Artigos de Associados

A RESIDÊNCIA

3.1- A residência

3.1.1 – Dentro de casa

O número de idosos que moram sozinhos no Brasil triplicou nos últimos 20 anos. Entre 1992 e 2012, o número passou de 1,1 milhão para 3,7 milhões, um aumento de 215% segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio do IBGE. No mesmo período a população de idosos acima de 60 anos passou de 11,4 milhões para 24,8 milhões, um crescimento de 117%. Entre os idosos que morando sozinhos, 65% são mulheres. Em geral são viúvas ou separadas e querem manter autonomia. Mesmo entre os homens, há sinais de uma maior independência e o percentual dos que vivem sozinhos passou de 31% para 35% nas últimas décadas.

Segundo Alexandre Kalache que já dirigiu o programa de envelhecimento da Organização Mundial da Saúde, isto decorre do fato de que existe uma maior dispersão e fragmentação das famílias, com muitos filhos morando em outras cidades.Essas mudanças associadas ao aumento da longevidade, têm levado as pessoas a aceitar com mais naturalidade a decisão de um idoso morar sozinho, e optar por sua maior autonomia. Esta nova condição de envelhecimento tem sido objeto de interesse do setor privado que busca suprir serviços e equipamentos que facilitem a vida de idosos. No entanto, há muitos idosos que moram sozinhos sem o amparo da família, e sem condições de bancar assistência de serviços privados de apoio (Collucci, 2013).

É no tempo, em que as competências de uma pessoa se alteram no curso do envelhecimento, e passam a ter uma influência social aumentada, a moradia oferece, do ponto de vista arquitetônico e técnico, um grande potencial de compensação e otimização da vivência do dia-a-dia do idoso. De certa forma pode-se dizer que o dia-adia de uma pessoa idosa, se desenrola sobretudo “dentro de casa”. No entanto, é também constatado que idosos jovens desenvolvem suas atividades, sobretudo “fora de casa”, e conduzem seu dia-a-dia, na maior parte do tempo, no ambiente externo a sua moradia.

A residência, como local onde se passa a maior parte do tempo, é um fato comum para pessoas em idades mais avançadas. É o centro da vida, da identidade, o espaço de atuação e domínio individual, local de guarda de símbolos biográficos, de recordações, de bem-estar e da satisfação de viver. A moradia está associada a satisfação pessoal, não só por razões objetivas por oferecer condições adequadas a organização de atividades diárias, mas em especial, está ligada a aspectos emocionais, cognitivos, sociais, comportamentais, privacidade e recordações. O aspecto “dentro de casa” é frequentemente associado com segurança, raízes, constância, continuidade, ou ainda com descanso, descontração, restauração física, bem-estar. Mas, permanecer em casa a maior parte do tempo, pode também ser resultado da redução das competências corporais e pode ainda ser consequência de condições de moradia sub ótimas levando a uma redução do raio de ação dos indivíduos e ao isolamento.

Quando se busca questionar sobre como deveria ser a melhor forma de moradia para pessoas que envelhecem, surgem aspectos limitantes associados a individualidade das pessoas. As características internas da moradia representam uma expressão do estilo de vida. Um lugar onde a pessoa se exprime através de características individuais, sendo pouco produtivo buscar-se estabelecer padrões de moradias para pessoas que envelhecem. Pode-se, no entanto, oferecer orientações gerais que favoreçam a condução da vida diária das pessoas. Um certo grupo de considerações sobre a forma de organização, tem em mente a busca de facilidades para o convívio diário residencial, bem como a eliminação de barreiras que possam dificultar a mobilidade interna e a redução de riscos à saúde do morador.

Também é esperado que com o alongamento do tempo de vida e da diferenciação entre estilos de vida, venha a ocorrer uma maior permeabilidade entre o ambiente interno e externo da moradia, o que influenciará sua estruturação. Quais novas necessidades espaciais deverão ser arranjadas? Quais modificações serão introduzidas, tendo em vista mudanças comportamentais que ocorrem com grande velocidade na sociedade atual? Como irá se configurar o “dentro de casa” para idosos jovens, idosos adultos e idosos em fases mais avançadas do envelhecimento? Para idosos jovens a moradia passa a ter uma característica mais direcionada para identidade própria e interação social, enquanto que em estágios mais avançados, a organização do espaço e do mobiliário deve conduzir a eliminação de barreiras, apoio crescente a autonomia e suporte da mobilidade dentro da residência.

As concepções atuais indicam que a moradia para pessoas em estágios mais avançados de envelhecimento deveria conter 3 quartos em um arranjo flexível. Também considera as necessidades da configuração dos objetos, móveis e componentes tecnológicos que irão compor a moradia. Objetos que tem pouca utilização diária, são muito pesados para seu manuseio, estão apenas ligados a manias, valor estético, histórico, podem estar ocupando demasiado espaço, oferecer barreiras e riscos de acidentes e deveriam ser analisados dentro de uma perspectiva de reformulação. Para os arranjos “dentro de casa” existem atualmente disponíveis orientações de design de interiores e da indústria que estão voltadas para a eliminação de barreiras e agregam aspectos funcionais e estéticos voltados para a qualidade de vida de pessoas idosas.

Novas tecnologias residenciais tem sido proposta com o propósito de otimizar a autonomia, particularmente nos sistemas de comunicação e informação. No entanto há questionamentos sobre se estas tecnologias conduzem, de fato, a uma melhora na qualidade de vida de idosos, uma vez que tem sido desenvolvida, tendo por alvo pessoas jovens, fazendo com que seu manejo por pessoas envelhecidas seja pouco amigável, contribuindo para que não se beneficiem da tecnologia e mesmo redunde em sua marginalização tecnológica. Neste aspecto abre-se um grande campo de evolução na indústria de equipamentos, quanto à adequação, facilidades de manejo e de manutenção, que possam propiciar maior independência e autonomia a pessoas que detém inaptidões físicas e pessoas que apresentam inabilidades trazidas pelo processo de envelhecimento (Mollenkopf et al, 1999).

3.1.2 – Adaptação da moradia e saúde

Intervenções no espaço da moradia de idosos deve propiciar autonomia reforçar o bem-estar, propiciar satisfação e a eliminação de barreiras que reduzam os riscos de acidentes e quedas. Comporta um grande espectro de medidas, com objetivo da adequação da residência com foco na otimização da estrutura e seu impacto sobre a saúde física e psíquica da pessoa residente. Além de intervenções nas condições estruturais como espaço físico das dependências, de deslocamento entre quartos, do tipo de mobiliário, envolve também intervenções que dizem respeito ao comportamento, atitudes e condução da forma de vivenciar a moradia.

O espectro das adequações compreende desde pequenas medidas como na inclusão de barras de apoio em banheiros, instalação de corrimões nas escadas e inclusão de equipamentos e tecnologias. São alguns exemplos: a alteração da altura de pias e vasos em banheiros; a definição do espaço de trabalho e a altura das cadeiras na cozinha; altura da cama, de mesas, poltronas; largura de portas.

São também relevantes intervenções no sistema de ventilação que eliminam as substâncias tóxicas que poluem o microclima e afetam o ar residencial decorrentes de emanações de produtos de limpeza, móveis, revestimentos de paredes, de insetos, animais domésticos e da umidade do ar resultantes de atividades na cozinha e higiene em banheiros. Tais intervenções são muitas vezes ignoradas, mas os estudos indicam que afetam consideravelmente a saúde de residentes. As condições da qualidade do ar e da água consumida residencialmente tem elevado potencial de causar efeitos detrimentais a saúde de idosos como no caso de doenças respiratórias, do aparelho digestivo e do aparelho circulatório.

Efeitos ambientais por excesso de calor tem sido relacionado a mortandade de idosos com relatados para os EUA (Chicago 1995) e para a França (2003) por afetar o sistema cardiovascular no caso de temperaturas superiores a 20ºC e temperaturas baixas no inverno em residências com sistema de refrigeração e calefação deficientes. São também considerados neste grupo perturbações que afetam a saúde causados por excesso de ruídos que reduzem os períodos de sono necessários a uma condição de boa saúde (Wahl & Oswald, 2012).

Tanto casas como apartamentos pré-existentes ou recém construídos, apresentam-se dentro de padrões que atendem interesses de pessoas adultas. No entanto, sua adequação, organização e equipamentos precisam ser reordenados, para a condição de pessoas idosas que, deverão dentro do possível, conduzir uma vida autônoma. Além disso, deve também ser consideradas instalações para uma eventual pessoa auxiliar, seja em apoio a seu trabalho de manutenção, que pode ser leve, mas também intensivo, ou mesmo no caso de atendimento a pessoas enfermas.

A moradia familiar pré-existente terá que ser estruturada, em princípio, de forma que seus moradores dependam o mínimo do apoio de prestadores de serviços. Neste aspecto, equipamentos técnicos, eletrônicos e de informática introduzidos na residência tornam a vida da pessoa idosa facilitada, segura e com mais comodidade. Moradias que não são amigáveis, oferecem riscos e ameaçam a condução do modo de vida autônomo da pessoa. Frequentemente são a causa do encaminhamento precoce de idosos para instituições asilares de longa permanência.

As residências para moradia de idosos estão disponíveis em diversas formas:oriundas de casas ou apartamentos em prédios antigos adaptados para a moradia de idosos; através da construção de casas ou prédios de apartamentos amigáveis a idosos; pela construção de residências unifamiliares ou multifamiliares; através da ampliação, junto a uma moradia familiar existente, de um segmento novo para abrigar o idoso ou pela estruturação de um bairro residencial composto por moradias destinadas a idosos.

No caso de construções novas, as casas não devem aparentar uma diferenciação marcante das demais moradias da região. Estas poderão também ser ocupadas por pessoas jovens, mas que por razões preventivas buscam antecipadamente estruturar-se para a fase de envelhecimento, ou por razões comerciais, podendo vender posteriormente o imóvel para terceiros.

Na localização e na construção de unidades residenciais novas, alguns aspectos devem ser considerados. Os meios de transporte público devem ser facilmente acessíveis. Lojas de suprimentos ou supermercados necessários para consumo de mercadorias de uso diário devem situar-se próximos. Áreas livres e jardins públicos nas cercanias para passeios e o lazer são consideradas importantes. É importante que o conjunto de estabelecimentos que disponibilizam serviços não esteja muito afastado uns dos outros, para que não seja necessário grande deslocamento para seu acesso. Pelo fato de que pessoas idosas passam grande parte do seu tempo dentro de sua casa, a área construída pode ser espaçosa, mesmo porque, em geral os idosos costumam trazer seus móveis antigos para a nova moradia. No entanto, áreas grandes demandam acréscimo de serviços que precisam ser considerados.

A interação do idoso é fortemente ligada com o entorno da residência. O acesso visual ao ambiente externo é, por isto, muito importante. Janelas com beiral baixo e sacadas possibilitam também, que sentados ou mesmo na cama, possam apreciar o que se passa no ambiente externo.

Modernamente a área construída recomendável para uma moradia com dois quartos de dormir pode situar-se em torno de 60 m2 (vestíbulo 4,70 m2; sala de estar 25,00 m2; quarto dormir 14.00 m2; banheiro com banheira 5,00 m2; área serviço 7,00 m2; sacada 4,30 m2). Para uma moradia com apenas um quarto de dormir, a área poderá ser em torno de 50 m2. Também para pessoas que moram sozinhas a instalação de um quarto de dormir separado ou com uma divisória pode ser desejável para abrigar uma pessoa que presta serviços residenciais.

O serviço local de abastecimento de água potável e de esgotamento sanitário deverá ser avaliado com cuidado. Em nossas condições, a qualidade de água que chega a torneira residencial quase sempre apresenta restrições de qualidade. Seu uso direto, sem filtragem ou tratamento domiciliar, deve ser considerado inapropriado e com potencial para afetar a saúde das pessoas. Na cozinha, um pequeno local para refeições é recomendável.

A qualidade da moradia é de grande significado para idoso, e por isso deverá ser estruturada de forma a permitir que pessoas com deficiências físicas leves possam conduzir, enquanto possível, uma vida autônoma. Quanto melhor o conforto possibilitado pela estrutura, menor será a sobrecarga de trabalho destinada a manutenção da moradia, menor a demanda por contratação de serviços de manutenção residencial ou a decisão precoce sobre a mudança para instituições de longa permanência que abrigam idosos.

3.1.3 – Barreiras e prevenção de quedas

A ocorrência de barreiras no âmbito residencial resulta da conjugação do espaço da estrutura da moradia e do comportamento dos residentes. Os estudos indicam que a prevalência de barreiras ocorre, por ordem, nos banheiros, devidos a problemas de má iluminação, na cozinha, nos espaços destinados ao deslocamento entre dependências, na sala e no quarto de dormir. Em particular são fatores de risco, degraus e desníveis entre pisos, escadas, largura de portas, espaços reduzidos em banheiros.

Para pessoas com maiores inabilitações e idades mais avançadas, são considerados também fatores de risco, armários com prateleiras ou estantes com alturas muito elevadas e pisos com superfícies lisas. Na porta de acesso externo são indesejáveis portas com fechamento automático e considerados inadequados depósitos de lixo pesados e falta de proteção contra chuva.

Quedas em adultos idosos são um sério problema para indivíduos, para suas famílias e para o sistema de cuidados de saúde e demandam um planejamento antecipado de redução de riscos e intervenções preventivas, seja no ambiente residencial como público. Considerações em relação a adultos fragilizados devem incluir atenção, não somente para o ambiente físico, mas também sobre as interações entre o ambiente, comportamento, funcionalidade física, de forma que as intervenções sejam orientadas para situações específicas de cada indivíduo. Modificações residenciais e a tecnologia tem se mostrado úteis para o delineamento de intervenções direcionadas a redução do risco de quedas (Pynoos et al, 2013).

Para que modificações ambientais introduzidas na residência possam ser efetivas são utilizadas planilhas de levantamento de áreas e fatores de risco e para as quais são consignadas intervenções ou melhorias que reduzam ou eliminem as causas de quedas ou de lesões a adultos idosos. Deve ser levado em consideração no levantamento, as características de inaptidões dos residentes para se adaptar os recursos ou modificações às suas necessidades específicas, bem como sua vontade em mudar aspectos em suas casas que são considerados afetivamente relacionados.

Orientações educacionais, em termos apropriados, sobre materiais, e ênfase sobre mudanças que corrijam os riscos e aumentem a eficácia na redução de quedas devem acompanhar o levantamento dos itens identificados como fonte de risco para esclarecimento dos usuários. Como exemplo de itens que podem estar incluídos em uma planilha de levantamento podem ser citados: condição de vida; mobilidade; riscos ambientais; cozinha; manutenção residencial; alimentação; banheiro e toalete; medicação e uso abusivo; lazer; comunicação e agenda; cuidado pessoal e passeios.

