentais como um todo, no qual as áreas são interdependentes e inter-relacionadas, funcionando comparativamente a uma orquestra, que depende da integração de seus componentes para realizar um concerto musical”.

Após a década de 90, chamada de Década do Cérebro, os avanços tecnológicos possibilitaram os estudos de neuroimagem associados ao comportamento, o desenvolvimento de técnicas de reabilitação e a divulgação científica por meio de diversas mídias. Esses fatores, associados ao aumento da formação e capacitação de psicólogos na área, são fatores que promoveram uma maior visibilidade da Neuropsicologia como se observa atualmente.

As pessoas, quando se encontram numa determinada situação extrema de condição emocional, sua percepção tende a variar de acordo com a experiência por elas vivenciadas. Pode-se dizer assim, que os processos mentais, memória e outros aspectos podem influenciar a interpretação dos dados percebidos. Na área de estudos sobre a Neuropsicologia, a função cerebral que atribui significado a estímulos sensoriais tem como base a percepção, através de vivências passadas. A partir do estímulo sensorial, o indivíduo organiza e interpreta as suas sensações para atribuir significado ao meio em que está envolvido. A percepção pode ser estudada precisamente a nível biológico e fisiológico.

Na Psicologia, o estudo da percepção é de extrema importância porque o comportamento das pessoas é baseado na interpretação que fazem da realidade e não na realidade em si. Neste contexto, a percepção do mundo é diferente para cada um de nós, cada pessoa percebe um objeto ou uma situação de acordo com os aspectos que têm especial importância para si própria. Determinados especialistas na área da Psicologia, defendem que, ao deslocar-se ao longo do curso de vida, as pessoas criam um “modelo mental” de como funciona o mundo. Ou seja, um mapa sensorial que o modelo provoca na mente, mas que é temporário, pois somos constantemente bombardeados por novas informações. A medida que acumulamos novas informações.A nossa percepção tende a se alterar.

O processo de percepção inicia essencialmente com a atenção. Os fatores externos mais importantes da atenção são a intensidade, ou seja, a nossa atenção é particularmente despertada por estímulos que se apresentam com grande intensidade ou contraste. Isto significa que a atenção será muito mais estimulada quanto maior for o contraste existente entre estímulos.

Os fatores internos que mais influenciam a atenção são a motivação, ou seja, ponderamos mais as situações que nos motivam e nos dão prazer do que as que não nos interessam. A vivência passada, algo já percepcionado, faz com que estejamos mais atentos ao que já conhecemos e entendemos. O fenômeno social que explica que a nossa natureza social faz com que as pessoas de contextos sociais diferentes não prestem a mesma atenção aos mesmos objetos.

A complexidade das emoções reside no significado que atribuímos às pessoas, aos acontecimentos e aos lugares, que depende de nossos valores, princípios e da nossa história pessoal.

http://esad.ipleiria.pt/PDMIII/3080031/sitegrupo/investigação/neuropsicologia.ht

2.6.4-Autocontrole e bem-estar psíquico

Quando as pessoas envelhecem são confrontadas por modificações e perdas, as quais podem ser uma ameaça para a saúde e bem-estar psíquico. Está bastante estabelecido pelos estudos e pesquisas, que as medidas de autocontrole destas mudanças dependem da capacidade individual e da forma como estas intervenções são conduzidas. Esta capacidade individual de autocontrole e gestão emocional varia entre os indivíduos e pode ser melhorada sensivelmente por medidas de intervenção. A maneira de apoiar pessoas idosas para se manter em boas condições psíquicas significa em primeiro lugar estimular a aptidão da pessoa idosa para zelar pelo seu bem-estar, e em segundo lugar, orientar as pessoas na realização de um treinamento de autogestão do envelhecimento.

No campo psíquico estão disponíveis diversas intervenções de autogestão que estão orientadas para que as pessoas possam lidar com determinados problemas crônicos que estão afetando a saúde corporal, como no caso de reumatismo e diabete.

Na visão da autogestão, dois aspectos são considerados relevantes, além de o indivíduo ter que lidar com o tratamento da própria doença. Primeiro é considerado com clareza, que pessoas idosas não precisam estar em plenas condições de saúde para lidar com problemas específicos de saúde, e que, simultaneamente precisam atender inúmeras exigências psíquicas, sociais e materiais do dia a dia. Por conseguinte, as capacidades de auto-gestão são necessárias para atender estes diversos desafios.

Em segundo lugar, as perdas pelas quais as pessoas são confrontadas trazem dificuldades para o processo de autogestão. Com isto as demandas tornam-se mais difíceis de atender, as habilidades para sua consecução se reduzem e o questionamento que se faz é o que deve ser feito nestas condições.

O envelhecimento implica em geral na redução das reservas e de recursos individuais em diversos campos (saúde, financeiros, sociais) e precisam de fortalecimento para compensação destas perdas. Por exemplo, a perda de papéis sociais pode exercer uma influência negativa sobre a disposição de procurar relacionamentos, que por sua vez deprime a motivação do indivíduo e influencia a sua saúde psíquica. Isto pode então conduzir a uma perda subsequente de recursos ligados a atividades sociais.

Neste caso, uma pequena perda relativa ligada a um determinado papel social pode levar a uma espiral de comprometimento de perdas de outros recursos no campo das condições psíquicas.

A redução das reservas gerais de recursos de saúde torna as pessoas idosas, em seu conjunto, mais vulneráveis física e psiquicamente e reduz também suas habilidades para a autossuficiência. É o caso por exemplo, da pessoa que sofre redução de mobilidade, o que passa a restringir sua capacidade de sair de casa, o que pode levar ao isolamento e solidão. A solidão por sua vez, conduz a sintomas de depressão que afetam a motivação para agregar novas formas de mobilidade e com isto, desenvolver oportunidades de relacionamento.

Como consequência, as pessoas perdem o impulso e a iniciativa para agir. Seu horizonte de tempo se reduz, a disposição para investir em atividades diminui e reduz-se o sentimento de autoconfiança e autogestão sobre aquelas competências para as quais precisa manter-se ativa na condução das tarefas do seu dia a dia. Em seu conjunto as modificações relacionadas ao envelhecimento podem se acumular e interagir na redução da capacidade de autogestão, exatamente no momento em que esta capacidade for especialmente demandada.

O que os estudos demonstram é que as pessoas podem se beneficiar de intervenções de autogestão, que não apenas estejam concentradas sobre problemas específicos de saúde, mas focados em aspectos centrais do bem-estar, os quais conduzem a manutenção ou recuperação das habilidades que estão ligadas a autonomia e satisfação com a vida, ainda que afetadas por inabilitações decorrentes do envelhecimento. O que então, as pessoas idosas necessitam fazer, para conduzir um processo de autogestão do seu processo de envelhecimento na busca do bem-estar e como podem ser capacitadas para isto?

Como uma primeira exigência, direcionar a sua atenção para seus problemas psicossociais, além de apenas direcionar o foco para seus problemas de saúde corporal. Existem evidências de que a condução de intervenções ligadas a auto regulação psíquica traz melhoras sobre efeitos da depressão e solidão, atua sobre indicadores do bem-estar psíquico, satisfação com a vida e autoconfiança.

Pelo fato de que as pessoas desejam manter o controle sobre a sua própria vida e bem-estar o maior tempo possível, o apoio a pessoas idosas através de intervenções que ofereçam treinamento para capacitação em autogestão são uma ferramenta valiosa para a manutenção de sua saúde física e psíquica. Os dados mostram que o apoio de intervenções orientadas psicossocialmente ajuda a poupar recursos e são consideradas estratégias para prevenção e melhora da saúde de pessoas idosas. Isto também significa de que pessoas ainda em idade jovem devam apreender e passar a conduzir adequadamente a gestão de seus recursos pessoais. Quando envelhecerem, terão a possibilidade, pelo aprendizado realizado, de melhor gerir a manutenção de seus recursos de saúde e serão os gestores de seu próprio bem-estar na fase de envelhecimento (Steverink, 2012).

A proposição de orientações gerais de autogestão aplica-se a maioria das faixas etárias, embora algumas pessoas encontrem-se em estágios onde é indispensável a interferência de um profissional, mas quando não for o caso, pode-se evitar que muitos problemas surjam no decorrer do curso de vida, se forem adotadas no dia a dia. São exemplos de comportamentos que atuam no autocontrole e bem estar psíquico: melhore o pensamento; seja otimista; faça o que você gosta; evite o isolamento; tenha sonhos e objetivos.

Melhore o pensamento. O pensamento atua como o ponto de partida. Pensamos, sentimos e depois exteriorizamos. Nossas emoções vêm do pensamento. Se alimentarmos hábitos negativos, pensamentos negativos, eles irão com o tempo se tornar uma realidade, seja através de palavras e ações. Se você quiser alcançar saúde mental e emocional evite o negativismo.

Seja otimista. Adote pensamentos de esperança e otimismo, mesmo quando a situação não for favorável. Lembre-se que este é um processo diário e que deve ser mantido em todos os segmentos, seja no lar, no trabalho ou em sociedade. Da mesma maneira como ficamos viciados com o negativismo, isto também acontece com o positivo, basta praticar. Faça o que você gosta. É preciso ter satisfação na vida. Ela é uma emoção que faz com que a pessoa sinta bem-estar, seja para si mesma ou pelos outros. Manter um hobby, desenvolver uma atividade física, sair com os amigos ou com a família, todos são hábitos que geram satisfação e vontade de desfrutar os pequenos prazeres da vida.

Evite o isolamento. A solidão é uma experiência que deve ser vivida dentro de seus limites e exige uma grande maturidade para ser experimentada sem danos. Mesmo que a pessoa aprecie momentos de solidão, nunca deverá deixar ultrapassar uma certa normalidade. Procure pessoas, faça amigos, esteja com pessoas, converse, procure se distrair.

Tenha sonhos e objetivos. Os sonhos alimentam nossa alma, faz a pessoa ter vontade de viver e ter predisposição para a felicidade. Pense no que você quer conquistar, anote suas metas, estabeleça prazos. Ocupe-se com seus sonhos e corra atrás deles. Na verdade, existe muitas formas de prevenir problemas de ordem mental e emocional. O que importa é ter a consciência de que o cuidado é a chave para uma boa saúde, seja corporal, psíquica ou emocional.

2.6.5-Intervenção na depressão

Depressão são perturbações psíquicas, nas quais os danos manifestam-se por falta de disposição para desenvolver atividades, perda da alegria de viver, vazio emocional, perda de interesse e surgimento de fadigas corporais que tendem a ocorrer simultaneamente.

Em pessoas idosas os sintomas da depressão não são fundamentalmente distintos daqueles que ocorrem em pessoas mais jovens. No entanto, pela probabilidade de estar incidindo juntamente com outras doenças corporais e em uma fase natural de desconstrução cognitiva pelo envelhecimento, o seu diagnóstico torna-se mais difícil.

Em pessoas idosas, muitas vezes certos sintomas corporais como perturbações do sono, disfunções gastrointestinais, deficiência de memória, medo, são formas sintomáticas que acompanham o quadro clínico da depressão. Existem inúmeros estudos que mostram que deficiências corporais como redução hormonal, desconstrução cerebral e doenças neurológicas se encontram associadas a depressão. O diagnóstico que separa os limites entre uma doença degenerativa de uma depressão é, portanto, dificultado.

Para a caracterização de perturbação depressiva em idosos, contribuem fatores como episódios depressivos anteriores, medo de falta de apoio, manifestação de queixas, déficit cognitivo, falta de atenção e de orientação, falha em testes de desempenho, acordar com pensamentos pessimistas, vacilação e falta de equilíbrio, redução da iniciativa, perturbações do apetite e pensamentos de morte.

Na população acima de 70 anos ocorre uma prevalência de depressão de 9% a 10%. Diagnósticos subclínicos e com menor precisão de avaliação detectam depressão em 18% a 20%. Em interação com outras doenças crônicas, e em pessoas debilitadas, com 75 anos ou mais, o número eleva-se para 35% a 40%. Em regra, as formas de depressão mal diagnosticadas são tratadas de forma errônea, o que pode levar a se tornar crônica e contribuir para a piora de outras perturbações corporais. Com a piora depressiva as tendências de suicídio se elevam. Para evitar situações avançadas de depressão o tratamento envolve o uso de antidepressivos, hormônios, corticosteroides e medicamentos adotados no tratamento da doença de Parkinson.

O risco para o desenvolvimento da depressão no envelhecimento eleva-se quando um episódio depressivo atingiu o indivíduo anteriormente, como a incidência de uma doença e a ocorrência de restrição funcional. Perdas recentes de pessoas próximas, de papéis sociais, incapacidade de execução de tarefas e funções, favorecem a depressão. Pessoas com interesses reduzidos, com baixa atividade física e sem objetivos relacionados a atividades sociais são mais predispostas a depressão. São mais susceptíveis pessoas que detém pouca flexibilidade e concepções rígidas, são perfeccionistas e tem uma visão fatalista, o que faz com que tenham dificuldades de se adaptar a modificações no modo de vida que são impostas pelo envelhecimento.

O conceito desenvolvido para o tratamento da depressão propõe o aconselhamento como forma de fortalecimento psicológico para redução dos sintomas. O aconselhamento positivo é efetuado através da busca de influenciar o pensamento da pessoa depressiva. Esta teoria fundamenta-se na intervenção psicológica e está de acordo com a teoria que orienta uma forma de envelhecimento exitoso. É denominado de “Otimização Seletiva com Compensação” –SOK, proposto por Baltes & Baltes, 1990, citado por Hautzinger, (2012). A Seleção foca na escolha, na mudança de objetivos e no modo de conduta ou atitude individual. A Otimização baseia-se no fortalecimento e gestão de meios e recursos individuais orientados a objetivos. A Compensação objetiva a consecução de treinamento para uso de novos meios substitutivos ou de atuação.

A partir do conhecimento desenvolvido e estudos teóricos realizados foi possível estabelecer um programa para intervenção psicológica de perturbações depressivas em idosos. O programa foi proposto para ser desenvolvido para trabalho em grupo, pode ser adaptado através de uma estrutura de módulos, os quais podem variar em função dos diferentes problemas depressivos identificados, abrangendo etapas: aprendizado; delimitação dos problemas; formulação de objetivos para o grupo alvo; definição de tarefas como a condução de um protocolo diário de atividades; a complementação da lista de problemas e objetivos.

Um exemplo de intervenção psicológica (Psicoterapia) em grupos, usando uma estrutura de módulos é apresentada abaixo:

Módulo 1
Duas a três seções em sala de aula
Cumprimentos, se conhecer, mediação conciliatória, problema, análise de objetivo


Cumprimento e apresentação. Estabelecer subgrupos. Explanação individual da experiência pessoal de cada participante e de sua compreensão sobre a depressão. Trabalhar as explanações para evidenciar a espiral depressiva, sua interação com pensamentos, sentimentos, conduta, com foco em exemplos. Levantar a importância da prática de exercícios de controle da depressão dentro e fora da sala de aula. Estabelecer uma lista de problemas para cada um dos participantes, estudar e estabelecer os limites dos problemas. Formular objetivos para o grupo. Tarefa de casa (disposição para executar tarefas, conduzir um protocolo diário, definir problemas e complementar a lista de objetivos).


Módulo 2
Três a seis seções em sala de aula
Atividades diárias agradáveis e sua ação sobre a disposição


Troca de experiências para um protocolo diário para uma boa disposição. Introdução do tema “Atividades e Sentimentos”, bem como sobre o significado de tarefas diárias agradáveis. Preenchimento de uma lista e valoração de atividades agradáveis e incluir estes temas agradáveis no dia a dia. Manter atividades e tarefas diárias. Definir os fundamentos para reconhecimento da má disposição. Buscar estabelecer suporte para “um dia anormal”, ou seja, a troca de tarefas e incluir tarefas agradáveis. Desenvolver um plano semanal e estabelecer consigo mesmo “um acordo” para desenvolver atividades agradáveis. Protocolo de atividades: conduzir um plano semanal, incluir na lista pessoal um aumento da quantidade de tarefas agradáveis na agenda diária. Introduzir o tema “pensar e sentir”. Plano semanal de tarefas de casa: plano semanal, protocolo de disposição, protocolo de condução de tarefas diárias.


Módulo 3
Duas a três seções
História de vida e reminiscências


Apresentação, relato de sua própria história de vida, suas experiências, crises, as experiências positivas e negativas ao longo do curso de vida, infância até a velhice. Nela situa-se o ponto central das boas experiências e o que foi alcançado de bom e obtido êxito. As boas experiências e os objetivos não alcançados na condução da vida são ordenados em uma lista.


Módulo 4
Três a seis seções
Pensamentos positivos e negativos que influenciam o julgamento e o entendimento do estado de saúde


Introduzir o tema “Pensar e Sentir”. Reconhecer pensamentos negativos e denomina-los, achar pensamentos positivos. Fazer uma lista de pensamentos positivos e exercitar a lista de pensamentos positivos. Adotar uma técnica de controle de pensamentos. Quebrar pensamentos negativos. Elevar os pensamentos positivos através de cartões dispostos no ambiente para sua lembrança frequente, o que leva a um maior controle de estímulos. Tarefas de casa: protocolo de estímulos, protocolo de tarefas diárias, revisar os cartões de pensamentos positivos. Incorporar técnicas de controle de pensamentos. Apreender meios para mudar pensamentos que alcancem (se anteponham) a pensamentos negativos. Técnica pensamento sentimento (EbG-Technik). Treinar este protocolo que procura pensamentos alternativos e sua ação sobre o entendimento do julgamento do estado de saúde.

Valoração da experiência com a técnica e introdução no tema “Competência Social e Opinião”. Entendimento do que é mais seguro ou menos seguro. Em que medida é possível manter uma conduta segura. Reconhecer falhas de conduta. Tarefa de casa: protocolo de disposição, e de tarefas diárias. Exercitar o protocolo EbG. Auto-observação de um comportamento social inseguro.


Módulo 5
Três a seis seções
Apreender conduta social competente


Auto-observação de conduta social insegura e nela recuperar e sumarizar os resultados do módulo 4. Trabalhar situações típicas para conduta social insegura. Desempenhar papéis no grupo. Relatório/apresentação de condutas efetuadas. Treinar melhoras. Apreender autoconfiança através de exercícios e administração de problemas. Conduzir papéis (teatro). Dar relatórios. Experimentar melhoras. Controle da disposição. Treinar autoconfiança em diferentes situações. Estabelecer novos contatos. Exercitar a simpatia. Exercitar e desempenhar jogos de papéis. Trabalho de casa: protocolo de disposição e de confiança em situações sociais. Agregar novos contatos.


Módulo 6
Duas a três seções
Tempo para o fim do programa. Passos adiante e incorporação de bons resultados


Relato das tarefas de casa e experiências, recuperação e sumarização do módulo anterior. Olhar para trás e verificar o atingimento de objetivos e refletir sobre os passos adiante. Como posso eu guardar o que aprendi e assegurar sucesso, lidar com crises, organizar-me para crises (plano de emergência). Relatório e crítica do programa grupal. Agradecimentos e encerramento.


Atualmente é considerado que perturbações depressivas em pessoas com idades avançadas podem ser tratadas com perspectivas de sucesso através de intervenções psicológicas. Falta no entanto, um maior volume de estudos terapêuticos baseados em pesquisas de longo prazo e diferentes métodos de controle. Ainda não está claro quais tipos de pacientes idosos se beneficiam especialmente de terapias de conduta cognitiva, quais complementações medicamentosas precisam ser adotadas e em quais pacientes uma psicoterapia é contraindicada. Para estas questões os trabalhos de pesquisa até o presente possuem apenas indicações preliminares, embora sejam encorajadoras para oferecer apoio ao paciente idoso depressivo.

2.6.6-Intervenção em perturbações causadas por medo

Para caracterização da perturbação por medo é necessário um diagnóstico cuidadoso. Nem todos os sintomas de medo preenchem o critério de uma perturbação ligada ao medo, mas uma reação a diferentes motivos que se ligam ao envelhecimento.

A prevalência de perturbações do medo é difícil de se caracterizar, já que os dados epidemiológicos mostram bastante variabilidade, sendo mais frequentes ocorrências genéricas.

A forma terapêutica de tratamento do medo é medicamentosa. Quando for conduzido um tratamento psicoterapêutico, então, por regra, é escolhida uma terapia cognitiva. O foco central é a quebra da manutenção da perturbação e o procedimento terapêutico deve ser estabelecido para condições individuais da pessoa afetada.

Com o avanço da idade é frequente para muitas pessoas a preocupação com sua própria saúde e surgem pensamentos sobre a finitude, ocorrem perdas de pessoas amadas e a confiança sobre o seu ambiente e seus recursos passa a diminuir afetando sua autoconfiança. Todas estas experiências podem ligar-se a sentimentos de medo, que em pessoas idosas deveriam ser examinadas sobre suas fundamentações que podem ser nominados como:

-Estar ligados a uma doença corporal.
-Efeito colateral decorrente do uso inadequado de medicamentos.
-Como sintoma de uma perturbação específica, como perturbação de pânico ou medo de estar sozinha (agorafobia).
-Não ser específica, mas generalizada e ligada a impossibilidade de solução.

Para caracterização da perturbação é necessário que sejam formuladas perguntas ao paciente e de cujas respostas é possível adotar medidas adequadas de controle do medo. Intervenções psicoterapêuticas são então aplicadas quando a perturbação se matem em sua intensidade e não mais sejam reguláveis e poderem ser tratadas para sua eliminação.

Medos intensivos e clinicamente relevantes não são raros em pessoas idosas, embora sintomas subclínicos sejam manifestações mais frequentes. A frequência para tais manifestações é muito variável e a prevalência média atinge cerca de 20% de pessoas idosas e as mulheres são mais afetadas que os homens e sua ocorrência é mais frequente em pessoas com idades entre 65 a 75 anos. Perturbações atuam raramente sozinhas, mas junto com diversas morbidades, sobretudo associadas a depressão e pânico.

A ocorrência prévia de uma perda afetiva é um fator de risco para o desenvolvimento de uma perturbação por medo. Outros fatores de risco para o desenvolvimento clínico são, sobretudo, doenças, más condições corporais gerais ligadas a restrições funcionais. Somam também ocorrência de perdas e falta de apoio social, rupturas críticas e solidão podem levar a perturbações por medo.

Com fatores psicológicos de risco estão a baixa autoestima a baixa competência para reação para o domínio do medo.

A maioria das perturbações do medo no grupo de pessoas idosas é tratada por medicamentos. Muito frequentemente são receitados “Benzodiazipina”, a qual age sobre as perturbações do medo, mas leva ao risco de dependência, que justamente é constatado em pessoas idosas. Também medicamentos que são usados em doenças depressivas podem ser empregados no tratamento do medo, como por exemplo “Duloxetin” ou a anticonvulsivos como “Pregabalin”. Estes medicamentos são aplicados de forma mais intensiva em situações de medo não identificadas e para formas generalizadas de perturbações por medo.

Apenas em uma parte de idosos com perturbações é necessária uma intervenção por ajuda psicoterapêutica por poder estar correlacionada a um conjunto de fundamentações como:

-Deve ser considerada a comorbidade associada a outras doenças psíquicas, sobretudo depressão e também doenças físicas.
-Em muitos casos os sintomas estão cronificados.
-Com o avanço da idade pode ocorrer uma redução da capacidade cognitiva, de forma que para passos específicos da terapia será necessário incluir um plano de tratamento mais alongado.
-Jovens e idosos são afetados por características diferentes do medo, o que influencia a forma de terapia. Por isto são utilizadas diferentes formas de questionamentos existenciais e experiências de perdas em idosos, os quais estão no princípio da vivência do medo, o que é distinto, no caso de pessoas jovens.
-Pessoas idosas apresentam outras exigências para suporte da terapia, cuja perturbação, por exemplo, pode estar ligada a conflitos familiares.
-Para pessoas idosas uma terapia transparente, estruturada, orientada a objetivo é importante para a redução ou eliminação da perturbação e manter esta condição modificada.

A intervenção psicoterapêutica mais frequente no medo em idosos é a “Terapia de Conduta Cognitiva” (KVT- Kognitive Verhaltung Terapie) que preenche critérios de estruturação e transparência e é conduzida em diversas etapas e passos sucessivos:

1-Psicoeducação sobre a perturbação.

Informações sobre o quadro da perturbação são levantadas e mediadas, tendo por objetivo melhor ordenar os sentimentos próprios do medo e reforçar a normalização da vivência subjetiva. Os pacientes são orientados a observar e registrar seus próprios sentimentos de medo e com respeito aos efeitos fisiológicos dos pensamentos, e de sua conduta sobre o seu controle. É esperado que seja possível estabelecer um objetivo de terapia pessoal.

2-Treinamento de descontração.

O aprendizado de medidas de desconcentração é um meio conhecido de combate ao medo. O relaxamento progressivo da musculatura é a melhor forma de controle, domínio, o qual é fácil de ser aprendido pelos idosos e que pode apresentar uma ação eficaz e fácil de ser vivenciada.

3-Reestruturação cognitiva.

Sobretudo devem ser introduzidas auto verbalizações orientadas ao domínio do medo considerando avaliações e valorizações que ajudem a reduzir os sentimentos de medo. Neste caso podem ser adotadas as estratégias KVT (Terapia de Conduta Cognitiva) como “técnicas de corte” dos sentimentos de medo. Esta também pode ser adotada como medida preventiva. Todas estas medidas devem ser conduzidas da forma mais concreta possível e usadas como meios de ajuda para trazer descontração e regularização cognitiva da pessoa idosa.

4-Treinamento para solução de problemas específicos.

Um apoio orientado a objetivo para o domínio racional de problemas do dia a dia pode ser adicionado, para solucionar e eliminar sentimentos potenciais de medo.

5-Ativação de recursos.

Deve ser dada atenção na terapia a uma ativação do uso de recursos individuais previamente disponíveis e também o uso de competências disponíveis. Para as perturbações de medo no método KVT são colocados diversos pontos principais. Em diversos problemas o ponto central situa-se no estabelecimento da conduta, que deve recuar para o ponto de eliminação de situações potenciais de medo. Aqui coloca-se a questão sobretudo de exercícios, os quais buscam selecionar as situações de causa do medo, em graus de graduação de dificuldade. Com isto são selecionadas áreas que podem ser levantadas e atacadas para sua eliminação. Em todos os exercícios de confrontação, a terapia serve a pessoa como um modelo de confrontação, com o qual os pacientes aprendem a se adequar a seus próprios medos, a conduzir concretamente seu controle e a superá-los.

No tratamento da forma de medo generalizado estão disponíveis em primeiro lugar estratégias de reestruturação cognitiva comportamental que deve ser aplicado através de avaliação apoiada na realidade. Como nas outras perturbações do medo o exercício de descontração tem um significado especial, para que seja possível proteger o paciente de efeitos corporais adversos resultantes do sentimento de medo.

É importante que ocorra uma adaptação flexível das medidas terapêuticas às possibilidades individuais de pacientes idosos, algo como um aprendizado e uma ajuda a memória (Kämmerer, 2012).

2.6.7-Intervenção através psicofármacos

Perturbações afetivas, em especial depressão, pertencem as mais frequentes doenças na população. Exatamente em idade avançada ocorre uma maior incidência de sintomas depressivos. A depressão em pessoas idosas, não raro, é um diagnóstico isolado, mas está associado a sintomas justapostos de outras doenças ou inabilitações que são trazidas pelo processo de envelhecimento. Podem estar também associados sintomas de doenças somáticas ou sintomas benignos de demência.

Apenas, através de um diagnóstico acurado é que podem ser adotadas medidas de terapia adequada e que podem incluir intervenções psicofarmacológicas. A prescrição de psicofármacos para pessoas idosas deve merecer atenção, porque a depressão em idosos pode estar associada a uma maior vulnerabilidade decorrente de doenças corporais e a possibilidade de efeitos colaterais que comportam riscos. Há consenso de que os modernos psicofármacos podem levar a redução dos efeitos depressivos e assegurar o seu não retorno, e que influenciam beneficamente a qualidade de vida de pessoas idosas.

As perturbações depressivas pertencem as doenças psiquiátricas mais frequentes e tem um a prevalência de até 15% em idosos, cuja incidência de sintomas depressivos eleva-se com a idade e os dados indicam que tende a se ampliar, enquanto que a prevalência de perturbações por medo oscila entre 2% a 19%. A pratica do tratamento farmacológico de perturbações por medo e de outras incidências afetivas que causam perturbações psíquicas no envelhecimento envolve em grande parte o tratamento da depressão.

As perturbações causadas por depressão no envelhecimento, difere do que ocorre em pessoas jovens. Mais frequente são relatados, perturbações do sono, déficit cognitivo, perturbações de concentração, perda de memória, inabilidade de aprendizado de novas coisas e que pode manifestar-se através de uma demência pseudo depressiva. Manifestação de formas somáticas e queixas de dores não específicas, mas também doenças reais podem encobrir sintomas característicos depressivos, o que pode dificultar ou levar a um diagnóstico falho. Por haver um elevado risco de suicídio em idosos depressivos, o reconhecimento e o tratamento de doenças funcionais que estão incidindo na manifestação do estado depressivo tem elevada importância.

Quando a depressão for diagnosticada, estão disponíveis uma grande variedade de métodos psicoterápicos e diversas possibilidades de intervenção farmacológica. Em pacientes idosos a fisiologia do organismo sofre modificações, o que leva a uma perda de tecidos de componentes bioquímicos que afetam as funções do fígado, rins, nível de gordura, distribuição muscular, havendo uma metabolização distinta de substâncias. No tratamento da depressão, isto significa uma verificação cuidadosa da dosagem e da observação de efeitos colaterais. Além disto, medicamentos usados para o tratamento de outras doenças corporais em idades avançadas, podem também estar induzindo sintomas de depressão e precisam ser previamente checados.

As possibilidades de intervenções psicofarmacológicas no tratamento da depressão usam mais frequentemente medicamentos antidepressivos de diversos princípios ativos. Estes agem através de diferentes produtos farmacológicos que influenciam no cérebro o mecanismo neurotransmissor e sobre o desequilíbrio da Serotonina, Noradrenalina ou Dopamina. Em casos graves que necessitam tratamento mais drástico podem ser associadas aplicações de antipsicóticos como Neuroléptica e Benzodiazipina. Com base nos efeitos colaterais a sua utilização deve ser verificada dentro de um estrito risco de uso.

Fundamentalmente deve ser observado que um tratamento farmacológico precisa ser sempre colocado dentro de um plano de uso geral de quais medidas psicoterapêuticas devem ser mantidas. O objetivo primário deve ser uma redução dos sintomas e no final do tratamento uma libertação dos sintomas sobre um longo prazo.

Uma vantagem adicional do tratamento pode ser a melhora geral do estado corporal e uma maior adaptação psicossocial.

Entre as limitações descritas situa-se que os efeitos somente ocorrem após algumas semanas e pela manifestação possível de reações indesejáveis. Pode também ocorrer a possibilidade de que o medicamento não se adapte ao paciente, sendo necessário sua substituição.

Entre as classes de substâncias atualmente usadas no tratamento depressivo são mencionados com mais frequência os Antidepressivos, Serotonina Seletiva (SSRI), Noradrenalina Seletiva-Serotonina.

Antidepressivos.

Antidepressivos atuam em pessoas idosas da mesma forma que em pessoas jovens. O conhecimento clínico evidencia que o tratamento com antidepressivos em combinação com uma psicoterapia é efetivo por oferecer ao paciente uma chance de remissão da depressão. Antidepressivos não são apenas efetivos no tratamento da depressão, mas também utilizados no tratamento de outras doenças, como no caso de perturbações por medo e do equilíbrio corporal, síndrome da dor, perturbações somáticas e sobrecarga emocional pós-traumática. Embora haja manifestações de receio de uso de antidepressivos por causar dependência, isto não é confirmado e na prática e não há evidências de causar vicio.

Serotonina Seletiva (SSRI).

Serotonina Seletiva (Seletive Serotonin-Wiederaufnahemehemmer- SSRI) é uma das principais escolhas para o tratamento de doenças depressivas. Sua atuação situa-se na elevação da disponibilidade de serotonina no cérebro como matéria prima de reposição. Na Alemanha são permitidos e mais frequentemente usados como princípio ativo: CITALOPRAM; ESCILATROPAM; FLUOXETIN; PAROXETIN; FLUVOXAMIN; SERTRALIN. Todos em conjunto são bem suportados e deve ser acrescentado que Citalopram, Escilatropam e Sertralin tem um reduzido potencial de interação com outros componentes corporais e apresentam elevada seletividade. Para Escitalopram, Fluoxetin e Fluvoxamin são confirmados bons efeitos também em síndrome do medo.

Reações adversas que podem ocorrer são náuseas, vômito, diarreia, desassossego e agitação, perturbações do sono, tontura, dor de cabeça e perturbações sexuais.

Noradrenalina Seletiva-Serotonina (Wieder aufnahme-Hemmer- SNRI), neste medicamento os princípios ativos são VENLAFAXIN e DULOXETIN. Sua ação situa-se na elevação da disponibilidade de Noradrenalina e Serotonina (dupla ação). Ambas mostram na realidade clínica uma boa agregação e são bem suportados organicamente. Venlafaxin é também indicado para tratamento do medo, perturbações de pânico e redução da fobia social. Duloxetin também é usado para tratamento de dores resultantes de poli neuropatia diabética e são ativos em pacientes idosos. Elevações iniciais de pressão sanguínea podem ser observadas e os efeitos colaterais são semelhantes a Serotonina Seletiva.

Como decorrência da mudança demográfica a pesquisa e o desenvolvimento deveriam focar com mais interesse pessoas idosas e efetuar estudos clínicos mais intensivos sobre esta população. Perturbações psíquicas, em especial doenças afetivas são pouco pesquisadas, permanecem quase sempre sub-diagnosticadas e são tratadas de forma inapropriada ou mesmo negligenciadas. Além de um maior cuidado deveria também ser desenvolvidos melhores métodos de diagnóstico.

Médicos não especializados e terapeutas deveriam buscar uma maior capacitação técnica ou frequentar instituições especializadas. Doenças Gerontopsiquiátricas, em especial a depressão, são crescentemente vistas no contexto psicossocial e doenças crônicas somáticas e fatores biográficos incidentes, dificultam até o presente a condução de tratamentos.

Por outro lado, estão atualmente disponíveis boas possibilidades de tratamento farmacológico, os quais através de conhecimento clínico e de resultados de pesquisa são efetivos, tanto para pacientes jovens como idosos. Os princípios ativos mostram, em seu conjunto, uma adequada relação uso/risco e as especificidades de efeitos colaterais em relação ao processo de envelhecimento devem ser observados e tratados devidamente por médicos e terapeutas. Para o futuro é esperado que os medicamentos que serão colocados no mercado sejam crescentemente efetivos e apresentem efeitos colaterais mais baixos, os quais irão ampliar a otimização das possibilidades terapêuticas (Karakaya & Pantel, 2012).

2.6.8-A felicidade

O que é a felicidade, todo mundo procura, mas onde ela se esconde, e porque esta alegria da existência não é durável? Alguns indivíduos parecem ser mais felizes que outros. Há uma certeza, a felicidade encontra-se dentro de nós, mas onde exatamente, no cérebro, em nossos genes, dentro de nossa máquina orgânica? Os cientistas, em suas pesquisas tem feito uma descoberta surpreendente: a felicidade existe.

Todos querem ser felizes, querem sentir esta plenitude, esta alegria serena de uma vida exitosa e de um futuro melhor. Pode-se definir e medir a felicidade, distinguindo-se a quantidade de emoções positivas e negativas que são declaradas sentidas durante um dia, e lançar os dados sobre uma escala quantificada. Mas a felicidade possui também uma dimensão cognitiva, que pode ser avaliada através de perguntas como: ”considerando todos os aspectos de sua vida, você sente-se feliz” ou “em qual medida você está satisfeito com sua vida”, respostas que podem ser decompostas em suas diferentes dimensões: autonomia da sua personalidade, controle do seu ambiente, sentido dado a sua vida.

A felicidade se esconde em nós:

Para esclarecer este mistério, é necessário estudar os comportamentos, mas também interrogar os neurobiologistas, os geneticistas e biólogos. Segundo os cientistas, para descobrir onde a felicidade se esconde, é preciso cruzar os mecanismos cerebrais do prazer, do desejo e da representação do futuro.

Existem genes predisponentes:

A felicidade tem sido atribuída, em parte, a carga genética dos cromossomas. Um dos genes ligados a serotonina, neurotransmissor conhecido por sua ação sobre nosso bem-estar, existe em versões longas e curtas. A felicidade é três vezes mais frequentemente expressa quando a pessoa possui a versão longa, cujo gene torna seus portadores menos vulneráveis a ansiedade.

A importância do ambiente:

Os psicólogos dão grande importância ao que torna as pessoas mais sensíveis aos fatores positivos do ambiente. Consideram personalidades plásticas, sensíveis a seu ambiente. Tornam-se infelizes quando o ambiente é desfavorável, mas particularmente felizes quando o ambiente lhes é propício.

No cérebro circuitos específicos ativam a felicidade:

Pesquisas com respostas cerebrais demonstraram que, uma lembrança feliz ou uma promessa de um evento futuro feliz, promove reações que são visíveis na tela dos aparelhos que monitoram zonas cerebrais como hipocampo, amidala, córtex pré-frontal. Respostas que introduzem um novo enigma, quais destas regiões partilham e contribuem para “fabricar a felicidade”. Isto também leva a confrontar a definição do que é a felicidade. Para os neurocientistas comportamentais, trata-se de uma definição comportamental, ativada por circuitos da motivação dos primatas. Pergunta-se para que serve a felicidade e os neurobiólogos respondem, provavelmente para motivar e guiar a ação.

As regiões cerebrais como hipocampo e córtex estão ricamente conectadas e os neurocientistas estão convencidos que definem uma representação de valor e que definem se o indivíduo se sente bem ou não em relação a uma lembrança. Estas regiões disparam uma sensação de bem-estar e o cérebro assume uma representação que está na origem de um sentimento de grande valor.

A felicidade tem sido relacionada às conexões dos neurônios. As pessoas mais positivas apresentam um modelo de conexões particularmente ricas entre certas regiões cerebrais, implicadas na sensibilidade de emoções e a percepção de si mesmo.

A felicidade tem sido também relacionada com os neurotransmissores. A química da felicidade é uma questão de equilíbrio: a dopamina modula o desejo, a serotonina a sensação de bem-estar. Mas é necessário não considerar um processo neuronal desconectado de nosso ambiente. A ativação e nosso córtex pré-frontal não está desconectado ne nosso ambiente. Difundir músicas tristes ou alegres no ambiente muda sua ativação, e o valor associado a uma representação, avaliada pelo nosso córtex, se fará então também em associação ao ambiente no qual a pessoa se encontra no momento.

Circuitos primitivos do desejo:

A região do córtex pré-frontal “conversa” com todos os sistemas antigos (regiões profundas do cérebro) que estão mais diretamente implicadas nas sensações de prazer e também em relação com os sistemas cerebrais implicados nas sensações do desejo, notadamente o “striatum ventral” e a dopamina. Uma comunicação que irá intervir igualmente em outros neuromediadores como a acetilcolina, a noradrenalina ou a serotonina. Ocorre então a comunicação, via o córtex pré-frontal, entre as regiões que criam as representações abstratas, complexas e os circuitos primitivos do desejo e do prazer, mobilizados, como no caso da do apetite por alimentos ou a busca de parceiros sexuais.