3.1.4 – Comunicação

O telefone residencial é a principal forma de interação da pessoa idosa com o ambiente externo de sua moradia. A conversação com amigos e parentes é um ponto de apoio necessário para minimizar o isolamento, mas uma função essencial está ligada a possibilidade de chamada imediata de serviços de emergência. Terminais de aparelhos de ligação telefônica fixa precisam estar disponíveis, pelo menos na sala, cozinha e quarto de dormir, embora atualmente a disponibilidade de telefone celular seja vantajosa. No entanto, pela facilidade de operação e não depender de constantes recargas de bateria, o telefone fixo ainda permanece como uma alternativa segura. Para facilitar contatos e chamadas de emergência é recomendável manter uma lista de números relevantes junto ao terminal telefônico, citando como exemplo: número do médico geriatra; serviços médicos de emergência e hospitais; taxi; serviço de ambulância; farmácia; polícia; bombeiros; vizinhos; amigos; parentes; serviços residenciais de água e eletricidade; faxineira ou empregado doméstico; seu próprio número de telefone fixo e do celular, etc. Os aparelhos telefônicos recomendáveis não devem ser pequenos e devem apresentar números grandes que facilitem sua leitura e acionamento. No caso de celulares os números de contatos mais relevantes devem ser armazenados na sua memória para poder ser facilmente acionados quando necessário (Püttmann & Hebgen, 1990).

3.1.5 – Ventilação, refrigeração, aquecimento.

Os dados de monitoramento do ar pela saúde pública indicam, que embora o ar que se respira no ambiente externo contenha algumas substâncias tóxicas, estas são bem mais concentradas dentro das residências. Em média o ar interior é de 5 a 10 vezes mais poluído que o ar exterior. Como as pessoas passam 90% do seu tempo em ambientes confinados os estudos atuais vem prestando maior atenção as condições de poluição do ar em ambientes interiores.

A poluição do ar interior está representada pela presença de compostos orgânicos voláteis (benzeno, formaldeído, éteres de glycol), partículas finas, monóxido de carbono, produtos alérgicos produzidos por mofos e de animais domésticos, dióxido de nitrogênio, elementos químicos voláteis radioativos, cloraminas. Tais substâncias tóxicas são suscetíveis de se misturar ao ar que respiramos dentro de nossa casa. Os mais preocupantes são o benzeno e o formaldeído oriundos de produtos de limpeza utilizados residencialmente ou de materiais de construção e móveis. Estes poluentes podem induzir problemas de saúde como dor de cabeça, fadiga, irritação dos olhos, náuseas, insuficiência respiratória, asma, e a longo prazo câncer, cujas consequências sanitárias e econômicas são consideráveis.

Os conhecimentos atuais são suficientes para orientar as pessoas a buscar reduzir as fontes de poluição, bem como aerar a residência abrindo as janelas, pelo menos por 10 minutos por dia. Os materiais de construção, decoração e móveis são a principal causa de poluição interior. Eles emitem diversas substâncias tóxicas. Formaldeído, materiais plásticos originados por painéis de madeira aglomerada, carpetes, pinturas, benzeno oriundo de produtos de reparação, estireno resultante de materiais plásticos isolantes, madeira de armários tratada com pesticidas são frequentes.

A umidade gerada na cozinha, banheiro e área de serviço, lavação de roupa, e emanações corporais, (quando a umidade do ar é superior a 70% e em temperaturas ambientais mais elevadas que 5ºC) favorecem a proliferação de esporos de fungos, ácaros, baratas, que são emissores de compostos alérgicos. Os fungos desenvolvem-se sobre superfícies como papel, madeira, couro em ambientes pouco ventilados.

Produtos de limpeza multiuso são todos poluentes. Água sanitária, limpa vidro, produtos para limpeza de piso, carpetes, spray, inseticidas, fungicidas usados para o tratamento de plantas, entre outros emitem substâncias tóxicas como formaldeídos, estireno, benzeno, tolueno, etc., seja na forma líquida de creme, spray ou pó. Desodorantes fazem mais mal do que bem.

Os aparelhos de aquecimento são responsáveis por um grande número de problemas de saúde e intoxicação. Acúmulo de monóxido de carbono (CO) é uma das primeiras causas de intoxicação na França resultante de equipamentos de aquecimento por combustão, particularmente a gás.

A ventilação por abertura das janelas, é a forma mais eficaz de renovar o ar interior. Por razões de aquecimento no inverno, as pessoas costumam manter as janelas fechadas o tempo todo, o que favorece o acúmulo de poluentes e eleva o risco de aumento da umidade. Janelas abertas por algum tempo, após operações de limpeza e de cozinha, o uso de exaustores e condicionadores de ar permitem formar uma corrente de ar que evacua a umidade e os poluentes gerados.

Os aparelhos de ar condicionado renovam o ar mas também podem insuflar poluentes quando não são efetuadas operações de limpeza dos filtros regularmente, que devem ser feitas pelo menos duas vezes ao ano por pessoal especializado no serviço de manutenção. Os condicionadores de ar atuais apresentam estrutura técnica apropriada a uma boa circulação de ar sob condições de refrigeração ou aquecimento, e são dotados de filtros que retém poeira e esporos de fungos, podendo ser higienizados frequentemente. Também estão disponíveis no mercado, ventiladores, aquecedores elétricos e umidificadores de ar para serem usados em espaços residenciais exclusivos.

A temperatura do ar nas dependências da moradia do idoso deverá situar-se entre 22 e 24 graus centígrados, assegurando conforto físico, uma vez que frio ou calor em excesso são condições que favorecem doenças e enfraquecem a imunidade corporal.

Por princípio é desejável que a residência disponha de um bom conjunto de janelas que se comuniquem com o ambiente externo e possibilitem uma circulação abundante de ar dentro das diferentes áreas da moradia (Bettayeb, 2013).

3.1.6 – Iluminação.

Por razões da diminuição da acuidade visual, a pessoa idosa necessita de ambientes bem iluminados, sendo por isto dispendido um cuidado especial sobre as condições de iluminação das diferentes peças da moradia. Além das janelas que permitem a entrada de luz em boas condições de tempo, é necessário disponibilizar uma condição de fartura de luminárias, tomadas, interruptores que são colocados próximos, não só das portas, mas também nos locais, como cozinha, quarto de dormir, sala, área de serviço, banheiro, vestíbulo. São particularmente importantes os locais onde as pessoas desenvolvem trabalhos e dediquem-se a leitura. Os interruptores devem ser de tamanho grande para facilitar sua visualização e acionamento. Tomadas simples ou múltiplas podem ser distribuídas estrategicamente nestes locais. Existem disponíveis lâmpadas e luminárias cujo interruptor é dotado de regulação de luminosidade e que são úteis para adequar a luminosidade à necessidade do ambiente. Iluminação deficiente pode ser uma causa relevante de acidentes domésticos e nunca será demasiado dar uma atenção diferenciada a sua instalação na moradia.

3.1.7 – Pisos.

O piso residencial deve ser instalado de forma a que não seja frio porque pode afetam a saúde causando resfriados, acentuar doenças reumáticas e circulatórias que afetam as pernas de pessoas idosas. A escolha do tipo de piso deve facilitar a sua limpeza e exigir menos esforço para sua manutenção. O uso de um aspirador de pó e pano úmido deve ser suficiente para sua limpeza. O material do piso não deve apresentar reflexo luminoso ou ser excessivamente liso, o que pode perturbar a visão do morador e causar insegurança ao se deslocar sendo motivo de deslizamentos, tropeços, quedas e choques com obstáculos. Havendo desníveis entre peças da residência, ou uma escada, estes locais devem ser bem iluminados e dotados de faixas anti-deslizamento que são aplicadas na superfície de suas bordas. Pisos de cerâmica são normalmente encontrados nas construções atuais e quando necessário, algumas peças, como sala de estar e dormitórios podem ser revestidos por materiais mais isolantes como madeira ou placas de PVC.

3.1.8 – Janelas e portas.

Existem muitos tipos de janelas residenciais e algumas características são úteis para orientação de seu uso por pessoas idosas. O mecanismo de abertura e fechamento da janela deve estar posicionados a uma altura não superior a 1,60 m acima do piso e dotadas de persianas. Janelas, no caso da residência no piso térreo, devem estar dotadas por persianas que permitam boa circulação de ar e protegidas por grades externas. São desejáveis janelas cujas persianas e folhas envidraçadas sejam acionadas por deslizamento, o que favorece seu manuseio e limpeza. Portas externas e internas devem ser construídas com no mínimo 1,00 m de largura, de forma a facilitar o deslocamento de cadeiras de rodas.

3.1.9 – Segurança.

Assaltos a residências são temas do cotidiano da mídia em todo o país. A maioria das invasões ocorrem pela porta de frente e esta deve ser dotada de mecanismos de segurança que desencorajem e impeçam os assaltantes de adentrar na moradia. No piso térreo, e para as janelas, a adoção de grades reforça o sistema de segurança da residência. As varandas ou sacadas são locais também vulneráveis e merecem atenção na instalação de sistemas de segurança. Manter acessível, no vestíbulo, a lista telefônica para solicitação de socorro e intervenção policial é uma medida oportuna.

3.1.10 – Água

A água é uma substância essencial para a maioria dos seres vivos por sua capacidade de mediar reações bioquímicas, tanto no interior, como entre células dos organismos. O corpo humano é constituído em média por 60% em sua massa de água. Enquanto o tecido adiposo não contém praticamente água, os músculos são constituídos por 72%, o plasma sanguíneo chega a apresentar 90% de água. O suor, gerado para manter a temperatura corporal em 37ºC, é uma das principais perdas contínuas de água do organismo, e que precisa ser reposta diariamente.

A necessidade de consumo biológico humano de água é calculada em 200 litros/pessoa/ano. Em países em desenvolvimento e relativamente eficientes no uso da água, são requeridos para uso geral, de 5 a 20 vezes a quantidade mínima de 100 litros de água por pessoa e por dia.

Água potável é essencial para a manutenção da saúde e que precisa ser consumida sem risco de contaminação por agentes químicos e biológicos, que podem estar dissolvidas em água originária de fontes não controladas e sistemas de tratamento precários. Os sistemas de tratamento removem microrganismos e substâncias nocivas por filtração, tratamento físico químico e cloração. Água contaminada traz riscos à saúde por transmitir doenças causadas por microrganismos, vírus e substâncias tóxicas nocivas ao organismo humano.

A água usada residencialmente necessita estar em conformidade com as normas de qualidade previstas na legislação embora seja mais frequente que os sistemas de tratamento públicos não consigam suprir tais exigências a contento, levando a necessidade de se adotar sistemas residenciais de filtragem da água, que contenham pelo menos um filtro para retenção de partículas e uma unidade de carvão ativado. É recomendável buscar informações de análise da qualidade da água disponível residencialmente, seja originária de poços privados ou da rede pública, para assegurar um consumo seguro (Seiffert, 2008).

3.1.11 – Equipamentos e tecnologia

Em quase todos os aspectos do dia a dia, a utilização de equipamentos desempenha atualmente um papel relevante, como por exemplo o uso da televisão para o lazer, o forno elétrico com temporizador na cozinha, telefones celulares com múltiplas funções, computadores, entre outros.

Com a introdução da tecnologia digital o número de funções da tecnologia ampliou-se trazendo também consigo a necessidade de que equipamentos precisam ser reprogramados frequentemente para manterem-se atualizados. Isto exige novas habilidades dos seus usuários, e que afetam a relação entre seu manuseio e a sua utilidade na obtenção de resultados almejados. Isto pode constituir-se em uma barreira para a pessoa idosa, por exigir contínua atualização sobre inovações introduzidas.

A utilização da tecnologia moderna passa a ser um desafio para as funções cognitivas, passando a ser um recurso tecnológico que pessoas com idades avançadas tem dificuldade de assimilar. Deve ser considerado ainda, que equipamentos técnicos dependem da disponibilidade local de serviços de manutenção, que em geral são onerosos.

Por outro lado, ocorre na atualidade um crescimento da oferta de equipamentos para uso residencial com inovações tecnológicas, que podem chegar a uma condição de excesso tecnológico, sendo exemplos: caçarolas, fornos, microondas, refrigeradores, máquinas de lavar louça, máquinas para fazer café, pão, aspiradores, ferros de passar, secadoras de roupas e de cabelos, rádio, televisão, vídeo, computador, equipamentos de ginásticas, entre outros.

A inclusão na moradia de tais equipamentos estabelece uma nova configuração na relação da pessoa com o seu ambiente. O grau de utilidade de tais inovações deveria ser avaliado por sua configuração, para que minimizem as barreiras que dificultam seu uso e facilitem seu emprego por pessoas idosas e deficientes em geral. Na maioria dos equipamentos a comunicação entre a pessoa e o equipamento é dificultada e mesmo bloqueada pela falta de configuração e orientações simples de seu manejo.

Por outro lado, do ponto de vista social e econômico, é desejável que as pessoas que envelhecem mantenham-se o mais longamente residindo em suas casas assumindo a sua manutenção. É também constatado que um grande número de acidentes ocorre a nível residencial e as atividades domésticas oferecem riscos que podem ser minimizados, quando os equipamentos incorporam técnicas amigáveis a sua utilização.

Via de regra os equipamentos recentes para uso residencial não têm sido desenhados visando a simplificação de seu uso e não tem considerado uma ergonomia voltada para seu uso por pessoas idosas, ou que tenham alguma incapacidade física funcional. A configuração de equipamentos de uso residencial baseado nas aptidões das pessoas é um campo de pesquisa da Gerontologia Ambiental, mas também de grande interesse para a indústria, economia e sociedade (Pitchert, 1999).

3.1.12 – Vizinhança.

Há uma interação expressiva entre a moradia, a saúde e aspectos situados fora das quatro paredes da residência e que dizem respeito a sua inserção nos recursos da infraestrutura disponível nas imediações de sua localização. Uma grande parte da condição da qualidade de vida do morador está, na realidade, afetada e é atribuída a condições da área residencial onde se encontra a residência, tais como disponibilidade de vias de deslocamento, espaços livres, iluminação pública, segurança, entre outros.

O contato frequente com as pessoas que residem na vizinhança representa um ponto de apoio importante, seja para desenvolver um ambiente de convívio que proporcione satisfação ao morador, seja como fonte de ajuda em caso de necessidade.

A Sociologia Urbana trata do estudo das relações sociais entre indivíduos, grupos e agentes sociais e tem por base o estudo sobre cidades e suas unidades de vizinhança. Uma unidade de vizinhança pode ser caracterizada como uma área residencial delimitada. Sua função é manter os laços e contatos primários onde os residentes se conhecem pessoalmente e tem o hábito de se visitar e onde os seus membros encontram um lugar familiar, onde se sentem em casa, e encontram um terreno conhecido para desenvolver contatos sociais espontâneos ou organizados.

Em termos de equipamentos urbanos que favoreçam as interações de vizinhança (lojas comerciais, parques, serviços, etc.), estes deveriam estar próximos às residências e estas não deveriam estar isoladas por vias de trânsito intenso para que os caminhos sejam seguros e as distâncias percorridas limitadas. Deveria favorecer através do desenho urbano, a criação de grupos primários para contrapor-se a tendência da população urbana de se isolar, o que particularmente manifesta-se entre o segmento de idosos.