Esta parte do córtex parece fazer parte de uma rede mais vasta particularmente desenvolvida e conectada nas pessoas que apresentam um certo número de características “positivas”, como uma forte satisfação em sua vida, mas também uma sociabilidade elevada, um forte QI, um nível de educação mais elevado. Avaliando os indivíduos que os psicólogos designam como felizes (são descontraídos, apresentam controle sobre sua vida, aceitam-se como são, possuem contatos positivos com os outros, etc.), parece que eles possuem mais matéria cinzenta nas duas regiões cerebrais. Ficou evidenciado que os melhores escores de felicidade estavam correlacionados a uma quantidade de neurônios maiores no córtex insular e o “precuneus direito”. A primeira destas regiões está implicada na consciência de si mesmo, a modulação dos estados do corpo e a sua integração com a tomada de decisão. A segunda implicada também na consciência de si mesmo e implicada na participação da felicidade subjetiva integrando os componentes emocionais e cognitivos da felicidade.

A chave da felicidade:

Ela dependeria então de uma atitude de se projetar positivamente no futuro, mas também na capacidade de integrar estes sentimentos positivos a imagem que se tem de si mesmo. Mas existe uma outra forma de felicidade, condicionada pela aptidão do cérebro deixar levar-se pela concentração. Algumas pessoas experimentam um efeito de felicidade resultante de um estado de concentração intensa, ou a atenção concentrada por uma ação em curso, onde tudo o demais, percepção do ambiente, pensamentos se apagam. Porque um domínio total, próximo ao estado de graça seria uma fonte de felicidade? Um mau domínio da atenção causa uma espécie de competição entre processos cognitivos irreconciliáveis, aquele que é gerador de desconforto e de mal-estar.

A felicidade é fruto de uma representação positiva do futuro:

A felicidade pode se definir como um estado, de qualquer um que se alegra com o que irá viver. Experiências de imageamento cerebral mostram que esta representação positiva do futuro ativa três regiões cerebrais:

1) -O cérebro elabora uma projeção. As lembranças registradas no hipocampo são utilizadas para construir uma representação de situações futuras;
2) – Associado a um certo bem-estar ele é avaliado positivamente. Esta representação é transmitida ao córtex pré-frontal ventromediano, que irá avaliar o valor. A associação a um relativo bem-estar, seu valor é julgado positivo.
3) – E indica um bem-estar futuro. Esta sensação irá ser transformada em desejo no “striatum”, centro do comportamento que provoca o desejo.

Concentração sem julgamento:

Suprimir tudo o que pode perturbar nossa atenção favorizaria então naturalmente nosso bem-estar. As pessoas descritas em estado de concentração cerebral, permanecem conectadas a uma atividade, a uma pessoa, a um grupo, sem fazer mil coisas ao mesmo tempo, e sobretudo, sem julgamento sobre sua própria performance. Quando o cérebro está em estado de concentração desativa a rede cerebral que está continuamente avaliando o que está sendo feito e reagindo ao seu desempenho.

Quer se trate de direcionar sua atenção, de se construir uma representação positiva do futuro, ou de saber olhar sobre si mesmo, são atitudes que levam os neurocientistas a confirmar: a felicidade está, em princípio nas mãos de cada indivíduo.

A felicidade se esconde em nosso corpo:

O corpo de uma pessoa feliz não é o mesmo de uma pessoa que não é feliz. Modificações sutis denotam esta serenidade sentida. O sistema nervoso, hormonal e imunitário mantém conexões intimas. Mas quais traços a felicidade imprime precisamente sobre nossos corpos?

Pesquisas efetuadas com grupos de mulheres com mais de 60 anos mostram que o cortisol “hormônio do estresse”, secretado pelas glândulas suprarrenais, apresentam uma taxa particularmente baixa em mulheres mais alegres. Sua taxa de colesterol bom, que protege o sistema cardiovascular, é mais elevada. Outros estudos realizados em pessoas cinquentenárias que se declaravam particularmente felizes, apresentavam uma diminuição do ritmo cardíaco e da pressão sistólica. A felicidade apresenta tendência a se difundir sobre todo o nosso corpo e influenciar o sistema imunitário, o sistema hormonal e o sistema cardiovascular.

Sistema imunitário:

A felicidade influencia nossa resistência às infecções. Em um estudo, aquelas pessoas que se manifestaram mais felizes apresentaram o menor risco de apresentar doenças causadas por vírus, e produziram também mais anticorpos após vacinação.

Sistema hormonal:

Secretado pelas glândulas suprarrenais, o cortisol (hormônio do estresse) está presente em quantidades mais fracas em pessoas alegres, enquanto que a ocitocina mais presente (hormônio da empatia) produz a redução da ansiedade.

Sistema cardiovascular:

Após diversos estudos, foi constatado que as pessoas felizes apresentam uma taxa de bom colesterol (protetor) mais elevada, bem como uma diminuição do ritmo cardíaco e da pressão arterial.

Nós podemos agir sobre o nosso bem-estar:

A ideia de que o corpo pode agir sobre nossa sensação de felicidade não é desconhecida. Numerosas técnicas de relaxamento (massagem, respiração) são utilizadas para eliminar a ansiedade, como se a serenidade do corpo induza a serenidade de nossos sentimentos e pensamentos, e vice-versa. Um hormônio neste aspecto é emblemático: a ocitocina secretada pelo hipotálamo é liberado durante o orgasmo, ou pela mãe que aconchega e aleita seu bebê. Ele aumenta a empatia e o apego aos outros, sendo secretado em situações que favorizem o indivíduo. Uma vez liberado, ele reduz o stress e favoriza o bem-estar (Monnier,E, 2016)

2.6.9-Fontes de consulta

CORNELIUS,R,R. The Science of emotion, Upper Saddle River, New Jersey, Prentice Hall, 1996

BERNOUD,L. Suicide il cache une vraie maladie, Montrouge, Science & Vie, Mondadori/France, avril, nº 1172, 2015

GINESTE,Y. & PELLISSIER,J. Humanitude, Comprendre la vieillesse, prendre soin des Hommes vieux, Paris, Dunot Editeur-Armand Colin, 2014

HAUTZINGER,M. Intervention bei Depression. In: Wahl,H,W., Römer C,T. & Ziegelmann, J,P. Angewandte Gerontologie, Stuttgart, Kohlhammer, 2012

KÄMMERER,A. Intervention bei Ängsten, In: Wahl, H,W., Römmer,C,T. & Ziegelmann, J,P. Angewandte Gerontologie, Stuttgart, Kohlhammer, 2012

KARAKAYA,T. & PANTEL,J. Psychopharmakaintervention bei primär affektiven Störungen. In: Wahl H,W., Römer, C,T. & Ziegelmann,J,P. Angewandte Gerontologie Stuttgart, Kohlhammer, 2012

MONNIER,E. Le Bonheur, mais où se cache-t-il? Science & Vie, France, Montrouge France, Mondatori, nº 1181, Février, 2016

STEVERINK,N. Selbstmanagement und psychisches Wohlbefinden bei älteren Menschen In: Wahl,H,W., Römer,C,T. & Ziegelmann,J,P. Angeewandte Gerontologie, Stuttgart, Kohlhammer, 2012

STRONGMAN,K,T. The Psychology of Emotion, Lisboa, Climepsi Editores, 2ª Edição, 2004

http://redepsicologia.com/psicologia-das-emocoes

http://esad.ipleiria.pt/PDMIII/3080031/sitegrupo/investigação/neuropsicologia.ht


Sobre o autor:

Nelson Frederico Seiffert

Doutor em Engenharia de Produção, com a tese de Doutorado sobre Gestão Ambiental. Trabalhou em Pesquisa na EMBRAPA durante 25 anos.

Desenvolve atualmente estudos na área de Gerontologia Ambiental e Aplicada. Conduziu Seminários sobre Gerontologia Ambiental e Aplicada no NETI/UFSC em 2015, 2016 e é Diretor Técnico Científico da ANG/SC – GESTÃO 2017/2019.

E-mail: [email protected]

Artigos de Associados

Atividade corporal e competência funcional

2.4-ATIVIDADE CORPORAL E COMPETÊNCIA FUNCIONAL

Nelson Frederico Seiffert

 

O crescimento dramático do número de pessoas com 65 anos ou mais, que se verifica atualmente, irá necessitar de uma nova estratégia de abordagem do tratamento de pessoas que alcançam a fase de envelhecimento nos próximos cinquenta anos. Ao mesmo tempo que se eleva o número de pessoas idosas, irá ampliar-se consideravelmente o custo de tratamento de pessoas que são alcançadas por inabilitações físicas e cognitivas.

Por estas razões, torna-se prioritário que sejam desenvolvidos métodos de prevenção que possam ser econômicos e efetivos, de aplicabilidade generalizada, para a prevenção e tratamento de pessoas idosas atingidas por deficiências físicas e cognitivas. Entre estes métodos assume elevada importância cuidados corporais, exercícios físicos e a atividade cognitiva (Erickson et al, 2012).

2.4.1-Os superpoderes do aparelho digestivo

O avanço da pesquisa atual vem revelando os superpoderes de nosso ventre, que vem sendo considerado o nosso segundo cérebro. A ciência não esperava descortinar os incríveis poderes das bactérias que compõe nossa microbiota intestinal. Enviando sinais por todo o organismo as bactérias causam impacto, inclusive sobre nosso cérebro, sobre o sono, sobre o stress, nossa hereditariedade, nossa personalidade, sobre nosso humor, sobre nossa memória, sobre nosso crescimento e vivacidade. Em uma frase, nosso ventre governa nossa existência, uma descoberta que descortina uma nova medicina (Abdoun et al, 2016).

Esta comunidade de microrganismos compreende fungos, vírus, etc., mas permanece largamente dominada por bactérias, que compõe dezenas de bilhões, concentradas principalmente ao nível do cólon (a parte grossa do tubo digestivo, entre o intestino delgado e o reto. Um verdadeiro ecossistema no centro de nosso corpo.

Por trás da parede interna do tubo digestivo do intestino grosso, encontram-se diversas vias de circulação, permitindo nosso ventre de enviar ordens ao organismo: o nervo vago, que se liga ao cérebro; uma importante rede vascular que transporta as mensagens moleculares e celulares; uma grande reserva de células imunitárias, que viajam no sangue e enviam sinais químicos. A partir desta configuração, um esquema geral se desenha: no intestino, as bactérias produzem permanentemente numerosas moléculas (ácidos graxos e neuromediadores) que podem atravessar as mucosas intestinais e penetrar nos vasos sanguíneos, ou modificar a atividade dos neurônios e das células imunitárias.

A microbiota tem sido longamente negligenciada e sua importância apenas começou a ser reconhecida na última década, sendo revelada a incrível complexidade dos microrganismos que povoam o trato intestinal. Cada indivíduo possui sua própria microbiota e porta entre 500 a 1.000 espécies de bactérias, totalizando 600.000 genes diferentes. Isto é trinta vezes mais que os genes que compõe o genoma específico humano. Geneticamente nós somos sobretudo microbianos.

A composição microbiológica varia bastante de um indivíduo a outro, em função do genoma, da idade, do modo de vida (alimentação, higiene, etc.), e das bactérias delegadas por nossa mãe no início da vida. Outras espécies de microrganismos podem estar presentes, serem mais ou menos predominantes ou mesmo ausentes.

Tem sido descoberto que numerosas doenças encontram sua origem, pelo menos parcialmente, na desregulação de nossa flora intestinal, onde as bactérias intestinais, já tem sido relacionada a exercerem influência sobre as vias vasculares, neuronais e imunitárias. Sem dúvida a microbiota abre a via de uma nova medicina. As pesquisas vêm levantando evidências sobre a influência da microbiota intestinal sobre a saúde humana, em surpreendentes aspectos como por exemplo:

  • Nossa moral, ansiedade e sociabilidade;
  • Comanda nosso estado de forma e defesas naturais;
  • Regula nossos ritmos biológicos e nosso sono;
  • Influi sobre nossa vivacidade, espírito e memória;
  • Nossa hereditariedade por parte materna;
  • Dita nossos aportes de energia, crescimento e ganho de peso;
  • Decide sobre nossa fome e sobre alimentos que gostamos de comer;
  • Determina a velocidade como envelhecemos.

Com o tempo de envelhecimento ocorre uma fragilização de todo o corpo humano. Os pesquisadores acreditam que esta fragilização também seria o caso da fragilização de numerosas espécies de bactérias que compõe nossa microbiota intestinal. Pesquisando o conteúdo intestinal de idosos, constataram que com o avanço da idade, ocorre uma redução paralela da estabilidade, e sobretudo da diversidade da microbiota. Esta modificação ocorre progressivamente e é particularmente marcada quando o regime alimentar se torna menos variado. Os pesquisadores descobriram que a senescência causa a degradação da qualidade de nossa flora intestinal, mas que a senescência pode ser também, a consequência do empobrecimento da qualidade da microbiota. Uma verdadeira intoxicação intestinal por nossos próprios microrganismos.

É difícil ligar diretamente o envelhecimento a um tipo de bactéria, mas está claro que a microbiota empobrecida em espécies, está mais inclinada a induzir uma perda acelerada de funções ligadas ao envelhecimento. O papel da microbiota desempenha um papel relevante no nosso declínio, porque a capacidade metabólica total das bactérias do intestino se torna menor. A “usina” natural de nosso intestino não nos ajuda mais a fabricar os ácidos graxos de cadeia curta, como o butirato e as vitaminas e somos fragilizados. O resultado é que a microbiota influi sobre o estado inflamatório de seu hospedeiro e pode torná-lo menos resistente. Segundo Paul O’Tole (Professor de Microbiologia da Universidade de Cork, Irlanda), nós envelhecemos também, porque nós temos crescentemente mais dificuldades de transformar proteínas em músculos. Em idosos, os intestinos tornam-se menos eficazes em absorver proteínas, e a microbiota teria um papel ativo no aparecimento da sarcopenia. (Sarcopenia é a perda de massa e força da musculatura esquelética – bíceps, tríceps e quadríceps – com o envelhecimento. Cerca de um terço da massa muscular perde-se com a idade avançada, começando a partir dos 40 anos com queda de 0,5% ao ano e aumentando até cerca de 1% ao ano a partir dos 65 anos de idade.

A microbiota seria também responsável pela perda de funções cognitivas, que estão em parte ligadas ao que se denomina o “eixo cérebro-intestino”, o qual habitualmente declina lentamente, mas cujo declínio pode se acelerar, e os compostos tóxicos fabricados pela microbiota poderia desempenhar um papel ativo neste processo. (Abdoun et al 2016).

2.4.2-Nutrição

2.4.2.1-Regulação na assimilação de nutrientes

As modificações na regulação da assimilação de nutrientes para reposição corporal tornam idosos frequentemente suscetíveis a formas de alimentação deficientes em compostos essenciais para manutenção da saúde. Perdas funcionais e doenças são frequentemente relacionadas a nutrição deficiente que, à primeira vista, é mais difícil de detectar, sendo oportuno que seja considerada uma abordagem preventiva.

Uma avaliação de deficiências alimentares deveria ser conduzida rotineiramente e constituir parte importante de cada consulta médica de pessoas idosas. É uma condição necessária para a inclusão de medidas de prevenção e de uma terapia nutricional eficiente, que podem estar associadas a perturbações da saúde. Através de um trabalho estruturado interdisciplinar, combinando medidas médicas, nutricionais, dietéticas e de cuidados ao paciente, a condição nutricional de idosos pode ser revista e otimizada.

Má nutrição em idosos é reconhecida como bastante comum e mais frequente que entre jovens e adultos. Levantamentos indicam que entre pessoas com 65 anos ou mais e que moram em residências, 32% apresentavam risco para uma nutrição deficiente e 6% apresentavam-se subnutridas. Em hospitais o risco de desnutrição em pacientes chegou a 47%, e em instituições de longa permanência foram encontradas 53% das pessoas em condições de risco.

São de grande significado as modificações trazidas pelo envelhecimento na constituição corporal. Com o avanço da idade ocorre uma redução da massa corporal não gordurosa e um aumento da massa gordurosa. A massa gordurosa passa a se acumular no tronco e com uma presença maior de gordura intra-abdominal. A perda de massa não gordurosa incorpora uma redução da manutenção do nível de hidratação da massa celular e da massa óssea, e se manifesta no organismo através de uma atrofia da massa muscular.

Entre a terceira e oitava década de vida a massa muscular sofre redução e com isto uma perda da força muscular, da mobilidade e também na troca de elementos da constituição corporal, o que está ligado ao stress. Perdas que ocorrem em um nível anormal atingem em especial pessoas com idades avançadas e favorece fraturas ósseas.

Como o aparelho gastrointestinal sofre apenas pequenas modificações, os sinais de má absorção devem ser sempre investigados em relação a alguma patologia existente. A frequência de uma gastrite atrópica acompanha o envelhecimento e pode conduzir a uma produção deficiente de ácido clorídrico no estômago e com isto uma exagerada proliferação do crescimento de bactérias no intestino delgado e também leva a uma redução do biometabolismo do cálcio, do ferro e vitamina B12.

A dificuldade de mastigar e engolir em idosos são bastante comuns. Perda de dentes, cáries, dentes danificados e próteses dentárias defeituosas afetam a nutrição, bem como podem trazer infecções e ressecamento da cavidade bucal, o qual pode ser atribuído também a utilização de medicamentos. Perturbações ao engolir trazem consigo a ameaça de engasgamento com alimentos sólidos e líquidos ou mesmo da saliva.

Uma grande parte de pacientes geriátricos e moradores de instituições de idosos é afetada por causas afetivas e psíquicas, as quais são responsáveis frequentemente por problemas de desnutrição. A depressão é considerada em muitos casos como a principal causa da má nutrição em idosos. Mudanças do ambiente social também desempenham um papel substancial na nutrição do idoso. Tomar refeições é um ato social em seu significado, solidão e isolamento social afetam o apetite e a boa alimentação. Eventos de rupturas que ocorrem na vida como a perda do parceiro ou a mudança para um asilo podem ser causas de perda de interesse pela alimentação. Situação de pobreza é um fator de risco adicional para a realização de uma alimentação adequada, o que é especialmente comum em mulheres. Atua também frequentemente de forma aguda a ocorrência de doenças crônicas que incluem a ingestão de múltiplas medicações, que acabam atuando de forma inadequada para a nutrição. Medicamentos podem agir de forma a produzir efeitos colaterais como perda de apetite, perturbações do paladar, boca seca, náuseas, sonolência e atuam de diversos modos na redução da quantidade de alimento ingerido.

Muitas pessoas idosas seguem dietas próprias ou linhas de dietas recomendadas, mas devem ser verificadas com grande atenção porque podem estar restringindo uma boa nutrição. Fatores também relacionados que afetam a nutrição são a escolha e consumo de uma diversidade estreita de alimentos, o abandono de refeições regulares ou um alto consumo de álcool.

Diversas modificações do sistema complexo de regulação da fome conduzem a que, a vontade de comer venha a se reduzir com o avanço da idade. Ocorre uma redução dos sinais de fome, bem como, um aumento dos sinais de saciedade. A redução da sensibilidade do olfato e do paladar podem conduzir a uma condição de anorexia. Períodos de inapetência estão também relacionados a perdas da massa muscular.

Na situação de pessoas idosas que moram em residências deveria ser estabelecido pelos serviços de apoio a saúde um plano anual individual de ingestão de alimentos e bebidas. Em pacientes, que na avaliação preliminar mostram indicações de má nutrição, será necessário um levantamento detalhado de sua dieta para poder definir-se uma terapia nutricional adequada. O instrumento para avaliação nutricional pode ser feito por uma breve abordagem através de seis perguntas que possibilitam estabelecer um escore de pontos que categoriza a situação nutricional das pessoas, como “estado nutricional normal”, “risco para deficiência nutricional” e “deficiência nutricional. As variáveis usadas nas perguntas são descritas como segue:

1-Perda de apetite – 0 (sim) a 2 (não)
2-Perda de peso – 0 (sim) a 3 (não)
3-Perda de mobilidade – 0 (sim) a 2 (não)
4-Incidência de doença aguda – (0) sim a 2 (não)
5-Incidência de depressão – (0) sim a 2 (não)
6-Circunferência da barriga – (0) reduzida a 3 (normal)
A pontuação somada obtida pode indicar:
Nutrição normal: 12 a 14 pontos,
Risco de nutrição deficiente: 7 a 11 pontos,
Nutrição deficiente: 0 a 7 pontos.

Protocolos estabelecidos para a ingestão de alimentos ou líquidos possibilitam estimar o consumo de nutrientes no dia a dia, que pode variar bastante entre indivíduos, e o levantamento deve ser conduzido por 3 a 5 dias consecutivos. É relativamente fácil de introduzir uma avaliação através de anotações da quantidade de alimentos contidos em cada prato que participa das refeições. A ocorrência de um tratamento médico prévio de doença deve ser considerada, como no caso de tratamento dentário, ou de um acompanhamento durante o período de convalescênça.

A avaliação individual de sua condição nutricional deve considerar também os recursos pessoais, costumes individuais, horários das refeições, aspectos religiosos e culturais. No caso da avaliação indicar má nutrição, são estabelecidos objetivos concretos e realizáveis, no qual a quantidade de nutrientes precisa ser suprida em função do peso corporal. A manutenção do peso corporal ao longo do tempo é considerada como decorrente de uma boa nutrição, que objetiva a manutenção da saúde, a funcionalidade e a qualidade de vida.

A deficiência da ingestão de proteína é recorrente. É recomendado como necessário um consumo diário de 1,2 g a 1,5 g de proteína por kg de peso corporal. Isto é proporcional a cerca de 30 quilocalorias por kg de peso corporal por dia, que precisa ser incluído no cálculo para completar a necessidade de energia.

O comportamento antiético, o barulho durante a refeição, uma posição inadequada de sentar-se à mesa, sentar-se ao lado de pessoa vizinhas indesejadas, atendimento desatencioso por pessoas que servem refeições, agem de forma prejudicial sobre a nutrição. Frequentemente diversas pessoas tomam refeições simultaneamente no mesmo ambiente, o que pode tornar as refeições uma sobrecarga emocional, quando as condições individuais não são observadas.

Diversas alterações trazidas pelo envelhecimento oferecem o risco de baixa ingestão de líquidos e causam desidratação. Frequentemente influem na ingestão de líquidos o desconforto de idas noturnas a toalete, de incontinência urinária e o desejo de reduzir a necessidade de urinar pela redução do consumo. Perdas significativas de líquido no verão podem ocorrer através do suor, em ambientes sobre aquecidos, ou por febre, diarreia e vômito. Medicamentos como diuréticos e laxantes podem causar perdas desmedidas de líquido corporal.

É importante que idosos prestem atenção contínua sobre o consumo adequado da quantidade de líquido. Em especial, em situações em que ocorre perda significativa, é fundamental restabelecer o equilíbrio do balanço hídrico corporal. Valores considerados adequados para ingestão diária de líquidos para idosos situam-se em 30 ml por kg de peso corporal. Cerca de dois terços deste valor deve ser suprido com a ingestão de líquidos e o terço restante é suprido através dos alimentos em geral (Bonneau et al, 2016; Sieber, 2012).

2.4.2.2-Jejum, efeitos positivos no envelhecimento

É bastante divulgado que jejuar é bom para a saúde. Curtas privações de alimentos produzem efeitos benéficos podendo revolucionar nossos hábitos alimentares. E se lutar contra o envelhecimento e as doenças a ele associadas seria simplesmente saltar o desjejum da manhã? Esta é uma possibilidade sedutora que resultam de estudos recentes, que revelam numerosos benefícios de curtos períodos de restrição alimentar, de uma dezena de horas por dia, ou de alguns dias por semana ou por mês. O jejum tem sido sugerido como forma de ganhar anos de vida em boas condições de saúde. Mini jejuns ou quase jejum são estratégias ao alcance de todos. (Aboum, 2015).

Os efeitos positivos de uma restrição alimentar são conhecidos a mais de um século. Os resultados de trabalhos de pesquisa que submeteram animais experimentais a diminuição de sua ração são impressionantes. Certas espécies testadas ganharam 30% de tempo de esperança de vida e a maioria tornou-se protegida contra numerosas doenças como Alzheimer, diabete e câncer. Mesmo períodos de curta duração mostraram-se eficientes.

Os mecanismos em jogo não são unicamente ligados a perda de peso. As privações alimentares colocam em ação mecanismos biológicos bem específicos, que são, ao final, muito benéficos para a saúde. Esfomear o organismo induz um estresse fisiológico que aciona mecanismos do sistema de defesa, tais como a produção de moléculas antioxidantes, conhecidas por retardar o envelhecimento, de fenômenos de autofagia, que consiste em degradação pelas células de seus próprios resíduos moleculares. A restrição alimentar induz também um processo de baixa no processo inflamatório, que com o tempo pode degradar tecidos. Pode também impulsionar o corpo, privado de glicídios, a obter sua energia pela mobilização de suas reservas de gordura. Os lipídios são assim transformados pelo fígado em corpos cetônicos, que são moléculas benéficas para as células ávidas de energia, como os neurônios e os músculos.

Segundo Mark Mattson, diretor do Laboratório de Neurociências do Instituto Nacional do Envelhecimento de Bethesda (EUA), uma tal multiplicidade de efeitos positivos não é surpreendente. Durante a maior parte da história evolutiva, a nossa espécie foi confrontada com importantes restrições alimentares. Nossos organismos estão mais adaptados a tal modo de funcionamento, do que no sistema mais recente, que consiste em se alimentar através de três ou mais refeições diárias.

Os cientistas, com base em reflexões sobre este conhecimento, têm proposto testes e estratégias realistas para regular o organismo usando métodos de jejum, das quais podem serem citados, por exemplo renunciar ao desjejum matinal; o regime cinco por dois, que consiste na prática da restrição calórica dois dias por semana; a divisão do aporte de calorias diárias por três ou quatro. Os testes realizados em humanos obesos por seis meses proporcionaram emagrecimento, melhora do estado de saúde, forte produção de corpos cetônicos, uma baixa nos marcadores oxidantes de estresse e de inflamações.

Outro método testado foi a restrição calórica menos intensa e menos frequente, mas que se estendeu sobre uma duração mais longa e que também produziu provas de sua eficácia. Durante três meses, 19 voluntários submeteram-se a cinco dias consecutivos por mês, sendo administrado no primeiro dia a metade do aporte calórico recomendado, seguindo-se a redução para um terço nos quatro dias seguintes. Ao final do teste conduzido pelo professor de Gerontologia e Bióloga da Universidade da Califórnia do Sul, Valter Longo, pode ser verificado que o jejum produziu mais corpos cetônicos e menos proteínas CRP (marcadores de inflamação) e de hormônios EGF-1 (fatores de envelhecimento). O pesquisador notou um fenômeno novo, uma verdadeira renovação de células através da proliferação de células tronco.

Uma forma de jejum que atrai por sua incrível simplicidade, consiste em jejuar a noite. Mais exatamente, espaçar pelo menos 12 horas e se possível 16 horas, a última ingestão de alimentos de um dia e a primeira refeição seguinte. Ou seja, saltar o jantar e o desjejum matinal seguinte.

Está bastante estabelecido que o jejum ativa a produção de corpos cetônicos que degrada células gordurosas, diminui a inflamação através da ativação da produção de células que inibem a inflamação, aumenta as defesas antioxidantes e favorece a degradação de resíduos internos celulares (degradação intracelular).

As três formas mais comuns de mini jejuns que tem sido aplicada:

1-Alimentar-se dentro de uma janela de 8 a 12 horas por dia, 5 dias por semana.
2-Alimentar-se muito pouco (cerca de 500 calorias), 2 dias consecutivos por semana.
3-Alimentar-se muito pouco, 5 dias consecutivos por mês (1000 calorias no primeiro dia e 700 calorias nos quatro dias seguintes ( Abdoun, 2015).

2.4.3-Melhora da função cerebral através atividade corporal

A atividade corporal melhora a funcionalidade de todos os órgãos, inclusive das funções cerebrais e cognitivas. O convencimento sobre este fato e as orientações que decorrem desta constatação são resultantes de estudos e pesquisas sobre pessoas idosas. Os resultados demonstram que uma administração moderada de atividades corporais, por pelo menos um período de 6 meses, foi suficiente para elevar o desempenho de funções cerebrais e também verificado um aumento do volume do cérebro de idosos. Estes dados possibilitaram concluir que o treinamento de atividades corporais oferece um método efetivo para conduzir a função neurocognitiva a um nível mais elevado de desempenho em pessoas idosas.

O treinamento para o desenvolvimento de exercícios aeróbicos pode elevar a funcionalidade de cada órgão do organismo, o que tem resultado em uma melhora geral da saúde e uma redução do risco de ocorrência de diversas doenças. Como exemplo, a atividade corporal é considerada necessária para reduzir a incidência e prevalência de adiposidade, diabete mellitus e doenças de risco como pressão arterial e ataque cardíaco. Tem sido demonstrado que a atividade corporal, na forma de treinamento de exercícios aeróbicos, melhora a funcionalidade do sistema imunológico, sistema ósseo e circulatório, o que por sua vez, reduz o risco do desenvolvimento de doenças do sistema a cardiovascular e osteoporose.

O cérebro é particularmente suscetível aos efeitos positivos dos exercícios corporais. É constatado que a atividade corporal é uma medida positiva para elevar a funcionalidade cognitiva quando incorporada a rotina de vida de pessoas idosas. Inclusive é constatado que a atividade corporal pode atuar positivamente na redução de sintomas de doenças psiquiátricas como depressão e esquizofrenia. A atividade corporal moderada tem sido reconhecida como método capaz de produzir efeitos positivos sobre a capacidade cerebral e cognitiva. Embora ainda seja pouco entendido pela pesquisa em que modo a movimentação corporal influencia o cérebro, os estudos efetuados em animais e humanos tem indicado efeitos positivos:

1-A movimentação corporal influencia diversas regiões interligadas do cérebro, protege os processos cognitivos tais como a memória, o controle da atenção e a coordenação de tarefas.

2-Através de uma atividade de movimentação moderada é possível verificar um efeito positivo na função cerebral e na capacidade cognitiva.

3- Em pessoas com idade avançada, que sofrem uma perda significativa de funções cognitivas, são também verificadas melhoras de desempenho através de exercícios corporais.

Os estudos e pesquisas atuais evidenciam claramente que a atividade corporal melhora o desempenho cognitivo e que os efeitos são gerais, mas também atuam sobre aspectos específicos da cognição. Um efeito geral significa que a maioria das funções cognitivas são melhoradas pelo exercício corporal enquanto que um efeito específico significa que as funções executivas melhoram mais que outras áreas cognitivas. Em seu conjunto, os resultados obtidos em estudos de epidemiologia e aqueles resultantes da pesquisa experimental realizada em animais e humanos mostram que a movimentação corporal traz ganhos de funcionalidade em pessoas com idades avançadas, nos quais o risco de uma desconstrução cognitiva é mais alto.

Os estudos e pesquisas indicam também que a movimentação tem efeitos sobre áreas específicas do cérebro e que o efeito dos exercícios é maior sobre as funções do controle executivo e da memória. Estas funções são guiadas principalmente por regiões cerebrais frontal e medial temporal. Em estudos de longo prazo foi caracterizado que a atividade corporal está ligada a um maior volume da massa cinzenta cerebral, a qual também está correlacionada com riscos reduzidos de desenvolvimento de Alzheimer e de desenvolvimento da demência.

Trabalhos de pesquisa conduzidos com grupos experimentai durante seis meses puderam verificar que ocorreu um aumento da massa cerebral no grupo que efetuava exercícios comparado ao grupo de controle que não praticava exercícios. Pelo resultado obtido pode ser concluído que o desenvolvimento de atividades corporais de intensidade moderada durante seis meses resultou em uma alteração do volume do córtex em pessoas idosas com atrofias cerebrais decorrentes do avanço da idade.

Embora algumas pessoas possam se beneficiar da atividade corporal para melhoria de sua capacidade funcional, outras não obtém bons resultados. Esta variabilidade pode estar fundamentada em diferentes fatores como causas genéticas, hábitos nutricionais, atividade intelectual, entre outros. Está claro que, além da atividade corporal, outros fatores ligados ao estilo de vida, genética e atividade cognitiva exercem efeitos relevantes na cognição. Como exemplo é bastante evidenciado que a ligação entre a atividade física e social reforça o desempenho cognitivo, além da ação exclusiva da atividade física isoladamente.

É conhecido que a nutrição age sobre o desempenho corporal e cerebral. Os estudos indicam que baixa atividade física associada a dietas elevadas em gordura atuam negativamente sobre a cognição. Há também o reconhecimento de que ocorrem vantagens da atividade corporal sobre outras doenças como Parkinson e Depressão.

A atividade corporal aeróbica reduz os sintomas depressão em pessoas acometidas por depressão grave, e que esta redução de sintomas depressivos é durável, e mais efetiva que a farmacoterapia. A ideia geral é que a atividade corporal contribui para desenvolver efeitos positivos em diversas doenças psiquiátricas e neurológicas.

Os trabalhos de pesquisa reforçam o conceito de que que a atividade corporal é considerada um meio para modificação da função cerebral. Os estudos estabeleceram também o conceito de que o cérebro pode manter sua capacidade de modificação e melhoria durante todo o curso de vida, que nunca é tarde para se iniciar atividades corporais, de forma que pessoas idosas podem se beneficiar de sua prática, tanto em sua capacidade cognitiva, como medida voltada para o tratamento de doenças cerebrais, neurológicas e psiquiátricas (Erickson et al, 2012).

2.4.4-Manutenção e recuperação de competências quotidianas

Em um sentido geral a competência quotidiana fundamenta-se na capacidade do indivíduo de conduzir de forma independente as tarefas domésticas, sociais e atividades de lazer no dia a dia.

No curso do envelhecimento, com a redução das aptidões corporais e cognitivas, são previstas intervenções que possibilitem a manutenção, a recuperação e a melhoria da competência individual em desempenhar atividades diárias de forma autônoma. Estas intervenções são particularmente importantes no caso de pessoas que apresentam doenças crônicas, inabilitações físicas, declínio cognitivo, depressão. Além de atuar sobre pessoas que tem enfermidades, as intervenções são também orientadas para realizar efeitos positivos nas condições pessoais, sociais, ambientais, sócio econômicas e sobre o bem-estar e qualidade de vida dos idosos.

No estudo do envelhecimento é preciso efetuar a caracterização da capacidade do indivíduo idoso de realizar atividades físicas e cognitivas para a condução do seu dia a dia, mesmo porque, deve ser levado em consideração, que a capacidade de condução destas atividades não é mais realizada com a mesma facilidade e dentro das condições de saúde de idosos jovens. Isto vale para tarefas simples como levantar da cama, fazer a higiene corporal, tomar refeições, mas também para atividades mais complexas como preparo de refeições, atividades de controle financeiro, do uso de transporte público.

Em um sentido mais amplo, a competência diária, trata ainda da resolução de um número expressivo de tarefas como ministrar o uso de medicamentos, saber conduzir tarefas de manutenção residencial, realizar compras e efetuar pagamentos, conduzir atividades de lazer e de relações sociais. Pode incluir, além destas atividades normais, exercícios de reabilitação e treinamento no campo físico e cognitivo e tratamento de doenças que estão afetando o indivíduo. Pode ainda incluir o desafio da aquisição de novas competências que são impostas pelas inovações tecnológicas e que necessitam um novo aprendizado sobre seu manuseio.

Esta multiplicidade de atividades faz com que a intervenção no campo da competência quotidiana do idoso venha a exigir uma abordagem multidisciplinar e multiprofissional, que está ligada a disponibilidade de recursos individuais e que salienta orientações para abordagens de treinamento e capacitação. Algumas áreas que demandam medidas de intervenção podem ser relacionadas como segue.

1-Doenças crônicas com efeitos negativos sobre a mobilidade. A mobilidade é um pressuposto da autonomia como no uso do banheiro, na execução de tarefas domésticas, utilização do serviço de transporte público, entre outras.

2-Capacidade muscular corporal. Os idosos são atingidos por perdas de massa corporal que afeta a capacidade de desempenho físico em atividades diárias como subir escadas, deslocamento com sacolas pesadas, que sobrecarregam a capacidade muscular e o sistema cardiovascular.

3-Capacidade visual e auditiva. Muitas atividades diárias exigem competência visual, como no caso de uso e dosagem de medicamentos e direção de veículos. Já no caso de dificuldades auditivas, estas são menos impactantes sobre a competência de resolução de tarefas diárias.

4-Capacidade cognitiva. A condução autônoma de atividades diárias exige diversas habilidades cognitivas tais como planejamento da execução de tarefas, rapidez de tomada de decisão, processamento de informações e mesmo a fluidez no desempenho da memória.

5-Depressão. A atividades diária de pessoas, particularmente quando vivem sozinhas, necessita de um impulso de motivação e também habilidades para sua execução. Episódios depressivos atuam de forma inibidora da motivação, enquanto que emoções positivas elevam o ânimo e desenvolvem o interesse sobre inovar em atividades quotidianas na busca de novos objetivos e atuam de forma compensatória sobre a desmotivação causada pela depressão.

6-Características individuais. Pessoas que apresentam características extrovertidas investem na condução de atividades que envolvem outras pessoas, mesmo sob graves limitações corporais.

7-Aspectos sociais e ambientais. O ambiente social pode estimular a condução do dia a dia como no sentido da realização de encontros regulares fora de casa com outras pessoas. Na organização do espaço residencial, sobretudo a eliminação de barreiras que dificultam o deslocamento, o que facilita e estimula a competência diária na execução das tarefas.

8-Autonomia e percepção do envelhecimento. A busca da autossuficiência e uma perspectiva positiva do envelhecimento estimulam o investimento em sua própria saúde e na capacitação das competências quotidianas do idoso.

9-Recursos sócio econômicos. O significado de variáveis ligadas ao orçamento e formação escolar é sempre considerado como forma de melhoria da disponibilidade de condições que influem consideravelmente sobre a autonomia.

A competência diária para condução de uma vida autônoma é um preditor de satisfação de vida e efetivo bem-estar. É por isto um fator importante para a regulação psíquica e adaptação à condição de perdas de origem física e cognitiva.

Os resultados empíricos no campo da reabilitação geriátrica cobrem uma ampla gama de intervenções para manutenção, recuperação e elevação do nível de competência diária de pessoas idosas. Além de programas de reabilitação em situações de perdas graves de condições de saúde, estão disponíveis programas para manutenção e melhora da atividade física e treinamento cognitivo. Exercícios corporais são considerados especialmente eficientes para manter competências diárias no longo prazo.

Em relação ao ambiente social encontram-se diversas abordagens para treinamento por profissionais da área de cuidadores, que propõe a necessidade de reforço sistemático, também para pessoas em idades mais avançadas, por intervenções orientadas para a melhoria de contatos sociais.

A melhoria introduzida na organização do espaço residencial e de acesso ao espaço público disponível nas imediações da moradia, tem-se mostrado significativa para elevar o desempenho da competência diária no desenvolvimento de atividades quotidianas e na ampliação o raio de ação de mobilidade da pessoa idosa.

A competência diária está influenciada por diversas variáveis e determina que é necessária a aplicação de diversas formas de intervenção, quando as habilidades da pessoa idosa sofrem redução, e torna-se evidente, que as rotinas anteriores deverão sofrer modificações. Isto vale tanto para aspectos da capacidade física como cognitiva.