3.1.13 – Mudança de moradia

A mudança de moradia para uma nova residência pode ser vista como uma intervenção que traz uma agressão a rotina da vida quotidiana, podendo ocorrer como resultado de alteração das condições financeiras, por razões de segurança. Quando por razões de declínio do vigor físico, há necessidade de adotar novas condições residenciais que propiciem maior autonomia. Quando por interesses de maior convivialidade, é buscada a localização em um condomínio residencial, ou quando por razões de saúde torna-se necessário a relocação em uma instituição de apoio a idosos.

Mudanças não deve apenas ser uma reação a pressões ambientais ou de risco, mas também ocorrer por critérios proativos na busca de otimização de condições de moradia, como arranjo espacial menor, a busca de oportunidades de desenvolvimento pessoal, busca por um lugar com infraestrutura mais atrativa, a proximidade de familiares, a busca de status econômico e ofertas de lazer.

Embora, no caso de pessoas com idades mais avançadas, uma mudança residencial possa trazer consequências negativas sobre sua saúde, o convencimento de que a pessoa possa controlar pessoalmente melhor seu dia a dia apresenta efeitos positivos, que em geral, compensam o transtorno da mudança. De um modo geral, mudanças introduzem uma melhora nas condições espaciais e dos equipamentos necessários à instalação residencial para uma nova situação do curso de vida das pessoas na fase de envelhecimento.

Critérios individuais, que induzem a uma mudança de residência, estão fortemente ligados a motivos de manutenção da autossuficiência, de crescimento pessoal e objetivam o fortalecimento e aspirações sobre novas condições e possibilidades de desenvolvimento individual. Os indicadores de tomada de decisão que levam a mudança são fatores como idade, saúde, proximidade de familiares, status socioeconômico e interesses ligados a locais de moradia. Objetivamente a mudança oferece a possibilidade de uma reorganização da estrutura da moradia e do modo de condução do dia a dia em novo local residencial. Por outro lado significa também abrir mão de equipamentos residenciais e relações sociais que representam ligações afetivas, bem como o desafio de construir uma nova integração social na nova área de moradia.

O processo de mudança desenvolve-se sobre uma fase de planejamento, uma fase de tomada de decisão e sobre a fase de operacional da mudança em si. A fase de planejamento é que toma mais tempo e exige maior critério. Nela são levantadas informações sobre locais, disponibilidade de moradias, custos financeiros, condições de adaptabilidade aos desejos e interesses do usuário, e deve pressupor uma fase de visitação prévia para avaliação dos recursos ambientais, naturais e de infraestrutura urbana disponíveis localmente. A fase de tomada de decisão diz respeito a escolha que atenda as expectativas entre diferentes possibilidades e são efetuadas negociações sobre aquisição/locação da nova moradia, venda/locação do imóvel antigo, acertos sobre empresas de serviços que irão operacionalizar a mudança entre as unidades residenciais bem como aquisição de novos mobiliários e equipamentos adaptados a nova moradia. Empresas especializadas que efetuam a operação de mudança tem o mérito de reduzir o stress normalmente envolvido neste tipo de atividade.

Após o processo de mudança surgem então novos desafios como a familiarização da infraestrutura e dos recursos do novo ambiente, condições de locomoção, segurança, a busca de orientação sobre serviços locais de manutenção residencial, de assistência e saúde, entre outros. Pesa também a necessidade de tomar a iniciativa de estabelecer novas interações sociais com a vizinhança e de participação comunal (Oswald 2012).

3.1.14 – O papel da família

Nos últimos cem anos as famílias vêm modificando-se acentuadamente. Os direitos sociais e as inovações científicas implodiram o modelo tradicional da família e possibilitou o surgimento de novos modos de vida. Tomando os dados divulgados para a França, são registrados eventos marcantes: 1945, as mulheres votam pela primeira vez; 1967, a pílula anticoncepcional é legalizada; 1974, a liberdade sexual se instala na sociedade e ocorre um grande avanço no número de abortos relacionados a gravidez indesejada. A interrupção legal voluntária da gravidez entra em vigor em 1975.

Entre 1950 e 1990 as uniões são cada vez mais tardias: em mulheres com até 25 anos, 70% estavam casadas, em 1990 apenas 18%. Em homens com até 25 anos, em 1955, 58% estavam casados e em 1990 apenas 5%.

Em 2013 a lei do casamento para todos é aprovada. Em 2014 ocorreram 241.000 casamentos, dos quais 231.000 foram entre sexos diferentes e 10.000 entre pessoas do mesmo sexo. Em 2013 ocorreram também 168.000 pactos nupciais, dos quais 162.000 entre sexos diferentes, e de 6.000 por pessoas do mesmo sexo.

Considerando as moradias e casamentos rompidos, as famílias não ocupam mais de um terço das residências. Casais com filhos ocupam 26,8%; sem filhos 26,2%, pessoas que vivem só 34%.

A idade média atual da gravidez e parto é de 30,3 anos. As famílias são menos numerosas: com apenas um filho 36,1%; 2 filhos 42,5%, 3 filhos 16,2%. 11,6% dos filhos pertencem a uma família recomposta e 18% de uma família monoparental. Muitas crianças viveram um divórcio.

Quando os filhos se tornam adultos visitam frequentemente os pais?

Uma vez que os filhos deixam a casa paterna/materna, 43% continuam a ver seus pais/mães, ao menos uma vez por semana. As visitas tornam-se mais raras quando os filhos se tornam financeiramente independentes e são mais raras quando os domicílios são distantes. Quanto mais tarde saem de casa, mais eles reveem os pais. Filhos que realizam partidas precoces (até 20 anos) visitarão 20% menos que os que permaneceram até os 26 anos com os pais. Quando os pais são separados, os filhos visitam duas vezes ou mais sua mãe que seu pai. Quanto maior o número de irmãos, menos vezes, cada um, visita os pais. 51% dos filhos únicos visitam sua mãe ao menos uma vez por semana, contra 42% daqueles que tem três irmãos ou mais.

As famílias cuidam bem de seus idosos?

A família constitui-se no principal provedor de ajuda junto a pessoa idosa e constitui na França o pilar de seu acompanhamento, tanto ao nível qualitativo como quantitativo (estatística 2008). 3,4 milhões de pessoas ajudam um parente com 60 anos ou mais, à domicílio, nas tarefas da vida quotidiana (28% são pessoas com perdas funcionais graves).

Antes de 1962 (quando foi criada uma política de auxílio ao envelhecimento), considerando pessoas pobres com perdas funcionais graves, a única opção era terminar em um asilo. Atualmente um conjunto de serviços de acompanhamento permitem aos idosos permanecer em seu domicílio, desde que a família possa servir de intermediação. Em 2002, foi estabelecida uma Alocação Personalizada de Autonomia (APA) para sustentar pessoas idosas em suas casas, quando são parcialmente apoiadas por um membro da família. A intervenção de profissionais cuidadores não são um sinal de desengajamento da família. Os filhos são ainda os principais organizadores de cuidados a seus pais e assumem um papel de “gestores”. (Science & Vie, 2015).

3.1.15 – O apoio familiar

As tarefas comuns de parentes cuidadores familiares, que assumem a atividade de cuidados, estão ligadas a suporte emocional, apoio na condução de atividades residenciais e tratos corporais. Há uma diferenciação de tarefas, enquanto as mulheres atuam primordialmente em cuidados residenciais e corporais, os homens encarregam-se em atividades que comportam a administração e organização dos serviços de cuidados. O tempo de ocupação na atividade de cuidados pode assumir tempo parcial ou integral e pode incluir, além de diferentes familiares o reforço de cuidadores externos à família ou mesmo profissionais.

Os levantamentos de pesquisa salientam também, que é frequente a ocorrência de uma elevada sobrecarga física e psíquica para a maioria das pessoas que prestam serviços de cuidados, a qual traz consigo reações negativas na esfera da saúde, família, contatos, uso do tempo livre do cuidador.

Pessoas que atuam na prestação de serviços de cuidados a idosos são submetidos a uma imensa sobrecarga física, psíquica, social e financeira, quando exercidos por familiares próximos. Seus maiores desejos, ao lado do bem-estar da pessoa cuidada são ter acesso a informações, aconselhamento, redução da burocracia, colaboração com profissionais de cuidados, redução de custos, mais tempo livre e sobretudo maior reconhecimento social.

Parentes próximos são confrontados com duas barreiras distintas, por um lado é frequente a falta de disponibilidade de serviços de cuidadores e por outro lado as ofertas não cobrem ou não estão disponíveis na região.

Cuidadores são um grupo heterogêneo. Serviços de cuidados que possam aliviar a tarefa de lidar com pessoas idosas precisam ser estruturados de forma que incorporem diferentes esferas de conhecimentos sobre cuidados individuais. Para os parentes é de grande relevância a disponibilidade de serviços de informação e aconselhamento nas proximidades e tem incluído de forma crescente a questão de cuidados ao idoso no discurso social, vem procurando organizar-se e demandam por medidas de apoio social.

Cuidadores são pessoas que prestam um serviço direto ou de apoio a idosos, podem ser familiares ou empregados, que cuidam, acompanham, fazem companhia, podem ser cônjuges, filhos adultos, mas também estranhos, vizinhos ou conhecidos.

Serviços de cuidado que envolvem uma dedicação de 24 horas diárias sem algum tempo de alívio para descontração ou férias, levam as pessoas encarregadas aos seus limites de forças. Especialmente elevada é a sobrecarga no acompanhamento de pessoas, cuja avanço da doença não pode mais ser controlada ou pessoas com demência. Parentes cuidadores sentem nesta situação uma condição de abandono, recebem pouco suporte familiar e as atividades diárias de cuidados necessárias são difíceis de serem pagas, no caso da contratação de cuidadores estranhos à família. Nestes casos a condição do serviço diário de cuidados passa a perder qualidade e é vivida como uma sobrecarga muito difícil. O levantamento de informações tem revelado que cuidadores ambulantes, que prestam serviços a doentes em residências, usam mais medicamentos, bem como carecem de meios de ajuda, enquanto que, quando atuam em serviços estacionários (instituições) onde obtém condições de saúde mais equilibrados.

Para uma atuação de apoio aos idosos é considerado ser necessária a urgente sensibilização das profissões sociais e de saúde, ampliação de medidas preventivas, bem como a oferta de apoio para parentes cuidadores. Familiares cuidadores demandam por melhores informações e aconselhamento sobre a disponibilidade de serviços de apoio, sobre quadros clínicos de doenças, em especial no início da situação que passa a exigir cuidados mais intensivos. Necessitam um sistema facilitado de acesso ao aconselhamento profissional (telefônico ou pessoal), um sistema transparente de oferta disponibilidade de serviços e esclarecimento sobre as possibilidades de financiamento.

Quando existe um sistema social de informação e aconselhamento, funcionários atendem situações individuais, desenvolvem planos de ajuda, informam sobre a disponibilidade de profissionais de cuidados. Conduzem medidas necessárias de apoio e acompanham sua aplicação até sua plena efetividade. Através de visitas residenciais, os problemas específicos podem ser trabalhados. Além disto, existem serviços de aconselhamento especializado, ajuda psicoterapêutica, ajuda técnica na organização de suporte residencial. Informações e aconselhamento são pressupostos essenciais para implantação concreta de apoio a parentes cuidadores.

Na tabela 1 podem ser observados diversos espectros de possibilidades de medidas diretas e indiretas para apoio a familiares cuidadores.

Tabela 1 – Medidas diretas e indiretas para apoio a parentes cuidadores

A evolução da sociedade traz consigo o temor para as famílias sobre sua incapacidade de prestar serviços de cuidados a pessoas envelhecidas. Cuidadores familiares precisam mais informações e aconselhamento e adequado suporte individual. No caso de cuidadores profissionais e sua empregabilidade, é urgente possibilitar uma maior capacitação, maior interação com cuidadores familiares, e tornou-se um desafio para empreendedores, setor público e políticas públicas.

A demanda crescente por serviços de cuidados precisa ser vista com maior atenção, porque a falta de apoio adequado, traz o risco de que seja perdido este contingente de atores profissionais essenciais, com agravamento para a sociedade que envelhece, sobretudo porque já existe um déficit imenso na força de trabalho de cuidados a idosos. E também, porque é crescente a inclusão de pessoas com baixa qualificação que prestam serviços de cuidados residenciais, levando a insegurança a esta atividade profissional. Não deve ser esquecido que o serviço de cuidados é explicitado como uma responsabilidade de toda a sociedade (Döhner & Kohler, 2012).

3.1.16 – Fontes de consulta

BETTAYEB,K. Ce qu’il faut savoir pour assainir l’air dans sa maison, France, Science&Vie, février 2014, nº 1157, p 118

COLLUCCI,C. Número de idosos que moram sozinhos triplica em 20 anos, http://www1.folha.uol.com.br/ equilibrioesaude/2013/12/1389765-numero-de-idosos

DÖHNER,H. & KOHLER,S. Pflege AngeHörige. I: Wahl,H,W., Römer,C,T. & Ziegelamnn, J,P. Angewandte Gerontologie, Stuttgart, Kohlhammer, 2012

MOLLENKOPF,H., OSWALD,F. & WAHL,H,W. Alte Menschen in ihren Umwelt “Drinnen” Und “Drausen” heute und morgen. In: Wahl, H,W., Mollenkopf,H. & Oswald F. Alte Menschen in ihren Umwelt, Weisbaden, Westdeutscher Verlag, 1999

OSWALD,F. Umzug im Alter, In: Wahl,H,W., Römer,C,T. & Ziegelmann,J,P. Angewandte Gerontologie, Stuttgart, Kohlhammer, 2012

PITCHERT,H. Neue Person-Umwelt-Gestaltung für alte (alle) Menschen. Herausforde-Rungen für Industrie und (öko) gerontologie Forschung? In: Wahl H,W., Mollenkopf F,H. & Oswald,F. Alte Menschen in ihren Umwelt, Heidelberg, WestdeutscherVerlag 1999

PÜTTMANN,H. & HEBGEN,H. Älter werden am liebsten zu Hause – Nützliche Hinweise Für das Wohnen im Alter, Heidelberg, Energie-Verlag GmbH, 1990

PYNOOS,J., STEINMAN,B,A., NGUYEN,Q,A. & BRESSETTE,M. Assessing and Adaptating The Home Environment to Reduce Falls and Meet the Changing Capacity of Older Adults, In:Scheidt,R. & Schwarz,B., Environmental Gerontology, New York, Routledge, 2013

SCIENCE & VIE, Les nouvelles lois de la famille, Hors Série, Mondadori France, nº 272, September 2015.