O conhecimento atual disponível, evidencia que grande parte de pessoas idosas pode efetuar modificações nas condições de mobilidade, no manejo saúde e no próprio curso de vida. No aspecto sócio econômico, as intervenções não atuam somente sobre o indivíduo, mas também no campo do mercado, nos serviços sociais públicos e privados. As intervenções que podem ser efetuadas para manutenção da competência diária em idosos, são também afetadas significativamente pelo nível cultural dos indivíduos.

As evidências levantadas pelos estudos e pesquisas sobre o envelhecimento indicam que há um substantivo potencial de autonomia que pode ser desenvolvido e que ainda não é utilizado de forma plena (Wahl, 2012).

2.4.5-Sexualidade

2.4.5.1-Sexualidade no envelhecimento

Com a evolução do processo de envelhecimento modifica-se a capacidade de reação sexual do corpo humano, bem como a vivência e a conduta sexual em pessoas idosas. No processo de envelhecimento podem ocorrer perturbações da sexualidade que não são decorrentes do envelhecimento em si, mas surgem em conjunto com doenças somáticas ou danos psicológicos.

O fenômeno da sexualidade no envelhecimento é fortemente influenciado através de imagens sociais, da publicidade, de artigos, os quais também influenciam a cultura e a pesquisa científica. Alguns aspectos da sexualidade em idosos, como por exemplo homossexualidade, fatores de risco ou abusos sexuais, são ainda pouco tematizados na literatura gerontológica.

Uma avaliação da literatura do tema no campo da sexualidade no envelhecimento torna logo evidente, de que existem interpretações distintas dobre este fenômeno. Os estudos estão impregnados, em primeiro lugar da pesquisa no campo médico com os fundamentos anatômicos da sexualidade no envelhecimento, no qual são focados a incidência de alterações fisiológicas e por outro lado, é comum na literatura a exploração de mitos negativos, como “no envelhecimento não há mais nada”, (Mito: relato amplificado de fatos ou personagens através do imaginário coletivo, de aspectos da condição humana, que podem guardar um fundo de realidade) e contra o qual são contrapostos fatos da medicina corretiva. Por outro lado, são tematizadas perdas funcionais e são oferecidas possibilidades medicinais, farmacológicas, psicológicas, as quais podem compensar perdas funcionais da sexualidade.

Um outro ramo da pesquisa de orientação da gerontologia psicológica ocupa-se com a vivência sexual e o comportamento de pessoas idosas. Também nela, observa-se uma tendência, de que estereótipos negativos são colocados em questão. Há um conceito generalizado, de que para as mulheres, ocorre uma interação, que associa o declínio da sexualidade com a chegada da menopausa. No caso de homens, nos quais as modificações biológicas ocorrem de forma mais lenta ao longo do tempo, não ocorre a caracterização de uma linha divisória no tempo, no qual a sexualidade passa a ser uma atividade declinante. Na maioria dos estudos empíricos quantitativos, a linha divisória entre o estado adulto e idoso, para ambos os gêneros, é traçada a partir dos 50 anos.

Uma definição satisfatória do conceito de sexualidade representa ainda um desafio, colocando-se a questão de que com qual abrangência este conceito deve ser tomado para que o fenômeno seja adequadamente contemplado. (Sexualidade:qualidade do que é sexual; conjunto de caracteres externos e internos determinados pelo sexo do indivíduo. Psicanálise: conjunto de excitações e atividades presentes desde a infância de um indivíduo, que está ligado ao coito, assim como os conflitos daí resultantes).

O conceito de sexualidade liga-se também com a prática física sexual em si, mas também com sentimentos, papéis sexuais, orientação sexual, atratividade corporal e relacionamento romântico. Em quais formas da expressão da sexualidade são válidas normas culturais para se colocar sexualidade com respeito aos outros? A maioria dos estudos empíricos respondem estas questões de forma implícita, através da operacionalização de como é destacada, e torna possível que seu conceito possa denominar diferentes fenômenos.

Na literatura científica gerontológica estes conceitos implícitos da sexualidade em idosos vem sendo pesquisada através das modificações fisiológicas e de modificações na vivência e conduta das pessoas que se encontram na fase de envelhecimento.

2.4.5.2-Modificações fisiológicas

O ciclo de reação sexual dos seres humanos desenvolve-se como um processo psicossomático, que passa por influência, tanto psíquica somo somática, razão pela qual o esclarecimento do seu significado, apenas por um destas variáveis torna-se insuficiente. Perturbações sexuais funcionais, perturbações do desejo sexual, agitação sexual ou a capacidade de atingir o orgasmo, são quase sempre o resultado de diversas etiologias (diferentes causas de doenças).

Para o entendimento das modificações na sexualidade que ocorrem no envelhecimento é importante diferenciar, se estas modificações são decorrentes de processos patológicos que atuam nas perturbações das funções sexuais, ou se simplesmente decorrem de modificações do ciclo de reação sexual resultante do envelhecimento psíquico e somático natural.

Quando se abordam perturbações funcionais sexuais em seu sentido mais estrito, deveriam, em princípio, ser considerados fatores médicos corporais, que possam estar influenciando, os quais precisam ser identificados e tratados. Desta forma, modificações trazidas por doenças ou de substâncias que atuam no sistema hormonal, no sistema nervoso ou no sistema circulatório podem ser os responsáveis primários da piora nas funções sexuais.

Para homens idosos, não havendo danos fisiológicos ou psicológicos, a evolução do ciclo de reação sexual não é diferente do que ocorre em homens em estágios mais jovens. No entanto ocorrem alterações nas reações fisiológicas, de forma que sua intensidade se reduz, leva mais tempo para serem ativadas e para que completem sua condição de desempenho sexual. Uma plena ereção em idosos ocorre de forma mais lenta, exige maior estimulação direta e não se mantém por um tempo mais prolongado. Durante a fase de orgasmo a ejaculação é menos intensa e as contrações no pênis, próstata e reto são mais fracas. Homens idosos relatam um baixo impulso para ejaculação e um maior controle sobre a ejaculação.

Em mulheres, a exemplo do que ocorre em homens, são aptas a fruir prazer mesmo em idades avançadas. Permanece a capacidade de obtenção de orgasmos múltiplos quando forem mantidos por apropriada estimulação, mas a duração e a intensidade podem ser reduzidas. As principais modificações fisiológicas que ocorrem em mulheres pelo envelhecimento estão associadas a uma redução do nível de estrogênio (hormônio cuja ação está relacionada com o controle da ovulação e desenvolvimento de características femininas), que leva a uma atrofia da genitália externa e interna, que se torna mais suscetível a lesões e infecções. É constatado também que ocorre uma forte redução da capacidade de lubrificação e uma deficiência de androgênio (hormônio esteroide) o que conduz a redução da libido (libido: procura instintiva de prazer sexual, desejo).

2.4.5-3-Modificações na vivência e conduta

Estão disponíveis até o presente poucas pesquisas sobre a vivência subjetiva da sexualidade conduzida em grupos experimentais e direcionada a captar, em profundidade, dados do significado sobre comportamento sexual de idosos. Uma pesquisa realizada com 21 homens e 23 mulheres com idades entre 50 a 92 anos, sobre a importância da sexualidade indicou que ocorre uma interdependência de condições, circunstâncias, transtornos que geram modificações adaptativas na sua regulação, sua orientação e sintonia para com a sexualidade. Nas respostas da entrevista para avaliação de sua sexualidade, foi colocada como não diretamente relevante, mas influenciada por consequências de restrições trazidas por multimorbidade ou viuvez. Para estes entrevistados, na sua vida a sexualidade foi considerada com baixa prioridade, sobretudo, sobre o interesse por um novo parceiro sexual e a baixa probabilidade de se tornar mais uma vez sexualmente ativo. Um tempo e vida prolongado e uma longa parceria foram considerados fatores significativos para a sexualidade. Todos os entrevistados que tinham parceiros sexuais, consideram que a sexualidade em sua vida, pelo menos, tinha um significado gradualmente médio. Uma minoria considerou, inclusive, a ocorrência de significado crescente com o avanço da idade. Outras pesquisas indicaram também, que no caso dos homens, estes consideraram que mulheres idosas são pouco atrativas
sexualmente.

2.4.5.4-Tratamento de perturbações sexuais

Tratamento farmacológico

As possibilidades de tratamento farmacológico de perturbações das funções sexuais em homens idosos desenvolveram-se nos anos recentes como no caso do campo da ereção, que pode ser tratada pela ingestão oral de estimulação de Sildenafil (Viagra), que influencia a duração e a robustez da ereção, bem como a capacidade de orgasmo. Novo estudos indicam que a adesão de pacientes é influenciada pela aceitação geral de tratamento medicamentoso, aceitação através da parceira, duração da abstinência sexual e tipo de perturbação, os quais podem ser modificados pelo tratamento.

Para mulheres o tratamento farmacológico orienta-se sobretudo sobre terapias que modificam o nível hormonal, combinado com um tratamento que restabelece a lubrificação da genitália antes do coito. Entretanto, aqui também devem ser observados a interação de processos corporais e psíquicos.

Terapia comportamental

No campo da terapia comportamental, por um lado há o esclarecimento de clientes sobre as modificações fisiológicas relacionadas ao envelhecimento e uma resposta na expectativa do resultado que pode ser alcançado pela prática da sexualidade. Por outro lado, a psicoeducação pode desempenhar um importante papel sobre as possibilidades de compensação de dificuldades sexuais, como no caso de problemas ligados ao prolongamento da fase de estímulo, uso de fantasias ou recursos eróticos, realização da atividade sexual durante a manhã, reforço de práticas de estimulação manuais e modificações de posições para realização do coito. A exploração destas alternativas é proposta para contornar perturbações psíquicas, e neste caso é recomendável o aconselhamento através de terapeutas. A terapia psicológica não se orienta sobre a sexualidade perturbada em si, mas ocupa-se sobre os fundamentos psíquicos existentes, como problemas de relacionamento entre parceiros. Perturbações sexuais espelham frequentemente conflitos não solucionados da autonomia e dependência dos clientes idosos, como por exemplo, a desconstrução de papéis, e com isto, a incorporação de sentimentos de aversão e de medo podem tornar-se fator limitante (Heidenblut & Zank, 2012).

2.4.6-Administração do tempo livre

Para a Gerontologia Aplicada, a administração do tempo livre é um tema importante da fase de envelhecimento, no qual são abordados os diferentes significados, funções e usos do tempo disponibilizado após a fase de aposentadoria. Os estudos mostram uma clara ligação entre o nível de atividade, a saúde, o tempo de vida e o status social no comportamento de uso do tempo livre por idosos. As atividades relacionadas ao uso do tempo livre compõem um importante fator dentro de uma nova cultura de envelhecimento ativo e exercem uma influência positiva em qualquer estágio de vida.

Na segunda metade do século vinte, decorrente do encurtamento do tempo de trabalho profissional, do aumento do tempo após a atividade profissional e da melhora das condições de saúde das pessoas que ingressam na fase de aposentadoria, ocorreu a percepção de estas pessoas não ingressavam apenas em um período de repouso, mas em uma nova fase de vida ativa. Este fato levou a literatura gerontológica a incorporar aspectos ligados ao planejamento de atividades de uso do tempo livre e políticas sociais foram propostas para que o nível de atividade possa atuar sobre a saúde e satisfação de vida de pessoas que envelhecem. A atividades de lazer que são incluídas na administração do tempo livre são um importante fator de integração social e desenvolvimento de capacidades que propiciam uma melhor condução do dia a dia das pessoas idosas.

A concepção mais frequente do tempo livre compreende a ideia do tempo, no qual, as atividades obrigatórias, em especial o trabalho e cumprimento de tarefas não são mais obrigatórias ou estão terminadas. Muitas pessoas, no entanto, incorporam o trabalho remunerado ou voluntário em sua agenda de uso do tempo livre e com grande espaço dentro do seu interesse e satisfação pessoal. Percebem o tempo livre como monótono ou preenchido com tarefas pouco gratificantes e nestas condições o trabalho passa a incorporar o tempo livre.

O tempo livre pode ter diversas conotações, que podem ser entendidas como consumo, como atividades de negócios, como fator importante da economia e da produtividade, mas também no desfrute do lazer. Nesta abordagem as pessoas idosas deixaram de ser classificadas como segmento improdutivo, mas tornaram-se reconhecidas como um importante segmento que demanda bens e serviços. Como segmento de consumo passaram a apresentar um papel significativo na atividade social e de impulso do crescimento econômico. São exemplos, o consumo no setor de lazer, turismo e participação no emprego de novas tecnologias de mídia e informação, onde o segmento alvo situa-se no grupo de idosos jovens, com idade de 50 anos ou mais.

Um outro significado de tempo livre no envelhecimento está relacionado ao conceito de atividade. A atividade realizada por idosos pode abranger prática de esportes, participação cultural, atividades de interação social. Pode estar associada a lazer, mas também a atividades obrigatórias, como no caso de exercícios corporais para a manutenção da saúde.

Conta para o desenvolvimento de atividades a motivação individual, que pode ser estabelecida pela forma de utilização das oportunidades de lazer, bem como pela participação em atividades relacionadas ao desenvolvimento de tarefas, hobbies, trabalho remunerado ou voluntário. No caráter central do conceito de atividade de uso do tempo livre está a dimensão de liberdade.

Considerando que há uma motivação, o indivíduo irá buscar definir a razão e a forma de condução de uma atividade de uso do tempo livre. Neste sentido, o conceito de tempo livre passa a ser caracterizado de forma subjetiva, que oferece uma orientação na busca de uma nova experiência de percepção pessoal ou uma busca da própria identidade. Tempo livre incorpora uma concepção que não está apenas ligada a atividade desempenhada no tempo, mas sobretudo ligada ao ator. Se uma pessoa age, ela também efetuou uma escolha. A escolha efetuada está interligada, em princípio com a motivação individual e menos influenciada por motivações externas. Tempo livre significa algo para manejar, algo para descobrir, significa uma escolha livre, significa uma atividade criativa, com um forte caráter de vivência.

Um conceito positivo do tempo livre no envelhecimento é oposto a ideia de descanso, de escapismo, de monotonia e se estrutura modernamente sobre a percepção de que há um grande potencial individual em pessoas que alcançam a fase de envelhecimento.

Embora haja uma grande variabilidade entre indivíduos, uma grande parte das práticas de uso de atividades de tempo livre está correlacionada com o avanço da idade. O avanço da idade determina uma moderação progressiva do tempo dedicado ao lazer, o que em geral resulta de precarização das condições de saúde e de fatores sócio econômicos. Deste modo, há uma redução crescente do interesse e da frequência na participação cultural, em eventos sociais e prevalece a utilização de atividades que demandam menor esforço corporal para uso, como consumo de mídia, televisão, rádio, leitura de jornais e revistas. Este comportamento é constatado para idosos com idades mais avançadas, independentemente de sua camada social.

Entre mulheres e homens mostram-se diferenças no uso do tempo livre. Homens idosos praticam mais frequentemente hobbies, escutam música, fazem excursões, praticam esportes, utilizam novas tecnologias de informação, enquanto que mulheres idosas escutam radio frequentemente, fazem passeios de compras, praticam jardinagem e fazem trabalhos manuais artesanais.

No grupo de pessoas com 60 anos ou mais as diferenças verificadas no comportamento do uso do tempo livre estão influenciadas, em grande parte, por diferenças de formação educacional. Em seu conjunto os dados também mostram uma participação mais significativa no uso do tempo livre por mulheres quando comparado com homens.

Na avaliação de atividades diárias é necessário incluir também a análise do estilo de vida praticado por idosos, cujos eventos passados e mudanças na estrutura do envelhecimento podem causar alterações no modo uso do tempo. Os estudos indicam que a alteração da condução de um modelo de vida ativo na passagem para a aposentadoria tem pouco significado. De um modo geral os idosos que se aposentam tendem a manter modelos tradicionais de uso do tempo livre. Mesmo quando uma sociedade pós-moderna seja pregada através de uma cultura de consumo, isto não significa, que automaticamente, o grupo de idosos com 60 anos ou mais, irá assumir uma nova cultura de consumo e desenvolvam novos estilos de vida. As principais atividades diárias de lazer ainda continuam sendo ver televisão, resolução de palavras cruzadas e passeios a pé. É, no entanto, esperado, que a condução do tempo livre venha a ser alterada significativamente nos anos futuros pelas novas gerações que ingressarem na fase de envelhecimento. Esta perspectiva fundamenta-se no maior nível de formação educacional, o qual irá influenciar na modificação dos hábitos de consumo de pessoas que irão envelhecer.

O conhecimento atual do modo de vida de pessoas com idade entre 50 e 75 anos, e que mantém um elevado nível de atividade mostram que detém um alto grau de suporte da autonomia, mobilidade e inclusão social. No caso de pessoas com idades avançadas, existe, no entanto, maior vulnerabilidade decorrente de restrições físicas e cognitivas que levam a monotonia, solidão e a redução da qualidade de vida.

Os estudos sobre uso do tempo livre e ocupação do tempo no envelhecimento, revelam um campo específico para a adoção de estratégias de gestão da idade avançada, a qual tem a ver com as condições de saúde, e que possa promover a adaptação das capacidades funcionais e institucionais para compensar vulnerabilidades individuais.

No caso do uso do espaço público destinado ao uso do tempo livre (parques e jardins) por exemplo, sobressaem as condições de segurança. Pessoas idosas acabam restringindo o uso do espaço público por dificuldades de deslocamento nas vias públicas e medo da criminalidade. A região onde se encontra a moradia, é por isto, de grande significado, porque o quotidiano de pessoas aposentadas e de pessoas com idades avançadas concentra-se nas proximidades do seu local de residência. As facilidades de deslocamento dentro da estrutura urbana tende a estimular a frequência e o exercício da interação social, que representam uma função de fortalecimento e estimulação da motivação para criação de um suporte social para uso do tempo livre.

O objetivo da pesquisa e do debate sobre a vida no envelhecimento concentra-se na busca de modelos de atividades diárias que sejam plenas de sentido e gratificantes. O tempo livre do idoso é construído, menos como uma extensão dos hábitos do tempo de trabalho que precede a aposentadoria, mas mais, como a absorção de uma nova estrutura de estilo de vida. É uma mudança do estilo da vida diária, e pode acontecer que o tempo livre possa se constituir em um fardo carregado de ociosidade. Pode haver também um processo, no qual pode persistir uma maior pressão para que seja mantido um elevado grau de atividade, e que não deve ser vivido de modo a representar uma sobrecarga para a pessoa idosa (Kolland, 2012).

2.4.7-Referências

ABDOUN,E. Mini-jeûnes. Une panacée à la portée de tous? In: Science & Vie, Mondatori, France, nº 1177, octobre, 2015

ABDOUN,E, BETTAYEB, A,K, GRACCI,F & RAMBERT,H. Les super-pouvoirs du Ventre, In; Science & Vie, Mondadori France, nº 1.183, avril, 2016

BONNEAU,C,SAUMET,M,BETTAYEB,K,ABDOUN,E,DELPORT,A. Notre Assiete em Question. Science & Vie, Hors Série 274, mars, Mondadori France p.99, 2016

ERICKSON,K,I, MILLER,D,L, & WEINSTEIN,A,M. Verbesserung der Gehirnfunktion und Der kognitiven  Leistungsdfähigkeit durch körperliche Acktivität. In: Wahl,H,W, Römer,C,T & Ziegelmann, J,P, Angewandte    Gerontologie, Stuttgart, Kohlhammer 2012

HANCOK,C. Tels parentes, telles bactéries. Science & Vie, Hors Série 272, septembre Mondadori France, p. 85, 2015

HEIDENBLUT,S. & ZANK,S. Sexualität. In: Wahl, H.W, Tesch-Römer C. & Ziegelmann,J,P. Angewandte          Gerontologie, Stuttgart, Kohlhammer, 2012

KOLLAND,F. Freizeitgestaltung, In: Wahl,H,W, Römer,T,C & Ziegelmann, J,P. Angewandte Gerontologie, Stuttgart,    Kohlhammer, 2012

SIEBER,C, Ernährungsintervention. In: Wahl,H,W, Römer,C,T & Ziegelmann,J,P. Angewandte Gerontologie,            Stuttgart, Kohlhammer, 2012

WAHL,H,W. Erhalt und Wiedergewinung von Altagskompetenz. In: Wahl,H,W, Römer,C, T, & Ziegelmann,J,P,          Angewandte Gerontologie, Stuttgart, Kohlhammer, 2012

 


Sobre o autor:

Nelson Frederico Seiffert

Doutor em Engenharia de Produção, com a tese de Doutorado sobre Gestão Ambiental. Trabalhou em Pesquisa na EMBRAPA durante 25 anos.

Desenvolve atualmente estudos na área de Gerontologia Ambiental e Aplicada. Conduziu Seminários sobre Gerontologia Ambiental e Aplicada no NETI/UFSC em 2015, 2016 e é Diretor Técnico Científico da ANG/SC – GESTÃO 2017/2019.

E-mail: [email protected]

 

 

 

Artigos de Associados

O desafio da realização da vida no envelhecimento

2.3-O DESAFIO DA REALIZAÇÃO DA VIDA NO ENVELHECIMENTO

Nelson Frederico Seiffert

No primeiro plano de uma realização exitosa da vida em idosos situa-se o desafio de lidar com perdas nos diferentes aspectos de competências funcionais, tanto da saúde corporal como cognitiva. Modelos de configuração da vida em idades avançadas precisam incluir processos de controle das perdas. Resultados de pesquisas indicam que a imposição de objetivos pessoais desempenha um importante papel e que a escolha de objetivos pessoais (seleção), o esforço em melhorar e perseguir objetivos (otimização) e a substituição de perdas (compensação) conduzem a um envelhecimento bem-sucedido.
Uma definição clara de novos objetivos pessoais para substituir e condicionar perdas, com um foco centrado sobre o processo de condução da vida, em vez de focar apenas sobre a expectativa de resultados, pode ajudar a evitar novas perdas em épocas futuras (Freund & Hennecke 2012).

2.3.1-Configuração da vida em idade avançada

Em idade avançada ocorre numerosas modificações, as quais representam um desafio para o suporte das condições de vida. Estas modificações ocorrem em grande parte por perdas no processo de desconstrução somática, como perdas da funcionalidade corporal, perdas da fluidez da inteligência e da capacidade da memória. No entanto, estas perdas não são uma regra geral para todas as pessoas, muitas das quais apresentam maior estabilidade funcional em idades avançadas, como por exemplo, no âmbito individual da fala e da capacidade cognitiva.No campo individual, em idades avançadas, podem ocorrer inclusive ganhos, como por exemplo, maior satisfação pessoal através do incremento de contatos sociais. No caso da aposentadoria ocorrem efeitos de perdas e ganhos. Por um lado, a aposentadoria está ligada a perdas de contatos com colegas de trabalho e de uma estrutura diária baseada em uma rotina estável. Por outro lado, a aposentadoria oferece a abertura de novas possibilidades através da liberdade de utilização do tempo livre, como a realização de passeios e viagens, o desenvolvimento de hobbies, prática de esportes, entre outras. O tempo após a aposentadoria traz consigo um grande potencial para incrementar ações otimizadas que ofereçam suporte a vida de pessoas idosas.
As modificações individuais que surgem em idades avançadas, representadas por perdas crescentes de habilidades corporais e decorrentes de normas sociais ou de expectativas para esta fase da vida, impõe desafios especiais para a sustentação da qualidade de vida de pessoas que envelhecem. Por esta razão, assumem elevada relevância os processos que atuam sobre a forma de como lidar com as perdas que atingem o envelhecimento.
Diversos estudos e pesquisas propuseram modelos que oferecem orientações de apoio ao envelhecimento, os quais possibilitam administrar modificações e manipular recursos de saúde que se alteram com a idade. A diferença central entre estes modelos situa-se no foco, que pode ser direcionado a uma abordagem proativa, reativa ou pela adoção de controles psicológicos. O modelo de Seleção, Otimização e Compensação (SOC) coloca na formulação de sua teoria de aplicação, prioritariamente, processos proativos e motivacionais.
O modelo da Seleção, Otimização, Compensação – SOC, proposto por Baltes & Baltes (1990) citado por Freund & Hennecke, (2012) postula que o desenvolvimento exitoso do envelhecimento pode ser definido como a maximização simultânea de ganhos de desenvolvimento pessoal e a minimização de perdas. Estas podem ser promovidas através da ação conjunta da seleção de objetivos, da otimização de fatores de desempenho e na compensação de inabilitações funcionais, adoção de estratégias de comportamento, auto regulação e uso de recursos de apoio funcional. O modelo estabelece que a persistência em alcançar objetivos pessoais é o princípio fundamental de suporte a uma vida exitosa no envelhecimento.
A Seleção é definida como o desenvolvimento de escolhas, priorização e contextualização de objetivos (a caracterização de objetivos individuais dentro de seu contexto pessoal de vida), bem como o comprometimento com os objetivos escolhidos.
A seleção exitosa indica que a escolha de objetivos está baseada no pressuposto de que ocorre um leque de alternativas que podem ser introduzidas no processo de envelhecimento para a melhora do desempenho físico e cognitivo individual. O processo de seleção leva o foco a um certo número de possibilidades limitadas que sejam realizáveis pelos indivíduos, e de um modo geral, idosos em idades avançadas estabelecem e conduzem apenas um pequeno número de objetivos. Tal abordagem conduz mais realisticamente a um desempenho exitoso destes objetivos na superação de desabilidades e permite conduzir melhor o dia a dia, quando comparado com pessoas que se conformam com os fatos que os afetam ou deixam-se conduzir pelos acontecimentos, aceitando as perdas.
A otimização orienta-se sobre a persistência na melhoria de objetivos, os quais buscam um ganho de desenvolvimento pessoal. Para isto conta a aquisição e ganho de novas habilidades, o reforço de recursos pessoais, o treinamento de habilidades, a orquestração de habilidades e o investimento de tempo com foco no alcance de objetivos claramente estabelecidos. Os processos de otimização conduzem a elevação ou manutenção de níveis de funcionalidade mais elevados.
Pelo fato de que as perdas se acentuam no envelhecimento o processo de compensação apresenta uma elevada importância. Compensação significa a inclusão de meios para atuar no controle ou substituir perdas, como por exemplo no uso de cadeira de rodas quando o aparelho locomotor apresenta restrições de mobilidade.
Estratégias típicas de compensação são a substituição de habilidades perdidas através da aquisição de novas habilidades, o uso de recursos não utilizados ou a inclusão de suporte através de outra pessoa.
Na administração de modificações no estado de saúde causadas por perdas funcionais, os procedimentos adotados no modelo SOC estão ligados ao planejamento de manutenção da saúde. A aplicação diária de seus princípios possibilita a reabilitação em pessoas, mesmo em idades mais avançadas. Na prática de intervenção deveria estar incorporado o treinamento sobre o uso de estratégias de suporte e proteção a perdas por inabilitações corporais e cognitivas. Os resultados demonstram que na adaptação de objetivos de manutenção da saúde, após a incidência de restrições físicas, a introdução de recursos de compensação pode minimizar o efeito de perdas.
Enquanto que, em idosos jovens a prioridade é o acúmulo de recursos, de facilidades, da otimização na formação educacional, das finanças, da interação familiar, do uso do tempo livre, em idades mais avançadas, as pessoas passam a ser confrontadas com perdas de motivação, da mobilidade e da capacidade cognitiva, havendo necessidade da adoção de medidas que estimulem a manutenção do nível funcional. Não apenas elevar o nível de motivação para evitar agravamento de perdas, mas também perseguir objetivos ligados a valores subjetivos de bem-estar.
Em idosos com idades avançadas os objetivos buscam medidas que possam reduzir perdas funcionais, enquanto que em adultos jovens os objetivos buscam alcançar níveis elevados de desempenho funcional corporal e cognitivo.
A adoção de medidas de suporte para a realização da vida em idades avançadas não depende apenas do domínio do controle exitoso da evolução das perdas, mas também na configuração da própria vida, através do estabelecimento de objetivos pessoais capazes de ser perseguidos. Ao longo do curso de vida é necessária uma orquestração de estratégias que previnam o agravamento de perdas e possam elevar o desenvolvimento de ganhos.
Na prática, parece que a auto regulação para perseguir objetivos pessoais descortina um campo de atuação no qual ainda é possível que sejam obtidos ganhos pessoais. No caso da nutrição e de dietas para emagrecimento, por exemplo, idosos conseguem bons resultados. Outros resultados de auto regulação indicam a importância da imposição de objetivos na regulação emocional que causam efeitos negativos e no reforço da manutenção de efeitos positivos. Os resultados indicam também que a auto regulação é um processo que pode ser treinado através de intervenções objetivas, e que é possível o seu desenvolvimento, mesmo em idades avançadas (Freund & Hennecke, 2012).

2.3.2-Gestão da multimorbidade e doenças crônicas

Em estágios mais avançados do envelhecimento os indivíduos estão sujeitos a sofrer a incidência de doenças decorrentes da multimorbidade e de doenças crônicas. As pessoas são atingidas simultaneamente por diversas doenças, nas quais não há possibilidade de uma cura definitiva, o que impõe modificações orgânicas e psíquicas e que exigem uma nova adaptação do modo de vida. Nesta etapa a tarefa de gestão das inaptidões decorrentes da doença requer uma forte cooperação entre o doente e as pessoas que irão oferecer apoio e tratamento.
As enfermidades que ocorrem no envelhecimento são influenciadas por recursos pessoais dos indivíduos, por terapias desenvolvidas a partir do conhecimento das características das doenças, por intervenções terapêuticas e pelo apoio disponível no ambiente social do idoso. Em pessoas com idades mais avançadas os recursos cognitivos tendem a sofrer regressão. Esta condição pode influenciar o desenvolvimento de um tratamento efetivo, pela dificuldade de obter informações através do doente para a caracterização das diferentes causas de inabilitações que o atingem e o desenvolvimento da terapia adequada.
Em idades mais avançadas as doenças que afetam os indivíduos apresentam características especiais de multimorbidade e ser de caráter crônico. A morbidade manifesta-se com grande probabilidade através de diversas enfermidades simultâneas. No grupo de pessoas com 70 anos ou mais, o número de indivíduos que são afetados por cinco ou mais doenças chega a 30%, e com isto, também se eleva o número de pessoas que passam a tomar um maior número de medicamentos. Estas enfermidades manifestam-se como doenças crônicas, caracterizam-se por sua longa duração e não oferecerem possibilidades de cura.
A gestão de doenças crônicas e das limitações decorrentes de sua incidência está centrada fundamentalmente no manejo conjunto de aspectos subjetivos da vida individual e dos efeitos resultantes que sobrecarregam a pessoa através das restrições no uso dos recursos corporais e cognitivos.
Para a gestão da administração exitosa de doenças crônicas é indispensável conhecer a condição dos recursos individuais, físicos, cognitivos e ambientais disponíveis, a clara compreensão e aceitação da doença pelo indivíduo e a introdução de medidas de intervenção capazes de atuar sobre os recursos pessoais e sobre a compreensão e aceitação da doença pelo doente.
Para a tomada de decisão sobre medidas de tratamento, os estudos levam em consideração, além da listagem das enfermidades incidentes no indivíduo, a caracterização dos recursos pessoais que podem ser lançados mão, a orientação a ser dada para a terapêutica e o convencimento da pessoa doente sobre a eficiência de medidas de controle do stress resultante. Contam para o tratamento, ao lado do conhecimento detalhado da doença, a disponibilidade de recursos sociais e de apoio familiar.
Pelo lado da aceitação da doença é de importância central que haja uma conscientização pela pessoa afetada de que a doença incorpora em seus aspectos de tratamento uma modificação no comportamento e do modo de vida. Neste aspecto existem diversos conceitos de intervenções como programas de aprendizado no caso da diabete, no controle do stress, medidas de terapia familiar, os quais são disponibilizados por instituições públicas ou privadas e que contribuem para a efetividade de medidas de tratamento direcionadas aos doentes.
Entre os diversos modelos de intervenção que são propostos, dois distinguem-se por seu foco de atuação sobre crises em geral e limitações causadas por doenças. Em um modelo por exemplo, a pessoa atingida experimenta modificar ativamente a vivência da doença. Noutro é modificado o conceito das limitações que atingem o indivíduo, caracterizados quais valores são modificados e quais objetivos serão adaptados, de forma a desconstruir as limitações ou mesmo propor a sua não aceitação. Neste caso, por exemplo, é possível introduzir controles que exercem influência sobre as condições do ambiente externo, como na redução de barreiras existentes no ambiente residencial que afetam a mobilidade e podem causar lesões e quedas.
As medidas de intervenção são estruturadas para levar ao enfraquecimento ou eliminação de dificuldades causadas por doenças crônicas e baseiam-se em especial no trabalho conjunto ativo do paciente. Além de mudanças no modo de vida diário, contam por exemplo, a auto regulação da ingestão dos medicamentos e a visitação regular para consulta e acompanhamento médico.
A gestão de doenças direcionada a pessoas idosas deveria estar focada especialmente sobre as reservas de recursos da pessoa, em fatores motivacionais, bem como em variáveis cognitivas. Os modelos de terapias estão fortemente influenciados por especificidades individuais e os objetivos para uma intervenção otimizada precisam decorrer do planejamento e conduzidas no contexto biográfico dos pacientes (Kliegel et al, 2012).

2.3.3-Lidar com a viuvez

Uma das perdas mais graves que pode ocorrer em idades mais avançadas é o falecimento do cônjuge, no entanto, o dano que pode causar nos indivíduos é variável. É verificado que muitas pessoas idosas podem lidar de forma positiva com a perda do seu companheiro e dificuldades prolongadas de adaptação somente são identificadas em pequenos grupos menos significativos. Um objetivo importante do tratamento da viuvez é compreender as dificuldades e necessidades das pessoas atingidas e oferecer as melhores medidas de apoio possíveis.
A morte de uma pessoa próxima é uma das experiências de ruptura mais cortante que pode ocorrer no curso de vida do indivíduo. A forma de como lidar com a viuvez é uma parte do estudo do envelhecimento que envolve um tema permanente e de importância para a gerontologia aplicada.
O que esta perda significa para os indivíduos varia bastante. Pode significar em primeiro lugar a perda da única pessoa íntima confiável, e da pessoa com quem se desenvolveu a fundação de uma família, a construção de um lar e a criação dos filhos e descendentes. Através do compartilhamento da organização da vida diária ocorre uma interação pessoal que dá significado a existência na velhice e a perda desta condição representa um aspecto muito difícil de administrar. Para a pessoa que sobrevive, parece que uma parte de si mesmo foi suprimida. Acrescente-se a este momento delicado, que as providências que precisam ser tomadas pela pessoa que permanece, assume uma sobrecarga administrativa elevada, que se adiciona a uma fase emocionalmente dura e com forte influência sobre o estado de saúde do indivíduo.
No caso do falecimento após um longo período de enfermidade é provável que os familiares que atuaram nos cuidados ao doente estejam extenuados e o falecimento venha a se constituir em um momento de alivio.