SEIFFERT,N,F, Política Ambiental Local, Florianópolis, Insular, 2008

WAHL,H,W. & OSWALD,F. Wohnen, Wohnraumanpassung und Gesundheith, In: Wahl,H,W., Römer,C,T. & Ziegelmann,J,P. Angewandte Gerontologie, Stuttgart, Kohlhammer, 2012

 

Artigos de Associados

PARTE 3 – A INTERVENÇÃO GERONTOLÓGICA NO ESPAÇO PRIVADO

PARTE 3 – A INTERVENÇÃO GERONTOLÓGICA NO ESPAÇO PRIVADO

Nelson Frederico Seiffert

1-O espaço privado e adjacências

O espaço privado é descrito como o ambiente residencial da moradia (“dentro de casa”), e que pode incorporar, na situação de uma casa, o seu entorno físico imediato, envolvendo o pátio, o jardim e acesso externo. Está constituído pelos componentes físicos, naturais, construídos, estruturais, biológicos, tecnológicos, culturais, legais, que atuam sobre os moradores, e que afetam a capacidade do ambiente existente na moradia, em prestar serviços de boa qualidade às pessoas residentes.

É também de se destacar que o espaço privado estará fortemente afetado pela infraestrutura e condições de localização dentro da comunidade. A escolha de áreas residenciais e moradias que contenham elementos ambientais que contribuam ao bem estar das pessoas é uma estratégia que pode ser antecipada, antes que surjam limitações pelo processo de envelhecimento e queda da renda das famílias. A seleção da região onde se localizar, busca atender o papel de suprir abrigo, segurança, privacidade, ser uma alternativa de investimento e de identidade pessoal.

Muitas pessoas idosas vivem em residências de baixo padrão inadaptadas as necessidades de pessoas envelhecidas. Residências situadas em entornos ambientais com infraestrutura degradada, áreas ruidosas, densamente povoadas, distantes de serviços de comércio e saúde, não propiciam as condições adequadas a um processo de envelhecimento ativo.

No processo de planejamento municipal e na definição da política habitacional, os aspectos de adequação de moradias ao adensamento populacional e expansão urbana, deveriam considerar as necessidades ambientais e de estrutura residencial, de pessoas que se encontram na fase de envelhecimento, e de pessoas que são atingidas por inabilitações físicas. Existe atualmente um grande número de pessoas que são confrontadas com dificuldades para obter acomodação adequada e vem se tornando evidente que as autoridades locais precisam adotar medidas para incentivar a construção e a provisão de oferta de espaços residenciais ambientalmente amigos à população, levando em conta as necessidades de pessoas idosas (Ratclife 1992).

Um ambiente residencial desejável, para suprir uma boa qualidade de vida para a pessoa envelhecer em sua residência deveria comportar um conjunto mínimo de caraterísticas amigáveis que podem ser citadas como:

1-A região oferece opções de moradia e a um custo acessível;
2-A moradia oferece espaço, dependências e condições ambientais adequadas a idosos;
3-Os serviços de manutenção, comércio e saúde estão próximos e a um custo acessível;
4-A região do entorno oferece facilidades de integração com a comunidade;
5-Há boa disponibilidade de transporte próximo a moradia;
6-Há disponibilidade de espaços livres, praças e jardins nas proximidades;
7-Há boas condições de segurança na região da residência;
😯 local de moradia é suprido por Serviços de Atenção ao Idoso.
(Organização Mundial de Saúde 2008, Ministério da Previdência Social 2001).

O ambiente residencial é considerado como condição fundamental de bem-estar e segurança, seja em seus aspectos de localização, projeto arquitetônico, estrutura interna e acesso a serviços que influenciam a autonomia de pessoas idosas.

O custo da residência é um fator importante, seja em termos de sua construção, remodelação, bem como no que se refere a aluguel e custos de condomínio de prédios residenciais. Para a população em geral, a moradia é considerada cara e pode tornar difícil aos idosos morar de forma adequada.

Casas grandes, que foram úteis quando a família comportava toda a família, passam a ser consideradas grandes demais para pessoas aposentadas e que não tem recursos para adquirir uma nova residência ou remodelar a casa familiar. Somando-se a isto, a mudança para um novo ambiente não é bem vista pelos idosos, que são apegados ao seu entorno, e consideram um grande transtorno uma mudança nesta fase da vida. Deve ser acrescentado que, para aposentados com poucos recursos, a disponibilidade de uma nova moradia, de baixo custo, geralmente é limitada e que, a venda da casa familiar antiga pode levar um tempo prolongado para viabilizar a aquisição de uma nova residência que supra suas necessidades atuais. É importante que o idoso tenha espaço e privacidade em sua casa. Casas com um número excessivo de moradores representa um obstáculo a sua privacidade e conforto individual.

Muitos aspectos do planejamento do local da residência afetam a capacidade dos idosos morar adequadamente. É essencial, em termos de localização da moradia, que a área esteja coberta por serviços básicos públicos como abastecimento de água, esgoto, energia elétrica, transporte e de saúde. As residências devem estar construídas com materiais adequados formado estruturas seguras e localizadas em áreas que não estejam sujeitas a inundações nem deslizamentos. Que tenha superfícies niveladas evitando degraus e escadas. Se a morada for em prédios, estes precisam estar dotados de elevadores, rampas de acesso, estacionamento e locais para exercícios físicos. A moradia deve ter portas largas e seus cômodos adaptados, e que sejam grandes o suficiente, para facilitar o deslocamento de cadeiras de rodas e os serviços de manutenção residencial.

As residências necessitam estar estruturadas de forma a possibilitar a manutenção em seu interior de condições climáticas amenas, o que implica na localização adequada de janelas que permitam boa ventilação e os cômodos, de maior uso diário, deverão estar dotados de sistemas de ventilação, exaustão de ar, ou ar condicionado que assegurem refrigeração e aquecimento nos períodos críticos.

A construção ou reforma de residências amigas para idosos deveria ser parte da preocupação do setor de construção civil. Deveriam ser sugeridos incentivos para estimular arquitetos e construtores a construírem moradias para este segmento populacional, dado o fato de que representará, em poucos anos, cerca de um terço da população total do país.

A possibilidade de se adaptar uma casa ou apartamento pode representar um custo considerável, e mesmo ser impossível para um aposentado que mora em casa ou apartamento alugado. Há também dificuldade na obtenção de tipos de materiais e equipamentos necessários a adaptação das moradias, tais como corrimões e dispositivos de apoio manual para o banheiro.

A manutenção da residência pode ser um grande obstáculo para pessoas idosas, podendo chegar a um estágio em que não possam realizar mais pequenos concertos, dar manutenção a jardins, efetuar operações de limpeza pesada ou reformas, e representam um custo considerável, quando forem prestados por terceiros. No caso de apartamentos o valor do condomínio pode onerar significativamente idosos aposentados.

A prestação de serviços a idosos em sua casa é especialmente importante e em algumas regiões, onde há pouca disponibilidade de pessoas que prestam serviços residenciais, ou mesmo quando os serviços apresentam custos elevados.

Morar perto de serviços públicos, do comércio, templos, igrejas, supermercados, shopingcenters, cinemas é considerado uma grande vantagem por estimular idosos a não permanecerem o tempo todo em casa e realizarem passeios e caminhadas que contribuem para implementar a necessidade de realizar exercícios físicos regularmente.

Ambientes familiares, em que as pessoas sintam-se integradas à comunidade, colabora para que o ambiente seja considerado amigo do idoso por contribuir para sua segurança psicológica. As pessoas que constituem a vizinhança da moradia apresentam um papel particularmente relevante neste aspecto. A perda de vínculos com a família e a comunidade pode ser um problema que precisa ser superado em caso de mudança de residência e é particularmente agravante, em caso de deslocamento para uma nova cidade.

Residir em prédios de apartamentos tende a se constituir em uma perda de contato com os vizinhos e restrições no contato intergeracional, sendo visto como uma desvantagem. Havendo disponibilidade na região, é possível optar por morar em casas ou prédios de apartamentos menores construídos para pessoas idosas, residências para idosos, ou instituições de longa permanência, onde existem oportunidades maiores de socialização. É importante que se faça um planejamento prévio que facilite a interação comunitária do idoso tendo por objetivo reduzir a sensação de isolamento.

O planejamento de medidas para garantir segurança ao ambiente doméstico também representa uma necessidade fundamental, o que é particularmente relevante para idosos que moram sozinhos. Acesso seguro a casa ou prédios de apartamentos, câmaras de vigilância e dispositivos para fazer chamadas de emergência devem ser considerados importantes (Organização Mundial da Saúde 2008).

Segundo Püttmann & Hebgen (1990) é possível mencionar como pontos que merecem consideração na estruturação e organização de residências para pessoas idosas:

No caso de casas e apartamentos:

1-Há uma boa oportunidade de aproveitar plenamente os recursos já existentes na moradia prévia, modernização das instalações e adequação a condição do idoso.
2-Estão disponíveis atualmente dispositivos eletrotécnicos e eletrônicos facilitadores das atividades do cotidiano.
3-É necessário oferecer informações e orientações técnicas para as pessoas idosas em relação a problemas que afetam o seu conforto e a mobilidade dentro de sua residência.
4-É necessário disponibilizar orientações de adequação residencial a idosos para prestadores de serviços que atuam na reforma e construtores que desenvolvem trabalho na construção civil.
5-É recomendável adequar um espaço, (quarto e banheiro), para uma eventual pessoa prestadora de serviços ao idoso que mora sozinho.

No caso de prédios residenciais:

De maneira geral, as características necessárias para que os prédios sejam amigáveis aos idosos são:

1-Disponibilidade de elevadores.
2-Disponibilidades de rampas de acesso.
3-Portas E corredores devem ser amplos.
4-Escadaria não deve ser muito inclinada, degraus baixos e com corrimão.
5-Piso antiderrapante.
6-Vestíbulo dotado de sofás, poltronas ou cadeiras confortáveis.
7-Sinalização de acesso a portaria, elevadores e toalete adequados.
8-Banheiros sociais estruturados para deficientes.

A atenção que deve ser dada a organização de um ambiente residencial amigável a pessoas idosas, tem grande relevância no seu bem-estar diário e qualidade de vida, pelo fato de que permanecem a maior parte do tempo em suas residências. A moradia não só deve proteger a pessoa contra dificuldades trazidas pelo envelhecimento, mas também ser um ambiente que oferece bem-estar.

Para o processo de envelhecimento as pessoas devem se organizar com antecedência. Esta fase da vida pode durar mais de 20 ou 30 anos, período mais longo que a soma do tempo da infância e juventude. Para este processo é necessário uma tomada de decisão antecipada sobre como se deseja morar na velhice. Significa antecipar pensamentos sobre como a moradia poderia ser melhorada, de forma que possa ser usada adequadamente também no tempo futuro do envelhecimento. A melhor época para se tomar esta iniciativa é durante os anos em as pessoas possuem bons rendimentos e ainda possuem bastante energia e disposição para assumir tais tarefas.

2-Barreiras no espaço residencial

Diversos levantamentos realizados com pessoas idosas apontaram as principais queixas relacionadas a barreiras e inadequações que ocorrem no espaço residencial e adjacências. Um estuo realizado nos EUA com 1.100 pessoas com 72 anos de idade indicou como barreiras:

-Cadeiras e vaso sanitário com assento baixo – 14 a 24 % dos participantes.
-Ausência de barras de apoio nos banheiros – 80% dos participantes
-Problemas de iluminação: na cozinha (12%); nos corredores (22%), no quarto de dormir (18%); na sala de estar (18%); no banheiro (12%).
-Ausência de sacadas (20%).
-Espaço de movimentação no banheiro e largura das portas (20 a 30%).
-Acesso inadequado a duchas (74,7%), inadequação das duchas (15%).
-Armários com prateleiras muito altas (80%).
-Estantes altas (42,7%).
-Pisos com superfícies escorregadias (56,7%).
-Indisponibilidade de corrimões em escadas e acessos (83,8%).
-Degraus de escadas demasiado altos ou muito baixos (46,4%).
-Portas externas que fecham muito rápido (55,1%).
-Na parte externa da casa: falta de bancos (89,1%), acesso dificultado a lixeiras (90%);
-Ausência de proteção contra chuva na porta de entrada (91,8%),
-Caminhos com pisos irregulares (47%).
(Wahl & Oswald, 2012).

3-Adaptação do espaço residencial e saúde

Os estudos e pesquisas tem indicado claramente que existe uma interação expressiva entre as condições residenciais e a saúde de pessoas idosas. Neste aspecto interessam em especial os efeitos de adaptações da moradia que possam evitar quedas e interferem na saúde das pessoas. A avaliação das características que constituem barreiras e seus impactos sobre a saúde, indica a importância de intervenções gerontológicas que são disponibilizadas para alterações e adaptações residenciais que minimizem ou eliminem os efeitos negativos sobe o dia a dia de pessoas que envelhecem.

A adequação da moradia depende em parte, apenas de um aconselhamento sobre as possibilidades de ajustes no espaço habitacional, mas também, em situações mais complexas, de investimentos, que nem sempre estão disponíveis no orçamento dos indivíduos. É bastante previsível que a adaptação irá compreender uma crescente incorporação técnica, que inclui funções de sensores, equipamento de informática e monitoramento eletrônico em rede.

Considerando o alongamento do tempo de vida e os efeitos de reduções funcionais que se ampliam com a idade, traz consigo a necessidade continuada de adaptações sistemáticas e otimização dos espaços da moradia. Os estudos indicam que aspectos da vivencia em uma moradia está também ligada a questões subjetivas que se conectam com a saúde da pessoa residente. A pessoa que vivencia a moradia em suas atividades quotidianas, encontra oportunidades de atividades gratificantes e significativas, o que proporciona ao idoso uma condição de bem-estar e níveis mais baixos de depressão. A intervenção gerontológica no campo da adequação do espaço privado é um importante capítulo da Gerontologia Aplicada e que incorpora diferentes aspectos interdisciplinares e multiprofissionais, sobre quais o Gerontólogo está apto a contribuir.

4-Fontes de consulta

MINISTÉRIO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL –Secretaria de Estado da Assistência Social, Portaria SEAS nº 73, 10/05/2001. Estabelece normas de funcionamento de serviços de atenção ao idoso no Brasil (www.mpsp.mp/portal/page/portal)

ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Guia Global: Cidade Amiga do Idoso, Genebra, OMS, 2008

RATCLIFE,J. Town and Country Planning, London University College London Press,1992

PÜTTMANN,H. & HEBGEN,H. Älter werden am liebsten zu Hause – Nützliche Hinweise Für das Wohnen im Alter, Heidelberg, Energie-Verlag GmbH, 1990

WAHL, W. & OSWALD, F. Wohnen, Wohnraumanpassung und Gesundheit. In: Wahl, H, W., Römer, C,T. & Zoegelmann, J,P. Angewandte Gerontologie, Stuttgart, Kohlhammer, 2012

 


Sobre o autor:

Nelson Frederico Seiffert

Doutor em Engenharia de Produção, com a tese de Doutorado sobre Gestão Ambiental. Trabalhou em Pesquisa na EMBRAPA durante 25 anos.

Desenvolve atualmente estudos na área de Gerontologia Ambiental e Aplicada. Conduziu Seminários sobre Gerontologia Ambiental e Aplicada no NETI/UFSC em 2015, 2016 e é Diretor Técnico Científico da ANG/SC – GESTÃO 2017/2019.

E-mail: [email protected]

Artigos de Associados

PSICOTERAPIA

2.7-Psicoterapia

Nelson Frederico Seiffert

A psicoterapia pode ser definida genericamente como o emprego de processos de interação e planejamento para tratamento de perturbações de comportamento e de doenças psíquicas usando métodos psicológicos. A desconstrução de perturbações psíquicas e a melhoria do bem-estar subjetivo formam os principais objetivos da terapia. A psicoterapia incorpora também a promoção da manutenção da autonomia do idoso na condução da vida diária e a sua integração na família e na sociedade (Pinquart, 2012).

Psíquico é relativo à esfera mental ou comportamental do indivíduo. Diz-se do conjunto de conteúdos da consciência humana, ou dos estados e processos que estão na base da experiência subjetiva e do comportamento, e que têm uma ligação mais ou menos consciente com a percepção, o pensamento, a lembrança, a sensibilidade, a motivação e ação.

A psicoterapia busca tratar problemas psicológicos, tais como depressão, ansiedade, dificuldades de relacionamento, entre outros problemas de saúde mental. É um processo dialético conduzido por um profissional – Psicoterapeuta – que pode ser oriundo da área de psicologia ou psiquiatria, e outro indivíduo – o paciente. Os objetivos gerais das intervenções da psicoterapia em pacientes são o restabelecimento do funcionamento psíquico, esclarecer o paciente sobre as causas que afetam sua atividade psíquica e orientá-lo na busca de estratégias de controle de disfunções psíquicas. (Psicólogo, profissional graduado ou especializado em psicologia que trata dos estados mentais, do comportamento de ser humano e de suas interações com o ambiente físico e social; Psiquiatra é o profissional da medicina que se ocupa da terapia medicamentosa e da psicoterapia de pacientes que apresentam problemas mentais).

2.7.1-Efetividade da psicoterapia no envelhecimento

Os dados de estudos sobre o emprego da psicoterapia em pacientes idosos, que são afetados por depressão e perturbações por medo, indicam que o tratamento psicoterápico é bastante efetivo. Sua efetividade na depressão é comparável com as formas de tratamento através da farmacoterapia, mas apresenta menores resultados no tratamento de distúrbios causados por medo. Efeitos de intervenções psicoterápicas sobre perturbações do sono em idosos apresenta resultados médios a pouco relevantes, enquanto que, sua aplicação em outros quadros de perturbações psíquicas em idosos tem sido raramente investigado (Pinquart, 2012).

Na comparação entre diferentes métodos usados na psicoterapia, as principais contribuições relatadas são sobre a sua efetividade na terapia comportamental, para tratamento da depressão e terapia da memória.

Trabalhos de pesquisa mostram que cerca de 25% de pessoas com mais de 65 anos são afetados por perturbações psíquicas. As formas com maior dispersão são a depressão, doenças cerebrais e demência.

Frequentemente ocorrem também perturbações por medo, por perdas (morte de pessoas íntimas ou familiares), por formas de perturbação somáticas (dores corporais), bem como decorrentes do uso inadequado de substâncias tóxicas e medicamentos. Em média, pessoas com idades acima de75 anos são mais atingidas por doenças psíquicas, que indivíduos mais jovens. Com exceção da demência, ocorre uma primeira manifestação de doença psíquica em idades mais avançadas, sendo raro surgir em idades mais precoces. Perturbações psíquicas surgem em pessoas idosas frequentemente em concomitância com doenças corporais, e o risco da ocorrência de perturbações psíquicas em pessoas que sofrem restrições corporais médias a graves, é duas a três vezes mais elevado.

Perturbações psíquicas no envelhecimento, à exceção da demência, são tratadas principalmente através da psicoterapia, e mesmo no caso da demência, é possível através dela controlar sua evolução e oferecer suporte psíquico e reduzir perdas de competências funcionais. Na Alemanha, os dados estatísticos indicam que a partir de 65 anos de idade são demandados serviços ambulantes de psicoterapia e que são raramente utilizados a partir de 75 anos de idade. Isto decorre, em primeiro lugar, porque nesta fase da vida os idosos consideram os seus problemas como não psíquicos e focam sobre razões corporais, ou simplesmente atribuem suas perdas funcionais psíquicas ao próprio processo de envelhecimento. Por temer a ideia de ser considerado “louco”, descarta a busca apoio da terapia psiquiátrica. Deve ser considerado também que perdas de mobilidade incidentes em fases mais avançadas do envelhecimento limitam a busca por serviços de terapeutas. Em segundo lugar ocorrem barreiras pelo lado dos terapeutas, como falta de conhecimento Gerontopsiquiátrico, bem como a existência de estereótipos sobre idosos. Em terceiro lugar, ocorre a dúvida sobre a efetividade da terapia aplicada a idosos (em parte por restrições de flexibilidade cognitiva) e incerteza, se é válido a aplicação de medidas de psicoterapia a pessoas com baixa expectativa de tempo de vida. Finalmente é provável que exista um déficit no sistema de cuidados, como dificuldades de trabalho conjunto entre médicos e instituições (ILPI’s) que disponham de psicoterapeutas.

A desconstrução de perturbações psiquiátricas e a melhoria do bem-estar subjetivo formam os principais objetivos da psicoterapia, que inclui adicionalmente a manutenção das condições de autonomia e a integração do idoso na família e sociedade.

Os meios para se alcançar tais objetivos são, a particularização dos fatores que atuam sobre o problema, a aplicação de instrumentos que possam levar ao seu controle, a ativação de recursos do paciente e o fortalecimento da motivação para modificação de sua conduta comportamental.

Importantes estudos confirmam a efetividade da aplicação de intervenções através da psicoterapia em grupos experimentais, no entanto, manuais de psicoterapia aplicada ao envelhecimento são raros na literatura alemã, como por exemplo aplicados ao tratamento da depressão (Hautzinger, 2009), com também no caso do tratamento de perturbações por medo. Os dados de pesquisa indicam que tanto a psicoterapia como a farmacoterapia adotados na depressão de pacientes idosos, atuam, na média, de forma semelhante. Em pacientes com depressão e que apresentam adicionalmente comorbidade, a psicoterapia mostra-se menos eficaz do que em pacientes com sintomas leves de depressão e que não são afetados por comorbidade. A comorbidade é a ocorrência simultânea de dois ou mais problemas de saúde em um mesmo indivíduo, e que podem se adicionar a um distúrbio primário. Uma das patologias que mais exibe comorbidade é a depressão em pacientes idosos com doenças clínicas crônicas.

Existem bons resultados sobre os efeitos de intervenções em pacientes idosos que sofrem de perturbações por medo. No entanto, tem sido evidenciado que a psicoterapia aplicada a idosos com idades avançadas, que manifestam perturbações por medo e depressão, seja menos eficaz do que quando aplicada a idosos mais jovens. É considerado também que existem poucos estudos com pessoas com idades superiores a 80 anos e que é necessária uma adaptação da terapia a este grupo social, levando em consideração também a efetividade da psicoterapia sobre quadros de perturbações que resultam do uso inadequado de substâncias tóxicas, medicamentos e sua dependência.

O emprego da psicoterapia no tratamento de pessoas idosas é considerado importante pela razão de que até o presente não se dispõe de terapias apropriadas a pessoas na fase de envelhecimento. É considerado necessário um maior esclarecimento sobre as perturbações psíquicas, sobre a possibilidade de tratamentos psicoterápicos de idosos em seu ambiente. Sobretudo, é necessário a formação e aperfeiçoamento de psicoterapeutas e uma maior interação com o conhecimento gerontopsiquiátrico, de forma que pacientes idosos possam ser tratados com maior competência.

Programas terapêuticos para idosos deveriam abordar de forma reforçada a psicologia do envelhecimento e se fundamentar na Gerontologia. É considerada também a necessidade na melhoria da cooperação entre médicos que atuam em famílias ou em asilos com psicoterapeutas (Pinquart, 2012).

2.7.2-Terapia Comportamental

A Terapia comportamental orienta-se sobre um largo espectro de métodos da psicoterapia, tanto para aplicação individual ou a grupos, e também é adaptada, em uma forma modificada, ao tratamento de pessoas idosas.

A terapia comportamental caracteriza-se por uma avaliação dos sintomas e orientação sobre o uso de recursos pessoais. Modificações de comportamento são conduzidas primariamente através de processos de aprendizado e por alterações dos condicionamentos de diversos componentes do ambiente físico e social. Assim, possibilita, através de seus conceitos fundamentais, identificar comportamentos anormais, seu esclarecimento e possibilidades de modificações para uma conduta normal. Intervenções no comportamento de idosos incluem determinadas modificações e distinguem-se, em parte, daquelas aplicadas a adultos jovens.

A terapia comportamental para pessoas idosas demanda também a inclusão de conceitos gerontologicos, dos quais, entre outros, destaca-se o Modelo de Otimização Seletiva com Compensação (SOK) de Baltes & Carstensen (1996) citado por Operbeck & Zank (2012). Este modelo adota uma proposta de envelhecimento positivo, e foi desenvolvido no campo da psicologia com foco no alongamento do tempo de vida. Aplica-se a uma condição de envelhecimento normal e serve também como fundamentação teórica para intervenções psicoterapêuticas para pessoas idosas. O processo de adaptação deste modelo a pessoas idosas mostrou-se exitoso através de seus três componentes, seleção, otimização e compensação.

Seleção significa a escolha e modificação. Por exemplo uma nova definição de objetivos e de modificação de tipos de conduta. Ela fundamenta-se no desenvolvimento de tarefas executadas pelo indivíduo idoso e no foco sobre a crescente redução dos seus recursos pessoais. Perdas sociais, perdas funcionais, restrições corporais e cognitivas definem o campo de intervenção identificado pelo processo de seleção.

A otimização salienta que, mesmo pessoas idosas ainda podem se desenvolver. Orienta-se sobre o refinamento, fortalecimento e utilização dos recursos e meios disponíveis. Para iniciar um processo de otimização, o foco é a promoção e melhoria do ambiente próximo, bem como a colocação em evidência das possibilidades individuais positivas já disponíveis. Para isto, concorrem para a otimização, intervenções psicológicas, a melhoria do suporte físico do ambiente, (por exemplo da moradia do idoso), bem como a inclusão de meios de apoio (por exemplo a inclusão de serviços de cuidados).

A compensação atua no combate a restrições e perdas, para as quais novas formas de gestão podem ser incluídas, utilizadas e treinadas. As intervenções no campo da compensação perseguem, entre outros objetivos, as reservas mentais nos campos (por exemplo da memória, da competência social) através de exercícios e treinamento de componentes específicos para determinadas atividades (Hautzinger, 2012).

Em princípio, para pessoas idosas, os recursos e técnicas de tratamento aplicados são as mesmas utilizadas em segmentos de pessoas mais jovens. No entanto, estas intervenções necessitam frequentemente de serem modificadas para atender especificidades da terapia de idosos. Deve ser ainda evidenciado que a psicoterapia para idosos é comumente utilizada em hospitais e instituições que abrigam idosos.

As intervenções através de terapias comportamentais focam perturbações específicas do comportamento e as formas de tratamento são aplicadas, via de regra, para cada manifestação de perdas funcionais específicas. Nela incluem-se aspectos da conduta cognitiva, o treinamento para solução de problemas, a reconstrução de atividades, a psicoeducação, o treinamento da competência social e procedimentos de descontração.

Algumas das terapias comportamentais mais comuns e técnicas de tratamento para idosos que podem ser aplicadas individualmente ou em grupo dizem respeito a: restruturação cognitiva, (quando a pessoa detém uma imagem negativa do envelhecimento); a solução de problemas quotidianos ( pela modificação da conduta diária); a perturbações por depressão (tratamento específico psicoterápico); abordagem terapêutica sobre problemas específicos para tratamento do medo através de condicionantes operacionais; e treinamento sobre adaptação à realidade (pelo exercício da autonomia).

Um aspecto importante na terapia comportamental de idosos coloca o desafio da exigência e manutenção do autocontrole pela pessoa idosa. O trabalho de cuidados, muitas vezes não encoraja uma atitude de autonomia, o que é contraproducente em estimular a pessoa a desenvolver seu próprio potencial de ajuda.

A aplicação do modelo SOK é prevista para situações de depressão em idosos, embora exista o risco de que a depressão possa ser incrementada, quando objetivos novos ou modificações comportamentais não possam mais ser alcançadas, quando não mais estão disponíveis alternativas de seleção e nenhuma compensação pode ser introduzida sobre as perdas de recursos existentes.

Os objetivos da terapia comportamental do modelo SOK são previstos como segue:

  • Seleção. Busca de objetivos, novas exigências, desejos, recuperação de possibilidade anteriores, adaptação a condições corporais, retrabalho e abandono de decepções antigas e definição de novas esperanças.
  • Otimização. Diminuir condições que promovem a depressão no dia a dia (exemplo baixas condições de moradia; isolamento; esforço de interação com pessoas socialmente relevantes; melhoria nutricional).
  • Compensação. Reforçar continuamente o comportamento ativo, não depressivo. Reduzir condições disfuncionais, de baixo apoio, condições resignativas, substituir por autovalorização. Incorporar mecanismo, equipamentos ou serviços de terceiros para substituição de restrições funcionais (exemplo contratar cuidador de idosos).

Entre as estratégias de intervenção contam também a formulação de planos semanais de auto-observação e planejamento, psicoeducação, e elaboração de planos de auxílio e socorro bem como planos de desenvolvimento da competência social e treinamento para adaptação de soluções de problemas.

Os temas de intervenção com pacientes idosos depressivos diferenciam-se em parte daqueles que são conduzidos para pessoas mais jovens. São focados a desconstrução de atividades, aspectos da comorbidade com doenças corporais relacionadas a restrições corporais e relacionadas a condução autônoma de tarefas diárias. Pesam ainda na reconstrução de atividades positivas as possibilidades financeiras, as perdas corporais funcionais, restrições cognitivas, bem como a redução da rede de contatos sociais. Estas condições passam a influenciar o risco de que os pacientes não se sintam comprometidos e com isto o tratamento comportamental terapêutico seja perturbado.

Nas intervenções cognitivas da depressão situam-se em especial o retrabalho da vivência de rupturas críticas bem como modificações da saúde que incidem sobre idosos. Estudos sobre a efetividade da psicoterapia na depressão de idosos são ainda escassos.

No caso de perturbações por medo são adotados diferentes modos de tratamento. As terapias propostas são a psicoeducação, a necessidade de análise, o treinamento para descontração, treinamento para desenvolver competências sociais, bem como a reconstrução cognitiva. Os resultados sobre a efetividade da terapêutica cognitiva do comportamento e medidas de intervenção em perturbações por medo em idosos são até o presente bastante limitadas.

Embora a terapia comportamental em idosos seja ainda um campo de pesquisa e não estejam disponíveis ainda claras orientações, os resultados disponíveis indicam que as medidas de terapia comportamental em idosos pode ser de grande ajuda.