A orientação da maneira de como se lidar com a viuvez pode assumir diferentes formas e há um entendimento de que as medidas de controle de suas consequências são importantes. Em uma situação considerada “normal” ou “saudável” ocorre uma fase intensa de tristeza e luto, na qual a pessoa atingida se concentra no abatimento, seguindo-se por uma fase de “normalização gradual”, a qual em determinado momento desemboca em um estado que se define como de “superação”. Desvios neste padrão de reação, como no alongamento do estado de luto, a conduta é considerada como sinal de uma reação patológica, que irá desenvolver ou agravar problemas de saúde. O prolongamento da fase de luto só tem significado para diversas culturas, que em geral não são ocidentais.
Os estudos mostram uma grande variabilidade entre indivíduos nas reações sobre a viuvez e indicam duas orientações para se superar o trauma da perda. A primeira concentra-se sobre a sensibilidade ao luto e sobre a realidade das perdas, enquanto a segunda orienta-se para a tentativa de mitigar a dor, buscar distanciar-se da tristeza e concentrar-se sobre as demandas diárias da vida.
A pessoa atingida precisa dosar a vivência do luto e ao mesmo tempo, suprir espaço, reunir forças para efetuar a modificação necessária da vida quotidiana. Na prática, a adoção de ambas estratégias é o mais comumente eficaz.
Pessoas, que no período anterior à perda, estiveram afetadas por perturbações psíquicas, como depressão ou pânico, vivenciam com maior dificuldade a viuvez. Quando a viuvez ocorre em idades avançadas é provável também ocorrer o agravamento da saúde do idoso remanescente. No caso de uma longa fase de cuidados dedicados ao cônjuge doente, antes de seu falecimento, isto representa uma sobrecarga de cuidados e desgaste do estado emocional, o que pode ser agravado pela falta de apoio dos familiares no processo de divisão de responsabilidades na prestação de cuidados ao doente.
Também é encontrada frequentemente uma relação negativa entre baixos níveis de rendimentos e o grau de formação escolar da pessoa viúva. Esta condição causa uma tensão significativa na fase de prestação de cuidados ao enfermo pelo grupo de pessoas responsáveis, e na adaptação da pessoa viúva na fase da vida após o falecimento.
Outro aspecto que influi no modo como as pessoas lidam com a viuvez é a forma de organização individual ou familiar frente a realidade da finitude. É bastante claro que as pessoas se sentem despreparadas para a morte, mesmo após longos períodos de tratamento da pessoa doente. Os estudos indicam que ocorrem três campos que podem ser focados no enfrentamento da morte: o emocional (paz decorrente do falecimento após fase de tratamento); o programático (planejamento e providências antecipadas); o campo da informação (entendimento de aspectos médicos da fase final da vida). No entanto mesmo pessoas que se organizaram antecipadamente ainda podem sofrer reações e influencias emocionais inesperadas.
Como regra geral, deve ser reconhecido que muitas pessoas viúvas não irão necessitar medidas de intervenção de apoio especial. Os dados indicam inclusive que elas superam melhor a viuvez, quando suas reações adaptativas naturais podem transcorrer sem ser perturbadas por intervenções desnecessárias. Ao mesmo tempo deve ser reconhecido que a pessoa atingida em sua experiência pessoal de perda precisa ser apoiada. Uma validação de sua vida por pessoas do seu ambiente de relacionamento é considerada como uma forma importante de ajuda. Neste sentido grupos profissionais que atuam em apoio ao luto desempenham um papel relevante na ajuda pessoal para a busca da definição de novos objetivos. Algumas perguntas e respostas que podem ser levantadas são oportunas, e ajudam a reestruturar a vida da pessoa viúva, entre as quais podem ser citadas: em que medida a pessoa se sente deprimida ou amedrontada; quanto amparo através da famílias e amigos foi encontrado; no caso de um tratamento prolongado, quanto esforço e sobrecarga atingiu a pessoa; em que medida a pessoa se sentiu organizada/preparada para lidar com o falecimento e apoio a sua vida após a morte. Opções de apoio e tratamento a viuvez podem resultar destes questionamentos, através da forma como estas perguntas são respondidas, e podem conduzir um tratamento medicamentoso ou psicoterápico no caso de pânico ou depressão (Boerner, 2012).
2.3.4-Planejamento e administração da aposentadoria
A saída da pessoa da atividade profissional e a adaptação para a fase pós trabalho tem importantes repercussões, tanto para o interesse individual como público. A passagem para a aposentadoria é entendida como uma experiência crítica para a vida pessoal e traz responsabilidades que exigem uma nova adaptação e planejamento individual. Medidas de planejamento para a aposentadoria tem sido oferecida por empresas através de cursos que incluem aspectos da legislação que afetam aposentados e sobre o direito de idosos. O engajamento de instituições públicas neste trabalho tem oferecido resultados positivos na orientação de gestão da aposentadoria.
O financiamento do sistema de aposentadoria no Brasil tem se mostrado um enorme desafio para a sociedade em função de mudanças demográficas e alongamento do tempo de vida. O desequilíbrio da Previdência Social alcançou nos primeiros 11 meses de 2014 o valor de R$58,4 bilhões ante R$55,3 bilhões registrados para o mesmo período de 2013. Como proporção do PIB o desequilíbrio previdenciário foi de 1,25% e tem sido influenciado pela assunção de compromissos com aposentados do setor rural, que contribuem com valores ínfimos e o descumprimento histórico da União na obrigação de custear um terço das despesas do INSS, cabendo um terço às empresas e um terço aos empregados. Se a regra tivesse sido cumprida não haveria desequilíbrio (Editorial Econômico, Estado de São Paulo, 02/01/15).
Com a passagem para a fase pós trabalho, surge um desafio para os indivíduos e seu ambiente pessoal, e cuja nova condição de vida precisa ser avaliada de forma crítica. As condições de vida de pessoas aposentadas são influenciadas por seu nível de formação e de qualificação profissional, pelo seu histórico econômico e social e por características pessoais e familiares, as quais são bastante diferenciadas entre os indivíduos que se aposentam. No contexto histórico individual influi de forma marcante a realização de um planejamento antecipado para o tempo da aposentadoria o que inclui conhecimentos adquiridos nos anos da vida profissional e fatos que incidiram sobre as condições sociais e de saúde.
A condição de vida modificada pela aposentadoria levou a Gerontologia, a Sociologia e a Psicologia a realizar inúmeros estudos para desenvolver orientações sobre a necessidade de adaptação ao tempo pós trabalho, o qual indicou um quadro de resultados bastante diferenciado entre grupos de pessoas aposentadas. Com o ingresso na aposentadoria altera-se a situação financeira. Em média, perdas de receitas alcançam 25% a 30%, mas ocorrem diferenças significativas ligadas ao nível de educação, status profissional prévio e entre homens e mulheres. No caso de casais o nível de renda da aposentadoria é maior, enquanto que solteiros, separados, viúvos e mulheres, tem receitas mais baixas.
O status de saúde pode sofrer melhoras em pessoas que se aposentaram em razão de inabilitações decorrentes do trabalho, mas isto também implica em uma receita menor decorrente do tempo de aposentadoria antecipada.
O bem-estar geral, embora seja um aspecto subjetivo, permanece em geral alto, o que decorre de ganhos específicos de tempo livre e pequenas perdas de status e de receitas não chegam e exercer uma influência negativa expressiva.
Grandes pioras na condição de vida na fase de aposentadoria estão ligadas a pessoas com baixo nível educacional e sócio econômico, sobretudo em mulheres e em pessoas mal inseridas na rede social. Com a perda de contatos em seu grupo de trabalho, o status social passa a se reduzir e depender do círculo familiar, de amigos, de inclusão em grupos de relacionamento, de grupos religiosos e de apoio institucional.
A aposentadoria também pode definir uma nova forma exitosa de se lidar com a estrutura do tempo, o que permite o estabelecimento de novos objetivos e criação de interesses que substituem atividades anteriores menos prazerosas. Neste aspecto podem ocorrer efeitos positivos, por haver maior disponibilidade de tempo para ser dispendido com familiares, estabelecer novos contatos, desenvolver atividades de lazer, hobbies e participar de grupos sociais.
A adaptação ao período de aposentadoria é melhor conduzida através do planejamento antecipado. Estratégias de adaptação estão atualmente impregnadas da imagem de “um envelhecimento produtivo” e integração social através de uma participação ativa. Para incorporar estes objetivos, estão disponíveis para pessoas aposentadas, inúmeras ofertas de formação complementar como Universidades da Terceira Idade, Cursos Técnicos de reciclagem e atualização profissional para grupos seniores, que desejam continuar no mercado de trabalho. Contam também iniciativas de pequenas e médias empresas que incorporam aposentados em seu quadro funcional e organizações que aceitam voluntários para atuarem em ações comunitárias e sociais.
O conceito de projeto orientado para a adaptação de aposentados tem sido objeto de estudos e pesquisas, nos quais participam idosos, contribuindo com troca de experiências, no desenvolvimento de alternativas de interesse comum e engajamento comunitário. O financiamento destas iniciativas tem ocorrido através, tanto da iniciativa privada como por instituições públicas (Clemens, 2012).

2.3.5-Fontes de consulta

BOERNER,K, Umgang mit Verwitwung, In: Wahl,H,W, Römer,T,C & Ziegelmann, Angewandte Gerontologie, Stuttgart, Kohlhammer, 2012.

CLEMENS,W, Vorbereitung auf und Umgang mit Pensionierung. In: Wahl,H,W, Römer, C,T, & Ziegelmann,J,P. Angewandte Gerontologie, Stuttgart, Kohlhammer, 2012.

FREUND,A,M, & HENNECKE,M. Lebensgestaltung im höheren Alter. In. Wahl,H,W, Römer,C,T & Ziegelmann,J.P. Angewandte Gerontologie, Stuttgart, Kohlhammer, 2012.

KLIEGEL,M, BROM,S,S,MELZER,M & AKGÜN,C. Krankeit und Krankeitsmanagement. In: Wahl,H,W, Römer,C,T & Ziegelmann,J,P, Angewandte Gerontologie, Stuttgart, Kohlhammer, 2012.

O ESTADO DE SÃO PAULO, Economia-Editorial Econômico, Aumento sazonal do déficit do INSS, 02/01/2015.


Sobre o autor:

Nelson Frederico Seiffert

Doutor em Engenharia de Produção, com a tese de Doutorado sobre Gestão Ambiental. Trabalhou em Pesquisa na EMBRAPA durante 25 anos.

Desenvolve atualmente estudos na área de Gerontologia Ambiental e Aplicada. Conduziu Seminários sobre Gerontologia Ambiental e Aplicada no NETI/UFSC em 2015, 2016 e é Diretor Técnico Científico da ANG/SC – GESTÃO 2017/2019.

E-mail: [email protected]

Artigos de Associados

Prevenção no curso de vida

2.2- PREVENÇÃO NO CURSO DE VIDA

Nelson Frederico Seiffert

2.2.1 -Formas e significado da prevenção

Prevenção é a ação ou resultado de prevenir-se. Conjunto de medidas ou preparação antecipada (de algo) que visa prevenir (um mal), precaução, cautela. Prevenir é dispor com antecipação (algo) de modo que se evite mal ou danos. Impedir que aconteça, evitar.
A prevenção é um aspecto importante da Gerontologia Aplicada e medidas de intervenção preventivas direcionadas para pessoas idosas tem o objetivo central de assegurar a manutenção dos recursos e controlar o avanço no agravamento do estado de saúde.
A prevenção é também valiosa em idades avançadas. O objetivo de medidas preventivas situa-se sobretudo na manutenção, prevenção da piora da condição de saúde e preservação da autonomia individual. Através de medidas orientadas sobre exigências de saúde, sobretudo de fatores de proteção direcionados ao comportamento das pessoas, é possível que seja alcançado ganhos, não só do tempo de vida, mas também ganhos de vida em boas condições de saúde, com elevado bem-estar, através da compressão da morbidade.
A promoção da saúde deveria ser direcionada para todas as fases do curso de vida, porque os fundamentos de uma vida saudável devem ser incluídos antecipadamente na condução da vida diária. Não deveria ser focada exclusivamente em pessoas com idade avançada porque diz respeito a todos os grupos que ingressam na fase de envelhecimento (Schüz & Ziegelmann, 2012).
Em idades avançadas a prevenção oferece um campo de estudos que apresenta conteúdos valiosos para a pesquisa da Gerontologia Aplicada. Este significado é evidenciado pela Organização Mundial de Saúde, conforme citado por Schüz & Ziegelmann (2012) pelo fato da prevenção indicar que tem um grande valor com o objetivo de formular orientações precoces para pessoas idosas, para que possam usufruir um nível elevado de saúde, autoconfiança, independência e mantenham uma participação ativa na vida social (Weltgesundheitorganisation, 1999).
Estes objetivos indicam sobretudo, que a prevenção na fase de envelhecimento não se situa apenas no estreito conceito do controle e redução do efeito de doenças. Dados atuais de relatórios institucionais da área de saúde indicam, por exemplo, que em grupos de idosos com 64 a 69 anos de idade, 62% sofrem de duas ou mais doenças. No grupo de 70 a 75 anos são cerca de 74% e no grupo de 76 a 81 anos são cerca de 80%.
Isto significa que, o ponto central da prevenção nos estágios mais avançados do envelhecimento, deve concentrar-se, sobretudo, em medidas de prevenção da piora do padrão de saúde, sobre a manutenção dos recursos de saúde ainda disponíveis e para evitar a incidência de novas doenças. Estas intervenções buscam alcançar a compressão da morbidade.
Na subdivisão das etapas de intervenção a prevenção pode ser dividida em Prevenção Primária, Prevenção Secundária e Prevenção Terciária. Sobretudo, não deve deixar de ser considerado que, quando o objetivo é evitar o surgimento de doenças, no caso de doenças específicas como cardiovasculares, estas podem ser evitadas ou reduzidas preventivamente por medidas adequadas de atividade corporal e exercícios físicos.
Pontos de partida para prevenção no envelhecimento:
Os pontos de partida para prevenção, e o grau de sua influência, pelos quais são introduzidas propostas de prescrições de modificações na condução da saúde, são originados a partir de riscos e fatores de proteção para doenças do envelhecimento.
No grupo de idosos não se encontram apenas fatores que são dificilmente modificáveis (ex. predisposição genética, condições ambientais fixas), mas também fatores e variáveis alteráveis (ex. recursos ambientais modificáveis, fatores de risco comportamentais), e também fatores psicológicas e corporais que podem ser alterados. O grau de influência de cada uma destas modificações é variável sobre cada fator, pode atuar de forma simultânea ou ainda agir entre si de forma contrária.
Como exemplo, modificações da fisiologia (estudo das funções e do funcionamento normal dos seres vivos, especialmente dos processos físico-químicos que ocorrem nas células, tecidos, órgãos e sistemas dos seres vivo sadios) do envelhecimento, como a perda de massa muscular, pode ser compensada por treinamento físico orientado. Os efeitos de tais medidas podem ser efetivos e verificados, mesmo para pessoas bastante idosas (até mais de 80 anos). Por outro lado, modificações fisiológicas trazidas pelo envelhecimento podem ser influenciadas através de diferentes medidas de estabilidade, como por exemplo o rearranjo de recursos ambientais, como na substituição de equipamentos residenciais que dificultam a movimentação dentro das dependências da moradia.
Em outra forma a prevenção orienta-se para o modo de conduta individual, sobretudo sobre a capacidade da pessoa de incorporar modificações de comportamento, sobre o qual é decidido e complementado um Plano de Tratamento de Medidas Preventivas.
Enquanto que efeitos estáveis sobre o estado de saúde, como no caso de predisposição genética e alterações psicológicas são pouco influenciáveis, na melhor hipótese podem ser retardados, outros efeitos podem ser modificados em graus variáveis através da aplicação de medidas apropriadas. O resultado da adoção de uma medida preventiva adequada, depende de que seja direcionada para uma doença específica, ou se for uma medida genérica. Dentro do direcionamento a uma doença específica, atividade corporal por exemplo, pode ser apropriada para agir sobre a propensão da ocorrência de doenças cardiovasculares e também diabete mellitus tipo II, e prover para o não surgimento de doenças demenciais.
Dentro de uma moldura de medidas gerais são abordadas por exemplo, prioridades de conduta para pessoas idosas como no caso de controle do tabagismo, consumo moderado de álcool, atividade corporal, nutrição fora do comum, ingestão irregular de medicamentos. A maioria destes hábitos tem a possibilidade de influenciar diversas causas de doenças.
Propostas de condutas orientadas a prevenção:
As sugestões que são relacionadas abaixo para orientar procedimentos, foram levantados em trabalhos considerados com maior grau de influência sobre a saúde no envelhecimento.
Também em pessoas com idades avançadas (80 manos ou mais) o ato de fumar ainda é um fator de risco significativo para mortalidade, o que significa, que ainda neste grupo seja possível conseguir melhoras de saúde, quando a pessoa parar de fumar. São susceptíveis a efeitos detrimentais as vias respiratórias e doenças cardiovasculares, cujos danos podem ser reduzidos. Programas desenvolvidos para grupos alvo jovens, podem também ser aplicados a pessoa idosas, onde a taxa de sucesso é maior que no caso de jovens. Os argumentos repousam sobre ganhos de bem-estar na superação da dependência e no tempo de vida.
No caso da ingestão irregular de medicamentos por indivíduos idosos, muitas pessoas não se mantêm ligadas às orientações recomendadas para o seu uso. Ao lado de razões variáveis não intencionais, como o esquecimento ou troca de embalagem e tempo de consumo, idosos assumem motivações pessoais para alterar as recomendações de uso dos medicamentos. Isto fundamenta-se no fato de que pessoas idosas frequentemente lidam, ao mesmo tempo, com diversas doenças, com prescrições diversas, com diversos medicamentos. Na prática médica, pode acontecer que diferentes médicos prescrevem diferentes medicamentos, os quais interagem e podem causar efeitos colaterais indesejáveis.
O planejamento e a separação mecânica de medicamentos de uso diário e semanal podem ser organizados antecipadamente, sendo bastante útil para evitar erros não intencionais, mas medidas objetivas para evitar a modificação na prescrição precisam alcançar todo o conjunto de medicamentos através do esclarecimento
detalhado para o idoso, de como exatamente cada medicamento atua no controle das doenças.
Atividades corporais são recomendadas sistematicamente em muitos trabalhos de pesquisa, especialmente para pessoas idosas. O Colégio Americano para Medicina e Esporte, que divulga as mais importantes orientações para atividade corporal de idosos sugere por exemplo: para prevenção de quedas o treinamento de equilíbrio; para prevenção de restrições na capacidade de movimentação e flexibilidade, pelo menos exercícios durante 10 minutos, duas vezes por semana. Para melhora geral do estado de saúde, três vezes por semana durante 20 minutos, para exercícios com esforço elevado, ou cinco vezes por semana, por trinta minutos, para exercícios de esforço moderado. Na prática, apenas uma minoria de pessoas idosas alcança este nível de atividade sugeridas nas recomendações.
Para modificações efetivas e duradouras das atividades corporais, ao lado da disponibilização de estruturas nas quais idosos possam desenvolver atividades físicas há necessidade do apoio (um programa) e também são importantes fatores individuais como motivação e planejamento.
Pesam na prevenção da saúde corporal ainda aspectos ligados a saúde cognitiva,
saúde bucal, nutrição, utilização de conhecimentos de programas e medidas preventivas como vacinação, que são relevantes para a incidência de restrições funcionais. A responsabilidade pessoal deve também ser promovida através de adequada orientação sobre o comportamento pessoal, colocando-se à prevenção, como o quarto pilar da ciência da saúde.
Uma medida preventiva relevante, seria ainda a condução de uma formação positiva para idosos, juntamente com a indicação sobre as principais possibilidades de influências positivas sobre a saúde em cada tempo do envelhecimento. Por isto, ao lado de modificações da conduta individual, também modificações da conduta da sociedade sobre conceitos de envelhecimento amigável, sobre a necessidades de recursos institucionais, privados e profissionais que ofereçam um ambiente de vivência saudável aos idosos. Isto envolve possibilidades individuais de acesso a estudo, recapacitação profissional, acesso a postos de trabalho, a redes sociais, a engajamento comunitário e participação social.
Para que atinja um maior número possível de pessoas idosas, as medidas de prevenção precisam ser planejadas, aplicadas e avaliadas sistematicamente. Um claro esboço de ação efetiva é indispensável, no qual, todos os detalhes pertinentes das medidas de prevenção são colocados antecipadamente de forma bem fundamentada e em estreita relação com os resultados obtidos através de sua aplicação. (Schüz & Ziegelmann 2012).

2.2.2-Aconselhamento para um envelhecimento positivo

Aconselhamento para o desenvolvimento pessoal é comumente definido como ajuda profissional para a organização de processos de tomada de decisão e construção de uma orientação para o desenvolvimento de um plano de vida individual, que também é válido para um envelhecimento positivo. Coloca também um contexto
teórico, no qual o suporte intencional da própria vida ocupa um lugar central e se orienta sobre a escolha e implementação de objetivos de vida e a sua condução ao longo do curso de vida, dentro de um ambiente de possibilidades e restrições.
Um desenvolvimento intencional da vida incorpora processos de auto-observação, de auto avaliação e a implementação de objetivos que se situa sobre um fundamento de identidade e representações cognitivas que podem estar associadas a uma respectiva condição de vida. Pode conduzir a uma autorregularão efetiva baseada em numerosas observações precisas da própria pessoa e ligada a perturbações que ocorrem no seu curso de vida. Neste aspecto (interpretação do valor pessoal do próprio comportamento ou falsas concepções de suas próprias possibilidades de desenvolvimento) podem ser levantadas e equilibradas pela pessoa que atua como conselheiro. Na proposição de correções podem ser observadas e comparadas discrepâncias sobre expectativas e a capacidade atual de desenvolvimento da pessoa.
No objetivo geral como conduzir “uma boa vida” por exemplo, precisa ser caracterizado o seu significado sobre ações capazes de ser implementadas, a existência de meios adequados para sua realização e sua sintonização com outros objetivos pessoais, oportunidades disponíveis e restrições existentes. Tais processos dependem de competências de gestão, as quais são empregadas na reconstrução da situação de desenvolvimento, e de como estes conceitos são colocados e ajustados ao comportamento pessoal.
No aconselhamento para o desenvolvimento pessoal é colocado com grande valor, que o cliente explicite seus objetivos de desenvolvimento e que articulem seus projetos de forma concreta. Por outro lado, a isto pertence o levantamento das cadeias de meios e objetivos e seu retrabalho, através de um diálogo claro com o conselheiro. Neste aspecto pode ser importante que as estruturas conceituais do cliente sejam colocadas baseadas em fundamentos e dados da ciência ou da expertise do conselheiro, que deve trabalhar junto com o cliente, sobre quais meios, quais objetivos e qual plano de desenvolvimento, em dada situação, produz melhores resultados.
Planos de desenvolvimento pessoal contém uma sequência de sub objetivos, que se relacionam sobre um curto espaço de tempo e estão interligados com objetivos de longo prazo. A sequência estrutural de tais planos, com sub objetivos intermediários, permite manter a pessoa focada em resultados intermediários, motivando-a para avançar em direção a objetivos maiores. Sem objetivos claros planos de gestão de desenvolvimento pessoal, as intenções podem ficar presas a um desempenho rudimentar, os quais permanecem atrelados a sentimentos, desânimo e incapacidade de se ajudar.
O aconselhamento pode apoiar planos de vida no esclarecimento de objetivos e na construção de planos de desenvolvimento da vida como o uso do tempo, comportamento interpessoal, aproveitamento de recursos e autorregularão. Quando o padrão de “nada fazer para melhorar”, de adiar ou evitar decisões que conduzam a respostas emocionais, e frequentemente a perda de oportunidades, o trabalho de convencimento consegue eliminar tais atitudes, e é considerado que o aconselhamento é exitoso.
O aconselhamento para o desenvolvimento de um envelhecimento positivo tem por base as restrições progressivas de recursos individuais, apesar de elevada variabilidade, e incorporam um conjunto de características gerais que atingem o processo de envelhecimento. A redução da funcionalidade corporal e do potencial sensorial, que declinam a partir da meia idade de envelhecimento é acompanhada de redução da fluidez da inteligência, bem como no aumento de problemas crônico degenerativos. No entanto, através do avanço do conhecimento e tecnologia existe um amplo espaço de manobra para intervenções compensatórias (ex. visão, audição, dispositivos de mobilidade, cirurgias corretivas) as quais atuam sobre a manutenção do nível funcional e na prevenção do surgimento de novas perdas de recursos individuais.
Treinamento corporal, alimentação sadia, exames preventivos, suporte para habitação e ambiente amigável podem da mesma forma atuar de forma compensatória e em aspectos importantes da prevenção ou minimização de perdas funcionais. A compensação é prevista para ser aplicada em aspectos específicos e é bastante restrita em relação a condições funcionais anteriores em estágios mais jovens. Depende também da disponibilidade de recursos que podem estar em situações limitadas. Uma elevação do esforço no sentido compensatório que pode ser conduzido até metade dos anos de vida de 80 anos, indica ser valioso em diferentes aspectos positivos do envelhecimento.
Aconselhamento do desenvolvimento pessoal com relação à compensação de perdas funcionais orienta-se, sobretudo, sobre questões como o nível do esforço e a relação custo benefício. Os pontos considerados (manutenção funcional através da sobrecarga corporal do treinamento x manutenção através de descontração, suporte, prótese) precisam estar apoiados em conhecimentos científicos específicos em cada área problema. Por outro lado, as pessoas idosas passam a estar interligadas com uma elevação e crescimento do nível de conhecimento, descobertas e expertise, sobretudo no campo da regulação emocional, na vivência subjetiva do balanço do conjunto de ganhos e perdas que podem ser desfavoráveis com o avanço do tempo de vida.
Da mesma forma permanece a discrepâncias entre a qualidade de vida subjetiva desejada e a alcançada, mesmo quando ela se encontra estável. Em idosos jovens, investimentos para ganhos futuros são pessoalmente importantes no campo social e material para a qualidade de vida subjetiva. Já para idosos com idades mais avançadas, aspectos de uso do tempo livre, engajamento altruístico, participação religiosas tem maior valor. Estes dados indicam que ocorre um deslocamento da racionalidade individual com o avanço da idade sobre impulsos direcionados a competição, poder e sucesso.
É possível que com a manutenção do bom humor, seja possível trazer a vida para mais próximo de si mesmo e desfrutar, desta forma, o que ainda é possível e resignar-se com as coisas que não são mais possíveis de serem mudadas.
A exequibilidade e aplicabilidade de propostas de aconselhamento por si só não garantem um envelhecimento positivo, mas podem dar suporte ao desenvolvimento intencional pessoal, e desta maneira mobilizar recursos de desenvolvimento pessoal ainda disponíveis e não aproveitados (Gräser 2012).

2.2.3-Prevenção de doenças corporais

Prevenção é um dos pilares do sistema de saúde e apoia-se crescentemente sobre o foco da atenção antecipada em relação a ocorrência de efeitos de doenças. Em uma sociedade em que ocorre um aumento no prolongamento do curso de vida, a prevenção passou a desempenhar um papel significativo no controle das consequências dos efeitos acumulativos da redução das aptidões corporais e da morbidade. Ao mesmo tempo, o avanço do conhecimento científico passou a oferecer novas oportunidades de intervenção para a aplicação de medidas de prevenção das doenças que incidem sobre o processo de envelhecimento. Em uma população de idosos há o questionamento sobre a prevenção em situação de pessoas com idades avançadas, de como estas medidas precisam ser adaptadas, dimensionadas e avaliadas cientificamente.
Em uma sociedade que avança em idade surge naturalmente uma elevação da ocorrência de doenças crônicas e cujos efeitos são passíveis de redução através de medidas de prevenção. Na Alemanha, em grupos de pessoas com 65 anos por exemplo, a prevalência de doenças do coração (cardiopatias) e do aparelho circulatório (infarto, angina, trombose coronária) é de 19,1% em mulheres e em homens 28,3%. Para Diabetes mellitus tipo II a ocorrência é de 17,4% para mulheres e 18,72% para homens. A gravidade da incidência destas doenças pode ser influenciada por medidas de prevenção, a qual passou a ser um importante recurso da medicina para o sistema de saúde. (Diabetes mellitus tipo II é um distúrbio metabólico caracterizado pelo elevado nível de glicose no sangue no âmbito à resistência à insulina e pela insuficiência relativa à insulina. O tratamento é feito por exercícios físicos e alterações na dieta).
Enquanto as doenças são tratadas por medidas curativas, o princípio da prevenção é buscar evitar doenças, antes que estas venham a incidir sobre o indivíduo. A prevenção está focada no conceito de precaução e na promoção da saúde, o que significa a tomada antecipada de medidas que controlem os riscos decorrentes da incidência de doenças. A promoção da saúde, por sua vez, está ligada ao conceito de prevenção, por concentrar-se no desenvolvimento de recursos ligados à saúde, os quais, possam reduzir os riscos de incidência de doenças. Com o avanço da idade o significado da saúde desloca-se de um conjunto de doenças conhecidas para a intensidade com que afetam as capacidades funcionais e com isto, também, os objetivos e critérios de sucesso da prevenção. Assim, pessoas em idades avançadas que são atingidas por multimorbidade, passam a ser tratadas não apenas por único objetivo preventivo. Possíveis objetivos passam a ser o adiamento de efeitos de doenças, a obtenção de um grau mais ameno ou uma menor cronificação, um retardamento de perdas degenerativas durante o ciclo da doença e sobretudo, obter menores restrições funcionais e um maior estado de bem-estar, apesar da incidência de múltiplas doenças.
Na prevenção primária, existe para a pessoa com elevado tempo de vida, um grande número de medidas médicas, como no caso de intervenções medicamentosas. Ao mesmo tempo, acentua-se para cada medicamento usado a possibilidade de efeitos colaterais indesejáveis por interações entre medicamentos. Resulta que, para cada recomendação medicamentosa, deve-se tomar preventivamente em consideração as prioridades relacionadas ao seu uso, baseadas em dados substanciais de estudos clínicos e epidemiológicos, os quais precisam estar disponibilizados para os clientes. Um grande leque de medidas de prevenção faz com que se torne necessário uma avaliação das medidas de prevenção. É preciso decidir se, como e para quem uma medida de prevenção é efetiva. Assim a efetividade deveria ser definida por resultados de estudos científicos associados clinicamente e orientados para um indivíduo específico para que se possa obter respostas relevantes. Além da efetividade, a capacidade de atuação deveria ser pesquisada para que medidas de prevenção sucessivas sejam melhoradas quanto a sua efetividade. Além disto, deveria também atuar para indivíduos de subgrupos relevantes de idosos. Deveria ainda ser considerada a necessidade de priorização e aspectos de economia da saúde como custos e benefícios da prevenção.
As especificidades da prevenção no envelhecimento precisam ser avaliadas por sua efetividade e poder ser adaptadas a subgrupos de idosos, como por exemplo, diabéticos, pessoas com restrições cognitivas, condições restritivas ligadas a barreiras ambientais, estilo de vida e características positivas e negativas do próprio envelhecimento que podem apresentar grande significado na tomada de decisão sobre adoção de medidas de prevenção. A heterogeneidade do envelhecimento precisa estar incluída neste cálculo.
A prevenção de quedas é relevante para pessoas com idades avançadas, e cujo objetivo é, por um lado minimizar sua ocorrência e por outro lado eliminar consequências de tratamento posterior. Existem amplas possibilidades de medidas de prevenção relacionadas ao uso do espaço privado e espaço público. No campo da fisioterapia é possível adotar medidas de treinamento para um melhor balanço do equilíbrio corporal, e exercícios físicos, e o medo de quedas precisa ser trabalhado psicologicamente. Boa percepção visual precisa ser promovida através de exames preventivos e uso de equipamento ótico. Além disto, medicamentos devem ser avaliados em relação a seus efeitos sobre o equilíbrio e sobre a necessidade de complementação nutricional para reforço da estrutura óssea através da suplementação de Cálcio e Vitamina D3.
Diversos objetivos preventivos de saúde são alcançados através da adoção regular de exercícios físicos. A atividade corporal atua no adiamento e redução de doenças coronárias, diabetes, na melhoria da saúde funcional, reduze o risco de quedas, retarda a desconstrução cognitiva e leva a uma melhor qualidade de vida. Para a elevação do nível de atividades físicas corporais em idosos podem ser adotadas diversas estratégias como o reforço na participação de grupos praticantes oferecidos pela comunidade, hábito de deslocamento a pé e a realização de caminhadas. Facilitar o acesso à informação e educação para a saúde, através de livros e palestras é considerado um primeiro passo como uma medida preventiva. Um segundo passo para modificação do comportamento sedentário é a reconstrução de competências para um estilo de vida ativo na busca da autossuficiência e auto regulação (Gellert & Hermann, 2012).
Após dezenas de anos, uma evolução recente de nosso conhecimento sobre o aparelho digestivo, revela que o nosso aparelho digestivo é o centro que governa nossa vida. Influencia o sistema nervoso o aparelho circulatório e o sistema imunitário através de nossa microbiota intestinal, o que resulta em efeitos relevantes no processo de envelhecimento. Isto deve levar a uma profunda reflexão sobre a nossa conduta na forma de como orientamos a nossa alimentação (Abdoun et al, 2016).

2.2.4-Prevenção da demência

A identificação de fatores de risco e de ganhos de proteção no caso de doenças que levam a demência, tem um grande significado social, em razão do crescimento significativo de sua prevalência no grupo de pessoas que alcançam idades avançadas. Nesta abordagem são destacados recursos de intervenção, sobretudo no campo do curso de vida individual, aos quais são adicionados resultados e conceitos atuais da pesquisa da Teoria sobre Reservas Cognitivas. Aborda uma revisão sobre os fatores de risco e medidas de proteção de doenças demenciais e o conhecimento sobre os fatores de risco que são relevantes para a implantação exitosa de medidas de prevenção.
A prevenção da demência vem se tornando de importância crescente no debate da saúde. Com fundamentação no alongamento do tempo de vida e da mudança do perfil populacional, no futuro irá aumentar a incidência de doenças degenerativas. Este fato salienta a enorme importância do reconhecimento e desenvolvimento de métodos de prevenção, o mais precocemente possível, para que se possa promover intervenções que tragam ganhos sobre o controle da demência.
Pesquisas indicam que 60 a 70% de todas as causas de demência são decorrentes da doença de Alzheimer (DA), pela qual ocorre um lento e progressivo padecimento da perda das atividades cognitivas. No entanto, é possível reconhecer com antecipação de 10 anos a sua predisposição em indivíduos, enquanto ainda a pessoa não está comprometida por deficiências de autonomia, e mesmo em idosos jovens já é possível detectar deficiências cognitivas ligadas a doença.
O déficit cognitivo individual resulta, não diretamente como consequência de modificações neurológicas, mas são moduladas em seu percurso através de diferentes fatores. Com base neste conhecimento o estudo epidemiológico tem seu foco voltado para a identificação de fatores de risco e de proteção que atuam na incidência da demência.
A capacidade funcional do cérebro humano, a influência de danos neurológicos, e um determinado grau reações compensatórias, estão alicerçadas sobre o conceito de reserva cognitiva. Este conceito orienta-se através da observação clínica de que o dano cerebral, em determinada medida, não é possível de ser caracterizado, e denota uma elevada variação entre indivíduos. Em pessoas falecidas em decorrência da DA foi observado que modificações cerebrais não apresentaram deficiências cognitivas ao longo do tempo de vida. Apesar de modificações patológicas do cérebro, isto não conduziu ao diagnóstico de uma sintomatologia clínica. Em estudos subsequentes foi demonstrado que pessoas com atrofias relevantes não foram afetadas clinicamente da mesma maneira que pessoas com atrofias cerebrais menores. Isto resulta na compreensão de que ocorre uma capacidade individual de compensação na atividade cerebral em pessoas afetadas pela DA. Decorre destas constatações, que tanto em idosos jovens com em idades avançadas há a possibilidade de serem influenciados recursos individuais cerebrais de forma prolongada.
A reserva cognitiva e sua função compensatória é influenciada por diversos fatores como características individuais, nível de atividade cerebral e formação educacional, mas apesar de pesquisas intensivas, ainda não há consenso sobre exatamente quais fatores afetam a reserva cognitiva e como eles interagem.
Apesar de diferenças individuais, as deficiências cognitivas em relação a doenças da mente estão baseadas fundamentalmente sobre modificações do cérebro. Para estas modificações contam a formação e destruição de placas amiloides, uma redução de sinapses e a degeneração de neurônios. Ao lado da ação direta de fatores de risco sobre a função cerebral, são relatados efeitos indiretos de risco e de proteção, cujo comportamento pode influenciar, ou não influenciar o desempenho cerebral.
Entre os fatores indiretos não influenciáveis contam a fase em que se encontra o indivíduo no curso de vida, a predisposição genética e doenças corporais. A demência está altamente correlacionada com o tempo de vida. Enquanto no grupo de faixa etária de 65 a 69 anos, apenas 1% dos indivíduos são afetados por doenças demenciais, após 90 anos de idade, 35% das pessoas são atingidas. Os dados também demonstram que as mulheres, de um modo geral são mais afetadas que os homens, o que decorre do fato de que elas alcançam um maior tempo de vida, compondo a maioria dos pacientes sob tratamento no grupo DA.
Entre os fatores diretos influenciáveis contam o hábito do uso de estimulantes como álcool, cafeína, nicotina e o padrão nutricional. Outros fatores que são incluídos são o tipo de formação educacional bem como o nível de atividade cognitiva e corporal.
Enquanto que um consumo crônico e desmesurado de álcool pode afetar continuamente a capacidade funcional do cérebro, alguns estudos também indicam uma função de proteção sobre a capacidade cognitiva de idosos, quando o consumo de álcool é leve e comedido. No entanto estes resultados não permitem ainda considerar que possa ser incluída como uma medida primária de prevenção.
Os resultados atuais do consumo de cafeína indicam uma interligação positiva entre o seu consumo e uma redução do risco de demência, embora não possa ser classificada como uma medida preventiva.
A interação entre o consumo de nicotina e o desenvolvimento cognitivo está bem caracterizada como fator de risco individual.
Com base em pesquisas científicas não é possível estabelecer uma relação clara sobre a influência de hábitos alimentares sobre riscos a doença de DA. Estudos consideram que uma dieta com alto conteúdo de gordura e colesterol, bem como sobrepeso elevam o risco. Neste sentido a dieta mediterrânea, baseada no consumo regular de frutas, legumes, peixe e produtos alimentares ricos em Ômega 3, são considerados redutores de risco.
Um grande número de estudos tem constatado que existe uma interação forte entre o nível de capacitação cognitiva e a incidência de DA. A incidência e a prevalência em pessoas com elevado nível de formação são significativamente mais baixas que em pessoas com baixo grau de escolaridade. Uma função protetiva decorrente de atividades dedicadas ao uso do tempo livre estimuladas cognitivamente puderam ser estabelecidas em diversos estudos epidemiológicos. Diversos estudos epidemiológicos partem da hipótese de que a atividade corporal regular possa retardar o início da incidência de DA, o que, no entanto, ainda não foi comprovado como efeito protetivo.
Na prevenção de doenças que levam a demência o conhecimento preciso dos fatores que podem exercer influência sobre as causas da doença são de grande significado. Uma prevenção otimizada, situa-se tanto quanto possível na desativação dos fatores de risco conhecidos e ativação dos fatores de proteção disponíveis. São considerados com grande relevo na prevenção o nível de formação educacional, o status sócio econômico, a atividade cognitiva e a atividade corporal. Os resultados de pesquisas confirmam que podem ser utilizados recursos implicados na reserva cognitiva que oferecem funções protetivas sobre a evolução da demência, tanto a nível individual como em pessoas com idades avançadas (Sattler, Wendelstein & Schöder, 2012).

2.2.5-Prevenção de doenças psíquicas

Cerca de um quarto de pessoas com 65 anos ou mais é atingida por doenças psíquicas. Ao lado de serem afetadas por deficiências cognitivas leves e quadros de perturbação por demência, ocorre sobretudo a depressão, perturbações do sono e doenças que decorrem de efeitos de dependência do consumo de substâncias que podem causar efeitos corporais danosos. No grupo de pessoas idosas apresenta-se também dificuldades de que seja efetuado um diagnóstico preciso de causas específicas, sobretudo em caso de manifestações depressivas, que podem resultar de múltiplos fatores incidentes.
A prevenção exitosa de doenças psíquicas requer a participação de um trabalho integrado de profissionais de diferentes especialidades e depende para sua aplicação, em muitos casos, de facilidades financeiras individuais e de acesso a estruturas institucionais adequadas. Com avanço do tempo de vida, medidas preventivas passam a representar uma importante contribuição ao sistema de saúde. Não somente a indivíduos idosos em si, mas também, para a sociedade como um todo, pelo ônus social que representa a capacidade de financiamento do tratamento de doenças psíquicas.
A prevenção de doenças psíquicas assume relevância pelo alongamento do tempo de vida e mudança demográfica. Estudos epidemiológicos indicam que um quarto da população da Alemanha padece de algum tipo de perturbação psíquica. Embora a demência esteja associada a pessoas com alto grau de envelhecimento, a incidência da depressão, suicídio, perturbações do sono e doenças resultantes de dependência de drogas não pode ser subestimada. Perturbações individuais e doenças decorrentes da esquizofrenia são menos relevantes em grupos de idosos.
A redução da prevalência de doenças psíquicas que atingem a fase de envelhecimento necessita de conhecimentos sobre fatores de prevenção do risco e de proteção, bem como, do desenvolvimento de programas de prevenção orientados para grupos de risco. Neste aspecto podem ser feitas diferenciações entre medidas de prevenção primária, secundária e terciária.
As medidas de prevenção primária têm por intenção evitar o surgimento de novas doenças neurológicas e lançam seu foco sobre a população em geral. Buscam medidas de prevenção que possam evitar ou reduzir os fatores de risco e promover fatores de proteção que controlem a sua ocorrência. A aplicação de medidas de prevenção secundária baseia-se na intervenção precoce sobre uma população de risco e objetiva impedir a manifestação da doença. Com a ajuda de medidas de prevenção terciária é buscado eliminar uma determinada perturbação específica ou adotar providências que minimizem ou venham a causar novos danos funcionais. A seguir são abordados fatores de risco e aspectos de prevenção indicados em quadros de doenças não demenciais.