Perturbações psíquicas como depressão ou perturbações por medo são tratadas em idosos mais através de medidas medicamentosas, embora os fármacos possam elevar o risco de efeitos colaterais e de interação com outros medicamentos utilizados pelo idoso. Por estas razões o tratamento psicoterápico deveria ser colocado em primeiro plano e ser conduzido mais frequentemente. Seria também desejável o desenvolvimento de novos conceitos de terapia comportamental e sua adaptação a aspecto específicos em idosos, como por exemplo na integração de restrições corporais, cognitivas e isolamento social (Opterbeck & Zank, 2012).

2.7.3-Aconselhamento psicoterápico

Todos os procedimentos humanísticos partem fundamentalmente de um núcleo cognitivo positivo e de uma orientação do crescimento das reservas de energia das pessoas. Sob condições favoráveis esta energia é liberada e o desenvolvimento individual pode ser promovido.

A Psicoterapia deve colocar o foco no estimulo espontâneo do desenvolvimento da experiência da situação individual. Orienta-se sobre as possibilidades de desenvolvimento construtivo dos pacientes e menos sobre a exploração dos déficits precedentes, perturbações e sintomas de doenças. O objetivo por trás da Psicoterapia é, junto com a estimulação da personalidade individual, o desenvolvimento das capacidades potenciais latentes do cliente.

O terapeuta deixa-se envolver em um legítimo encontro com a personalidade do cliente e busca desenvolver um ambiente de confiança mutua. Apenas após este encontro entre o terapeuta e o cliente é possível a proposição de mudanças e intervenções terapêuticas.

O conceito de tratamento repousa sobre procedimentos humanísticos e seus fundamentos. No entanto, faltam até o presente evidências mais robustas de resultados de pesquisa que possam justificar o sucesso de diversas psicoterapias em pessoas idosas. Os avanços do conhecimento de métodos psicoterápicos sugerem a necessidade do desenvolvimento de terapias especiais adaptadas a pessoas idosas.

Novas teorias que orientam o conhecimento da psicoterapia para tratamento buscam uma intervenção que não se direciona para a solução de problemas específicos do paciente, mas sobre a proposta ajuda-lo no seu próprio crescimento individual. Nesta forma são avaliados aspectos sensitivos da situação presente (aqui e agora), que são de grande significado pessoal, além de aspectos intelectuais. O objetivo do tratamento terapêutico é ajudar o indivíduo a se desenvolver sozinho. O terapeuta não pode resolver o problema do cliente e não pode removê-lo. Ele não se considera um experto para a vida do seu cliente. A intervenção do terapeuta, em participar como ouvinte da análise dos problemas relatados pode ser efetiva no autodesenvolvimento do cliente. Assim o terapeuta não estabelece como pacientes idosos devem viver, mas os efeitos decorrem da descoberta pessoal e da vivência do paciente. Isto pode conduzir a uma descontração e redução de sintomas anteriores que afligem o paciente.

De uma forma geral, perturbações psíquicas em pessoas idosas são tratadas de forma medicamentosa, embora numerosos estudos tenham estabelecido, que pacientes idosos possam se beneficiar da psicoterapia. No entanto, neste grupo de pacientes não estão ainda disponíveis um número suficiente de resultados de pesquisa seguros, e ocorre uma falta de adequação dos processos terapêuticos apropriados a este segmento. Para orientação sobre as características específicas de doenças psíquicas de pessoas idosas existem poucas adaptações disponíveis.

Formas concretas de ajuda, psicoeducação e esclarecimento deveriam estar presentes e integradas no curso do tratamento e tais intervenções não encerram, por si só, o trabalho terapêutico sobre o comportamento do paciente idoso em seu processo de autoajuda (Heimbach 2012).

2.7.4-Terapia familiar

Alterações psíquicas em idosos estão frequentemente associadas a problemas em suas famílias ou seu comportamento em relação a condições ambientais em geral. Por esta razão, a terapia familiar para doenças psíquicas em idosos é colocada com relevância, e entre as diferentes abordagens a Terapia Sistêmica é considerada como um método central e reconhecida como meio de tratamento psicoterapêutico.

A terapia familiar é um procedimento psicoterapêutico que inclui os membros da família no sistema de tratamento. É indicada sobretudo, quando o comportamento de um paciente está interligado com o comportamento de sua família, o que é bastante frequente em idosos. Ao lado da Teoria Sistêmica existem outras opções como a psicanálise que envolve uma perspectiva intergeracional, a teoria da comunicação, a terapia comportamental e os métodos psicoeducativos.

A Terapia Sistêmica está baseada no construtivismo e em conceitos da teoria da comunicação e foca os seguintes aspectos: entender o contexto subjetivo de construção de verdades; circulação de ideias; neutralidade; recursos; orientação de soluções e sistemas; autonomia.

A visão sistêmica tem por alvo a existência de problemas entre os elementos de um sistema, e não o foco em um elemento em si. O diagnóstico de perturbações problemáticas e comportamento doentio de elementos do grupo familiar é entendido como expressão de interações relevantes para o sistema de avaliação. A terapia foca sobre interações entre os participantes da família e busca uma ou mais opções de tratamento para todos os participantes. Parte do levantamento de perturbações psíquicas, disfunções de comportamento em situações de crise e de um modo geral em tensões internas do grupo familiar.

Em uma primeira intervenção de diálogo com o grupo familiar é efetuado um esclarecimento sobre os procedimentos adotados, é efetuada uma revisão do contexto existente no qual o problema surge, e também, são consultados os participantes sobre as tentativas de solução já experimentadas. Neste processo é obtida uma amostragem da interação do grupo, bem como a visão de mundo e as diferentes visões dos participantes do sistema familiar. O terapeuta mantém-se neutro, não efetua juízo de valor e mantém-se orientado aos recursos e faz comentários de forma positiva. Busca observar os contatos positivos existentes em cada participante. A teoria geral da intervenção são perguntas, as quais conduzem a novas informações, que podem ser colocadas a circular entre os participantes. Como tarefa final são introduzidas tarefas de tratamento, como a reordenação dos rituais que podem modificar os sintomas de problemas existentes.

O sistema de avaliação de pessoas idosas que apresentam sintomas de problemas caracteriza-se muitas vezes, por envolver duas a três gerações. Além disto a estrutura do comportamento pode decorrer de algo diferente da família, fato que pode não estar mais presente, relacionado a amigos, vizinhos, prestadores de serviços de apoio, tutores e pessoas que desenvolve trabalhos para o idoso em instituições de longa permanência.

Após um diagnóstico inicial é possível construir uma primeira rede de comportamentos de forma a influir sobre os problemas primários e construir procedimentos terapêuticos para solução dos problemas que existem no sistema familiar. Na condução das conversações com o paciente idoso e seu âmbito de familiares, a troca de manifestações nas conversas possibilita descortinar os problemas do sistema familiar para o qual são necessárias futuras intervenções.

Muitos idosos não estão preparados para dialogar, preferem falar sobre o contexto do problema e não estão acostumados a falar sobre problemas familiares com pessoas de fora da família. Com vista ao andamento da terapia é sugerido que os princípios básicos da teoria da informação como da redução da complexidade, redundância das informações e abundante observação do relacionamento entre os participantes. O tempo, o lugar e a condução da conversação podem ser ajustadas a sensibilidade e saúde dos idosos. Visitas residenciais são consideradas importantes por possibilitar a vivência do contexto familiar. Com a ajuda do profissional, quanto maior for a participação dos membros, melhores observações poderão ser obtidas. As recomendações de tratamento para os participantes do sistema familiar podem ser diferentes em razão de distintas tradições, normas e valores e deve se concentrar, independente da metodologia, no conhecimento, história, vivência e horizonte da experiência dos idosos.

Por estar influenciado por uma complexidade elevada, o campo de avaliação pode envolver doença, multimorbidade, cronificação, deficiências físicas, problemas financeiros e de herança, falecimento de pessoas próximas, os quais podem situar-se no ponto central do problema familiar. Mesmo quando o passado é trazido à tona, o foco deverá ser dado a condição da atualidade e o futuro, e para a superação dos problemas vale a ativação dos recursos ainda existentes, desenvolver novos cenários de atividades e vivenciar novas oportunidades.

Com base no desenvolvimento demográfico e a pluralidade observada nas formas familiares, a crescente individualização social e a dissolução familiar, ocorrem impactos severos sobre a estrutura familiar e com significativos efeitos sobre as gerações mais velhas. O indivíduo idoso, que mora só, está doente, pessoas deficientes ou famílias com participantes idosos e sua problemática serão futuramente mais numerosos e há necessidade de uma orientação direcionada aos recursos de redes de apoio social (Johannsen, 2012).

2.7.5-Fontes de consulta

HAUTZINGER,M. Intervention bei Depression. In: : Wahl,H,W., Römer,C,T. & Ziegelmann, P,J. Angewandte Gerontologie, Stuttgart, Kohlhammer, 2012

HEIMBACH,I. Klientenzentrierte Gesprächspsycotherapie. In: Wahl, H,W., Römer,C,T. & Ziegelmann J.P. Angewandte Gerontologie, Stuttgart, Kohlhammer,2012

JOHANNSEN,J. Familientherapie. In: Wahl,H,W., Römer,C,T. & Ziegelmann,J,P. Angewandte Gerontologie, Stuttgart, Kohlhammer, 2012

OPTERBECK,I, & ZANK,S. Verhatenterapie im Alter. In: Wahl,H.W., Römer,C,T. & Ziegelmann, P,J. Angewandte Gerontologie, Stuttgart, Kohlhammer, 2012

PINQUART,M. Wirkung von Psychoterapie im Alter. In: Wahl,H,W., Römer,C,T. & Ziegelmann,J,P. Angewandte Gerontologie, Stuttgart, Kohlhammer, 2012

 


Sobre o autor:

Nelson Frederico Seiffert

Doutor em Engenharia de Produção, com a tese de Doutorado sobre Gestão Ambiental. Trabalhou em Pesquisa na EMBRAPA durante 25 anos.

Desenvolve atualmente estudos na área de Gerontologia Ambiental e Aplicada. Conduziu Seminários sobre Gerontologia Ambiental e Aplicada no NETI/UFSC em 2015, 2016 e é Diretor Técnico Científico da ANG/SC – GESTÃO 2017/2019.

E-mail: [email protected]

Artigos de Associados

SAÚDE COGNITIVA

2.5-Saúde cognitiva

Nelson Frederico Seiffert

 

Com o avanço da idade ocorre um crescente declínio da capacidade cognitiva. Ao lado de modificações cerebrais relacionadas ao envelhecimento podem atuar simultaneamente modificações patológicas que concorrem para agravar o declínio cognitivo. As doenças que são mais frequentemente verificadas são aquelas que causam danos cognitivos leves ou produzem efeitos demenciais. São descritos como declínio cognitivo associado ao envelhecimento, aqueles que, além de manifestar efeitos sobre a memória, afetam funções como aprendizado, atenção e concentração, a forma de pensar e falar, o reconhecimento visual espacial, mesmo quando as competências diárias ainda permanecem parcialmente funcionais. Os estudos indicam que a prevalência de danos leves cognitivos atinge 20% de idosos, e que, estes por sua evolução, tendem a um elevado risco futuro de manifestação da demência (Ahlsdorf, 2012). No processo de envelhecimento normal a capacidade das funções cognitivas tende a se reduzir, embora existam diferenças no tempo do curso de vida em que se acentuam e na evolução do processo entre diferentes habilidades cognitivas, pessoas e grupos sociais. O treinamento cognitivo representa uma alternativa de tratamento, que tem por objetivo a melhora ou a manutenção da capacidade das funções cerebrais em pessoas idosas (Eschen, Zöllig & Martin, 2012).

2.5.1-Treinamento Cognitivo

Na busca da manutenção de um elevado nível de desempenho cerebral, diversos modelos de medidas de fortalecimento das atividades cognitivas vêm sendo testados pela pesquisa e que envolvem o treinamento cognitivo.

Os principais sintomas de falhas cognitivas e demência são déficits da capacidade cerebral, e o treinamento cognitivo oferece a mais importante intervenção não farmacológica para sua minimização. O seu fundamento reside na plasticidade cognitiva, a qual tem sido caracterizada através da pesquisa neurofisiológica. Diversos estudos indicam significativos ganhos cognitivos, mas também os limites biológicos de uma redução da proteção da dopamina com o avanço da idade. Com base na plasticidade e heterogeneidade das deficiências que podem ocorrer no envelhecimento, precisam ser adotadas medidas de treinamento individual que atuem nas diferentes áreas da capacidade cognitiva (Ahlsdorf, 2012).

A dopamina é um neurotransmissor (substâncias químicas produzidas pelos neurônios) que controla a estimulação e os níveis do controle motor. Quando os seus níveis estão baixos, no caso do no mal de Parkinson, os pacientes não conseguem se mover.

A ideia de treinamento incorpora a suposição de que é possível uma alteração do processo de desgaste das funções cerebrais, com base na sua plasticidade, e que seja possível atuar na manutenção das suas capacidades funcionais e na redução das perdas cognitivas.

O treinamento cognitivo tem por objetivo manter ou melhorar a capacidade cognitiva da pessoa idosa, busca reduzir perdas, recuperar aptidões através da condução de exercícios repetidos de tarefas padronizadas que ativam as aptidões cognitivas. Os diferentes métodos de treinamento cognitivo adotados para idosos e que vem sendo avaliados cientificamente, diferenciam-se por seus mecanismos de ação, em seus objetivos e sua modalidade de condução. São exemplos a quantidade e duração do tempo de treinamento, tratamento individualizado ou em grupo, individual com a orientação de um treinador e através do uso de recursos da mídia.

A pesquisa e estudo de métodos de aplicação classifica o treinamento cognitivo em três grupos de métodos: Estratégia, Processo e Multidomínio. Estes grupos diferenciam-se pelo grau de sua efetividade, tarefas de treinamento, características cognitivas visadas, modalidades de condução e na sua qualidade metodológica de avaliação. Os resultados obtidos até o presente indicam maiores ganhos de melhora cognitiva através do método de Processo e Multidomínio do que através do modelo de treinamento Estratégico. Permanece, no entanto, a necessidade de maior número de resultados de pesquisa sobre aplicação de treinamentos cognitivos de longo prazo, sua eficácia sobre a competência na resolução de tarefas diárias e sobre a influência de condições individuais. O aconselhamento profissional pode esclarecer e oferecer orientações que atendam demandas específicas e de recursos para treinamentos eficientes direcionados individualmente.

Treinamento Estratégico.

No treinamento Estratégico são adotadas estratégias sobre determinadas possibilidades de solução para tarefas cognitivas, as quais são arranjadas, introduzidas e exercitadas. Objetiva sobretudo a melhoria da “memória episódica” através de técnicas denominadas “memotécnicas” como por exemplo o “Método dos lugares”, no qual estão associados o aprendizado e informações ligadas a lugares de um determinado caminho. O percurso mental do caminho percorrido, e as informações a ele associadas, possibilita, mais tarde, facilitar a sua recordação. A memória episódica é a memória dos eventos autobiográficos que podem ser lembrados conscientemente. Em um passeio por exemplo, pode-se lembrar de uma viagem recente, e reviver mentalmente detalhes, lugares visitados, pessoas, lembrar de cores, cheiros, etc.