2.2.5.1-Perturbações depressivas

É constatado que frequência de doenças depressivas não aumenta em estados avançados do envelhecimento. No entanto é verificado que a prevalência é de nível mais baixo em ambiente residencial (0,9% a 9,4%) e maior em contexto institucional (14% a 42%) e que ao longo do curso de vida ocorre uma prevalência de 9,5% em pessoas com idades de 61 a 65 anos.
Os preditores mais importantes para perturbações causadas pela depressão estão ligadas ao gênero feminino, doenças somáticas, danos funcionais e cognitivos, perda de ânimo para contatos sociais e histórico de depressões precedentes. São também incluídas como causadoras de perturbações depressivas individuais, doenças neuróticas e o medo e perturbações causadas por dependência de drogas.
A depressão no envelhecimento está associada a uma elevação da morbidade (conjunto de causas capazes de produzir uma doença), e mortalidade associada ao risco de suicídio. Isto restringe a qualidade de vida de forma elevada e coloca uma sobrecarga para a família, para a sociedade, bem como sobre toda e economia social e institucional.
O diagnóstico da depressão em idosos é dificultado pela dissimulação e comportamento que pode mascarar sua presença. Isto pode levar a um insuficiente reconhecimento de suas causas e a um tratamento adequado.
Na prevenção é importante considerar, ao lado de aspectos corporais, psicológicos, sociais e ambientais, também aspectos comportamentais. Situações de perdas individuais podem ser importantes no tratamento. A perda de familiares e pessoas da rede social, a perda de papéis sociais e profissionais, bem como a redução de capacidades funcionais corporais, que afetam a autonomia, podem influir no desenvolvimento da depressão. Junto com estes fatores pode ainda estar contribuindo a inatividade, a baixa disposição para atividades corporais, a perda de perspectivas futuras e a redução da autoconfiança. Na prevenção primária e secundária, tem que ser considerado também, que rupturas e perdas sociais são frequentemente fatos, que possibilitam acertos na adoção de medidas de tratamento para solucionar doenças depressivas.
Um dos objetivos da prevenção psicológica primária na depressão é a adoção de estratégias e competências que possam combater as condições que agem como sobrecarga na vida individual e afetam a autoconfiança. Pertence a esta categoria de tratamento, por sua efetividade, métodos psicológicos e psicoterapia interpessoal, bem como terapia cognitiva. Psicoterapia é o tratamento de doenças e problemas psíquicos que utiliza em geral técnicas sugestivas, persuasivas, reeducativas, relaxantes.
Sob o conceito de medidas primárias sociais, são entendidas todas as medidas que atuam contra o isolamento social. Nela a manutenção e a reconstrução de uma nova rede social tem um papel especialmente importante. Ofertas de apoio e aconselhamento, como grupos de ajuda, deveriam estar próximos aos locais de moradia e poderiam ser disponibilizados em centros comunitários públicos. Neste campo de intervenção situam-se medidas que atuam contra o isolamento social, que agem na construção de uma nova rede social, como no caso de comunidades que elegem morar em condomínios residenciais para idosos.
Ao lado de aspectos psicossociais, deve ser considerada a prevenção primária somática (que diz respeito ao corpo). Pesquisas neuropsiquiátricas mostram que modificações morfológicas cerebrais tardias devem ser consideradas pela possibilidade de poder ter levado a modificações cérebro vasculares. É particularmente importante caracterizar fatores de risco que influenciam como pressão arterial elevada, excesso de peso, tabagismo e falta de exercícios corporais.
Nutrição rica em colesterol, gorduras e álcool, em quantidades elevadas deve ser evitada, é recomendado o consumo regular de frutas, verduras e peixes.
Os sintomas de depressão podem também decorrer de um efeito colateral do uso de numerosos medicamentos prescritos, como por exemplo para doenças cardiovasculares, devendo ser reavaliada a sua indicação no sentido da possibilidade de uma redução da sistemática de seu uso. Para isto, uma adequada farmacoterapia desempenha um papel importante de controle da polifarmacia.
A prevenção secundária da depressão em idades avançadas comporta o reconhecimento e tratamento precoce e a delimitação das diferentes causas que influem na sua manifestação, o que favorece um tratamento antecipado que pode reprimir a forma somatizada da depressão.
A intervenção precoce na depressão através de medidas terapêuticas é importante, não apenas para evitar sua cronificação, mas também pela elevada propensão ao suicídio e mortalidade neste grupo de pacientes. Na prevenção terciária da depressão em idosos é também considerada a profilaxia medicamentosa como por exemplo através do uso de estímulo a neurotransmissores que agem na produção de serotonina e de lítio.

2.2.5.2-Perturbações do sono

Estudos epidemiológicos mostram que perturbações do sono aumentam com o avanço da idade, afetam um quarto da população de idosos e que mulheres são mais afetadas que homens. Com o avanço da idade eleva-se também a ocorrência de problemas decorrentes de doenças corporais e psíquicas que passam a afetar o sono.
Doenças que afetam o aparelho circulatório, do estômago, sistema digestivo e doenças crônicas atuam negativamente sobre a qualidade do sono. Também o consumo de substâncias como o álcool, cafeína, psicofarmacos e medicamentos de controle da pressão arterial podem conduzir a insônia ou a sonolência. Além disto, perturbações do sono estão também influenciadas por doenças psíquicas como depressão e demência, fatores ligados a natureza comportamental como stress, excitação, falta de exercício e hábitos de sono inadequados. Muitas vezes o tratamento da insônia é efetuado por terapia medicamentosa através da ingestão de medicamentos que causam sono e atuam de forma rápida, embora esta terapia esteja ligada a desvantagens, como sobretudo o desenvolvimento de tolerância, dependência, modificação da estrutura do sono, alteração do humor, fadiga matinal.
A psicoterapia e prevenção estão focadas em medidas psicoeducativas que incluem o esclarecimento e aconselhamento sobre a higiene do sono e com o apoio de técnicas de descontração e exercícios corporais regulares.

2.2.5.3-Dependência de medicamentos e drogas

O estudo do uso inadequado de medicamentos e álcool por idosos precisa ser avaliado e mostra que um terço dos medicamentos prescritos acabam sendo usados fora das prescrições. Neste grupo incluem-se tranquilizantes, antidepressivos e para indução do sono, que são adotados como consequência de perdas afetivas, redução de aptidões funcionais e solidão. Cerca de 24.6% de pessoas com 70 anos ou mais são tratadas com psicofarmacos, destacando-se a prevalência (13,2%) de Benzodiazipina.
A prescrição de psicofarmacos é muitas vezes indicada genericamente para tratamento de perturbações não claramente especificadas, mas deveria estar verificada por exigência médica obrigatória relacionada a sensibilização e dependência.
Para pessoas envelhecidas devem ser prescritas doses reduzidas e devem ser monitorados, por precaução, as funções corporais, como fígado, rins e coração.
O uso abusivo de medicamentos múltiplos pode conduzir a uma reação adversa acumulada e mesmo conduzir ao falecimento. O grupo de idosos mais afeto ao uso de Benzodiazipina forma a maior população dos asilos, nos quais prevalece a internação de longa permanência. Na perspectiva da prevenção é de se recomendar que a indicação de psicofarmacos esteja incluída em um contexto de tratamento psicoterapêutico, de forma que o uso de componentes farmacológicos esteja associado a componentes psicoterapêuticos e psicológicos.
Após 2011, os médicos franceses vêm trabalhando sobre uma lista de medicamentos considerados “essenciais” para a saúde da população. 150 a 200 vem sendo avaliados como o número necessário e suficiente para tratar 95% das doenças que ocorrem na França. É uma proposta provocante em um país onde mais de 5.000 medicamentos são disponibilizados, sob mais de 15.000 formas diferentes, e onde o consumo de medicamentos é 40% superior aos principais países vizinhos da Europa. Pela primeira vez, as agências sanitárias serão obrigadas, pela lei, a fazer uma triagem entre todos os medicamentos, que são considerados essenciais para a boa saúde, e os supérfluos. Milhares de medicamentos não servem para nada (Tourbe & Rambert, 2015).
A prevalência do alcoolismo em idosos, apesar de baixa, por condicionar um tempo de vida mais curto, atinge assim mesmo, 3% em homens com 65 anos ou mais e 0,5% em mulheres. Condições de abuso do uso de álcool por homens com 70 anos ou mais chega a 24% e em mulheres 2,10%.
A maioria dos idosos, passam apenas a depender do álcool após 60 anos de idade. É considerado que, como no caso da depressão, intervenções psicológicas, sociais e somáticas, estas possam atuar em conjunto na indução da dependência do álcool. A prevenção ainda está pouco apoiada em conhecimento científico. Para a mudança do hábito, embora pouco eficazes, são adotadas medidas de aconselhamento, grupos de autoajuda e otimização do ambiente social. Rupturas críticas como a morte de pessoas próximas pode levar a uma modificação do comportamento de consumo e desenvolver dependência, assim como perdas funcionais, desgaste dos recursos corporais e depressão. Nestas condições é indispensável realizar, com precedência, um diagnóstico para introduzir terapias que possam ser efetivas. Intervenções que são comumente recomendadas são o aconselhamento, a participação em palestras, a otimização do ambiente social.
Por outro lado, pessoas que adquirem dependência mais tardiamente no curso devida, são caracterizadas por sua maior integração social, e com isto, apresentam uma maior estabilidade de sua estrutura pessoal, resultando em menor sucesso no tratamento da dependência de álcool. Nestes casos é recomendado que sejam adotadas medidas que possam controlar o seu uso abusivo em vez da supressão do seu consumo social (Kuzma, Pantel, & Schröder, 2012).

2.2.6- Prevenção do Suicídio

Em todos os países o número de suicídios em idosos é elevado. Como fatores predisponentes de risco para uma tentativa de suicídio após os 70 anos de idade, contam sobretudo pessoas que vivem só, baixo nível de formação escolar, tratamento pregresso psiquiátrico, tentativas precedentes, doença depressiva e psíquica, mau uso de substâncias, sofrimento corporal e isolamento social. O objetivo da prevenção do suicídio situa-se no tratamento através de apoio sistematizado e terapia que vise a minimização da pressão dos fatores predisponentes, a melhora do ambiente social, fortalecimento dos recursos individuais e o reforço de medidas psicoeducativas.

2.2.6.1-Suicídio na população idosa
Uma grande parte das pessoas idosas manifesta um crescente sentimento de perda de ânimo ou uma forte experiência emocional ligada a perda de recursos, que se torna resistente e ao mesmo tempo, a população idosa apresenta, em dois terços dos países, níveis mais elevados de suicídio que em outros grupos humanos. Dados estatísticos da Alemanha de 2006 indicam que o suicídio em homens com 60 anos ou mais chega a 22,1%, e em mulheres alcança 27,8% do total de pessoas suicidas. Em mulheres com 70 anos ou mais o número chega a 32%, e 23,6% em homens. Estes números, no entanto, podem ser maiores que os indicados pelos dados oficiais, já que a motivação para o suicídio em idades avançadas é maior. Como métodos de suicídio são empregados mais comumente o enforcamento, estrangulamento e sufocamento, seguindo-se o emprego de armas de fogo por homens e envenenamento por mulheres (Kessler, 2012).

2.2.6.2-Prevenção primária, secundária e terciária
Condicionado pela a mudança demográfica, persiste o risco, de que no futuro o número absoluto de suicídios de pessoas idosas venha a se elevar. Esta tendência mostra que a prevenção do suicídio em idosos venha a se tornar uma importante política pública de prevenção da área de saúde, bem como uma exigência de terapêutica individual.
Em princípio são distinguidos três tipos de medidas possíveis de prevenção designadas como primária, secundária e terciária.
A prevenção primária do suicídio tem por alvo impedir, evitar, uma primeira tentativa de suicídio através de um espectro diverso de medidas preventivas, como por exemplo, através da melhoria da estrutura psicológica, psiquiátrica, de cuidados a idosos, através de campanhas de esclarecimento na mídia e sobre a limitação da disponibilidade de meios que podem ser usados para o ato suicida. São medidas que se situam primariamente no campo das políticas públicas de saúde.
A prevenção secundária baseia-se no reconhecimento e tratamento de pessoas propensas a cometer suicídio. O objetivo é, em uma situação individual de crise (para pessoas que estão afetadas por doenças psíquicas ou que tenham um histórico de tendência ao suicídio), reconhecer e reduzir o risco de comportamento suicida através de adequado aconselhamento, supervisão e medidas de tratamento.
A prevenção terciária tem por alvo (em pessoas que já tentaram procedimentos de suicídio) introduzir um tratamento ótimo e melhorar com isto a sua prognose (conhecimento antecipado).
Tanto na prevenção secundária como na terciária, desempenham uma função central psicólogos, médicos, profissionais do serviço social e pessoas ligadas a serviços de cuidados a idosos. Dentro destes critérios de abordagem é possível adotar medidas de prevenção de forma geral, seja seletiva para grupos de risco (pacientes em instalações geriátricas) ou para pacientes individuais que manifestem tendências suicidas.

2.2.6.3-Formas de expressão do suicídio
Para a expressão do suicídio contribuem o tédio (a vida não é mais considerada como um valor), desejo de morrer (pensamentos de morte, querer morrer), bem como tentativas anteriores de suicídio. Pode influir primariamente o avanço de perdas funcionais, a perda de autonomia. Em idosos é também frequente que ocorram comportamentos passivos ligados ao desânimo como o desinteresse pela alimentação e consequente desnutrição, omissão do uso de medicamentos e o não cumprimento de prescrições médicas.
A psicologia da morte descreve um conceito no qual é considerado que a pessoa, na verdade deseje realmente não mais continuar a viver, que não deseja mais conduzir uma vida prolongada difícil, influenciada por condições como a morte do parceiro ou perdas funcionais graves. Apoio profissional frequentemente subestima o risco de suicídio em idosos, mesmo quando ocorre através de contato frequente com o paciente. Ao lado da falta de qualificação no campo do reconhecimento do suicídio, é também constatado que pessoas idosas, que tem a intenção de suicídio, raramente manifestam esta intenção.
Em pacientes idosos, que se submetem a tratamento psicológico, o número de ocorrências é significativamente mais baixo. Para avaliação da predisposição ao suicídio, os psicólogos e médicos dispõe de sistemas de entrevista e de questionamentos como por exemplo o “Geriatric Mental Status Interviews”.

2.2.6.4-Fatores de risco
Os fundamentos para introdução de medidas preventivas de suicídio em indivíduos idosos precisam estar baseados em dados de pesquisas médicas, psicológicas, epidemiológicos. No entanto, ainda existe pouco conhecimento sobre as interações complexas dos fatores de risco e fatores protetivos da etiologia (estudo das causas das doenças) da propensão suicídio. Todos os estudos realizados internacionalmente caracterizam que, além de um histórico biográfico de tentativa de suicídio, perturbações afetivas são o principal fator de risco para todas as formas de suicídio em idosos.
Em estudos sistemáticos realizados ficou evidenciado que em 86% das pessoas idosas que se envolveram em tentativas de suicídio, houve uma motivação por uma perturbação afetiva (sobretudo depressão). Apesar da pouca consistência dos dados, pode-se afirmar que, multimorbidade, restrições funcionais, fracas perspectivas de cura de doenças e dores contínuas elevam significativamente a tendência ao suicídio.
Contribuem neste sentido a perda de esperança, a ausência de sentimentos positivos, a consciência sobre a limitação do tempo de vida, além do sentimento da falta de apoio de outra pessoa, em geral familiares.
A viuvez é um fator de risco elevado em homens com idade avançada. Contribuem neste sentido a perda de esperança, a ausência de sentimentos positivos, idade avançada, além do sentimento da perda da pessoa mais próxima. Para o desenvolvimento de medidas preventivas, faltam ao lado do conhecimento sobre fatores, psiquiátricos, médicos, dados de pesquisa sobre fatores de risco psicológicos e psicossociais, e que são fundamentais para o delineamento de medidas de intervenção.

2.2.6.5-Campos de intervenção
Medidas concretas de prevenção do suicídio em pessoas idosas podem ser direcionadas a três áreas, no campo social, campo da informação e educação e na melhoria do setor de cuidados a idosos, para as quais são indicados programas de prevenção.
No campo social, da política de apoio a idosos e estruturação de condições amigáveis a idosos situam-se primariamente medidas na esfera da saúde e de política social. Além disto devem ser consideradas medidas contra a discriminação de idosos, na promoção da integração social, através de projetos intergeracionais.
No campo da informação, esclarecimento e educação a finalidade é a orientação sobre a mudança de conduta da população, bem como na formação de recursos humanos especializados para lidar com a problemática do suicídio. Incorpora medidas de implementação de políticas sociais focadas na informação e esclarecimento da população em geral sobre os riscos de suicídio no envelhecimento, na desconstrução de falsos conceitos ligados a tolerância do suicídio de idosos. Uma medida relevante é a inclusão do tema em currículos de cursos ligados à saúde.
No campo da melhoria da estrutura do setor de cuidados a idosos, da medicina psicossocial que se orienta sobre a implantação de serviços itinerantes de apoio a idosos, que possam atuar no controle de crises e estejam ligados a redes locais e regionais de serviços de saúde. Particularmente relevante é a intensificação da organização de serviços de aconselhamento gerontopsiquiátrico e clínicas que ofereçam cuidados psicoterapêuticos mais robustos para idosos. Pessoas que atuam continuamente em contato com idosos podem ser orientadas sobre o reconhecimento precoce de pessoas com tendências suicidas e que poderiam estar integradas aos programas de serviços psicoterapêuticos e de cuidados a idosos (Kessler 2012).

2.2.6.6-O suicídio como uma doença
Segundo Barnéoud (2015) o suicídio encobre uma verdadeira doença. Adversidade social, problemas psicológicos, mas não somente estes, por baixo da decisão do ato escondem-se também predisposições biológicas, uma descoberta que muda a visão do flagelo. Segundo a autora, mais de 80.000 pessoas suicidaram-se no mundo em 2012 (OMS). A mortalidade masculina por suicídio ocorre de maneira generalizada com exceção da China. Na França, embora com esperança de vida elevada, também manifesta uma taxa de suicídio entre as mais elevadas da Europa (uma morte em 50). Em um recente estudo do Inserm (Institut National de la Santé et de la Recherche Medicale – France), mostrou que a taxa de mortandade por suicídio aumenta com a taxa de desemprego. No entanto, se as dificuldades sociais contam para o ato, muitas pessoas que vivem em situações difíceis não se suicidam, colocando a questão de uma possível predisposição biológica para o suicídio.
O suicídio passou a ser considerado como um fato social pela publicação do livro “Le Suicide” do sociólogo Durkheim em 1897, que descreveu o fato, de que certas tentativas contra a vida se deviam essencialmente em razão de fatores exteriores ao indivíduo, professionais (desemprego e assédio) ou afetivos (divórcio, rupturas, perdas de pessoas próximas).
Posteriormente a medicina constatou que 90% das pessoas que se suicidavam sofriam de alguma doença mental, sobretudo depressão (doença psiquiátrica, crônica, recorrente, que produz uma alteração do humor, caracterizado por uma tristeza profunda, sem fim, associada a sentimentos de dor, amargura, desencanto, desesperança, baixa autoestima, culpa, assim como distúrbios do sono e apetite), mas também esquizofrenia (doença psiquiátrica endógena que se caracteriza pela perda do contato com a realidade) e problemas bipolares (doença psiquiátrica caracterizada pela alternância de períodos de depressão e hiperexcitabilidade ou mania). Constataram também que menos de 20% das pessoas atingidas por tais problemas passavam finalmente ao ato. Isto levou a constatação de que a adversidade social e os problemas psicológicos são duas condições necessárias, mas não suficientes para que ocorra o ato.
Mais recentemente, pelo avanço das neurociências, da biologia molecular e da genética, os conhecimentos revolucionaram a compreensão do suicídio, pois elas indicam que seria uma doença biológica por inteiro. Vulnerabilidade para as condições de suicídio permitiram aos pesquisadores e numerosos médicos estimar que somente as pessoas portadoras de uma certa vulnerabilidade de origem biológica se suicidam (Barnéoud, 2015).

2.2.7-Fontes de consulta
ABDOUN,P,E, BETTAYEB,A,K, GRACCI,F & RAMBERT,H. Les super-pouvoirs du ventre. In: Cience & Vie, Mondadori France, nº 1183, avril 2016, pg 49BARNÉOUD, L. Suicide, il cache une vraie maladie, In: Science & Vie, Avril 2015, nº 1171, France, Mondatori, page 86.

KESSLER,E,M. Suizidprävention. In: Wahl,H,W, Römer,C,T, & Ziegelmann,J,P. Angewandte Gerontologie, Stuttgart, Kohlhammer, 2012 KUZMA,E, PANTEL,J & SCHRÖDER,J. Prävention psychischer Krankheiten im Alter. In:
Wahls,,H,W, Römer,CT & Ziegelmann,J,P. Angewandte Gerontologie, Stuttgart, Kohlhammer, 2012.

GELLERT,P. & HERRMANN,W,J. Prävention körperlicher Erkrankungen. In: Wahl,H,W, Römer,C,T, & Ziegelmann,J,P. Angewandte Gerontologie,Stuttgart,Kohlhammer,2012 GRÄSER,H, Entwicklungsberatung, In: Wahl,W,H, Römer,T,C, & Ziegelmann,P,J, Angewandte Gerontologie, Stuttgart, Kohlhammer, 2012.

SATTLER,C, WENDELSTEIN,B, & SCHRÖDER,J. Prävention dementieller Erkrankungen Im Alter. In: Wahl,H,W, Römer,C,T & Ziegelmann,J,P. Angewandte Gerontologie Stuttgart, Kohlhammer, 2012.

SCHÜZ,B, & ZIEGELMANN,J,P. Formen und Bedeutung von Prävention, In: Wahl,N,W, Römer,T,C, & Ziegelmann,J,P. Angewandte Gerontologie, Stuttgart, Kohlhammer, 2012.

TOURBE, C. & RAMBERT,H. Des milliers de médicaments ne servente à rien. In Science & Vie, Mondadori France, nº 1171, avril 2015.

WELTGESUNSHEITORGANIZATION. Gesunheit 21 – Gesunheit für alle im 21. Jahrhundert. Kopenhagen: Westgesundheitorganization Regionalbüro für Europa.


Sobre o autor:

Nelson Frederico Seiffert

Doutor em Engenharia de Produção, com a tese de Doutorado sobre Gestão Ambiental. Trabalhou em Pesquisa na EMBRAPA durante 25 anos.

Desenvolve atualmente estudos na área de Gerontologia Ambiental e Aplicada. Conduziu Seminários sobre Gerontologia Ambiental e Aplicada no NETI/UFSC em 2015, 2016 e é Diretor Técnico Científico da ANG/SC – GESTÃO 2017/2019.

E-mail: [email protected]

Artigos de Associados

Recursos individuais e diagnóstico geriátrico

2.1 RECURSOS INDIVIDUAIS E DIAGNÓSTICO GERIÁTRICO

Nelson Frederico Seiffert

 

2.1.1-Envelhecimento uma experiência subjetiva

Mas como definir o envelhecimento? Em sociologia e demografia o envelhecimento corresponde a períodos do curso de vida, algumas vezes arbitrários, algumas vezes baseados em estatísticas epidemiológicas, segundo as quais, as perdas funcionais maiores surgem em média após os 80/85 anos. (Epidemiologia, ramo da medicina que estuda os diferentes fatores que intervém na difusão e propagação de doenças, sua frequência, seu modo de distribuição, sua evolução e à colocação de meios necessários para sua prevenção).A etapa da vida caracterizada perla velhice, com suas peculiaridades, só pode ser compreendida a partir da relação que se estabelece entre os diferentes aspectos cronológicos, biológicos, psicológicos, sociais e ambientais. Essa interação institui-se de acordo com as condições da cultura na qual o indivíduo está inserido. Condições históricas, políticas, econômicas, geográficas e culturais produzem diferentes representações sociais da velhice e também do idoso. Há uma correspondência entre a concepção de velhice presente em uma sociedade e as atitudes frente às pessoas que estão envelhecendo.
Atualmente, os especialistas no estudo do envelhecimento referem-se a três grupos de pessoas mais velhas: idosos jovens (65 a 74 anos), idosos velhos (75 a 84 anos) e idosos mais velhos (85 anos, 95 ou mais). Idosos jovens mantem-se ainda ativos, apesar de já poder apresentar, ou não, pequenas restrições corporais ou cognitivas, enquanto idosos velhos e mais velhos são segmentos que apresentam maior tendência a manifestar perdas funcionais que impõe dificuldades para desempenhar atividades comuns da vida diária. Embora esta categorização de grupos etários seja usual, as pesquisas revelam que o processo de envelhecimento é uma experiência heterogênea, vivida como uma experiência individual.
O envelhecimento aparece associado a doenças e perdas, e é a maioria das vezes entendido como apenas um problema médico, ligado à deterioração corporal e cognitiva. O avanço da idade é percebido comumente como um processo contínuo de perdas e de dependência que induz uma identidade de falta de condições, responsável por um conjunto de imagens negativas associadas a velhice.
Na realidade, existem diferentes formas de se definir e conceituar a velhice. Uma delas é a definição preconizada pela Organização Mundial da Saúde, que é baseada na idade cronológica, na qual a definição de idoso inicia-se aos 65 anos nos países desenvolvidos, e aos 60 anos nos países em desenvolvimento. O envelhecimento humano, é entendido como um processo influenciado por diversos fatores, como genética, gênero, classe social, cultura, padrões de saúde individuais e coletivos da sociedade, condições ambientais. Não pode apenas ser definido pela idade cronológica, mas pelas condições físicas, funcionais, mentais e de saúde das pessoas, o que equivale a afirmar que podem ser observadas diferentes idades biológicas e subjetivas em indivíduos com a mesma idade cronológica.
A idade biológica é definida pelas modificações corporais e mentais que ocorrem ao longo do processo de desenvolvimento e caracterizam o processo de envelhecimento humano, que pode ser compreendido como um processo que se inicia antes do nascimento do indivíduo e se estende por toda a existência humana.
A idade social é definida pela obtenção, pelo indivíduo de hábitos e status social, para o preenchimento de muitos papéis sociais, ou expectativas em relação às pessoas de sua idade, em sua cultura e em seu grupo social. Um indivíduo pode ser mais velho ou mais jovem dependendo de como ele se comporta dentro de uma classificação esperada para sua idade em uma sociedade ou cultura particular.
A idade psicológica pode ser compreendida como as habilidades adaptativas dos indivíduos para se adequarem às exigências do meio. As pessoas adaptam-se pelo uso de várias características psicológicas, como aprendizagem, memória, inteligência, controle emocional, etc.
Mas o que é o envelhecimento psíquico? Se envelhecer é sobretudo uma experiência pessoal e subjetiva, o que é então sentir-se velho? É evidente que, é menos uma questão de idade, portanto do tempo que passa, mas é por ocorrência de golpes de perda de memória e inteligência súbitos, perdas graves que atingem o indivíduo, que faz com que ele perceba sentir-se envelhecer. Eventos que fazem envelhecer referem-se sempre a perdas, luto, doenças, acidentes e rupturas. Um tempo de etapas que são passadas, que encarnam a partida das crianças de casa, a passagem para a aposentadoria, o divórcio, a morte de pessoas queridas ou alterações da própria integridade física. É por isto que a psicologia (ciência que trata do estado e processos mentais, do comportamento do ser humano e suas interações com o ambiente físico e social) procura definir a experiência de envelhecer em função das reações que provocam estas diversas experiências e perdas.
A partir destas premissas podem ser sugeridas três modalidades psíquicas, que se inscrevem de forma subjetiva no tempo que passa:
1-O avanço da idade, que é um processo permanente, que o calendário modela convencionalmente ao curso, do qual, perdas afetivas, físicas e de identidade são compensadas por ganhos simbólicos, imaginários ou reais. Maturidade, status ou novas liberdades oferecem então um sentimento de enriquecimento ou de satisfação.
2-O envelhecimento caracterizado pela falta de compensação das perdas. O sentimento de perda irremediável predomina, levando o indivíduo a se convencer que nenhuma melhora de sua situação poderá ocorrer e que toda a esperança é em vão.
3-O envelhecimento psíquico, ou se instala em uma condição duradoura de dependência que priva definitivamente o indivíduo de todas, ou parte de sua liberdade e de seu poder sobre a vida. Não somente as perdas podem não ser compensáveis e
irremediáveis, elas obrigam, daqui em diante, o indivíduo a se submeter a outro para efetuar os gestos mais habituais da vida quotidiana.
Pode-se viver longamente, isto é avançar em idade durante numerosos anos, sem necessariamente sentir-se como velho. Pode-se também sentir o envelhecimento em idades muito variáveis, desde logo que o sentimento de perdas predomine e sufoque o desejo de viver. Pode-se igualmente, tornar-se velho em idades muito diferentes, quando se instala a dependência que priva o indivíduo do poder sobre a sua vida. Pode-se ainda avançar em idades como 70, 80 e 90 anos e jamais sentir-se velho, nem mesmo envelhecendo.
É neste contexto que intervém a idade subjetiva. Os avanços de idade medidos pelo calendário e balizado pelos aniversários mostram que os sentimentos de envelhecimento não têm nada a ver com a cronologia. Pode-se envelhecer psiquicamente a 40, 50, 80 anos, e rejuvenescer subjetivamente a 50 ou 70 anos. Numerosos estudos consagrados a idade subjetiva mostram que, após atingir 30 anos, a pessoa se sente geralmente mais jovem do que realmente é. De fato, a idade subjetiva medida por diversas escalas psicológicas, mostra que ela é 10, 15, 20 anos inferior a idade cronológica. Por outro lado, pode-se perceber, quando se festeja um aniversário nos tempos de 60, 70 anos, tendemos a reaproximar a idade subjetiva com a idade cronológica, ou seja, assimilamos nossa idade real.
Pode-se, no entanto, também notar que o luto e acidentes da vida fazem envelhecer subjetivamente. Este senso de envelhecer é um sentimento subjetivo, quando uma acumulação de perdas nos lembra a realidade de nossa idade, e mesmo a percepção individual da idade subjetiva pode ultrapassa a percepção da idade cronológica.
O período de crescimento, que caracteriza a infância e à adolescência é, em princípio, feito de ganhos. A idade subjetiva é nesta época superior a idade cronológica, manifestada pelo desejo de crescer. O avanço da idade do adulto, após 30 anos caracteriza-se, ao contrário, pela necessidade de compensar perdas por meio e novos ganhos. A idade subjetiva torna-se então pouco a pouco inferior a idade cronológica, mas tendo a ilusão da juventude dentro de uma percepção modificada do tempo. O tempo parece, com efeito, passar mais e mais rápido na medida que se passam os anos.
O envelhecimento, sinônimo de alienação e de perda de poder sobre sua vida, corresponde ao tempo de abandono de todas as referências cronológicas em benefício do refúgio em uma idade desligada da realidade do tempo que passa. É por isto que a velhice é um sentimento subjetivo. Este sentimento que pode atingir uma pessoa de 60, como 95 anos, mas também permanecer totalmente estranha a um indivíduo de 90 anos, o qual irá tender a considerar a maior parte das pessoas com 80 anos, como mais velhas que ela (Helson 2008).

2.1.2-Qualidade de vida no envelhecimento

Na Gerontologia a aplicação da intervenção gerontológica pode ser considerada como o resultado dos conhecimentos obtidos pelos estudos e pesquisas comprovadas pela ciência do envelhecimento. Aponta para as múltiplas possibilidades de uso do desenvolvimento de resultados de pesquisas aplicados a aspectos relevantes da individualidade e da plasticidade dos indivíduos idosos, tanto no âmbito físico, psíquico e social (Wahl, Tesch-Römer & Ziegelman, 2012).
A qualidade de vida individual é o resultado de um conjunto de recursos ligados a condição de saúde física, psíquica, de interação social e ambiental que pode estar disponível ao longo do curso de vida. Estas condições são particularmente relevantes no contexto de redução do potencial da efetividade destes recursos durante o processo de envelhecimento. A intervenção gerontológica orientada sobre a baixa disponibilidade destes recursos pode resultar na sua recomposição, na otimização, na realocação de recursos que se fragilizaram ou que não estavam disponíveis previamente. Deve ter em vista, não apenas a reposição e ganhos na funcionalidade dos recursos de saúde individuais, mas também na realocação de recursos ambientais para a manutenção da qualidade de vida. Em diversos campos os recursos de suporte da qualidade de vida podem assumir funções compensatórias, cujo potencial repousa em parte sobre a sua disponibilidade individual prévia. As intervenções orientadas sobre o potencial dos recursos individuais devem sobretudo procurar a sua aptidão para compensação e dentro de uma estratégia preventiva. Isto é particularmente importante na fase inicial do processo de envelhecimento, e que tem uma relevância central nos campos de recursos sócio demográficos, da cognição, da saúde corporal, e do comportamento social. É uma estratégia que tem em mente as futuras perdas que se correlacionam com o curso de vida e pode assegurar a estabilidade e a própria qualidade de vida individual nas fases mais avançadas do processo de envelhecimento. Dentro do foco preventivo da intervenção gerontológica sobre a base de recursos que dão sustentação ao envelhecimento, cabe ainda considerar a necessidade de que seja reforçada a infraestrutura do contexto ambiental onde o indivíduo vivencia o processo de envelhecimento (Röcke & Martin 2012).

2.1.3-Recursos individuais

O conceito de recursos na literatura da Gerontopsicologia é bastante citado, mas mal definido. Adaptações gerais e teorias do stress focam recursos em relação a fatores de risco, como características de pessoas e do ambiente, as quais trazem dificuldades para o controle de condições de vida menos difíceis. Um grande número de características pessoais, genéticas, psicossociais, socioeconômicas, características motoras, cognitivas e sensoriais (comportamento, nível de formação educacional) bem como contextos de vida, junto com sua estrutura de oportunidades (tempo livre, infraestrutura de apoio na comunidade residencial) são incluídos no conceito de recursos.
Quando abordamos aspectos genéticos, nem sempre é fácil traçarmos uma linha de separação entre o que é genético e o que é hereditário. Quando falamos em genes, pensamos em herança direta de características bem definidas. Entretanto não são apenas as características externas que são determinadas pela expressão de genes. Todos os eventos que desencadeiam a formação de um ser com formas definidas, cujas partes possuem função definida, são determinadas por genes ou baterias de genes. Mutações em tais genes podem ser dramáticas para o organismo, como no caso do desenvolvimento do câncer ou também no caso de ocorrer uma transmissão de herança genética da diabete mellitus.
O papel da genética no envelhecimento é complexo, isto porque a herdabilidade é muito baixa, e diferentes genes podem responder a diversos estímulos ambientais, que quando somados, podem determinar maior ou menor tempo de vida, e diferentes genes podem responder a diversos estímulos ambientais, que podem influenciar o tempo de vida (Cruz, 2002).
Da mesma forma, mesmo quando são separados, os recursos pessoais como cognição, saúde corporal, comportamento social, são percebidas ainda habilidades auto reguladoras (estilo de realização) e o contexto de vida (tipo de moradia), as quais são também computados como recursos. Uma determinada função ou microssistema de vida pode também estar contida dentro da perspectiva de recursos, e as possibilidades de um dia a dia autônomo, independente, através de uma boa condição de saúde é um recurso central para o bem-estar subjetivo.
A possibilidade de se manipular a disponibilidade e a qualidade dos recursos individuais oferece um campo importante para intervenções gerontológicas que dirigem seu foco para elementos positivos de desenvolvimento. Recursos disponibilizam ferramentas de manejo para suporte da vida de idosos e definem o campo de operações para intervenções. Pessoas com muitos recursos alcançam, via de regra, um maior nível de bem-estar e uma maior qualidade de vida, do que pessoas com baixa disponibilidade de recursos.
As intervenções na base de recursos de pessoas idosas objetivam a descrição das características do estado de seus recursos e a definição de quais medidas podem ser aplicadas que conduzam a um desenvolvimento exitoso no sentido da maximização de ganhos e a minimização de perdas. Visam o manejo das modificações destes recursos com o sentido de prescrever uma melhor possibilidade de adaptação às modificações e de condução do modo de vida. A prescrição é para orientar a adoção de estratégias para adequado suporte da vida no sentido da melhor alocação de recursos. Tem um papel importante nas intervenções em campos funcionais específicos como diferenças cognitivas, sensoriais e motoras e para modelos de auto regulação emocional.
Um pressuposto fundamental da psicologia do alongamento de vida é que no desenvolvimento do curso de vida ocorrem tanto ganhos como perdas, e que o balanço, com base nas modificações dos recursos, indica que estes podem ser modificados e reforçados para favorecer a saúde a adiar perdas de funcionalidades. O adiamento de perdas produz um necessário reforço do suporte da vida pela redistribuição dos recursos em diferentes âmbitos que favorecem atividades diárias.
O Modelo de Otimização Seletiva com Compensação – SOC, de Baltes & Baltes (1990), citado por Röcke & Martin (2012) por exemplo, é orientado tanto para recursos como a processo. Descreve estratégias exitosas de suporte a vida orientadas sobre modificações do contexto individual. Pode ser, por exemplo, com foco na baixa disponibilidade de determinado recurso (seleção). Pode propor intervenções em recursos já existentes com objetivo em sua melhora (otimização). Pode focar na manutenção do nível funcional de determinado recurso (até então não visado), para compensar o desgaste de outro recurso já em fase de fragilização (compensação).
Diversas características intrínsecas e externas contribuem para o conjunto dos recursos individuais que atuam no desenvolvimento de uma vida prolongada. São parte integrante dos recursos que podem ser considerados como meios positivos de ajuda no desenvolvimento do envelhecimento, mas também como fatores de risco.
Estão correlacionados ao envelhecimento como aptidões para compensar desgastes e possibilitar compensações de perdas funcionais e manutenção da qualidade de vida.
Os recursos individuais colocam-se como ponto de partida para a intervenção gerontológica, que está focada na manutenção, restauração de recursos pessoais, bem como na adequação de características ambientais que cercam o indivíduo. Diferenças individuais no percurso da fase de envelhecimento, nos campos centrais da saúde corporal, cognição, bem-estar, refletem diferentes formas de ajuste dos indivíduos, entre a própria demanda de recursos e sua disponibilidade.
O “Modelo de Pilares Múltiplos que Afetam a Qualidade de Vida” pode ser usado como critério para a orientação de intervenções gerontológicas pessoais. Segundo este modelo as intervenções gerontológicas podem ser direcionadas para a manutenção da qualidade de vida com a ajuda de processos de compensação entre os diferentes recursos disponíveis, de forma que, sua redução, ou perda de algum deles, não leve necessariamente a uma minimização da qualidade de vida (Figura 1).

6-Saúde corporal; 2-Cognição; 4-Relacionamento social; 3-Recursos financeiros;
5-Ambiente residencial; 1-Infra-estrutura

 

São exemplos de intervenção para melhora da qualidade de vida individual:
Por Seleção:
Se o Recurso 1 for infraestrutura deficiente na área de moradia, como transporte precário, distância dos serviços de saúde, vizinhança perigosa, este recurso poderia ser selecionado como sendo o objetivo de ser alterado prioritariamente, efetuando-se a mudança para um novo local de moradia em local mais apropriado.
Por Otimização:
Se o Recurso 2 for Cognição, este pilar da qualidade de vida no envelhecimento pode ser otimizado, buscando-se participar de novos treinamentos e capacitações que reforcem a atividade cerebral (curso de línguas, informática, treinamento da memória), e com isto, reforçando este pilar do bem-estar individual.
Por compensação:
Se o recurso 6 for Saúde corporal, estiver afetado por perdas funcionais e fragilizando a mobilidade da pessoa idosa, esta poderá compensar estas perdas por reforçar o ambiente residencial (recurso 5) ajustando-se a uma nova realidade, pela redução do mobiliário para favorecer o transito entre dependências, adequação das portas ao deslocamento por cadeira de rodas, etc.
A perda de familiares ou pessoas amigas, que fragilizam o Recurso do relacionamento social (Pilar 4), deve também desencadear a busca pelo estabelecimento de uma nova rede de relacionamentos sociais, que atuem de forma compensatória, o que também pode resultar de esforços no reforço do pilar 2 relacionado atividades participativas em grupos de capacitação.

2.1.4-Intervenção gerontológica orientada a recursos

Os recursos individuais, colocam-se, ao lado de outros fatores contextuais e objetivos pessoais, como um ponto central de abordagem para a intervenção gerontológica. As diferentes características internas e externas de cada pessoa, comportam a maior parte das abordagens da intervenção gerontológica orientada a recursos. Todas estas abordagens têm em comum a característica de se orientarem aos objetivos de: regulação de perdas; uma maior efetividade de recursos que podem ser modificados em idades avançadas; a maximização de ganhos; e ao mesmo tempo, a minimização de perdas de recursos funcionais.
Intervenções orientadas a recursos podem ser diferenciadas, de um modo geral, sob o seu ponto de abordagem. Podem ter o objetivo de equilibrar perdas pela reconstrução doe recursos, pela prevenção do desgaste de recursos, ou pelo reforço do nível de determinado recurso. Quando um recurso sofre modificações ou perdas causadas pelo envelhecimento, existe um grande conjunto de possibilidades de aplicação de resultados do aprendizado sobre o potencial de plasticidade do indivíduo. Ganhos de recursos são, por exemplo, obtidos por treinamento da memória, pela concretização de novos contatos sociais, assumir novas atividades de uso do tempo livre, melhorias no tratamento e manutenção da saúde.
Intervenções que visam recursos disponíveis no ambiente externo ao indivíduo também podem ser incluídas neste contexto. Contextos de vida externos podem conter diferentes campos sociais, culturais, características de infraestrutura locais, os quais, no sentido de possibilidades de intervenção, atuam como compensação para perdas internas de recursos pessoais, como mobilidade, saúde e comportamentos sociais (pontos de encontro de idosos, sistema de transporte, vizinhança, etc.).
A alocação ótima de recursos já existentes pode ainda ser considerada uma estratégia para reforço de demandas individuais. É exemplar o Modelo de Pilares Múltiplos de Sustentação da Qualidade de Vida (Figura 1), que tem por foco o princípio do equilíbrio, composição, ajuste de perdas de recursos, através de uma reconstrução ou um reforço preventivo. O foco central é a busca da manutenção dos pilares de sustentação da qualidade de vida e não necessariamente a sua elevação. O ponto de partida é o conjunto de recursos que estão disponíveis e que são bastante distintos entre os indivíduos.
Uma característica do modelo é que o reforço de recursos individuais após uma perda pode levar a estabilização da qualidade de vida e não, automaticamente, a uma
melhora da qualidade de vida. O modelo sugere intervenções que tem por foco assumir funções compensatórias em pilares com recursos fragilizados. Como exemplo, em perdas funcionais de saúde, pode um reforço no pilar de recursos sociais levar a uma estabilização da qualidade de vida. O modelo também indica que, a possibilidade de reforço em determinados pilares de recursos possa ser efetuada preventivamente. Pode também, em uma fase posterior à perda de um determinado recurso, assumir uma função compensatória, pelo reforço em outros pilares de sustentação da qualidade de vida.
A disponibilidade de um maior conjunto de recursos oferece um maior leque de oportunidades de compensação. Estas abordagens são suportadas por teorias que consideram que, um maior número de facetas de características individuais oferece um maior campo de atuação para intervenções, que atuem na manutenção da vivência pessoal, mesmo quando haja a ocorrência de perdas significativas em determinados recursos (Röcke & Martin 2012).

2.1.5-Diagnóstico geriátrico

A intervenção gerontológica na esfera do indivíduo parte do princípio de que existe um diagnóstico geriátrico que caracteriza o estado físico e psíquico do idoso. O Diagnóstico Geriátrico pode ser descrito como a “medicina multifuncional, psicológica e de análise”, com o objetivo de se estabelecer um plano de longo prazo para o tratamento e cuidados do indivíduo idoso. Em um diagnóstico padronizado, aspectos cognitivos, status emocional, mobilidade, funções orgânicas, autossuficiência na condução do dia a dia e aspectos ambientais do entorno do indivíduo são sistematicamente caracterizados e incorporados aos cuidados e tratamento de idosos. Para diferentes Intervenções (prevenção, tratamento de doenças, reabilitação, tratamento de longa duração) é previsível que estas ações interagem na manutenção da funcionalidade, autossuficiência e redução de tratamento em hospitais e da internação em instituições de longa permanência.
Primeiro Passo:
O tratamento médico e o cuidado ao idoso é resultante de um diagnóstico geriátrico que avalia diversos aspectos fundamentais, podendo ser nominados:
1-Multimorbidade e complexidade
Muitas pessoas idosas sofrem simultaneamente danos por diversas doenças e com um método de avaliação multidimensional é possível estabelecer prioridades de intervenção.
2-Problemas desconhecidos
Muitas pessoas sofrem doenças desconhecidas e problemas que podem ser potencialmente modificáveis. Com isto podem ser interpretadas como consequência normal do envelhecimento, como restrições das funções cognitivas, auditivas e da visão.
3-Enfermidades crônicas
O tratamento de doenças crônicas visa atuar sobre a minimização de seus efeitos sobre a vida quotidiana. Ao lado do tratamento medicinal também é necessária uma avaliação funcional com base no diagnóstico geriátrico.
4-Interação com fatores sociais e ambientais
Condições de saúde do dia a dia são influenciadas pelos recursos sociais como a rede social e situação do ambiente residencial da moradia.
5-Exames laboratoriais.
Um diagnóstico geriátrico inclui inicialmente dados de um exame minucioso de resultados de análises laboratoriais.
Segundo Passo
Os dados do primeiro passo são complementados por verificação de aspectos funcionais do indivíduo, que são considerados o segundo passo do diagnóstico, e compreende:
1-Função afetiva
Uma avaliação sistemática de ocorrência de depressão. Um questionamento direcionado a depressão é oportuno, porque mesmo sintomas leves de depressão podem sugerir uma terapia combinada, medicamentosa e psicossocial.
2-Atividade diária
A avaliação da autonomia do dia a dia é um elemento central do diagnóstico por poder captar possíveis influências de doenças crônicas de funções que influenciam no contexto físico e social. O status funcional pode ser avaliado através de: 1- condução de atividades diárias como: nutrição, higiene, trato corporal, uso das instalações sanitárias, movimentação. 2- Desempenho de funções diárias como realização de compras, manuseio de roupas, preparo de refeições, uso de medicamentos, controle financeiro e quitação de contas. 3 – Cumprimento de agendas em atividades sociais, profissionais, esporte e viagens.
3-Cognição
Um teste mental mínimo compreende a identificação e controle da evolução da demência no envelhecimento e deve despertar precocemente a sensibilidade para uma avaliação neuropsicológica completa.
4-Mobilidade e quedas
Devem ser realizados testes para avaliar a mobilidade e a insegurança no deslocamento que são precursoras de quedas.
5-Saúde bucal
Tanto do ponto de vista funcional como estético o aspecto dentário tem um significado especial no envelhecimento e inclui o apoio de serviços odontológicos. Através de métodos atuais preventivos e de reabilitação é possível manter uma saúde bucal até estágios avançados do envelhecimento.
6-Dores
Sem considerar um órgão específico é importante a caracterização da dor. Nela não é somente considerada a intensidade da dor, mas também a sua influência sobre a autonomia, mobilidade, contatos sociais.
7-Audição e visão
A capacidade auditiva e visual é avaliada por testes objetivos com relação a sua funcionalidade em diferentes estágios do envelhecimento e avaliação de deficiências e formas de reabilitação podem ser conduzidas precocemente.
8-Avaliação social
Pressupõe uma descrição da rede de suporte social, o que pode ser realizada por um questionário simples, o qual pode revelar risco de isolamento e necessidade de medidas de integração social.
9-Vizinhança
A condição da área do entorno residencial é frequentemente pouco analisada, mas é de importância central no diagnóstico e aconselhamento. Uma visita a
residência permite avaliar qual o itinerário utilizado para deslocamentos no espaço próximo e se este apresenta condições favoráveis ao indivíduo idoso.
As evidências indicam que a aplicação do Diagnóstico Geriátrico tem um resultado relevante, de forma que são caracterizadas prioridades individuais e que possam ser aplicados planos de tratamento pessoais eficientes, seja na prevenção, na reabilitação, no tratamento hospitalar ou o caso de internação em instituições de longa permanência (Stuck, 2012).

2.1.6-A intervenção pela terapia Genética

Surgido nos laboratórios em 2012, uma ferramenta molecular genética (CRISPR-Cas9) está, a partir de agora, a fazer história. CRISPR-Cas9 agrupa o nome de uma grande proteína (Cas9) a um acrônimo – CRISPR – (palavra formada pela inicial, ou por mais de uma letra de cada um dos segmentos sucessivos de uma locução, ou pela maioria destas partes, ex. ONU).
CRISPR em inglês “Clustered Regularly Interspaced Short Palindromic Repeats”, significa “curtas sequências palindrômicas repetidas, agrupadas e regularmente espaçadas”. Palíndromo significa palavra que pode ser lida, indiferentemente, da esquerda para a direita ou da direita para a esquerda.
Em três anos apenas, CRISPR-Cas9 ganhou a fama de revolução. Trata-se de uma ferramenta de “edição genética”, que funciona de modo similar ao algoritmo de tratamento de texto (tipo word), e permite editar qualquer texto através de toques como procurar, copiar, colar, etc.
Isto é o que exatamente pode fazer o CRISPR-Cas9, mas transportado à genética, atuando sobre o DNA, que no caso da espécie humana possui mais de 3 milhões de letras. É uma ferramenta que permite aos cientistas inserir ou suprimir pedaços de DNA com uma precisão incrível e realizar coisas impossíveis, afirmam as pesquisadoras Jennifer Doudna e Emmanuelle Charpentier do Institut Max-Plank, Alemanha (Science & Vie, nº 1180, pg. 44, janvier 2016). Tais possibilidades foram já testadas com bactérias, plantas, leveduras, mamíferos e agora, sobre humanos.
O DNA – Ácido Desoxirribonucleico é um composto orgânico cujas moléculas contém as instruções genéticas que coordenam o desenvolvimento e funcionamento de todos os seres vivos e alguns vírus, e que transmitem as características hereditárias de cada ser vivo.
O seu principal papel é armazenar as informações necessárias para a construção das proteínas de ARN’s. Os segmentos de DNA que contém a informação genética são denominados genes. Do ponto de vista químico, o DNA é um longo polímero de unidades simples (nanômeros) de nucleotídeos, cuja cadeia principal é formada por moléculas de açúcar e fosfato, intercaladas, unidas por ligações fosfodiester. Ligada a molécula de açúcar está uma das quatro bases nitrogenadas. A sequência de bases ao longo da molécula de DNA constitui a informação genética. Dentro da célula, o DNA pode ser observado em uma estrutura chamada cromossoma durante a metáfase. Antes da divisão celular os cromossomas são duplicados por um processo de replicação. https://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%81cido_desoxirribonucleico
Otimizar os genes.
Nada pode ser feito em relação ao que a natureza nos tem dado? Não se contentar com a grande loteria genética, que dota cada um de um patrimônio único,
herdado de nossos parentes e seres ancestrais? Quem nunca sonhou em poder um dia refazer suas próprias características genéticas para se tornar mais inteligente, belo, permanecer jovem por mais tempo? Algum reforço tem sido feito através da cirurgia e uso de fármacos, que oferecem pontualmente alguns efeitos corporais e cognitivos.
Editar o genoma de um adulto.
E se for possível fazer modificações de fundo no DNA? Apropriar-se definitivamente de boas bases genéticas e as integrar a alguns de nossos órgãos? Esta é a perspectiva que abre o CRISPR-Cas9, poder retocar as capacidades psíquicas e intelectuais no seio do texto genético presente em cada um de nossas células. A maior parte das pessoas apresenta genes funcionais, mas não forçosamente sua versão mais eficiente e eficaz. Uma constatação, que abre enormes perspectivas de otimização. Editar o genoma de um adulto, seria então simplesmente apelar para o uso de técnicas disponibilizadas pela terapia genética, através de transportadores microscópicos, capazes de entregar o gene de interesse, integrando-o nas populações de células visadas.
O pesquisador, George Church, que desenvolve estudos com diversos grupos humanos, estuda o patrimônio genético da longevidade de centenários para descobrir os segredos de uma juventude que possa ser durável. Levantou uma lista de 10 versões raras de genes com efeitos positivos, dos quais seis aumentam a resistência a doenças cardiovasculares (PCSK9), aos cânceres (GHR), a diabete (SLC30A8; IFIH1), a Alzheimer (APP), ou aos vírus (CCRS; FUT2).
As possibilidades de correção e a facilidade de utilização do CRISPR-Cas9 pode também relacionar-se a outros tipos de genes como: SCN9A, que reduz a sensibilidade a dor; LRPS que confere uma ossatura mais densa; MSTN uma musculatura mais robusta; EPO, que favorece a produção de glóbulos vermelhos no sangue. Todos já vem sendo estudados por razões médicas.
Dezenas de laboratórios estão convencidos de que o CRISPR-Cas9 será uma possibilidade definitiva de tratar doenças genéticas, câncer, aids, e mesmo corrigir o patrimônio genético de toda a descendência. Com esta ferramenta revolucionária os médicos esperam, de fato, ter sucesso em realizar uma cirurgia reparadora do DNA (Abdoun, Rauscher, Sciama & Tourbe, 2016).
CRISPR-Cas9, uma revolução que traz medo.Pelo fato de que se torna incrivelmente fácil qualquer manipulação de seres vivos, CRISPR-Cas9 coloca a questão de saber quem vai utilizar, com qual objetivo, com quais fins? Desde já, se impõe uma moratória sobre este avanço científico, que é portador de grande inquietude. Paradoxalmente, de todos os riscos trazidos pelo CRISPR-Cas9, a produção de embriões “sobre medida” é um dos melhores exemplos da “edição genética de embriões”, cujos efeitos posteriores sobre o adulto e sua geração são imprevisíveis. A espécie humana não é evidentemente a única afetada por intervenção genética conduzidas pelo CRISPR-Cas9. Pode atuar, como no caso do interesse agrícola, dotando outras espécies de animais, plantas, microrganismos de supergenes.
A multiplicação destes projetos coloca a questão do “Business do ser vivo”, que permite o setor privado investir na biologia, eldorado financeiro do futuro. Ocorre também o problema da “biologia de garagem”, tocado por um conjunto de equipes não oficiais que realizam manipulações fora dos laboratórios. Pode ser imaginada, toda a sorte de experiências, de mais geniais às mais tóxicas, segundo a identidade e
motivação dos experimentadores. Existe ainda o risco de bioterrorismo, no qual a fabricação de microrganismos artificiais, “supermicrobios”. Estes, podem constituir uma armada de agentes perigosos. Tornar-se uma ameaça biológica que, potencialmente, poderá pertencer a seitas ou pequenos grupos de indivíduos mal-intencionados (Abdoun et al 2016).

2.1.6-Fontes de consulta

ABDOUN,E, RAUSCHER,E, Y,SCIAMA & C,TOURBE, Bricoleurs du Vivant. Science & Vie, Nº 1.180, Mondadori France, Janvier 2016.

CRUZ,I,B,M, da. Alguns questionamentos biológicos sobre o envelhecimento e morte: Da levedura ao homem. In: Jeckel Neto, E,A. Aspectos biológicos e geriátricos do Envelhecimento, 2ª. Ed, Porto Alegre, EDIPUCRS, 2002.

HELSON,C. Accompagner le grand âge – Psycho-gérontologie pratique, Paris,Dunod, 2008.

RÖCKE,C & MARTIN,M, Ressourcen, In: Wahl,H,W, Römer, T,C & Ziegelmann,J,P, Angewandte Gerontologie, Stuttgart, Kohlhammer, 2012.

STUCK,A,E, Geriatrisches Assessment, In: Wahl,H,W, Römer,C,T & Ziegelmann,J,P, Angewandte Gerontologie, Stuttgart, Kohlhammer, 2012.

WAHL,H,W, RÖMER,C,T & ZIEGELMANN,J,P, Angewandte Gerontologie, Stuttgart Kohlhammer, 2012
https://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%81cido_desoxirribonucleico


Sobre o autor:

Nelson Frederico Seiffert

Doutor em Engenharia de Produção, com a tese de Doutorado sobre Gestão Ambiental. Trabalhou em Pesquisa na EMBRAPA durante 25 anos.

Desenvolve atualmente estudos na área de Gerontologia Ambiental e Aplicada. Conduziu Seminários sobre Gerontologia Ambiental e Aplicada no NETI/UFSC em 2015, 2016 e é Diretor Técnico Científico da ANG/SC – GESTÃO 2017/2019.

E-mail: [email protected]

 

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Artigos de Associados

A intervenção gerontológica na esfera individual

PARTE 2 – A INTERVENÇÃO GERONTOLÓGICA NA ESFERA INDIVIDUAL

Nelson Frederico Seiffert

 

1-Gerontologia e a Intervenção Gerontológica

Um dos sonhos mais antigos da humanidade de cancelar o envelhecimento ou torná-lo reversível é espelhado na pintura de Lucas Cranach, de 1546, “a fonte da juventude”. Passado o tempo, temos atualmente a impressão de que a “fantasia da juventude” pode estar ao nosso alcance, porque neste meio tempo, a ciência estabeleceu uma medicina “antienvelhecimento”, a qual já participa do dia a dia das pessoas, como no caso mais simples da aparência física de idosos, decorrente de avanços na dermatologia, indústria cosmética e do avanço no emprego de próteses.
O sucesso dos mecanismos de suporte desenvolvidos para um bom envelhecimento, objeto da Gerontologia, é evidenciado pelo prolongamento do curso de vida, tanto para indivíduos em si, como para o conjunto da sociedade. Características de uma vida prolongada estão ligadas ao de qualidade de vida, como um maior nível de bem-estar, maior integração e participação social, mas também relacionados a problemas de custos no campo do sistema previdência e do sistema de saúde. Trata-se, tanto, no sentido de que é aumentado o tempo de vida, mas também da qualidade do bem-estar ao longo da fase de envelhecimento, que tem revelado novos potenciais e novos riscos.
Nos ramos da Gerontologia Aplicada e Gerontologia Ambiental, a Intervenção Gerontológica compreende um conjunto de esforços ligados a cuidados, corporais, psicológicos e ambientais, que visam conferir o maior nível possível de bem-estar a pessoas que envelhecem. Este foco direcionado ao aspecto aplicado do saber gerontológico é a parte essencial da Gerontologia.
A Intervenção Gerontológica é entendida como um processo de avaliação de dados resultantes de estudos e pesquisas, com o propósito de implementar a transferência de seus resultados para a prática.
Baltes & Baltes (1992) citado por Wahl et al (2012) definiu a Gerontologia como a descrição e o esclarecimento sobre a a modificação de aspectos corporais, psíquicos, sociais, históricos e culturais de pessoas idosas, incluindo a análise de aspectos relevantes que constituem o ambiente do envelhecimento e suas instituições sociais.

Esta definição, aborda em primeiro lugar as modificações que atuam sobre pessoas que envelhecem, bem como sobre as respostas do processo de envelhecimento. Em segundo lugar salienta que estas modificações não são penas do âmbito corporal e psicológico e indica que, apenas intervenções médicas não são suficientes para recomendação de intervenções gerontológicas. Em terceiro lugar é evidenciado que, para os idosos e envelhecimento (com vista a descrição, interpretação e modificação), seja necessário a incorporação dos recursos ambientais e pressupostos das instituições sociais que abrangem o indivíduo idoso.

 

2-A proposta da intervenção gerontológica

Entre as razões da intervenção gerontológica, encontra-se o convencimento de que o percurso do envelhecimento normal possa ser também melhorado através de medidas de intervenção que otimizem as condições corporais, cognitivas e ambientais. O conceito clássico de “enriquecimento ambiental” tem evidenciado novos resultados e uma verdadeira “renascença” para a intervenção gerontológica. Desenvolvimento negativo, bem como processos patológicos, como por exemplo demência, não são mais vistos como fatalidades naturais, como uma herança de curso de vida, mas como reação a um conjunto de fatores, dos quais, pelo menos alguns, podem ser influenciados de forma duradoura, e com isto, propiciar significativas melhoras na vida quotidiana de pessoas afetadas.
Tais concepções não foram sempre imaginadas pela Gerontologia, que anteriormente incorporava um determinado pessimismo sobre as possibilidades de intervenção, o que atualmente já não é mais aceito. Nas décadas de 1950/60 havia um quadro deficiente de conhecimento e de que o sucesso da pesquisa e da sua aplicação prática trouxesse espaço para modificações positivas. Nos anos 1970/80 desenvolveu-se nos EUA um verdadeiro “culto da intervenção no envelhecimento”, o qual foi portador de esperança, o que pode, em grande parte, banir e retardar o sentimento da perda de ânimo que atinge pessoas idosas.
A motivação para este otimismo intervencionista situou-se nos resultados de pesquisa e estudos de recapacitação, nos quais foi percebida a elevada plasticidade dos idosos em sua capacidade mental e na capacidade corporal de movimentação e administração de atividades do quotidiano.
Seguiu-se a este período, um efeito de distanciamento de uma visão determinística biológica do envelhecimento. Em lugar de uma perspectiva biológica de dependência no estágio mais avançado da vida, surgiu uma perspectiva de modificação do envelhecimento, através de intervenções nas condições corporais e cognitivas do indivíduo, bem como modificações espaciais nos recursos ambientais disponíveis para as pessoas. Neste mesmo impulso, ocorreu também, uma revalorização da pesquisa de intervenção. Gero-intervenções foram então compreendidas como orientadas a objetivos e ações planejadas para influenciar sobre o curso de vida, no estabelecimento de uma teoria de orientação do processo de envelhecimento, em uma avaliação empírica e também uma reflexão ética sobre o âmbito da Gerontologia.
Esta nova visão foi influenciada de forma muito acentuada pela Gerontologia Psicológica e Gerontologia Social, mas também, determinada paralelamente, pela perspectiva de reabilitação trazida pelo avanço da Geriatria. Em conjunto, estes impulsos direcionados a uma intervenção gerontológica desenvolvida nos anos 1970/80, vem conduzido os avanços atuais da ciência do envelhecimento. Sobretudo nos anos 1990, o quadro continuou a se diferenciar, e a perspectiva de intervenção no envelhecimento também gerou a concepção de um novo foco de desdobramento da Gerontologia, a Gerontologia Aplicada, para a qual foi colocado à disposição um largo espectro sobre modificações e alvos de possibilidades de intervenção decorrentes de resultados de pesquisa. Por outro lado, também foram demonstrados os limites das intervenções gerontológicas, em torno da reabilitação geriátrica de pessoas atingidas por características de multimorbidade somática, por doenças demenciais ou por reações indesejáveis do processo de alongamento do tempo de vida (ex. baixa escolaridade, desemprego prolongado, falta de competências individuais).
Na visão da intervenção gerontológica sobre os indivíduos é de se considerar que nas últimas décadas foram dados amplos avanços, como por exemplo no treinamento cognitivo. A temática da melhoria da qualidade de vida de pessoas idosas com perdas cognitivas, vem sendo intensamente estudadas e tem mostrado avanços significativos e práticos sobre o que era conhecido até os anos 2000.
Estudos sobre o papel das atividades físicas tem mostrado que, não são apenas efetivas sobre a prevenção de doenças corporais, mas também sobre a capacidade cognitiva. Avanços, também vem se acentuado sobre a metodologia de pesquisa, melhorando o potencial dos resultados e a aplicação prática de intervenções no processo de envelhecimento. São exemplos, práticas como: visitas preventivas a residências de idosos; visitas a comunidades residenciais para grupos de pessoas com tipos específicos de perdas funcionais, como demência; técnicas de cuidados e novas orientações aos usuários de serviços de apoio a idosos como psicoterapia, e utilização de informática como meio para tratamento de saúde.
A Gerontologia da intervenção estabelece uma diferenciação nos processos de intervenção entre aquela direcionada para o apoio a pessoas que se situam em um envelhecimento normal, e aquela direcionadas a pessoas que se encontram em um envelhecimento patológico. Exatamente no tempo atual, em que se eleva o número de pessoas idosas, torna-se cada vez mais evidente que o potencial de pessoas idosas deva ser melhor explorado, e que intervenções sejam desenvolvidas na direção da otimização de um envelhecimento exitoso. Ao mesmo tempo em que se eleva o número de pessoas com severas desabilitações e formas graves de multimorbidade, maior deverá ser o esforço do desenvolvimento de novas formas de intervenção gerontológica.
A intervenção gerontológica é parte objetiva da Gerontologia Aplicada e aproxima-se de um papel central dentro da moldura de uma sociedade idosa forte, que esteja situada dentro de um processo de envelhecimento normal, cada vez mais distante de um envelhecimento patológico (Wahl et al 2013).
O envelhecimento normal deveria ser aquele, cujo curso de vida avança no tempo, no qual as perdas funcionais, orgânicas, cognitivas, são controladas ou compensáveis, possibilitando a manutenção da autonomia, da independência, o interesse pela vida, mesmo em estágios mais avançados do envelhecimento. As intervenções gerontológicas podem ser vistas como o teste do sucesso da ciência do envelhecimento. Mostra as múltiplas possibilidades de aplicação de seus conhecimentos e pesquisas, mas também revela a significativa plasticidade do sistema de envelhecimento humano nos seus âmbitos físico, psíquico e social.
Intervenções gerontológicas ressaltam em seu extremo, a capacidade de suporte da vida também em idades mais avançadas e nutrem a perspectiva de uma vida prazerosa e utopias de que é possível desfrutar de bem-estar no envelhecimento.
Estes conceitos fundamentais destacam o significado da intervenção gerontológica para a pesquisa do envelhecimento, para pessoas idosas, para seus familiares, para uma grande série de profissionais e para a sociedade. Ela oferece esclarecimentos que indicam objetivos e estratégias de intervenção e caracteriza campos de aplicação para a ciência do envelhecimento e para a aplicação prática ao dia a dia de pessoas idosas. Intervenções exitosas e eficientes demostram a grande plasticidade do sistema de envelhecimento humano e espelham ao mesmo tempo o potencial da Gerontologia na transferência do conhecimento científico para a prática gerontológica, um dos objetivos maiores de todas as ciências.

 

3-A perspectiva multidisciplinar

A Gerontologia caracteriza-se como um campo de estudos multidisciplinar recebendo contribuições metodológicas e conceituais da biologia, psicologia, ciências sociais e de disciplinas como biodemografia, neuropsicologia, história, filosofia, direito, enfermagem, psicologia educacional, psicologia clínica (Neri, 2008). Nos EUA a Gerontologia é caracterizada pela US Davis School of Gerontology, e que também é mencionada pela California State University, Sacramento, como o estudo de aspectos sociais, psicológicos e biológicos do envelhecimento. Incorpora pesquisas e prática nos campos da biologia, medicina, optometria, odontologia, trabalho social, terapia física e ocupacional, psicologia, psiquiatria, sociologia, economia, ciência política, arquitetura, geografia, planejamento urbano, farmácia, saúde pública, moradia e antropologia.
http://gero.usc.edu/gtraduate-programs; http://www.CSUS.edu/gero/
Na Alemanha a Gerontologia pesquisa os fenômenos ligados ao envelhecimento e ao idoso, problemas e recursos interdisciplinares que utilizam fontes ligadas a natureza, ciências humanas, sociais e culturais. A Gerontologia se ocupa com a descrição, conhecimento e modificação de aspectos corporais, psíquicos, sociais, históricos e culturais dos idosos, e consequentemente da análise de questões relevantes do ambiente social de idosos. Os atuais problemas de pessoas idosas e a Política Social cunham as questões de pesquisa da gerontologia. Ela segue a metodologia interdisciplinar, pelo fato de que o envelhecimento interage em um processo natural através de diferentes facetas.
Na Áustria a Gerontologia é parte de uma formação profissional que está incluída na profissão de Assistência Social, e na Alemanha na formação de Assistência Técnica a Idosos. Na Gerontologia contam em sentido amplo: Ajuda a Idosos (Suporte a pessoas idosas através de instituições); Sociologia de Idosos ou Gerontosociologia (investigação/estudo de aspectos sociológicos); Biogerontologia (estudo/investigação de causas biológicas); Demografia (desenvolvimento populacional); Geriatria (investigação, diagnose, terapia e reabilitação de doenças do envelhecimento; Gerontopsiquiatria (diagnose e terapia de doenças psíquicas em idosos – “Psiquiatria: ramo da medicina que se ocupa do diagnóstico, da terapia medicamentosa e da psicoterapia de pacientes que apresentam problemas mentais”); Gerontopsicologia (investigação de aspectos psicológicos –“Psicologia: ciência que trata dos estados e processos mentais, do comportamento do ser humano e de suas interações com o ambiente físico e social”); Gerontopsicoterapia (suporte psíquico de idosos – “Psicoterapia: técnica de tratamento de doenças e problemas psíquicos, que utiliza geralmente técnicas sugestivas, persuasivas, reeducativas, relaxantes, etc., que emprega técnicas catárticas – libertação, expulsão ou purgação do que é estranho à essência ou natureza do ser, e com isto o corrompe – , como a psicanálise e o psicodrama”); Seniorenmanagement (organização de atividades diárias de pessoas idosas); Gerontologia social (investigação de aspectos sociais) e Teologia prática (significado teológico do envelhecimento).
A Gerontologia reflete a mudança da imagem do envelhecimento na sociedade. Os grupos alvo são o público idoso em geral, mas particularmente o grupo sênior, que é formado por pessoas intelectualmente e fisicamente ativas, que se ocupam com o processo de envelhecimento e a política. Atuam como intermediários entre o setor público, universidades e sociedade que presta serviços a idosos. Para pesquisa gerontológica contam a investigação dos fundamentos biológicos do envelhecimento bem como a modificação do sistema social. Cientistas sociais de demografia agregam pesquisadores com conhecimentos próximos da Gerontologia.
O objetivo da Gerontologia é a combinação de diferentes campos de disciplinas como Geriatria, Gerontopsiquiatria, Assistência Social e Trabalho Social para constituição de uma disciplina científica específica. Deve ser verificado que é um apoio reforçado para questionamentos pragmáticos. Também disciplinas do ensino da economia, oferecem a busca de um ótimo de estruturação do sistema de aposentadorias. Deverá também haver um crescimento futuro da necessidade de conhecimentos científicos com base na orientação administrativa para a Gerontologia.
http://de.wikipedia.org http://www.gero.uni-heidelberg.de
No trabalho conjunto e concreto de diversas disciplinas na pesquisa no campo da Gerontologia, tem ocorrido, não raro, que uma disciplina condutora tenha assumido a responsabilidade do direcionamento, questionamento e interpretação metódica dos resultados de estudos e pesquisa. Na Alemanha, a pesquisa em Gerontologia tem sido liderada pela Psicologia, na Áustria pela Sociologia, e no contexto europeu é principalmente dominada pela Medicina, o que também ocorre nos EUA.
Este condicionamento vem sendo discutido nos últimos anos, pela necessidade de uma perspectiva multidisciplinar, multiprofissional, que possa aglutinar esforços das diferentes áreas do conhecimento. Que tenham em vista estudos de longo prazo, aplicáveis a adultos idosos que estarão vivendo por um período mais longo, e que precisam incorporar a psicologia, medicina, psiquiatria, ciências dos esportes, sociologia, bioquímica, odontologia, neuropsicologia, economia. Abordagem que busque a cooperação em uma pesquisa interdisciplinar em planos de pesquisa compartilhados. (Brandemburg, 2012).
Em seu conjunto é evidente a necessidade de solução de uma abordagem interdisciplinar, sobretudo na avaliação e interpretação de dados sob a luz de diversas perspectivas disciplinares. Se por um lado existe boa vontade para a cooperação, por outro lado é desejável intensificar a prática de uma estrutura que interaja em uma cooperação sustentável. Especialmente devem ser considerados (e se refletir) sobre barreiras que se formaram nas estruturas de pesquisa de grupos monodisciplinares, que relutam em cooperar em uma intervenção gerontológica interdisciplinar. Ocorrem também barreiras que decorrem do posicionamento de profissões e carreiras que podem ser afetadas em suas vantagens quando precisam partilhar seus conhecimentos em atividades interdisciplinares.
Multi, inter e transdisciplinaridade, somente poderá ser estabelecida, quando ocorrer uma franca cooperação entre os diferentes atores monodisciplinares comprometidos com a Gerontologia, que por sua natureza é uma ciência multidisciplinar.
O ponto de partida para tal cooperação, é a aceitação de que todos os participantes se atenham a algo novo, de forma que o trabalho coletivo possa ser encarado como um processo necessário para produzir um resultado exitoso. Propósitos e práticas individuais precisam ser questionadas e mantidas a uma distância da especificidade profissional, e com isto, a visão particular seja relativizada.
Condições francas de cooperação na Gerontologia podem ser concretizadas por uma reciprocidade antecipada. Todos os profissionais que contribuem com seu trabalho, adotam regras preestabelecidas para estudo e pesquisa em grupos interdisciplinares, compartilham e se beneficiam dos resultados obtidos pelo trabalho multiprofissional. Este é o melhor caminho para produzir resultados científicos e oferecer avanços necessários para uma intervenção gerontológica eficaz que atenda os desafios de nosso tempo. (Brandemburg, 2012).

4-Objetivos e estratégias da intervenção

Como primeiro objetivo da estratégia de intervenção na esfera individual, devem ser diferenciados os processos da Otimização, da Prevenção, da Reabilitação/Terapia, da Manutenção e Gestão da condição de recursos de saúde (corporal e cognitiva) que apresentam dificuldades de serem melhorados.
Intervenção pela Otimização diz respeito a estabelecer condições gerais adequadas ao desempenho individual, equilibrar ou compensar os pontos fracos e reforçar os pontos fortes das pessoas que estão na fase de envelhecimento.
A Prevenção, como estratégia de intervenção individual é entendida como a introdução de medidas de ação antecipada que devem ocorrer para a desconstrução, minimização ou eliminação de perdas pessoais de saúde e funcionais, corporais, mentais e psicossociais.
Intervenção como Reabilitação e Terapia baseia-se no tratamento de doenças e efeitos dos tratamentos direcionados para recuperação de habilidades funcionais que foram perdidas pelo indivíduo.

No sentido da Manutenção e Gestão da condição do indivíduo, que apresenta perdas irreversíveis, isto significa a aceitação e a busca de se conviver, tão bem como possível, com as restrições corporais e mentais impostas pelo envelhecimento.
Medidas de intervenção exitosas, precisam também não exercer pressão para que se obtenha necessariamente uma melhora, mas trabalhar com o indivíduo, para obter conscientização sobre a possibilidade do retardamento de efeitos de perdas que não mais possam ser eliminadas.
No seu plano fundamental, a pesquisa no campo da intervenção busca descortinar e avaliar os limites da plasticidade do envelhecimento em suas diferentes facetas, corporal, psíquica e social. Ela pode indicar quais estratégias mostram-se mais promissoras e eficientes para explorar a plasticidade do sistema de envelhecimento humano, a capacidade das reservas humanas, mesmo em pessoas em idades avançadas, possibilitando desenvolver uma imagem diferenciada do envelhecimento que caracterize não só os pontos fracos, mas também pontos fortes. Mesmo em pessoas com idades avançadas, atingidas por fortes perdas funcionais, as intervenções ainda são possíveis e podem ser eficientes. São conhecidos exemplos de pessoas com 90 anos de idade, que conseguiram pela reconstrução muscular melhorar significativamente sua qualidade de vida, mas também, por outro lado, é verificado que mesmo intervenções intensivas e treinamento no campo das habilidades cognitivas não tem alterado o avanço da dinâmica de perdas mentais.
No longo prazo, intervenções perseguem o objetivo de contribuir para suprir uma vida melhor durante a fase de envelhecimento. Elas mostram para os indivíduos e sociedade, que tudo ainda é possível em fases mais avançadas do envelhecimento. Podem com isto oferecer utopias, de que na fase de envelhecimento situam-se possibilidades ilimitadas de suporte, a um ainda pouco explorado sistema de desenvolvimento humano.

5-Fundamentos epidemiológicos

A epidemiologia ocupa-se com a frequência, evolução, riscos e as consequências das doenças. Com base no sentido prático da epidemiologia, são desenvolvidos métodos para controle, manejo da reabilitação e na comprovação de sua eficácia, riscos e a organização de sistemas de tratamento e cuidados.
Ao lado das ciências da natureza, biológicas e pesquisa clínica, a epidemiologia coloca-se como fundamento para a medicina e intervenção gerontológica. Doenças corporais e psíquicas, bem como a incidência de restrições nas atividades do dia a dia, acometem um grande número de pessoas idosas e tendem a avançar para uma situação crônica. Isto resulta na necessidade de intervenções através da internação em instituições médicas ligadas ao envelhecimento. Em idades avançadas as intervenções médicas e de cuidados a idosos assumem um elevado significado econômico para o sistema de saúde dos idosos (Weyerer 2012).

6-Fundamentos da Neurociência

A neurociência é o ramo da ciência, ou conjunto de conhecimentos que se refere ao sistema nervoso. Atualmente já estão bastante caracterizadas as alterações cerebrais por modificações de sua anatomia e de suas funções. O volume do cérebro reduz-se e em pessoas idosas e podem ser evidenciadas mudanças significativas de atividades cerebrais, quando comparadas com pessoas jovens. Estas mudanças podem também ser interpretadas como exemplos de processos de compensação e assimilação, particularmente quando são observados resultados de exercícios específicos ou a subativação do cérebro, bem como na sua reorganização funcional.
Modificações causadas pelo envelhecimento podem ser originadas por doenças, influências ambientais e comportamentais. As regiões cerebrais podem ser atingidas de modo diferenciado por doenças e as características dos indivíduos tem grande influência sobre seus efeitos. Com isto, existem também no envelhecimento inúmeras possibilidades para intervenções, as quais retardam o processo de envelhecimento e podem manter funções cognitivas por um tempo mais prolongado (Voelcker-Rehage, 2012).

7-Multimorbidade

A multimorbidade manifesta-se pela ocorrência simultânea de problemas de saúde e incidência simultânea de diversas doenças. É um fenômeno comum em pessoas idosas e ocorre com o avanço da idade, afetando habilidades funcionais da condução da vida diária e aspectos subjetivos como a qualidade de vida e a autonomia, e que são focos da intervenção gerontológica.
Debilidade e vulnerabilidade, desempenham um papel relevante na avaliação de situações de saúde e, sobretudo, em situações crônicas, a intervenção gerontológica tem por propósito, não mais unicamente a cura, mas uma melhora da saúde através de diversos objetivos de reabilitação da autonomia e condução de tarefas diárias. A complexidade da multimorbidade é um desafio para a Gerontologia Aplicada. Exige novos caminhos de intervenções, planos de tratamento e abordagens individualizadas, os quais tendem a prometer maiores chances de sucesso e precisam ser colocadas em prática e validadas por sua efetividade (Holzhausen & Scheidt-Nave, 2012).

8-Fontes de consulta

BRANDENBURG,H. Multi-und interdisziplinäre Perspectiven.In Wahl,H,W., Römer,C,T. &Ziegelmann,J,P. Angewandte Gerontologie, Stuttgart, Kohlhammer, 2012.

CRANACH,L. “A Fonte da Juventude”. Pintura e realizada por Lucas Cranach, der Ältere. pintor germânico em 1546. In: http://pt.Wikipedia.org/wiki/Lucas_Cranach_o_Velho

HOLZHAUSEN,M. & SCHEIDT-NAVE,C. Multimorbität als Interventionsherausforderung In. Wahl,H,W., Römder, C,T. & Ziegelmann, J,P. Angewandte Gerontologie, Stutttgart, Kohlhammer, 2012.