O mecanismo de atuação é a adaptação do treinando a tarefas cognitivas, pelas quais o retrabalho de outros processos cognitivos pode ser exercitado. Dentro deste conceito, o treinamento típico é conduzido por grupos em sala de aula, em seis sessões de uma hora e meia, durante um período de três semanas, aplicando tarefas para serem realizadas utilizando papel e lápis. Em 65% dos estudos são praticadas diversas estratégias de memorização. Frequentemente são incluídas intervenções como exercícios de descontração e visualização. Os participantes nesta modalidade são comumente idosos jovens, nos quais os resultados são mais efetivos que em grupos de idosos com idades mais avançadas.

Treinamento de Processo

No treinamento por Processo, os participantes exercitam trabalhos que agem sobre determinados processos cognitivos, as atividades podem ser conduzidas através de mais de uma tarefa e são incluídos grupos de controle. Um treinamento típico compreende atividades conduzidas em sala de aula, num total de 20 a 30 horas, que são realizadas de forma alternada, durante 30 minutos, uma vez por semana. Os participantes trabalham em cada sessão semanal diversas tarefas, individualmente, usando um computador por exemplo. O grau de dificuldade das tarefas é adaptado durante o transcurso do treinamento de acordo com a capacidade dos treinandos. Os mecanismos de ação são a crescente automação do processo cognitivo e sua crescente inclusão em protótipos de desafios cognitivos. Este modelo é mais comumente adaptado para pessoas com maior grau cultural. Os resultados atuais indicam que através do treinamento de processo podem ser alcançados de médios a grandes avanços na capacidade cognitiva, e sua efetividade tem sido verificada mesmo para idosos com idades mais avançadas. Entre os fatores que influenciam são o maior tempo de dedicação ao treinamento individualizado e treinamento direcionados a níveis mais elevados de desempenho de capacidades cognitivas.

Treinamento de Multidomínio

No treinamento de Multidomínio, os treinandos executam tarefas complexas, para cujas soluções são exigidas maiores aptidões cognitivas. As tarefas são direcionadas e modeladas a exigências de participação em atividades de tempo livre e frequentemente incluídas em contextos sociais. Com isto são mais relevantes do que o Treinamento Estratégico e de Processo, por incorporam testes cognitivos mais abstratos. Exemplo de Treinamento Multidomínio são cursos de grupos que devem desenvolver novas habilidades como por exemplo atuação em uma peça teatral, a solução de problemas criativos ou programas de idosos que cursam escolas de recapacitação de adultos.

Os treinamentos duram comumente diversos meses com diversas sessões por semana. A qualidade metódica dos estudos de avaliação é bastante boa com a inclusão de grupos de controle passivos e condução de baterias de testes de avaliação que inclui aspectos cognitivos, de afetividade e motivação.

A evolução do Treinamento de Multidomínio sugere como fatores efetivos do treinamento a inclusão de novas combinações de múltiplas atividades cognitivas e um elevado engajamento afetivo e social dos participantes durante o treinamento.

Os resultados disponíveis atualmente indicam que, através das técnicas usadas no modelo de Estratégia e de Multidomínio é possível obter melhora leve a moderada na elevação da capacidade cognitiva. Pelo treinamento de Processo são obtidos ganhos leves a médios de melhoria de desempenho cognitivo e que através do Treinamento de Processo podem ser alcançados resultados médios a elevados da capacidade cognitiva. Pelo Treinamento Estratégico são melhoradas sobretudo, capacidades cognitivas específicas. Efeitos sobre a melhora de execução de tarefas diárias não puderam ainda ser observadas. Para o Treinamento Estratégico puderam ser verificados resultados até 5 anos após a realização do treinamento. No entanto faltam maiores resultados de pesquisas sobre efeito dos treinamentos a longo prazo. Os resultados atuais indicam que a efetividade tem sido observada sobretudo para idosos jovens com boa formação cultural, mas de um modo geral, carecem ainda de maiores resultados de pesquisa.

Treinamento através de recursos computacionais vem sendo oferecido por empresas comerciais, mas não são disponibilizados para processos cognitivos específicos e não são em geral submetidos a avaliação técnica institucional. São considerados métodos econômicos, podem ser formatados para treinamento Estratégico e Multidomínio, oferecem a comodidade de utilização em computador residencial e podem ser disponibilizados para utilização por um grande número de usuários (Eschen, Zöllig & Martin, 2012)

2.5.2-Treinamento direcionado a perdas cognitivas leves e demência

Os principais sintomas de danos cognitivos leves e demência são déficits de desempenho das capacidades cerebrais e o treinamento cognitivo oferece medidas de intervenção não farmacológicas importantes para seu tratamento. Os fundamentos para a proposta de intervenção através do treinamento, baseia-se na aceitação da hipótese da plasticidade da capacidade cognitiva, o que é confirmado através de pesquisas neuropsicológicas.

Diversos estudos mostram resultados do treinamento cognitivo, mas também indicam os limites biológicos trazidos pelo envelhecimento, resultantes, por exemplo, da redução da secreção de dopamina no cérebro. A dopamina, atua como mediador químico e sua ausência provoca a doença de Parkinson. Se a produção de dopamina e a respectiva região cerebral estiver afetada por doenças degenerativas como perdas cognitivas elevadas, as possibilidades para serem influenciadas através de intervenções por treinamento são bastante reduzidas.

Com base na heterogeneidade das causas dos déficits funcionais, as medidas de treinamento cognitivo precisam ser selecionadas especificamente para cada indivíduo e o treinamento deveria ser considerado multimodal, incorporando diversos campos da capacidade cognitiva. Os dados atuais de resultados disponíveis para treinamento em condições de perdas cognitivas leves e demência são heterogêneos, o que resulta em parte pela insuficiência de resultados de pesquisa.

O conceito de treinamento incorpora fundamentalmente a suposição na capacidade de modificações no processo de envelhecimento. A aceitação de que existe uma plasticidade cognitiva individual possibilita sugerir processos de intervenção que buscam alcançar resultados através da terapia e reabilitação. O treinamento, serve, sobretudo, para a atenuação de perdas funcionais cerebrais, a manutenção da capacidade cognitiva e da qualidade de vida (Ahlsdorf, 2012).

Na literatura são citadas numerosas perdas funcionais designadas pelo termo de danos cognitivos leves. A mais disseminada são as ”Aging Associated Cognitive Decline” ou “Mild Cognitive Impairement – MCI”. Embora haja pequenas diferenças entre os conceitos, incorporam em comum, ao lado do declínio da fluidez da memória, o declínio de outras funções como o aprendizado, concentração, atenção, fala, percepção visual espacial. No entanto, o declínio destas capacidades funcionais, podem ser influenciadas pelo histórico de formação e nível educacional, que também atuam sobre a manutenção destas funções cognitivas. O conceito MCI diferencia ainda a forma na qual, apenas a memória é atingida (Amnésia MCI) e a forma na qual os danos alcançam um maior número de habilidades (Multidomínio MCI). Os dados de pesquisa indicam que há uma prevalência de perdas cognitivas leves em cerca de 20% de idosos, e que existe uma elevada probabilidade de risco de evolução para uma manifestação posterior de demência.

A demência é um conceito que compreende um complexo de sintomas que decorre de diferentes causas fundamentais de mecanismos patológicos. A forma mais frequente é a causada pela doença de Alzheimer, sobre a qual são encontrados dois terços dos casos, seguido por demência vascular e formas mistas, com cerca de 15% dos casos. Outras formas como demência Frontotemporal são muito raras. A evolução do processo da demência é gradativa, ocorrendo no estágio inicial perturbações de ordem declarativa ou lapsos de memória e de inconstância comportamental. Modificações na fala, algo como perturbações na conclusão de palavras ou da capacidade visual são frequentes em estágios seguintes e que avança para uma perda cognitiva total.

Os sintomas cognitivos dependem da localização da alteração cerebral. No caso de Alzheimer os sintomas mais frequentes são perturbações da memória, enquanto que na demência Frontotemporal são proeminentes déficit de funções executivas ou da fala, como dificuldade para encontrar as palavras ou habilidade visual. Em todas as formas ocorrem restrições na condução de atividades diárias. No entanto é considerado que os déficits cognitivos não são reversíveis e que intervenções por treinamento podem concorrer para uma manutenção mais prolongada das capacidades cognitivas, e num retardamento na progressão da doença através da inclusão de uma terapia farmacológica. O conceito terapêutico compreende quase sempre um tratamento farmacológico e intervenções psicossociais para os doentes e seus próximos, no contexto de um plano de saúde geral. Trata-se de uma terapia que precisa ser baseada sobre o conhecimento das causas e dos efeitos que afetam a capacidade cognitiva de cada indivíduo (Hausner & Frölich, 2012, Beroud ,2015).

Pela complexidade das perdas a intervenção através de treinamento cognitivo deveria ser idealizada na forma de um treinamento multimodal que inclua ao mesmo tempo diversas habilidades cognitivas como atenção, concentração, compreensão de testos, etc. Seria recomendável incluir uma atividade corporal, para que a combinação destes dois campos venha a trazer resultados de longo prazo.

Tendo em vista que a qualidade de vida está no centro dos objetivos, o primeiro passo a ser proposto para intervenção seja a manutenção da capacidade de memória e a manutenção da autonomia através do treinamento das funções executivas voltadas à condução das tarefas do dia a dia.

O desenvolvimento de recursos computacionais vem oferecendo novas oportunidades de treinamento multimodal com efeitos positivos sobre a capacidade funcional cerebral. Deve ainda ser ressaltado que o contato pessoal com um treinador, ou um grupo de trabalho desempenha um importante papel e motivação.

2.5.3-Neurotransmissores

1-Definição – Neurotransmissores são substâncias químicas produzidas pelos neurônios (células nervosas), com a função de biossinalização. Por meio delas, podem enviar informações a outras células. Podem também estimular a continuidade de um impulso ou efetuar a reação final no órgão ou músculo alvo. Os neurotransmissores agem nas sinapses, que são pontos de junção do neurônio com outra célula neuronal.
http://www.neurofisiologia.unifesp.br/neuromoduladores

2-Classificação

2.1-Aminas biogênicas – Catecolaminas: adrenalina ou epinefrina, noradrenalina ou norepinefrina e dopamina. Indolaminas: serotonina, melatonina e histamina.

2.2-Aminoacidérgicos – GABA, taurina, ergotioneína, glicina, beta-alanina, glutamato e aspartato.

2.3-Neuropeptídeos – endorfina, encefalina, vasopressina, oxitocina, orexina, neuropeptídeo Y, substância P, dinorfina A, somatostatina, colecistoquinina, neurotensina, hormona luteinizante, gastrina e enteroglucagon.

2.4-Radicais livres – Óxido nítrico (NO2), monóxido de carbono (CO), trifosfato de adenosina (ATP) e ácido araquidônico.

2.5-Colinérgico – Aceticolina.

A redução dos níveis destas substâncias provoca alterações e doenças psiquiátricas como transtornos de humor, de ansiedade, alimentares, sexuais, distúrbios do sono, da memória, da aprendizagem e depressão. São também causadoras de doenças neurológicas como fibromialgia, dor crônica, enxaquecas, demência, nos casos de Alzheimer e Parkinson, convulsões e epilepsia, transtornos motores, tremores, rigidez e espasmos (Barnéoud, 2015).

3-Locais de atuação

Estas substâncias atuam no encéfalo, na medula espinhal, nos nervos periféricos, na junção neuromuscular ou placa motora. Quimicamente os neurotransmissores são moléculas relativamente pequenas e simples. Diferentes tipos de células secretam diferentes neurotransmissores. Cada substância química cerebral funciona em áreas bastante dispersas, mas muito específicas do cérebro e podem ter efeitos diferentes, dependendo do local de ativação. Cerca de 60 neurotransmissores foram identificados e podem pertencer a uma das cinco categorias mencionadas anteriormente.

4-Funções

São aminas biogênicas a adrenalina, serotonina, noradrenalina, dopamina, histamina, melatonina e DOPA. O glutamato e o aspartato são os transmissores excitatórios bem conhecidos, enquanto que o ácido gama-aminobutírico (GABA), a glicina e a taurina são neurotransmissores inibidores.

Dopamina

Controla a estimulação e os níveis de controle motor. Quando os níveis estão baixos no mal de Parkinson, os pacientes não conseguem se mover. Presume-se que a cocaína e a nicotina atuam liberando uma quantidade maior de dopamina na fenda sináptica. Existem fármacos que atuam elevando os níveis de dopamina, são os medicamentos precursores da dopamina, agonistas de receptores dopaminérgicos, inibidores seletivos da monoaminoxidase-b, inibidores do catecol-o-ometil-transferase, libertadores da dopamina, bloqueadores de sua receptação e estimulantes de sua síntese.

Serotonina

Esse neurotransmissor é um dos mais importantes e com mais receptores e funções diferenciadas. Possui forte efeito no humor, memória, aprendizado, alimentação, desejo sexual e sono reparador. A sua falta é a causa de transtornos depressivos, alimentares, sexuais e do sono. Para sua boa produção é importante o consumo de triptofano (aminoácido que compõe a proteína), uma boa rotina de 6 a 8 h de sono e exercícios regulares.

Cortisol

O cortisol é um hormônio produzido pelas glândulas suprarrenais, que estão localizadas acima dos rins. O cortisol serve para ajudar o organismo a controlar o stress, reduzir inflamações, contribuir para o funcionamento do sistema imune e os níveis de açúcar no sangue constantes, assim como a pressão arterial. Seus níveis no sangue variam durante o dia porque estão relacionados com a atividade diária e a serotonina, que é responsável pela sensação de prazer e bem-estar. Níveis baixos no sangue originam sintomas de depressão, cansaço, fraqueza.

Melatonina

A melatonina é um hormônio natural produzido pelo cérebro durante a noite para induzir o sono. Sua produção acontece na glândula pineal do cérebro, diminui com o envelhecimento, sendo causa frequente de distúrbios do sono em adultos ou idosos.

Induz o sono quando está escuro, regulando assim o ciclo claro-escuro, uma das partes mais importantes para o bom funcionamento do ciclo circadiano, que prepara o organismo para a maior ou menor produção de hormônios e enzimas dependendo da hora do dia. A melatonina pode ser ingerida na forma de suplemento, como Melatonina Optimum, Melatonina DHEA, que ajudam a facilitar o sono.

http://www.tuasaude.com/melatonina

2.5.4-Fontes de consulta

AHLSDORF,E. Kognitives Training bei leichter kognitiver Beinträchtigung und Demenz, In: Wahl,H,W., Römer,C,T. & Ziegelmann,J,P. Angewandte Gerontologie, Stuttgart, Kohlhammer, 2012

BARNÉOUD,L. Neurobiologie: Suicide il cache une vraie maladie, Science & Vie, Mondadori/France, avril, nº 1171, 2015, pg 86.