NERI,A,L. Palavras chave em gerontologia, Campinas, 3ª. Ed. Alínea, 2008.

VOELCKER-REHAGE,C. Neurowissenschaftliche Grundlagen. In Wahl,H,W, Römer,C,T, & Ziegelmann,J,P. Angewandte Gerontologie, Stuttgart, Kohlhammer, 2012.

WAHL,H,W. Stellenwert und Ziele von Interventionsforschung und – práxis. In: Wahl, H,W, Römer,C,T. & Ziegelmann,J,P. Angewandte Gerontologie, Stuttgart, Kohlhammer, 2012.

WAHL,H,W., RÖMER,CT. & ZIEGELMANN,JP. Gerontologie – auch eine angewandte Wissenschaft. In: Wahl,H,W., Römer,C,T. & Ziegelman J,P. Angewandte Gerontologie Stuttgart, Kohlhammer, 2012.

WEYERER,S. Epidemiologische Grundlagen.In: Wahl,H,W., Römer, C,T. & Ziegelmann,J,P. Angewandte Gerontologie, Stuttgart, Kohlhammer, 2012.


Sobre o autor:

Nelson Frederico Seiffert

Doutor em Engenharia de Produção, com a tese de Doutorado sobre Gestão Ambiental. Trabalhou em Pesquisa na EMBRAPA durante 25 anos.

Desenvolve atualmente estudos na área de Gerontologia Ambiental e Aplicada. Conduziu Seminários sobre Gerontologia Ambiental e Aplicada no NETI/UFSC em 2015, 2016 e é Diretor Técnico Científico da ANG/SC – GESTÃO 2017/2019.

E-mail: [email protected]

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Artigos de Associados

Fundamentos e Conceitos Básicos em Gerontologia Aplicada

PARTE 1 – FUNDAMENTOS E CONCEITOS BÁSICOS DA GERONTOLOGIA APLICADA

Nelson Frederico Seiffert

1.1-Envelhecimento

A necessidade, do indivíduo e da própria sociedade, organizar-se para fazer frente ao processo de envelhecimento, decorre de fatores que impactam a vida de pessoas idosas como a explosão demográfica, a urbanização crescente da população, o aumento da expectativa de vida e de alterações das condições ambientais.
A população mundial está envelhecendo rapidamente e o número de pessoas com 60 anos ou mais dobrará proporcionalmente, passando de 11% em 2006, para 22% em 2050. Em 2030, cerca de três em cada cinco pessoas no planeta estarão habitando em cidades e o número da população urbana nas regiões menos desenvolvidas será quatro vezes maior que nas regiões mais desenvolvidas.
Um contingente maior de idosos também estará morando em cidades. Em 80% dos casos, a proporção de residentes idosos chega a ser semelhante à de moradores de faixas etárias mais jovens. O envelhecimento da população e a urbanização representam, ao longo do último século, o ápice do êxito do desenvolvimento humano. Representam também, juntamente com as alterações dos recursos ambientais promovidas pelos seres humanos, nos principais desafios para este século. O aumento da expectativa de vida é fruto de ganhos fundamentais da saúde pública e dos padrões de vida. Incorpora, no entanto, um período do alongamento do tempo de vida em que as pessoas são atingidas por incapacitações no seu desempenho físico e intelectual e uma crescente redução das condições de saúde nos estágios mais avançados do envelhecimento. O crescimento urbano está associado ao desenvolvimento tecnológico e econômico. Como as cidades são o centro das atividades culturais, sociais e políticas, são um celeiro de novas ideias, produtos e serviços. Contudo, para ser sustentáveis, as cidades devem oferecer estruturas e serviços que proporcionem o bem-estar e a produtividade para seus residentes. Os idosos, em particular, precisam de ambientes que lhes apoiem e capacitem, para compensar as alterações físicas e sociais decorrentes do envelhecimento (Organização Mundial da Saúde, 2008).

Segundo os dados de mortalidade no ano base 2012, divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a expectativa de vida do brasileiro ao nascer passou de 74,1 anos, em 2011, para 74,6 anos, com acréscimo de 5 meses e 12 dias. Também é estimado que, em 2030 a população idosa do país (60 anos ou mais) poderá ultrapassar 30 milhões de pessoas e deverá representar 13% da população no final do período. A maioria das pessoas idosas estará vivendo nas grandes cidades e o número de idosos que moram sozinhos triplicou em 20 anos. Entre 1992 e 2012, o número passou de 1,1 milhão para 3,7 milhões, um aumento de 215% segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio do IBGE.
Nas últimas décadas, ampliou-se não somente o tempo de vida, mas também melhorou consideravelmente a qualidade de vida de pessoas idosas. Contribuíram para este processo as pesquisas nos campos da Gerontologia, Geriatria, Política Social, bem como avanços significativos na contribuição da Medicina, Tecnologia, Cultura e Economia.
Considerando que sempre mais pessoas alcançam 90 a 100 anos de idade, isto pode indicar o reconhecimento de que, o envelhecimento futuro pode não apenas ser considerado como um fardo, mas também ser conduzido com dignidade.
O envelhecimento tem sido considerado o tempo da vida humana, que avança entre terceira e quarta idade. A terceira idade é identificada por inicia-se com 60 anos de vida, e a quarta idade como iniciando-se aos 80 anos, isto levando em consideração as condições dos países industrializados. O conhecimento científico tem revelado que o alongamento do tempo de vida e o ingresso na quarta idade, beneficia particularmente os indivíduos da terceira idade, que possuem o potencial ou plasticidade para alcançarem esta faixa etária. No entanto, estudos desenvolvidos na França indicam que também se prolongam os anos de vida em más condições de saúde. Problemas ligados a diversas doenças (artroses, cardiovasculares, respiratórias, depressão) minam a esperança de vida sem incapacidades e com boa saúde. Isto também tem sido verificado na maioria de outros países, onde se vive mais tempo em condições de má saúde (Bellanger & Tourbe, 2013).
Na quarta idade pesam frequentemente, incomensuráveis incapacidades biológicas do ser humano e, neste tempo, não significa que em tão elevada idade poderia ser conduzida a uma velhice dourada. Estima-se atualmente que o futuro da quarta idade de nossa sociedade será colocada com problemas incomuns e isto significa um desafio para a pesquisa.
O alongamento do tempo de vida no século 21 não atinge somente os idosos jovens, mas especialmente pessoas com 80, 90 e até 100 anos. Uma pessoa com 80 anos possui, em um país industrializado, ainda um tempo de vida de mais 8 anos, o que representa o dobro do tempo, comparado com três décadas passadas. O alongamento do tempo de vida mostra-se quase linear. Então, a metade das pessoas nascidas hoje irá alcançar 100 anos de vida. Na verdade, esta projeção linear falha em termos de visão de curto prazo e, portanto, é insegura, mas tem o mérito de forçar a sociedade a repensar seriamente sobre o futuro (Baltes 2004). http://www.fu-berlin.de/presse/publikationen/fundiert/archiv/2004_01/04-01-baltes

 

1.2-Envelhecimento ativo

Se quisermos que o envelhecimento seja uma experiência positiva, uma vida mais longa deve ser acompanhada de oportunidades contínuas de saúde, participação e segurança. A Organização Mundial de Saúde adotou o termo “envelhecimento ativo” para expressar o processo de conquista dessa visão.
Envelhecimento ativo é o processo de otimização das oportunidades de saúde, participação e segurança, com o objetivo de melhorar a qualidade de vida à medida que as pessoas ficam mais velhas.
O envelhecimento ativo aplica-se tanto a indivíduos quanto a grupos populacionais. Permite que as pessoas percebam o seu potencial para o bem-estar físico, social e mental ao longo do curso de vida, e que estas pessoas participem da sociedade de acordo com suas necessidades, desejos e capacidades. Ao mesmo tempo propicia proteção, segurança e cuidados adequados, quando necessários.
O termo “ativo” refere-se à participação contínua nas questões sociais, econômicas, culturais, espirituais e civis, e não somente à capacidade de estar fisicamente ativo ou de fazer parte da força de trabalho. As pessoas mais velhas que se aposentam, e aquelas que apresentam alguma doença ou vivem com alguma necessidade especial, podem continuar a contribuir ativamente para seus familiares, companheiros, comunidades e países. O objetivo do envelhecimento ativo é aumentar a expectativa de uma vida saudável e a qualidade de vida para todas as pessoas que estão envelhecendo, inclusive as que são frágeis, fisicamente incapacitadas e que requerem cuidados.
O termo “saúde” refere-se ao bem-estar físico, mental e social, como definido pela Organização Mundial da Saúde. Por isso, em um projeto de envelhecimento ativo, as políticas e programas que promovam a saúde mental e relações sociais são tão importantes quanto as que melhoram as condições físicas de saúde.
Manter a autonomia e independência durante o processo de envelhecimento é uma meta fundamental para indivíduos e governantes. Além disso, o envelhecimento ocorre dentro de um contexto que envolve outras pessoas, amigos, colegas de trabalho, vizinhos e membros da família. Esta é a razão pela qual a independência e a solidariedade entre gerações (uma via de mão dupla com indivíduos jovens e velhos, onde se dá e se recebe) são princípios relevantes para o envelhecimento ativo. A criança de ontem é o adulto de hoje e o avô ou avó de amanhã. A qualidade de vida que as pessoas terão quando avós, depende não só dos riscos e oportunidades que experimentarem durante a vida, mas também da maneira como as gerações posteriores irão oferecer ajuda e apoio mútuos, quando necessário (Organização Mundial da Saúde 2008).
A revista “The Economist” apresentou uma interessante análise do envelhecimento da população mundial (Age invaders, 26/04/14) que contradiz o senso comum de que idosos são improdutivos. Nos países desenvolvidos, as pessoas de 60 anos ou mais estão trabalhando por muito mais tempo. Entre os americanos, a proporção de idosos que permanecem em atividade subiu de 13% no ano 2000 para 20% em 2013 e entre os alemães passou de 25% para 50%. São pessoas de 65, 70 e 75 anos, e até mais, que continuam em atividade e que gostam do que fazem. Outra constatação: os idosos com maior escolaridade têm um nível de produtividade muito alto, porque as suas atividades baseiam se mais no conhecimento do que na musculatura. Em consequência, eles ganham mais, poupam bastante e dão menos despesas ao Estado. Na França, muitos idosos de 80 anos são ativos e poupam 134% mais do que as pessoas de 55 ou 60 anos.
O que leva ao prolongamento da vida profissional dos idosos é a boa formação educacional. Nos EUA, entre os que têm curso superior, 65% continuam trabalhando, entre os que ficam só e contam com o ensino médio são 32%. Na Europa, as proporções são de 25% e 50% respectivamente. São números significativos, pois esses idosos estão longe de constituir um fardo improdutivo para a sociedade, comprovando-se que a educação faz a diferença em qualquer idade.
No Brasil a proporção de idosos no mercado de trabalho é irrisória. Entre 1992 a 2012, a proporção de homens com mais de 60 anos que trabalhavam subiu de 7% para 8% e entre as mulheres ficou estável em 5,8%. Isto é explicado porque em 2012, 27% dos idosos brasileiros eram analfabetos. Cerca de 40% tinham 4 anos de escola ou menos, e apenas 9% tinham curso superior completo ou incompleto. Com este nível educacional é impossível trabalhar na sociedade do conhecimento que exige versatilidade, bom senso, agilidade mental e domínio de tecnologias modernas. O desafio está no ensino. Os jovens de hoje serão os idosos de amanhã e deverão substituir os profissionais futuros. Do bom ensino de hoje nascerá a esperança de contarmos com idosos qualificados e produtivos, que por volta de 2040 somarão mais de um terço da população brasileira (Pastore, 2014).

1.3-Gerontologia e Geriatria

A Gerontologia é o campo de estudos que investiga as experiências de velhice e envelhecimento em diferentes contextos socioculturais e históricos, abrangendo aspectos do envelhecimento normal e patológico. Investiga o potencial de desenvolvimento humano associado ao curso de vida e ao processo de envelhecimento. Caracteriza-se como um campo de estudos multidisciplinar, recebendo contribuições metodológicas e conceituais da biologia, psicologia, ciências sociais e de disciplinas como biodemografia, neuropsicologia, história, filosofia, direito, enfermagem, psicologia educacional, psicologia clínica e medicina (Neri, 2008).
A forma de abordagem do campo de conhecimento da Gerontologia mostra distintos enfoques em seu detalhamento e sua abrangência em países como na França, Alemanha e EUA.
Na França a Gerontologia é um campo de estudo que se refere ao envelhecimento humano, suas consequências e suas implicações, num sentido amplo: biologia e fisiologia dos organismos vivos, psicologia, saúde, saúde pública, economia, sociedade, demografia, antropologia, sociologia e mais geralmente a maior parte das ciências humanas. Ela é, por isto, um ponto de encontro de múltiplas disciplinas. A Geriatria é um campo da Gerontologia que se interessa especificamente pelas consequências do envelhecimento sobre a saúde humana e às doenças das pessoas idosas. O trabalho interdisciplinar é o processo principal da Gerontologia. http://www.chu-toulouse.fr/-pole-geriatrie-et-gerontologie , http://master2geronto.etud.univ-montp
Na Alemanha a Gerontologia pesquisa os fenômenos ligados ao envelhecimento e ao idoso, problemas e recursos interdisciplinares que utilizam fontes ligadas a natureza, ciências humanas, sociais e culturais. A Gerontologia ocupa-se com a descrição, conhecimento e modificação de aspectos corporais, psíquicos, sociais, históricos e culturais dos idosos, e consequentemente da análise de questões relevantes do ambiente social de idosos. Os atuais problemas de pessoas idosas e da política social cunham as questões de pesquisa da gerontologia. Ela segue a metodologia interdisciplinar, pelo fato de que o envelhecimento interage em um processo natural através de diferentes facetas. Na Áustria a Gerontologia é parte de uma formação profissional que está incluída na profissão de Assistência Social, e na Alemanha na formação de Assistência Técnica a Idosos. Na Gerontologia contam em sentido amplo: Ajuda a Idosos (Suporte a pessoas idosas através de instituições); Sociologia de Idosos ou Gerontosociologia (investigação/estudo de aspectos sociológicos); Biogerontologia (estudo/investigação de causas biológicas); Demografia (desenvolvimento populacional); Geriatria (investigação, diagnose, terapia e reabilitação de doenças do envelhecimento; Gerontopsiquiatria (diagnose e terapia de doenças psíquicas em idosos); Gerontopsicologia (investigação de aspectos psicológicos); Gerontopsicoterapia (suporte psíquico de idosos); Seniorenmanagement (organização de atividades diárias de pessoas idosas); Gerontologia social (investigação de aspectos sociais) e Teologia prática (significado teológico do envelhecimento).
A Gerontologia reflete a mudança da imagem do envelhecimento na sociedade. Os grupos alvo são o público idoso em geral, mas particularmente o grupo sênior, que é formado por pessoas intelectualmente e fisicamente ativas, que se ocupam com o processo de envelhecimento e a política. Atuam como intermediários entre o setor público, universidades e sociedade que presta serviços a idosos. Para pesquisa gerontológica contam a investigação dos fundamentos biológicos do envelhecimento bem como a modificação do sistema social. Cientistas sociais de demografia agregam pesquisadores com conhecimentos próximos da gerontologia.
O objetivo da Gerontologia é a combinação de diferentes campos de disciplinas como Geriatria, Gerontopsiquiatria, Assistência Social e Trabalho Social para constituição de uma disciplina científica específica. Deve ser verificado que é um apoio reforçado para questionamentos pragmáticos. Também disciplinas do ensino da economia oferecem suporte na busca de um ótimo de estruturação do sistema de aposentadorias. Deverá também haver um crescimento futuro da necessidade de conhecimentos científicos com base na orientação administrativa para a Gerontologia. http://www.gero.uni-heidelberg.de
Nos EUA o termo Gerontologia, denominado por Ilya Mechnikov em 1903, é o estudo de aspectos sociais, psicológicos e biológicos do envelhecimento. Distingue da Geriatria a qual é o ramo da medicina que estuda doenças de adultos idosos. A Gerontologia incorpora pesquisa e prática nos campos da biologia, medicina, optometria, odontologia, trabalho social, terapia física e ocupacional, psicologia, psiquiatria, sociologia, economia, ciência política, arquitetura, geografia, planejamento urbano, farmácia, saúde pública, moradia e antropologia. Os campos de estudo e pesquisa são:
– Estudo de mudanças físicas, mentais e sociais no envelhecimento da população;
– Investigação do processo de envelhecimento (Biogerontologia);
– Investigação da interface entre envelhecimento normal e doenças relacionadas ao envelhecimento (Gero Science);
– Investigação dos efeitos de uma população envelhecida sobre a sociedade (Socialgerontology);
– Aplicação dos conhecimentos a políticas e programas, incluindo perspectivas microscópicas (exemplo, o planejamento residencial) e macroscópicas (exemplo, o planejamento governamental), em um novo campo do conhecimento denominado Gerontologia Ambiental.
A natureza multidisciplinar da Gerontologia significa que existe um número de subcampos, bem como campos associados, tais como, psicologia e sociologia, que se sobrepõe a Gerontologia. Os gerontólogos consideram o envelhecimento em termos de quatro processos distintos:
1- Envelhecimento cronológico: é o envelhecimento baseado no tempo vivido pela pessoa a partir de seu nascimento.
2- Envelhecimento biológico: refere-se às mudanças físicas que reduzem a eficiência do sistema orgânico.
3- Envelhecimento psicológico: Inclui as mudanças que ocorrem no processo de sensorial e de percepção, habilidades cognitivas, capacidade adaptativa e personalidade.
4- Envelhecimento social: refere-se sobre mudanças de papéis e relações com a família, amigos, e outros suportes informais, papéis produtivos em organizações.
http://gero.usc.edu/graduate-programs, http://www.csus.edu/gero/
Medicina Geriátrica ou Geriatria é o ramo da medicina que foca o estudo, a prevenção e o tratamento de doenças e da incapacidade em idades avançadas. O termo deve ser distinguido da Gerontologia, que é o estudo do envelhecimento em si. Geriatras são médicos especializados no cuidado com o idoso e têm a sua formação variável em diferentes países, mas geralmente passam por uma formação generalista e a seguir são treinados nos aspectos específicos da saúde do idoso. Em geral os Geriatras têm de passar por um exame de qualificação de especialização para obter o título ou Certificado de Especialista em Gerontologia. Os objetivos da Geriatria são a manutenção da saúde em idades avançadas, a manutenção da funcionalidade, a prevenção de doenças, a detecção e tratamento precoce de doenças, assegurar formas de tratamento comprovadas e seguras, promover um máximo grau de independência individual em pacientes, assegurar cuidado e apoio durante doenças terminais.

1.4-Gerontologia Aplicada

A medicina ante envelhecimento, já pertence, de longa data, a prática e consumo diário influenciada, particularmente, pela indústria cosmética e dermatologia. O prolongamento do tempo devida tem oferecido suporte para um envelhecimento ativo tornando-se uma abordagem central da sociedade. Pontos altos da qualidade de vida e de bem-estar em idosos, tem permitido maior integração e participação social, o desenvolvimento de novos potenciais humanos, mas por outro lado, traz também riscos e um forte impacto sobre custos do sistema de previdência, de saúde e de seguros.
Baltes & Baltes (1992), citado por Wahl et al (2012) definiu Gerontologia como “a descrição, conhecimento e modificação de aspectos corporais, psíquicos, sociais, históricos e culturais do envelhecimento, incluindo a análise de condições relevantes que compõe o ambiente e as instituições sociais de idosos”. Quando salienta a ideia de modificação, assume uma proposta de Gerontologia de Intervenção, seja em termos de modificação de condições do ecossistema ambiental individual (psíquico e corporal), seja do ecossistema ambiental físico, social e institucional. O conceito de intervenção para o enriquecimento ambiental traz uma perspectiva otimista na condição de envelhecimento, por agregar um grande conjunto de fatores, sobre os quais são possíveis intervenções, que podem ser influenciadas de forma sustentável, e com isto, conduzir a melhorias duradouras no curso do envelhecimento.
Na década de 1970/80 desenvolveu-se particularmente nos EUA um “culto de intervenção no envelhecimento” portador de esperança, que influenciou uma atitude prevalecente até então, de “perda de ânimo” em idosos. Os fundamentos para esta intervenção otimista resultaram do desenvolvimento do estudo, pesquisas e treinamento, no qual a elevada plasticidade dos idosos no campo da capacitação intelectual pode ser bem caracterizada. Esta abordagem determinou um distanciamento de uma visão determinística biológica e um retorno a considerações sobre possibilidades de intervenções e modificação do ambiente social e espacial, que resultam em melhorias no processo normal de envelhecimento, bem como abriu novas perspectivas no campo da reabilitação dentro da geriatria.
As perspectivas de orientação para intervenções precoces no campo do treinamento corporal e cognitivo, mas também na inclusão de aconselhamento com foco no planejamento de intervenções que ofereçam suporte a modificações que ocorrem durante o curso do envelhecimento passou ser de grande relevância. Objetivamente significa organizar-se o mais cedo possível durante o curso de vida para o período de envelhecimento e não fixar a atenção apenas ao processo de alongamento do tempo de vida.
A intervenção tem por objetivo melhorar e otimizar o processo de envelhecimento. Com isto uma Gerontologia Aplicada pode ocupar um papel central em uma sociedade que avança para o envelhecimento populacional. Por seu foco centrado em uma visão de intervenção a Gerontologia Aplicada assume um largo espectro multidisciplinar, lançando um olhar sobre disciplinas como psicologia, sociologia, epidemiologia, pedagogia, direito social, política, ecologia, entre outras. Com isto torna-se atrativa para diferentes grupos de interesse com ampla capacidade de oferecer intervenções direcionadas ao bem-estar de pessoas que se encontram em um processo de envelhecimento normal, mas também para situações nas quais patologias afetam o processo de envelhecimento (Wahl, Tesch-Römer & Ziegelman 2012).

1.5-A intervenção gerontológica e recursos individuais

Na Gerontologia a aplicação de intervenções gerontológica pode ser considerada como o teste dos conhecimentos obtidos pelos estudos e pesquisas e a comprovação de resultados da ciência do envelhecimento. Mostra as múltiplas possibilidades de uso do desenvolvimento do conhecimento e resultados de pesquisas aplicados a aspectos relevantes da individualidade e da plasticidade dos indivíduos idosos, tanto no âmbito físico, psíquico e social. Ela aplica-se tanto as esferas do espaço privado, do espaço público como também a esfera do campo psíquico individual. (Wahl, Tesch-Römer & Ziegelman 2012).
A qualidade de vida individual é consequência de um conjunto de recursos cognitivos, ligados a saúde física e psíquica e de interação social, que podem estar disponíveis ao longo do curso de vida, e em especial no contexto de perdas de capacidades durante o processo de envelhecimento. Intervenções gerontológica orientadas sobre a não disponibilidade ou fragilização destes recursos pode resultar na sua recomposição e também na otimização da realocação de recursos que se fragilizaram ou que não estavam disponíveis previamente. Devem ter em vista não apenas a reposição e ganhos na qualidade destes recursos, mas também na manutenção da qualidade de vida. Em diversos campos os recursos podem assumir funções compensatórias, cujo potencial repousa em parte sobre a disponibilidade individual prévia destes recursos. As intervenções orientadas sobre o potencial dos recursos individuais devem sobretudo procurar a sua aptidão para compensação e dentro de uma estratégia preventiva. Isto é particularmente importante na fase inicial do processo de envelhecimento, e que tem uma relevância central nos campos de recursos sócio demográficos, da cognição, da saúde corporal, e do comportamento social. É uma estratégia que tem em mente as futuras perdas que se correlacionam com o curso do envelhecimento e pode assegurar a estabilidade e a própria qualidade de vida individual nas fases mais avançadas do processo de envelhecimento.
Dentro deste foco preventivo da intervenção gerontológica sobre a base de recursos que dão sustentação ao processo de envelhecimento, cabe ainda considerar a necessidade de que seja reforçada a infraestrutura do contexto ambiental onde o indivíduo desenvolve seu processo de envelhecimento e o reforço da legislação que afeta pessoas idosas, para que se potencialize uma interação maximizada das condições disponíveis (Röcke & Martin 2012).

1.6-O ambiente, e sua influência no envelhecimento

O conceito de ambiente é entendido e utilizado em diversas contextos. No sentido mais amplo ambiente significa o conjunto dos fatores que asseguram a existência da vida, isto é, os fatores físicos, psíquicos, técnicos, econômicos e sociais que afetam o comportamento e a vida dos seres humanos. Esta definição incorpora aspectos sociológicos, espaciais, biológicos. Os aspectos sociológicos englobam o ambiente dos indivíduos, da família, do grupo e da sociedade. O aspecto espacial diz respeito ao espaço próximo que incorpora edificações, quarteirão, bairro, cidade, região, país, com sua respectiva paisagem, topografia, geografia. No aspecto biológico é incluída a condição ambiental dos animais, de plantas, pessoas e feitas recomendações para uma interação harmoniosa destes componentes entre si. São também incluídas as interações humanas nocivas ao ambiente resultantes da tecnologia, da economia e da explosão demográfica. Com isto são incorporados aspectos como utilização do espaço físicoterritorial, do adensamento populacional, da proteção ambiental, da degradação e poluição e da limitação da disponibilidade de recursos ambientais e matérias primas.
No seu conceito mais estreito o ambiente incorpora a condição do ar, da água, do solo, das plantas, dos animais, do ambiente construído e engloba com isto, os fundamentos da vida e da proteção ambiental. Sobre este conceito estreito também se fundamenta a definição de Política Ambiental, que está baseada na responsabilização humana sobre a degradação ambiental (Seiffert, 2008).
A Política Ambiental é conceituada como o conjunto de todas as medidas que possam assegurar a manutenção e melhoria das condições ambientais que favorecem a vida. Isto significa que na prática: danos ambientais existentes sejam reduzidos e eliminados; danos para pessoas e o ambiente sejam prevenidos; riscos para seres humanos, animais e plantas, natureza e paisagem, recursos e bens ambientais sejam minimizados e que seja assegurado espaço territorial livre para o desenvolvimento das pessoas, biodiversidade e das gerações futuras (Wicke, 1993).
Como as cidades são o centro das atividades culturais, sociais e políticas, elas então são um celeiro de novas ideias, produtos e serviços que influenciarão outras comunidades e, portanto, o mundo. Contudo, para ser sustentável, as cidades devem oferecer estruturas e serviços que proporcionem o bem-estar e a produtividade de seus residentes.
Os idosos, em particular, precisam de ambientes que lhe apoiem e capacitem, para compensar as alterações físicas decorrentes do envelhecimento. Essa necessidade foi reconhecida como um dos três direcionamentos principais do Plano Internacional de Ação de Madri, de 2002, com endosso das Nações Unidas. Tornar as cidades amigáveis aos idosos é uma resposta necessária e lógica para promover o bem-estar e a contribuição de idosos residentes em áreas urbanas e manter as cidades prósperas. E como o envelhecimento ativo é um processo que dura toda a vida, uma cidade amiga do idoso é uma cidade para todas as idades (Organização Mundial da Saúde, 2008).

1.7-Gerontologia ambiental

O entorno físico e social compõe o ambiente que circunda a nossa vida e que evolui, conforme avançamos, entre as fases de nossa infância, estágio adulto e envelhecimento. O espaço em que vivemos, transformamos em lugares, que apresentam significado pessoal, sendo uma experiência individual e que evolui com o passar do tempo. Em anos recentes, o significado das relações entre o ambiente e os seres humanos, sua influência sobre a natureza de nossa existência e, sua associação como o bem-estar em idades avançadas, tem sido reconhecida como um componente primário do surgimento da Gerontologia Ambiental (Rowles & Bernard, 2013).
Diversos pesquisadores têm focado seus estudos sobre o entendimento do significado de “lugar” e “lar” para pessoas envelhecidas e a maneira pela qual o significado de lugar muda, como resultado do avanço da idade e a influência de alterações que ocorrem, tanto no ambiente residencial, como resultante da realocação individual para novos ambientes. Isto tem levado a um maior entendimento do significado de “estar em casa” e como isto evolui ao longo do curso de vida. Além do âmbito residencial, o dia a dia do idoso ocorre também no ambiente público, onde partilha de espaços, cujas características ambientais são críticas para que possa conduzir sua vida diária. O uso deste espaço é um componente essencial para que um indivíduose sinta “no lugar”. Existem espaços públicos onde a pessoa se sente segura, bem-vinda e no qual pode experimentar um sentido de pertencimento e identificação. Outros espaços são hostis, oferecem riscos e são alienantes. A estrutura e o desenho destes espaços públicos são elementos críticos na determinação da habilidade e desejo de pessoas idosas em saírem para o ambiente externo, para além do conforto e segurança que existe dentro de sua casa. A interação entre a percepção dos espaços privados e públicos, molda o comportamento diário de indivíduos e seus estilos de vida.
Como ramo do conhecimento da Gerontologia, a Gerontologia Ambiental pode ser conceituada como a ciência gerontológica que incorpora a variável ambiental em suas teorias, análises, pesquisas e aplicações práticas.
A Gerontologia Ambiental empenha-se em entender a mudança contínua das interações entre a população idosa e seu ambiente social e físico e como estas inter-relações ajustam-se a evolução do envelhecimento humano. O pressuposto que embasa o campo da Gerontologia Ambiental é que, conforme a população envelhece e suas competências declinam, tornam-se particularmente vulneráveis a características do ambiente do seu entorno. Como resultado, assumem importância as diferentes conexões ambientais relacionadas com as habilidades funcionais, individuais e coletivas da base sociocultural, da saúde física e cognitiva da população idosa.
Os estudos do envelhecimento e ambiente focam comumente contextos de indivíduos idosos, salientando a noção de que o entorno espacial próximo merece atenção e rigorosa pesquisa. Dirigindo o seu foco sobre modificações e otimização, os pesquisadores da Gerontologia Ambiental empenham-se em contribuir para a melhoria da qualidade de vida da população idosa. O curso de vida do envelhecimento somente pode ser entendido plenamente a partir do substrato espacial-social-comportamental.
O ambiente é o substrato sobre o qual as condições sociais e comportamentais precisam ser vistas na dimensão espacial, sobretudo tendo por base aspectos como características naturais, a natureza construída, vizinhança, distâncias, acessibilidade entre outras. Isto possibilita então uma concepção de um ambiente social, espacial e comportamental.
A Gerontologia Ambiental situa-se dentro da pesquisa do envelhecimento como um campo de conhecimento, no qual diversas perspectivas podem estar incluídas, as quais relacionam as pessoas idosas com o seu ambiente espacial e social. Perspectivas que, em seu conjunto, focam o dia-a-dia dos idosos, tanto em seus fundamentos científicos como em seus aspectos aplicados. Inicialmente voltada para a adaptação da moradia para a fase de envelhecimento (microambiente), pelo fato de que idosos, em geral, gastam a maior parte de seu tempo em seus próprios domicílios, posteriormente expandiu-se também para o ambiente externo à moradia (macroambiente). A vida diária de idosos é também afetada pelas imediações da sua área residencial, podendo oferecer oportunidades de desenvolvimento, mas também, barreiras ambientais que condicionam o seu bem-estar. A caracterização detalhada de componentes da interação pessoa-ambiente-cidade passa a ser de grande importância para grupos de idosos residentes.
Através do seu envolvimento na modificação e desenho de moradias e locais públicos, as aplicações práticas deste campo de conhecimento buscam elevar o bem-estar de adultos conforme avançam no processo de envelhecimento. O campo de conhecimento está focado nos atributos das relações pessoas-ambiente, tais como acessibilidade, privacidade, independência, autonomia e outras, que se sucedem entrefases de elevada competência individual até condições de fragilidade e dependência. Empenha-se em entender as implicações sócio espaciais entre idosos e sua relação complexa com o ambiente a partir de análise em diferentes escalas. Na microescala (casa e família) e na macroescala (vizinhança, cidade, região), busca capacitar políticas sociais e ambientais a se tornarem amigáveis aos idosos. Entre as principais contribuições da disciplina estão a do envelhecimento no lugar (em casa), porque pessoas idosas preferem envelhecer no seu ambiente imediato, onde aspectos como experiência espacial e apego local são de grande relevância ao seu bem-estar, (Schwarz, 2013, Wahl et al, 1999).
A Gerontologia Ambiental foi fundada e continua a ser alimentada por uma diversidade de abordagens interdisciplinares. Muitas disciplinas, como psicologia, sociologia, serviço social, enfermagem, arquitetura, desenho de interiores, planejamento urbano, geografia social, terapia ocupacional, política social e de saúde, economia, contribuem para este campo do conhecimento humano, que tem por excelência o propósito de ser uma área de conhecimento com capacidade de desenvolver um elevado grau de conteúdo prático aplicado. A pesquisa e o estudo de fenômenos complexos como o ambiente e o envelhecimento exigem uma abordagem interdisciplinar com diferentes perspectivas teóricas das ciências humanas, das ciências da natureza e de conhecimento de ciências básicas e aplicadas (Schwarz & Scheidt, 2013, Tomasini, 2005, Ratclife, 1992).
O campo de estudo e pesquisa da Gerontologia Ambiental tem-se voltado para a aplicabilidade e parte de estudos de caso precedentes e exemplares, que precisam estar conectados ao seu contexto, e que funcionem sobre uma base de racionalidade aplicada. Isto é evidenciado pela pesquisa orientada para a prática gerontológica do projeto Guia Cidade Amiga do Idoso que foi apresentado em 2005, na sessão de abertura do 18º Congresso Mundial de Gerontologia, no Rio de Janeiro. O Projeto Mundial Cidade Amiga do Idoso foi desenvolvido pela OMS em Genebra, na Suíça e o Protocolo de Pesquisa foi implementado em 33 cidades de diferentes países do mundo. Contou com a orientação de um grupo de consultores e especialistas e partiu do ponto inicial do conceito de que uma cidade amiga do idoso estimula o envelhecimento ativo ao otimizar as oportunidades de saúde, participação e segurança, visando melhorar a qualidade de vida das pessoas à medida que envelhecem.
As vantagens e obstáculos relatados por aproximadamente 1500 idosos e 750 cuidadores e prestadores de serviços consultados neste projeto confirmam esta ideia, e dão muitos exemplos para mostrar como as características da cidade, refletem os determinantes do envelhecimento ativo. Edificações, condições de moradias, espaços públicos, sistema de transporte da cidade contribuem para um comportamento saudável, participação social, autodeterminação, ou ao contrário, para o isolamento, inatividade e exclusão social. Deveria ser normal que em uma cidade amiga o ambiente natural e o ambiente construído considerassem usuários de diferentes graus de capacidade que e incluíssem também os idosos (Organização Mundial da Saúde, 2008).
A evolução do conhecimento da Gerontologia Ambiental vem possibilitando a oferta de sugestões práticas para a estruturação de ambientes privados e públicos que possam trazer maior significado ao lugar em que pessoas idosas habitam.
Dentro de uma perspectiva gerontológica a organização da vida de pessoas idosas pode ser avaliada em duas perspectivas de condução do dia-a-dia, “dentro decasa”, no seu lar, dentro de suas quatro paredes, na segurança e “fora de casa”, ou seja, além da porta da residência, no jardim, nas imediações, na rua, ao ar livre, no bairro, na cidade, nos contatos sociais, na prática de exercícios físicos, no stress do tráfego. A análise do comportamento dentro e fora de casa possibilita avaliar diferentes detalhes que afetam a condução da rotina diária e busca identificar formas de tirar proveito aplicado das oportunidades e ameaças ambientais. Procura entender melhor as interações do idoso com ambos ambientes, que para efeito didático podem ser designados como microambiente (dentro) e macroambiente (fora) da esfera residencial.
O ambiente de dentro e de fora da moradia se completam e estão ligados por características difusas como ar, luz, ruídos e características concretas, tais como caminhos, jardins, edificações, pessoas entre outros. Formam um conjunto de um todo e são duas categorias de análise, que se diferenciam metodicamente no dia-a-dia por suas estruturas, necessidades de manejo, conduta, aspectos funcionais, simbólicos e emocionais. As diferenças mostram uma polarização entre privado e público, individual versus social, espaço limitado e aberto, individualismo e convivialidade.
É reconhecido que a condição ambiental dentro e fora de casa, na moderna sociedade industrial está alterando-se e avançando para uma tecnificação crescente cujo significado ainda é pouco claro para pessoas idosas. Tecnologias de infraestrutura residencial, sistemas de transporte coletivo e individual, de comunicação, equipamentos, computadores, meios eletrônicos, crescente automatização de serviços, passam a oferecer, ao mesmo tempo facilidades e restrições de uso para pessoas que envelhecem. Pode também significar uma segregação em relação à sociedade moderna e a condução ao isolamento, pelo elevado gradiente e velocidade das alterações que invadem a vida diária, alterando o ambiente espacial e social.
Pouco se sabe ainda sobre o impacto que estas mudanças irão impor a pessoas idosas e como elas irão reagir, adaptar-se ou vivenciar, de forma individual ou coletiva, esta onda tecnológica. Seria passível de uma adaptação positiva ou a criação de um ambiente hostil, negativo e não amigável. Estaria ao alcance do idoso efetuar sua adaptação exitosa a tecnologia que se impõe ao seu ambiente espacial dentro e fora de casa? (Mollenkopf et al, 1999).

1.8-Gerontotecnologia

O termo Gerontotecnologia é formado por dois conceitos: gerontologia, que é o estudo científico do envelhecimento e tecnologia que é a pesquisa e desenvolvimento de técnicas e produtos. O termo foi cunhado por Brower (1980) da Universidade Técnica de Eidhoven na Holanda. Definiu Gerontotecnologia como sendo o estudo do processo e de necessidades provenientes do envelhecimento, buscando soluções da tecnologia para melhorar a vida diária dos idosos, tanto residencial como no ambiente de trabalho e de auxílio médico para os idosos e seus cuidadores.
Gerontotecnologia é o estudo multidisciplinar do envelhecimento e da tecnologia para adaptar os ambientes no qual vivem e trabalham os idosos e seus cuidadores para que tenha sua independência preservada, possam participar da sociedade e trabalhar melhor com saúde, conforto e segurança. Gerontotecnologia é uma área profissional nova ou disciplina aplicada, concebida para o desenvolvimento detécnicas e produtos baseados no conhecimento do processo do envelhecimento e de preferências a aspectos culturais dos idosos.
As atividades de pesquisa básica e aplicada envolvem a interação dos idosos com produtos e a construção de ambientes adaptados, tanto a pessoas que se encontram em estágios de envelhecimento normal ou patológico. Os desafios da pesquisa tecnológica referem-se ao processo de alterações físicas, psicológicas, de percepção cognitiva e motora, relacionadas com a idade e que, podem trazer limitações aos indivíduos. As oportunidades que se colocam para a pesquisa tecnológica derivam dos resultados positivos advindos das novas atividades proporcionadas pelo maior tempo livre, a descoberta de novos potenciais de trabalho, relacionamento com familiares e pessoas da comunidade.
O objetivo complementar é entender como a idade afeta o alcance e o padrão de uso dos dispositivos tecnológicos existentes. Essencialmente a Gerontotecnologia utiliza a tecnologia disponível para reduzir anos de morbidade e desconforto, acrescentando autonomia funcional, estendendo anos de vida independente.
As abordagens mais evidentes da Gerontotecnologia podem ser relacionadas como:

1-Melhorar as ferramentas tecnológicas para o estudo e apoio ao processo de envelhecimento. A nível aplicado, as informações geradas suprem recomendações para usuários e profissionais, tais como no uso de imagem computadorizada de órgãos e tecidos, processamento de sinal de eventos neurológicos, medidas de monitoramento do fluxo sanguíneo, adoção de tecnologias não invasivas. Muitas destas tecnologias, têm revolucionado o estudo científico do processo de envelhecimento biológico e fisiológico, proporcionando tratamentos mais eficazes e efetivos, contribuindo para aumentar o tempo e a qualidade de vida.

2-Prevenir os efeitos do declínio da força, flexibilidade e resistência associada à idade. A maior possibilidade do uso efetivo de tecnologia para o envelhecimento humano é a prevenção, especialmente nos declínios de força, flexibilidade, resistência e outros, tais como capacidades e habilidades relacionadas com a idade. Tecnologia tem uma função na prevenção primária (evitar perdas) e na prevenção secundária (evitar consequências indesejáveis destas perdas). Pesquisas tem demonstrado que estas perdas são modificáveis através de intervenções não somente médicas, mas também envolvendo nutrição, comportamentos, atividade física, treinamento, remodelagem de ambientes e de estilo de vida, evitando-se exposição a condições ambientais cronicamente perigosas, tais como poeiras, ruído excessivo (aparelhos auditivos), consumo de drogas, etc.
O papel preventivo da tecnologia inclui projetos de equipamentos facilitadores para intervenção e de equipamentos que monitoram funções fisiológicas, uso de interruptores de luz acionados por movimentos humanos e dispositivos de advertência de risco causados por deficiência sensorial.
Na ação preventiva enquadram-se técnicas cognitivas como o treinamento no manejo de equipamentos de informática, comunicação, informação com ajuda da internet e sistemas de manejo e desligamento programado de equipamentos elétricos e eletrônicos.

Para compensação funcional, são encontrados recursos técnicos como equipamentos para audição, visão, próteses, sistemas de memorização, de ajuda para chamadas de emergência, cadastro e documentação. Neste grupo também estão incluídos equipamentos destinados a recapacitação por exercícios físicos.
A adoção dos recursos tecnológicos por idosos deve atender algumas expectativas como a maximização de ganhos e minimização de custos, deve estar adaptada as características, tipos de uso demandados e ser de fácil aprendizado. Deve ser ressaltado, que o segmento de idosos ainda está relativamente pouco incluído e capacitado para assimilação das múltiplas funções incorporadas aos equipamentos atuais.

3-Aumentar a performance das novas funções a serem assumidas decorrentes do envelhecimento. A Gerontotecnologia fornece tecnologia para melhorar a performance de novas funções provenientes do envelhecimento, incluindo a troca de função no trabalho, lazer e situações sociais. Exemplos incluem o projeto de moradias adaptadas, que satisfaçam as necessidades do idoso, tecnologias de informática e de comunicação amigáveis, que conectem usuários de forma remota a familiares, amigos, multimídia, serviços médicos, lazer, educação.

4-Compensação do declínio das capacidades associada com o envelhecimento. A Gerontotecnologia oferece tecnologias para compensar declínios das capacidades funcionais associadas à idade, que poderão limitar a independência individual e restabelecer a autonomia funcional. Exemplos incluem produtos e técnicas para compensar consequências de perdas sensoriais, de percepção, e dispositivos, que podem ser operados com força e habilidades motoras reduzidas. Exemplos incluem a adaptação a condições de luminosidade (quedas), auxílios de mobilidade para locomoção, dispositivos de assistência a consecução de tarefas diárias que não mais podem ser contempladas sem assistência compensatória.
Na ação compensatória enquadram-se técnicas cognitivas como o treinamento no manejo de equipamentos de informática, comunicação, informação com ajuda da internet e sistemas de manejo e desligamento programado de equipamentos elétricos e eletrônicos. Para compensação funcional, são encontrados recursos técnicos como equipamentos para audição, visão, próteses, sistemas de memorização, de ajuda para chamadas de emergência, cadastro e documentação. Neste grupo também estão incluídos equipamentos destinados a recapacitação por exercícios físicos.

5-Assistência aos cuidadores. A Gerontotecnologia fornece tecnologia para assistir àqueles que prestam serviços domiciliares para pessoas idosas e incapazes. Exemplos são dispositivos ergonomicamente projetados para auxiliar o levantamento e transferência de pessoas que não podem mover-se sozinhas, equipamentos médicos, tais como respiradores, dispositivos para injeções intravenosas, equipamentos de monitoramento, que podem ser usados, não só por médicos e enfermeiras, mas também por cuidadores e familiares treinados para dar assistência a idosos em fase crítica.
http://www.portaldoenvelhecimento.org.br/acervo/artieop/Geral/artigo140.htm

1.9-O Idoso de amanhã

Existe um estereótipo social sobre pessoas que envelhecem, uma certa homogeneização do indivíduo idoso, sendo concebidos diferentemente do que realmente são. O envelhecimento não é um processo uniforme e pessoas idosas não são iguais. Na realidade são pessoas extremamente diferentes em muitos aspectos e processos e as diferenças entre pessoas que envelhecem são muito grandes.
Isto leva a uma análise de uma Gerontologia diferenciada no que tange a percepção social, que pode ser observada em três aspectos: 1-realizar uma análise de diferenças entre indivíduos como fonte de percepção; 2-efetuar uma interpretação do envelhecimento exitoso, de uma desigualdade social e de uma perspectiva intervencionista; 3- efetuar o questionamento sobre a participação social de pessoas idosas e qual o papel da participação de idosos neste conjunto social.
Do ponto de vista científico da Gerontologia Geral define-se o envelhecimento como modificações que ocorrem nas pessoas ao longo do tempo e a análise deste processo pode ser efetuada sob duas perspectivas distintas diferenciadas. Na perspectiva de uma Gerontologia Geral interessam em primeiro lugar, os fenômenos pelos quais passam todas as pessoas. É um processo universal que ocorre em todas as culturas e em todos os tempos históricos, sujeito aos limites do tempo de duração da vida. No entanto é reconhecido também que o tempo de duração da vida não é igual para todos, mas diferenciado para os indivíduos. A duração de vida individual mostra-se com considerável variabilidade entre pessoas, entre diferentes culturas e que resulta também em uma mudança estrutural demográfica.
A ligação entre o conceito de envelhecimento da Gerontologia Geral e a variabilidade de diferentes cursos de vida indica que envelhecimento cronológico é influenciável e que coloca um novo campo de estudo para os fenômenos do envelhecimento. A variabilidade interindividual no curso de vida, tem sido destacada em diversas pesquisas. No campo da saúde pode ser destacado influências sobre morbidade, métodos de medicação, influencias funcionais, nas quais o status de saúde está correlacionado com fatores de risco, recursos pessoais, bem como orientações de medicação. Dentro da capacidade cognitiva em diversos grupos de idosos, é observada grande variabilidade, e que é também encontrada em aspectos como motivação e engajamento social. No campo do comportamento social são encontradas grandes diferenças entre idosos, o que também é influenciado pelo nível de renda individual.
Quando se questiona sobre as variáveis e os fundamentos da diferenciação entre idosos, são distinguíveis classes de fatores como constituição biológica-genética, que estabelece limites aos processos de mudanças e que influenciam as demais variáveis que afetam um envelhecimento em boas condições. Uma segunda classe de fatores diz respeito aos fatores ambientais que incluem o status de formação cultural, as condições financeiras, o tipo de trabalho, tempo de exposição a fatores de risco e uso do tempo livre. Pessoas que não cuidam de sua nutrição, não se exercitam, consomem drogas representam um grupo, que em grande medida, irá sofrer doenças, incapacidades e são conduzidas a um modo diferenciado de envelhecimento, quando comparadas a pessoas que conduzem um estilo de vida saudável. Uma terceira classe de fatores está representada pelas condições sociais, na qual a desigualdade social traz uma diferenciação acentuada sobre o espaço de escolhas, de decisões e de interações no curso do tempo de envelhecimento. Não são apenas condições econômicas, mas também os planos de desenvolvimento da conduta dos indivíduos dentro do ambiente social.
As diferentes formas de envelhecimento, resultam de como é conduzida a sobrecarga deste processo, as reações para solução de problemas e aceitação de perdas que são, em sua maioria, irreversíveis. O envelhecimento “com sucesso” está em grande parte associado ao conceito de variabilidade da plasticidade de adaptação individual e seu reconhecimento pode oferecer caminhos para estratégias e medidas de políticas de intervenção para um envelhecimento “bem-sucedido” ou “envelhecimento otimizado”. No entanto, nem todas as pessoas alcançam tal envelhecimento exitoso, dada a variabilidade existente, como por exemplo a desigualdade social, doenças, falta de cuidados, as quais atingem as pessoas de modo diferenciado. Certos grupos sociais são particularmente suscetíveis a riscos, em especial as mulheres, que são a maioria do grupo de idosos. Um questionamento que se coloca dentro desta variabilidade, é quais medidas podem ser propostas para oferta de serviços de apoio, particularmente a pessoas atingidas por deficiências, doenças cognitivas, somáticas e crônicas graves.
No que tange a participação social, as diferenças entre cursos de envelhecimento têm forte influência no engajamento e participação social. Pode ser constatado, que a participação social tende a se reduzir conforme os indivíduos envelhecem, é dependente de sua condição de saúde, decorrente de uma baixa formação educacional, e da sujeição a discriminação e normas sociais restritivas. Nestes aspectos é possível propor intervenções que possam conduzir a um novo modo de conduta da sociedade para que favoreça o engajamento social de idosos. O engajamento pode ser uma possibilidade crescente através de atividades sociais contínuas, oferecidas no ambiente próximo residencial, que estimulem o ânimo de participação social, o que pode ser alcançado por estratégias de políticas sociais locais.
Um questionamento que se coloca oportuno nesta etapa de avaliação é sobre o comportamento futuro do idoso de amanhã. O ponto de partida é que ocorre uma mudança estrutural do processo de envelhecimento. A tendência de saída mais precoce da atividade profissional leva a ideia de que a fase de envelhecimento se inicia cada vez mais cedo e como consequência ocorre a visão de que devem ser revistos os limites de idade para o início da fase de aposentadoria, buscando-se que os indivíduos permaneçam mais tempo na atividade profissional. Outro fator é a mudança no padrão do tempo de trabalho diário, como trabalho em tempo parcial, compatibilidade de atividades profissionais com o tempo de trabalho em determinadas fases do curso de vida, os quais podem ser melhor integrados.
Um outro fator diz respeito a crescente singularização de pessoas idosas. Com o aumento do tempo de vida, e isto atinge particularmente as mulheres, eleva-se a probabilidade de se viver só. A possível condição de isolamento e individualização na velhice resulta em muitos casos da decisão antecipada de não se ter filhos e cuja tendência deve se acentuar no futuro. É também fortemente influenciada pela crescente mobilidade profissional que restringe aspectos familiares das gerações mais jovens e irá conduzir a uma singularização de pessoas idosas no futuro. No entanto este tipo de isolamento deverá também conduzir ao estabelecimento de novas formas deorganização de grupos que se estabelecerão em comunidades e moradias compartilhadas.
O ingresso de pessoas na fase de envelhecimento deverá incrementar-se, e com isto, será necessária uma ampliação dos serviços de apoio e de cuidados de saúde. Novas formas de moradia para pessoas que necessitam cuidados especiais deverão sofrer adaptações para se adequar a necessidades crescentes de pessoas que atingem estados mais avançados em seu curso de vida. Por outro lado, para o grupo de idosos jovens a condução do tempo livre, ao mesmo tempo em boas condições de saúde, pode ocorrer o reengajamento em atividades profissionais ou outras formas de participação social ativa. É provável também que no futuro, estas pessoas ingressem de forma mais eficaz na participação dos processos políticos e particularmente na atuação política voltada para a tomada de decisão sobre alocação de recursos no campo da infraestrutura voltada para o suporte da população na fase de envelhecimento (Tesch-Römer, 1999).

1.10-O profissional em Gerontologia

O campo de estudos e pesquisa da Gerontologia possui grande valor no fornecimento de bases teóricas e práticas para o trabalho do profissional que atua na área do envelhecimento humano. Frente às novas demandas populacionais, o Gerontólogo é o novo profissional que surge no cenário da gestão de serviços (clínicos, recreativos, institucionais) e de políticas, estando habilitado a atuar e produzir saberes relacionados ao bem-estar das pessoas idosas, das famílias e da sociedade em envelhecimento. Neste sentido, a Gerontologia convoca o Gerontólogo a atentar, em sua tarefa de avaliação e intervenção, para o plano das insuficiências individuais, corporais e cognitivas dos indivíduos que envelhecem, e dos ambientes sociais e físicos de seu entorno.
No que se refere a atuação do Gerontólogo no campo clínico, no apoio e aconselhamento de famílias e grupos, o exame das relações indivíduo-ambiente oferece caminhos para a avaliação e identificação de barreiras à autonomia, à segurança, à independência e ao bem-estar. Tal exame deve levar à consideração de que os idosos possuem diferentes esferas de competência nas quais a proatividade ambiental pode ser exercida frente às pressões ambientais e que a tomada de decisões na gestão deve otimizar a congruência entre as necessidades e as competências.
A Gerontologia Aplicada leva o Gerontólogo também a considerar que a relação com o ambiente interfere no bem-estar subjetivo e regulação dos estados afetivos dos idosos, uma vez que o envelhecimento expõe cada vez mais os indivíduos às influências das condições de docilidade ambiental. Contudo, ao mesmo tempo, chama a atenção para que as iniciativas em micro gestão, mesmo nos casos de maior fragilização ou comprometimentos, não deixe de incluir o idoso nas decisões, potencializando ao máximo seu senso de autonomia.
Nas tarefas de gestão de serviços e desenvolvimento de projetos programas e políticas, o Gerontólogo pode usufruir das contribuições teóricas e de intervenção desse campo, os quais têm apontado as relações entre características objetivas e subjetivas do “design” ambiental e o bem-estar de pessoas idosas. Intervenções no âmbito da acessibilidade nos equipamentos sociais e de saúde, da eliminação de barreiras geracionais na comunidade e na criação de espaços de promoção da convivência social e produtividade do idoso devem visar à otimização das funções de manutenção, estimulação e suporte ambiental. A atuação do Gerontólogo no âmbito da construção de políticas públicas em saúde, habitação, trabalho, previdência e lazer envolve intrinsecamente a consideração dos determinantes ambientais da qualidade de vida dos idosos (Batistoni 2014).
O Curso de Graduação em Gerontologia da UFSCar (Universidade Federal de São Carlos) vem, numa perspectiva inovadora criar uma nova categoria profissional, com formação interdisciplinar e multiprofissional. Não se trata de juntar um pouco de cada profissão, mas de formar um novo profissional capaz de compreender o processo de envelhecimento e atender esta população, pautado nos conhecimentos das ciências biológicas e humanas www.gerontologia.ufscar.br/apresentação.
O Curso de Graduação em Gerontologia vinculado à Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP é oferecido em São Paulo com duração de 8 semestres. A informação básica do Currículo proposta compreende uma carga horária obrigatória de 2.250 horas aula mais 1.500 horas de trabalho somando um total de 3.750 horas. É ainda incluída uma carga horária optativa de 270 horas. https://uspdigital.usp.br/jupiterweb/listarGradeCurricular.
O Bacharel em Gerontologia pode integrar uma equipe multiprofissional, realizando uma avaliação ampla do idoso e de seu complexo social, no planejamento e implementando ações que visam a sua qualidade de vida. Atua em equipamentos de saúde e da área social, na gestão de instituições que prestam serviços. Está apto a desenvolver políticas públicas, programas educativos para pessoas idosas, na gestão em hospitais, ambulatórios, clínicas geriátricas, unidades de saúde, instituições de longa permanência, Universidades da Terceira Idade, centros comunitários, serviços de atendimento domiciliar, empresas privadas e públicas.
Pode ingressar na carreira acadêmica em programas de pós-graduação cuja temática articula-se com eixos da biologia, psicologia, área social. Na pesquisa atua na identificação de demandas emergentes e na produção de conhecimento, formação de profissionais, tanto ao nível de Mestrado como no Doutorado.
No campo econômico é considerado que irá ocorrer um interesse crescente na pesquisa e serviços voltados ao envelhecimento, área em que o Profissional em Gerontologia irá ser demandado tanto na construção civil, urbanismo, como na indústria de produtos, equipamentos e tecnologias amigáveis a pessoas idosas.

1.11-Fontes de consulta

BALTES, P, Das Hohe Alter Meher Bürde oder Würde,http://www.fuberlin.de/presse/publikationen/fundiert/archiv/2004_01/04-01-baltes

BATISTONI,S,S,T. Gerontologia Ambiental: panorama de suas contribuições para a atuação do Gerontólogo. Revista Brasileira Geriatria e Gerontologia, 2014;17(3);647-657

BELLANGER,B & TOURBE,C, Espérance de Vie em Bonne Santé-Elle Baisse, France, Science & Vie, nº 1149, juin 2013, p 32

MOLLENKOPF,H.OSWALD,F. & WAHL,H,W. Alte Menschen in ihrer Umwelt:“Drinnen” und “Drausenn” heute und morgen, In: Wahl et al, Alte MenschenIn ihrer Umwelt, Wiesbaden, Westdeutsche Verlag GmbH 1999

NERI,AL, Palavras chave em gerontologia, 3ª Ed, Campinas, Alínea, 2008

ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, Guia global: Cidade amiga do idoso, OMS, Genébra, 2008

PASTORE,J, A invasão dos idosos, http://www.estadao.com.br, 06/05/2014

RATCLIFE,J, An introduction to Town and Country Planning, London UCL Press University College London, 1992

RÖCKE,C & MARTIN,M, Resourcen. In: Wahl,H,W, Römer,C,T & Ziegelmann,J,P,Angewandte Gerontologie, Stuttgart, Kohlhammer, 2012

ROWLES,D,G & BERNARD,M.The meaning and significance of place in old age, In: Rowles,D,G & Bernard,M, Environmental Gerontology, making meaningful places in old age, New York, Springer Publishing Company, 2013.

SCHWARZ,B, Environmental Gerontology: Wath Now? In: Schwarz & Scheidt, Environmental Gerontology, New York, Routledge, 2013

SCHWARZ,B & SCHEIDT,R,J. First Words. In: Schwarz & Scheidt, Environmental Gerontology, New York, Routledge, 2013

SEIFFERT,N,F, Política Ambiental Local, Florianópolis, Insular, 2008

TESCH-RÖMER,C, Gesellschafltiche Participation älterer Menschen aus differerntieller Sicht, In: Wahl,H,W & Mollenkopf,F,O. Alte Menschen in ihren Umwelt, Wiesbaden, Westdeustscher Verlag GmbH, 1999

TOMASINI,S,L,V, Envelhecimento e planejamento do ambiente construído: em busca De um enfoque interdisciplinar, Revista Brasileira de Ciências do Envelhecimento Passo Fundo, 76-88 – jan/jun. 2005

WAHL,H,W.,TESCH-RÖMER,C. & ZIEGELMANN,P,J, Bewährte Interventionen und neue Entwicklungen: Zur zweiten Auflage der “Angewandte Gerontologie”, In:Wahl,Tesch-Römer, Ziegelman, Angewandte Gerontologie, Stuttgart, Kohlhammer GmbH,2012

WAHL,H,W.,OSWALD,F. & MOLLENKOPF,H. Alte Menschen in ihrer Umwelt, Heidelberg Westdeutscher Verlag, 1999

WICKE,L. Umweltökonomie: eine praxisorientierte Einführung, München, Vahlen, 1993

http://www.gero.uni-heidelberg.de
http://fr.wikipedia.org/wiki/G%C3%A9rontologie
http://de.wikipedia.org/wiki/Gerontology
http://gero.usc.edu/graduateprograms/
http://www.csus.edu/gero/
http://www.ed2go.com/online-courses/gerontology-certificate
http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/notícias/25072002pidoso
http://pt.wikipedia.org/wiki/Geriatria
http://www.chu-toulouse.fr/-pole-geriatrie-et-gerontologie
http://master2geronto.etud.univ-montp
http://www.gerontologia.ufscar.br
https://uspdigital.usp.br/jupiterweb/listarGradeCurricular


Sobre o autor:

Nelson Frederico Seiffert

Doutor em Engenharia de Produção, com a tese de Doutorado sobre Gestão Ambiental. Trabalhou em Pesquisa na EMBRAPA durante 25 anos.

Desenvolve atualmente estudos na área de Gerontologia Ambiental e Aplicada. Conduziu Seminários sobre Gerontologia Ambiental e Aplicada no NETI/UFSC em 2015, 2016 e é Diretor Técnico Científico da ANG/SC – GESTÃO 2017/2019.

E-mail: [email protected]

 

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Artigos de Associados

Apresentação da Coluna “Atualização em Gerontologia Aplicada”

Nelson Frederico Seiffert

Atualização em Gerontologia Aplicada é proposta para ser um espaço no site https://angsc.org.br para exposição e debate dos avanços do conhecimento no campo da Gerontologia. Na Gerontologia Aplicada a Intervenção Gerontológica é a aplicação prática dos resultados dos conhecimentos e pesquisas comprovadas pela ciência do envelhecimento. Aponta para as múltiplas possibilidades de uso e desenvolvimento de resultados aplicados a aspectos relevantes da individualidade e da plasticidade dos indivíduos idosos, tanto no âmbito do seu ecossistema ambiental, corporal, psíquico e social.
A proposta de se oferecer orientação gerontológica para formular intervenções na esfera individual, corporal, cognitiva, adaptações para uso do espaço privado e conduta no espaço público, apresenta faces de muitas disciplinas do contexto psicológico, social, espacial, e coloca a Gerontologia Aplicada em um campo de estudos e pesquisas interdisciplinar multiprofissional, que oferece opções úteis e aplicações práticas à vivência do envelhecimento.
A coluna Atualização em Gerontologia Aplicada tem por objetivo, divulgar a evolução do conhecimento gerontológico e contribuir para a elevação da autonomia e do bem-estar de pessoas que avançam no processo de envelhecimento. Os conteúdos apresentados nos textos foram selecionados da literatura atualizada da língua inglesa, alemã, francesa e portuguesa.


Nelson Frederico Seiffert

Doutor em Engenharia de Produção, com a tese de Doutorado sobre Gestão Ambiental. Trabalhou em Pesquisa na EMBRAPA durante 25 anos.

Desenvolve atualmente estudos na área de Gerontologia Ambiental e Aplicada. Conduziu Seminários sobre Gerontologia Ambiental e Aplicada no NETI/UFSC em 2015, 2016 e é Diretor Técnico Científico da ANG/SC – GESTÃO 2017/2019.

E-mail: [email protected]

 

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Envelhecimento populacional e educação

Maria Joana Zucco

Comemorou-se, no dia 1º de outubro, o Dia Internacional do Idoso, instituído pela ONU, em 1991, com o objetivo de sensibilizar a sociedade mundial para as questões do envelhecimento, destacando a necessidade de garantir independência, participação, assistência, realização pessoal e dignidade a todas as pessoas idosas.

A Lei nº 10.741/2003, Estatuto do Idoso, foi aprovada também em 1º de outubro.

Assim, diante da crescente transformação da pirâmide etária no Brasil, nas últimas décadas, mais que comemoração essa data impõe urgente reflexão sobre o envelhecimento da população brasileira e suas consequências em todos os setores da sociedade.

No art. 3º, o Estatuto do Idoso ressalta que é obrigação da família, da comunidade, da sociedade e do Poder Público assegurar ao idoso, com absoluta prioridade, a efetivação do direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária. Em que medida os idosos brasileiros usufruem desses direitos?

O reconhecimento da falta de soluções criativas para antecipar e acolher esta nova realidade – tanto por parte dos indivíduos, das famílias, da sociedade em geral como do governo – tem suscitado a necessidade crescente de procurar estratégias não apenas políticas, mas também, e principalmente, de intervenção cultural e socioeducativa.

Não se trata, apenas, de equacionarmos conflitos geracionais, de incentivarmos o respeito e a compreensão dos jovens com relação aos mais velhos e vice-versa. Trata-se, sim, de tomarmos consciência da revolução da longevidade instalada, seus desafios e meios adequados de enfrentamento. Acreditamos que o sistema educacional seja o ingrediente indispensável para a adaptação da sociedade a esse novo mapa populacional. Afinal, o estudante de hoje será o gestor/governante de amanhã.

Alguns questionamentos têm sido frequentes: A longevidade é uma conquista ou um desafio? Viveremos mais tempo jovens ou mais tempo velhos? Há um “bom” e um “mau” envelhecer? Esses e muitos outros temas deverão fazer parte de uma reflexão pedagógica sobre o processo de envelhecimento da sociedade e as transformações comportamentais que isso requer. A educação deverá provocar uma mudança de paradigma capaz, principalmente, de diminuir os preconceitos com relação ao envelhecimento e à velhice, de enxergar o envelhecimento com normalidade e como destino de todos.

Muito além de um aspecto demográfico pontual, o envelhecimento populacional é uma realidade global que requer olhar humanitário e sociopolítico.

Fonte imagem: Freepik.com

Maria Joana Zucco
Advogada, membro da Comissão do Direito do Idoso da OAB-SC e representante da OAB/SC no Conselho Estadual do Idoso de Santa Catarina

E-mail: [email protected]

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Artigos de Associados

O desafio da realização da vida no envelhecimento

2.3-O DESAFIO DA REALIZAÇÃO DA VIDA NO ENVELHECIMENTO

Nelson Frederico Seiffert

 

No primeiro plano de uma realização exitosa da vida em idosos situa-se o desafio de lidar com perdas nos diferentes aspectos de competências funcionais, tanto da saúde corporal como cognitiva. Modelos de configuração da vida em idades avançadas precisam incluir processos de controle das perdas. Resultados de pesquisas indicam que a imposição de objetivos pessoais desempenha um importante papel e que a escolha de objetivos pessoais (seleção), o esforço em melhorar e perseguir objetivos (otimização) e a substituição de perdas (compensação) conduzem a um envelhecimento bem-sucedido.
Uma definição clara de novos objetivos pessoais para substituir e condicionar perdas, com um foco centrado sobre o processo de condução da vida, em vez de focar apenas sobre a expectativa de resultados, pode ajudar a evitar novas perdas em épocas futuras (Freund & Hennecke 2012).

2.3.1-Configuração da vida em idade avançada

Em idade avançada ocorre numerosas modificações, as quais representam um desafio para o suporte das condições de vida. Estas modificações ocorrem em grande parte por perdas no processo de desconstrução somática, como perdas da funcionalidade corporal, perdas da fluidez da inteligência e da capacidade da memória. No entanto, estas perdas não são uma regra geral para todas as pessoas, muitas das quais apresentam maior estabilidade funcional em idades avançadas, como por exemplo, no âmbito individual da fala e da capacidade cognitiva.No campo individual, em idades avançadas, podem ocorrer inclusive ganhos, como por exemplo, maior satisfação pessoal através do incremento de contatos sociais. No caso da aposentadoria ocorrem efeitos de perdas e ganhos. Por um lado, a aposentadoria está ligada a perdas de contatos com colegas de trabalho e de uma estrutura diária baseada em uma rotina estável. Por outro lado, a aposentadoria oferece a abertura de novas possibilidades através da liberdade de utilização do tempo livre, como a realização de passeios e viagens, o desenvolvimento de hobbies, prática de esportes, entre outras. O tempo após a aposentadoria traz consigo um grande potencial para incrementar ações otimizadas que ofereçam suporte a vida de pessoas idosas.
As modificações individuais que surgem em idades avançadas, representadas por perdas crescentes de habilidades corporais e decorrentes de normas sociais ou de expectativas para esta fase da vida, impõe desafios especiais para a sustentação da qualidade de vida de pessoas que envelhecem. Por esta razão, assumem elevada relevância os processos que atuam sobre a forma de como lidar com as perdas que atingem o envelhecimento.
Diversos estudos e pesquisas propuseram modelos que oferecem orientações de apoio ao envelhecimento, os quais possibilitam administrar modificações e manipular recursos de saúde que se alteram com a idade. A diferença central entre estes modelos situa-se no foco, que pode ser direcionado a uma abordagem proativa, reativa ou pela adoção de controles psicológicos. O modelo de Seleção, Otimização e Compensação (SOC) coloca na formulação de sua teoria de aplicação, prioritariamente, processos proativos e motivacionais.
O modelo da Seleção, Otimização, Compensação – SOC, proposto por Baltes & Baltes (1990) citado por Freund & Hennecke, (2012) postula que o desenvolvimento exitoso do envelhecimento pode ser definido como a maximização simultânea de ganhos de desenvolvimento pessoal e a minimização de perdas. Estas podem ser promovidas através da ação conjunta da seleção de objetivos, da otimização de fatores de desempenho e na compensação de inabilitações funcionais, adoção de estratégias de comportamento, auto regulação e uso de recursos de apoio funcional. O modelo estabelece que a persistência em alcançar objetivos pessoais é o princípio fundamental de suporte a uma vida exitosa no envelhecimento.
A Seleção é definida como o desenvolvimento de escolhas, priorização e contextualização de objetivos (a caracterização de objetivos individuais dentro de seu contexto pessoal de vida), bem como o comprometimento com os objetivos escolhidos.

A seleção exitosa indica que a escolha de objetivos está baseada no pressuposto de que ocorre um leque de alternativas que podem ser introduzidas no processo de envelhecimento para a melhora do desempenho físico e cognitivo individual. O processo de seleção leva o foco a um certo número de possibilidades limitadas que sejam realizáveis pelos indivíduos, e de um modo geral, idosos em idades avançadas estabelecem e conduzem apenas um pequeno número de objetivos. Tal abordagem conduz mais realisticamente a um desempenho exitoso destes objetivos na superação de desabilidades e permite conduzir melhor o dia a dia, quando comparado com pessoas que se conformam com os fatos que os afetam ou deixam-se conduzir pelos acontecimentos, aceitando as perdas.
A otimização orienta-se sobre a persistência na melhoria de objetivos, os quais buscam um ganho de desenvolvimento pessoal. Para isto conta a aquisição e ganho de novas habilidades, o reforço de recursos pessoais, o treinamento de habilidades, a orquestração de habilidades e o investimento de tempo com foco no alcance de objetivos claramente estabelecidos. Os processos de otimização conduzem a elevação ou manutenção de níveis de funcionalidade mais elevados.
Pelo fato de que as perdas se acentuam no envelhecimento o processo de compensação apresenta uma elevada importância. Compensação significa a inclusão de meios para atuar no controle ou substituir perdas, como por exemplo no uso de cadeira de rodas quando o aparelho locomotor apresenta restrições de mobilidade.
Estratégias típicas de compensação são a substituição de habilidades perdidas através da aquisição de novas habilidades, o uso de recursos não utilizados ou a inclusão de suporte através de outra pessoa.
Na administração de modificações no estado de saúde causadas por perdas funcionais, os procedimentos adotados no modelo SOC estão ligados ao planejamento de manutenção da saúde. A aplicação diária de seus princípios possibilita a reabilitação em pessoas, mesmo em idades mais avançadas. Na prática de intervenção deveria estar incorporado o treinamento sobre o uso de estratégias de suporte e proteção a perdas por inabilitações corporais e cognitivas. Os resultados demonstram que na adaptação de objetivos de manutenção da saúde, após a incidência de restrições físicas, a introdução de recursos de compensação pode minimizar o efeito de perdas.
Enquanto que, em idosos jovens a prioridade é o acúmulo de recursos, de facilidades, da otimização na formação educacional, das finanças, da interação familiar, do uso do tempo livre, em idades mais avançadas, as pessoas passam a ser confrontadas com perdas de motivação, da mobilidade e da capacidade cognitiva, havendo necessidade da adoção de medidas que estimulem a manutenção do nível funcional. Não apenas elevar o nível de motivação para evitar agravamento de perdas, mas também perseguir objetivos ligados a valores subjetivos de bem-estar.

Em idosos com idades avançadas os objetivos buscam medidas que possam reduzir perdas funcionais, enquanto que em adultos jovens os objetivos buscam alcançar níveis elevados de desempenho funcional corporal e cognitivo.
A adoção de medidas de suporte para a realização da vida em idades avançadas não depende apenas do domínio do controle exitoso da evolução das perdas, mas também na configuração da própria vida, através do estabelecimento de objetivos pessoais capazes de ser perseguidos. Ao longo do curso de vida é necessária uma orquestração de estratégias que previnam o agravamento de perdas e possam elevar o desenvolvimento de ganhos.
Na prática, parece que a auto regulação para perseguir objetivos pessoais descortina um campo de atuação no qual ainda é possível que sejam obtidos ganhos pessoais. No caso da nutrição e de dietas para emagrecimento, por exemplo, idosos conseguem bons resultados. Outros resultados de auto regulação indicam a importância da imposição de objetivos na regulação emocional que causam efeitos negativos e no reforço da manutenção de efeitos positivos. Os resultados indicam também que a auto regulação é um processo que pode ser treinado através de intervenções objetivas, e que é possível o seu desenvolvimento, mesmo em idades avançadas (Freund & Hennecke, 2012).

2.3.2-Gestão da multimorbidade e doenças crônicas

Em estágios mais avançados do envelhecimento os indivíduos estão sujeitos a sofrer a incidência de doenças decorrentes da multimorbidade e de doenças crônicas. As pessoas são atingidas simultaneamente por diversas doenças, nas quais não há possibilidade de uma cura definitiva, o que impõe modificações orgânicas e psíquicas e que exigem uma nova adaptação do modo de vida. Nesta etapa a tarefa de gestão das inaptidões decorrentes da doença requer uma forte cooperação entre o doente e as pessoas que irão oferecer apoio e tratamento.
As enfermidades que ocorrem no envelhecimento são influenciadas por recursos pessoais dos indivíduos, por terapias desenvolvidas a partir do conhecimento das características das doenças, por intervenções terapêuticas e pelo apoio disponível no ambiente social do idoso. Em pessoas com idades mais avançadas os recursos cognitivos tendem a sofrer regressão. Esta condição pode influenciar o desenvolvimento de um tratamento efetivo, pela dificuldade de obter informações através do doente para a caracterização das diferentes causas de inabilitações que o atingem e o desenvolvimento da terapia adequada.
Em idades mais avançadas as doenças que afetam os indivíduos apresentam características especiais de multimorbidade e ser de caráter crônico. A morbidade manifesta-se com grande probabilidade através de diversas enfermidades simultâneas. No grupo de pessoas com 70 anos ou mais, o número de indivíduos que são afetados por cinco ou mais doenças chega a 30%, e com isto, também se eleva o número de pessoas que passam a tomar um maior número de medicamentos. Estas enfermidades manifestam-se como doenças crônicas, caracterizam-se por sua longa duração e não oferecerem possibilidades de cura.
A gestão de doenças crônicas e das limitações decorrentes de sua incidência está centrada fundamentalmente no manejo conjunto de aspectos subjetivos da vida individual e dos efeitos resultantes que sobrecarregam a pessoa através das restrições no uso dos recursos corporais e cognitivos.
Para a gestão da administração exitosa de doenças crônicas é indispensável conhecer a condição dos recursos individuais, físicos, cognitivos e ambientais disponíveis, a clara compreensão e aceitação da doença pelo indivíduo e a introdução de medidas de intervenção capazes de atuar sobre os recursos pessoais e sobre a compreensão e aceitação da doença pelo doente.
Para a tomada de decisão sobre medidas de tratamento, os estudos levam em consideração, além da listagem das enfermidades incidentes no indivíduo, a caracterização dos recursos pessoais que podem ser lançados mão, a orientação a ser dada para a terapêutica e o convencimento da pessoa doente sobre a eficiência de medidas de controle do stress resultante. Contam para o tratamento, ao lado do conhecimento detalhado da doença, a disponibilidade de recursos sociais e de apoio familiar.
Pelo lado da aceitação da doença é de importância central que haja uma conscientização pela pessoa afetada de que a doença incorpora em seus aspectos de tratamento uma modificação no comportamento e do modo de vida. Neste aspecto existem diversos conceitos de intervenções como programas de aprendizado no caso da diabete, no controle do stress, medidas de terapia familiar, os quais são disponibilizados por instituições públicas ou privadas e que contribuem para a efetividade de medidas de tratamento direcionadas aos doentes.
Entre os diversos modelos de intervenção que são propostos, dois distinguem-se por seu foco de atuação sobre crises em geral e limitações causadas por doenças. Em um modelo por exemplo, a pessoa atingida experimenta modificar ativamente a vivência da doença. Noutro é modificado o conceito das limitações que atingem o indivíduo, caracterizados quais valores são modificados e quais objetivos serão adaptados, de forma a desconstruir as limitações ou mesmo propor a sua não aceitação. Neste caso, por exemplo, é possível introduzir controles que exercem influência sobre as condições do ambiente externo, como na redução de barreiras existentes no ambiente residencial que afetam a mobilidade e podem causar lesões e quedas.
As medidas de intervenção são estruturadas para levar ao enfraquecimento ou eliminação de dificuldades causadas por doenças crônicas e baseiam-se em especial no trabalho conjunto ativo do paciente. Além de mudanças no modo de vida diário, contam por exemplo, a auto regulação da ingestão dos medicamentos e a visitação regular para consulta e acompanhamento médico.
A gestão de doenças direcionada a pessoas idosas deveria estar focada especialmente sobre as reservas de recursos da pessoa, em fatores motivacionais, bem como em variáveis cognitivas. Os modelos de terapias estão fortemente influenciados por especificidades individuais e os objetivos para uma intervenção otimizada precisam decorrer do planejamento e conduzidas no contexto biográfico dos pacientes (Kliegel et al, 2012).

2.3.5-Fontes de consulta

BOERNER,K, Umgang mit Verwitwung, In: Wahl,H,W, Römer,T,C & Ziegelmann, Angewandte Gerontologie, Stuttgart, Kohlhammer, 2012.

CLEMENS,W, Vorbereitung auf und Umgang mit Pensionierung. In: Wahl,H,W, Römer, C,T, & Ziegelmann,J,P. Angewandte Gerontologie, Stuttgart, Kohlhammer, 2012.

FREUND,A,M, & HENNECKE,M. Lebensgestaltung im höheren Alter. In. Wahl,H,W, Römer,C,T & Ziegelmann,J.P. Angewandte Gerontologie, Stuttgart, Kohlhammer, 2012.

KLIEGEL,M, BROM,S,S,MELZER,M & AKGÜN,C. Krankeit und Krankeitsmanagement. In: Wahl,H,W, Römer,C,T & Ziegelmann,J,P, Angewandte Gerontologie, Stuttgart, Kohlhammer, 2012.

O ESTADO DE SÃO PAULO, Economia-Editorial Econômico, Aumento sazonal do déficit do INSS, 02/01/2015.


Sobre o autor:

Nelson Frederico Seiffert

Doutor em Engenharia de Produção, com a tese de Doutorado sobre Gestão Ambiental. Trabalhou em Pesquisa na EMBRAPA durante 25 anos.

Desenvolve atualmente estudos na área de Gerontologia Ambiental e Aplicada. Conduziu Seminários sobre Gerontologia Ambiental e Aplicada no NETI/UFSC em 2015, 2016 e é Diretor Técnico Científico da ANG/SC – GESTÃO 2017/2019.

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