ESCHEN,A., ZÖLLIG,J. & MARTIN,M. Kognitives Training. In: Wahl,H,W., Römer,C,T. & Ziegelmann,J,P. Angewandte Gerontologie, Stuttgart, Kohlhammer, 2012

HAUSNER,L. & FRÖLICH,L. Medikamentöse Intervention bei Demenz. In: Wahl,H,W., Römer,C,T. & Ziegelmann,J,P. Angewandte Gerontologie, Stuttgart, Kohlhammer, 2012

SCIENCE & VIE. Neurologie: Une greffe de neurones repare um cerveau, Mondadori France, nº1172, mai 2015, p32.


Sobre o autor:

Nelson Frederico Seiffert

Doutor em Engenharia de Produção, com a tese de Doutorado sobre Gestão Ambiental. Trabalhou em Pesquisa na EMBRAPA durante 25 anos.

Desenvolve atualmente estudos na área de Gerontologia Ambiental e Aplicada. Conduziu Seminários sobre Gerontologia Ambiental e Aplicada no NETI/UFSC em 2015, 2016 e é Diretor Técnico Científico da ANG/SC – GESTÃO 2017/2019.

E-mail: [email protected]

Artigos de Associados

A Prioridade Especial aos Octogenários

A Prioridade Especial aos Octogenários

Ariane Angioletti
Advogada

No mês que marca o enfrentamento mundial contra a violência cometida nos idosos, foi aprovado pelo Senado o projeto de Lei que criou a chamada “prioridade especial”, para os maiores de oitenta anos. O projeto de lei foi rapidamente sancionado pelo Presidente da República, transformando-se na Lei n° 13.466/2017, que apresentam três alterações importantes:

  • Artigo 3°, parágrafo 2º: “Dentre os idosos, é assegurada prioridade especial aos maiores de oitenta anos, atendendo-se suas necessidades sempre preferencialmente em relação aos demais idosos”.
  • Artigo 15, parágrafo 7º: “Em todo os atendimentos de saúde, os maiores de 80 anos terão preferência especial sobre os demais idosos, exceto em caso de emergência”.
  • Artigo 71, parágrafo 5º: “dentre os processos de idosos, dar-se-á prioridade especial aos maiores de oitenta anos”.

A proposta de alteração da lei trouxe como justificativa o aumento na expectativa de vida do brasileiro, já que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), afirma que até 2050 a população com mais de 60 anos irá dobrar. O Brasil, dentro de trinta e três anos, terá o dobro de idosos que tinha em 2010. É um envelhecimento populacional quatro vezes maior do que experimentou os países europeus, por exemplo.

Este envelhecimento rápido traz consigo a necessária organização e adaptação das políticas públicas, legislações e normas que apresentem a pretensão de tratar dos temas do envelhecimento e da população idosa. Um exemplo da busca por essas adaptações é a criação da “prioridade especial” dentro do Estatuto do Idoso.

A referida prioridade alcança todos os serviços e atendimentos, conforme o §2° incluso no artigo 3° da Lei Lei 10.741/2005. Desta forma, numa interpretação bastante rasa e simplista, havendo dois idosos aguardando o atendimento numa instituição bancária, caso um deles tenha 80 anos, passará à frente daquele que for mais novo. E, se a prioridade especial considerou a idade como meio de acesso ao atendimento prioritário, pode-se considerar que mesmo entre as faixas de idade, os mais velhos terão o direito de passar à frente dos mais novos?

Havendo idosos de 73, 79, 82 e 95 anos, a prioridade de atendimento deveria, então, seguir a ordem decrescente para o atendimento? Talvez a dificuldade de aplicabilidade da regra de forma geral, vá fazer com que esta primeira alteração não alcance sua concretização ou a adesão por parte das instituições bancárias e do comércio.

Já no artigo 15, o parágrafo 7° apresenta a aplicação da “prioridade especial” nos atendimentos de saúde, deixando claro que a classificação de risco do paciente, ainda é a forma de indicar quem será atendido primeiro. É importante salientar que esta classificação não considera idade, orientando-se pela gravidade clínica, potencial de risco, de agravos à saúde ou grau de sofrimento do paciente.

Então, no artigo 15, §7°, é dada a prioridade para os idosos com mais de 80 anos para acesso ao atendimento de urgência e emergência, quando todos que aguardam foram classificados no mesmo risco – geralmente o primeiro nível da classificação, onde o paciente não corre riscos. Também cria o acesso prioritário para consultas médicas,
encaminhamento e realização de exames e de cirurgias eletivas.

Esta mudança é de suma importância para trazer maior qualidade de vida ao idoso e, ainda, evitar o surgimento de outras patologias originadas na demora do atendimento médico. Como falado, a população brasileira está envelhecendo rapidamente e vivendo mais, o que não significa que envelheça com qualidade de vida.

Os idosos de hoje envelheceram atravessando um período em que hábitos como fumar, consumir bebida alcoólica ou comer alimentos industrializados, eram hábitos incentivados pela mídia e conferiam um certo status social. Este é um exemplo do reflexo de um número bastante grande de idosos com problemas de saúde, que dependem de atendimento. Vislumbra-se facilmente o aumento significativo de processos administrativos e judiciais para buscar a priorização do atendimento de saúde para os idosos com 80 anos ou mais. Hoje, o Brasil tem mais de três milhões de idosos que teriam acesso à priorização.

Já nos processos judiciais, a obrigatoriedade de processamento prioritário, é de fato um direito relevante. A morosidade judicial é um entrave a ser vencido em toda a caminhada processual, por todo aquele que ingressa judicialmente com um processo em busca dos seus direitos. Sabe-se que muitos idosos acabam por falecer antes de terem seus pedidos julgados. Em determinados casos, esse não julgamento se reflete na sucessão aos herdeiros, por exemplo, que acabam recebendo dívidas que não eram reconhecidas pelo próprio idoso.

A prioridade processual é algo que precisa ser melhor apreciada. Hoje, além dos idosos, podem solicitar prioridade processual as crianças, os adolescentes, os enfermos, as pessoas com deficiência e aqueles que tem o perecimento do seu direito em risco. Ao serem protocolados, os sistemas de peticionamento eletrônico dão ao advogado a opção de marcar a prioridade de julgamento pretendida. Mas o que acontece com essa prioridade? Ela acompanha o processo, com uma marcação que aparece na tela para os servidores que operam o sistema. Porém, não é sabida a forma com que são conduzidas.

Os processos prioritários passam à frente de todos os outros processos? Ou somente recebem este tratamento quando o advogado insiste para que seja aplicado esse tratamento? Existe uma métrica de atendimento? Algo como: “para cada “x” de processos prioritários, são movimentados “y” de processos não prioritários?

Em suma, de nada adiantará a alteração no Estatuto do Idoso, se o acompanhamento e processamento dos processos não forem conduzidos por um mecanismo de acompanhamento e de transparência sobre como as varas deverão proceder ao receber o peticionamento de processo com prioridade.

As alterações de lei, bem como a criação de normas que visem garantir os direitos dos idosos, num país que envelhece rapidamente, é fundamental para que o acesso aos direitos, serviços e atendimentos sejam garantidos. Porém, além da construção de normas, a organização do atendimento aos dispositivos legais é vital para que as leis realmente vigorem.

O Brasil acostumou a conviver com leis vigentes que “não pegaram” principalmente pela inércia do poder público na adesão e adequação de suas rotinas. As alterações realizadas no Estatuto do Idoso, precisam “pegar” e de forma urgente. Os idosos aguardam pelo pleno atendimento das suas necessidades e interesses e isto passa, essencialmente, pela organização dos atendimentos prioritários nas esferas dos três poderes, assim como na iniciativa privada.

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Sobre a Autora:

Ariane Angioletti

OAB/SC 31.155
Membro do Instituto dos Advogados de Santa Catarina – IASC
Membro da Comissão do Direito do Idoso da OAB/SC
Membro da Comissão do Idoso do IASC
Conselheira no Conselho Estadual do Idoso – CEI

[email protected]

Artigos de Associados

 Enfrentamento da Violência Contra Idosos

Maria Joana Barni Zucco

O Dia Mundial de Conscientização da Violência contra a Pessoa Idosa (15 de junho) foi instituído pela ONU, em 2006, com o objetivo de discutir publicamente este tema, como forma de prevenção e de enfrentamento desse mal social.

Qualquer ação ou omissão que fere o bem-estar físico e emocional da pessoa idosa, não importa se praticada uma ou muitas vezes, em lugar público ou privado, é uma forma de violência, uma agressão aos direitos do idoso e, portanto, passível de configurar um crime.

Cumpre lembrar que o Estatuto do Idoso não apenas “regula os direitos especiais das pessoas com idade igual ou superior a 60 anos”; ele define ações e omissões e as considera crimes de ação penal pública incondicionada. Ou seja: o titular de uma ação judicial de violência contra idoso é o próprio Estado, no seu papel de tutelar interesses sociais e manter a ordem pública. Mesmo que a vítima perdoe seu agressor ou não queira que a agressão seja denunciada, uma vez conhecida pelo Ministério Público, ela deve considerada.

Lamentavelmente, são muitas as formas de violência contra idosos. A negligência é a campeã, mas há diversos outros tipos de agressões, como a violência física, sexual, abuso financeiro e patrimonial, o abandono, a discriminação social… E, obviamente, em todas as suas modalidades, ocorre também a violência psicológica, pois, qualquer que seja a violência contra o idoso, é agredido também o seu estado emocional.

Constata-se que a violência contra idosos está muito difundida, mas é de difícil combate penal, pois, com frequência, ela ocorre dentro dos próprios lares. Por isso, a vítima não denuncia. Ninguém denuncia! Aliás, com frequência, os agressores sequer assumem que estejam cometendo uma violência… Não raro, os agressores encaram como NORMAIS suas atitudes contra o bem-estar dos idosos.

Diante dessas constatações, estratégias de enfrentamento mais amplas precisam ser traçadas. Ainda que a lei defina como crime essas violências e que a justiça possa puni-las, as crescentes estatísticas demonstram a insuficiência da estratégia punitiva.

Parece claro ser prioritário, dar visibilidade à situação real da violência contra o idoso. Ampliar a consciência (local e mundial) política e social da sua existência. DESNATURALIZAR a sua existência. Para tanto, é preciso que os direitos das pessoas idosas sejam amplamente conhecidos, por toda a sociedade, mas, principalmente, por elas mesmas, para saberem se defender. Além disso, cumpre que sejam conhecidas e divulgadas as penalidades aplicáveis a quem descumprir tais direitos.

Paralelamente, são necessárias ações preventivas que podem ser alcançadas, inicialmente, pela educação intergeracional, com a inclusão de questões sobre o processo de envelhecimento e sobre os direitos dos idosos nos conteúdos escolares. Essa prevenção poderá ocorrer, também, pelo fortalecimento de políticas públicas de orientação e apoio a famílias que abrigam idosos, pela formação de profissionais de saúde, assistência, cuidadores em geral, dentre outras profissões, com formação sobre o fenômeno do envelhecimento e com habilidades para lidar com as limitações dos idosos. Cabe, ainda, investir no cuidado da saúde física, mental e na autonomia da pessoa que envelhece, pois, quanto menor sua dependência, maior sua resiliência e capacidade de se contrapor a violações de seus direitos. Por fim, como parte da prevenção à violência e do fortalecimento do idoso como sujeito de direitos, há também a necessidade de mudança do paradigma familiar que, historicamente, aceita o envelhecimento como algo inexorável, implacável, incomplacente, contra o qual nada se pode fazer… Conhecida e aceita a possibilidade de uma vida longeva, é possível, sim, preparar-se para ela, por meio da educação e de um plano familiar para o envelhecimento.

Por último, sim, as ações corretivas, a aplicação e punição da lei. E para tanto é preciso romper o silêncio. Denunciar toda e qualquer violência ou ameaça de violência contra o idoso. A lei impõe a todos nós, cidadãos, o dever de zelar pela dignidade do idoso, prevenindo e denunciando violações de seus direitos.

Fonte imagem: Freepik.com

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Sobre a autora:

 Maria Joana Barni Zucco

Advogada (OAB/SC 30.863) membro da Comissão do Direito do Idoso da OAB/SC e Conselheira Titular no Conselho Estadual do Idoso – CEI/SC.

E-mail: [email protected]

Artigos de Associados

Reflexões Sobre o Atendimento aos Idosos na Atenção Básica de Saúde

Lilian Suelen de Oliveira Cunha

O processo de transição demográfica em que o Brasil vivencia atualmente impacta diretamente no perfil epidemiológico da população. A elevada prevalência de doenças crônicas não transmissíveis e ao mesmo tempo a persistência no país de doenças transmissíveis conforme expõe Veras (2009) traz uma série de questões cruciais para gestores e pesquisadores dos sistemas de saúde, com repercussões para toda a sociedade, especialmente em um contexto de acentuada desigualdade social, pobreza e fragilidade das instituições.

Neste sentido, o envelhecimento populacional provoca grandes desafios à Saúde Pública, visto as especificidades das necessidades de serviços e cuidados que essa faixa etária necessita. Esse processo de envelhecimento demanda mudanças na família, na comunidade e no contexto dos serviços de saúde.  Dentre essas mudanças, as novas disposições dos arranjos familiares requer um olhar mais atento em que se observa o aumento da proporção de idosos morando sozinhos e/ou dividindo espaço com parentes ou outras pessoas da sua geração.

Destaca-se que na condição de idoso morando sozinho amplia-se a necessidade do cuidado de profissionais na Atenção Primária à Saúde. Estudos mostram que existe associação positiva entre as relações interpessoais e o estado de saúde, indicando que a interação social diminui a associação entre a carga de doenças e sintomas depressivos (ROMERO, 2002). Deste modo, o apoio social reduz a relação entre comprometimento funcional e sintomas depressivos (HATFIELD et al., 2013). Ainda que morar sozinho seja um sinal de independência para as atividades de vida diária, pessoas idosas estão mais propensos a receber cuidado formal, comparativamente àqueles que residem com outras pessoas (CAMARGOS et al., 2011), assim morar sozinho pode-se tornar um indicador de vulnerabilidade.

Nesta perspectiva, acredita-se na ideia do planejamento como um modo racional de apoio à viabilidade de políticas públicas para a população idosa, uma vez que a saúde, como um setor público da sociedade, incorpora e emprega a lógica do planejamento para seus serviços e para a organização do seu próprio sistema de saúde. O planejamento constitui uma possibilidade de aproximação real às necessidades e demandas da população, além de ser uma forma de conjugar aquilo que realmente a população necessita para manutenção de uma vida equilibrada e autônoma na saúde com aquilo que os serviços de saúde ofertam (ABRAHÃO, 2007).

Nesta lógica, o tipo de problema determina o método de planejamento a ser empregado. Assim, no cotidiano das equipes de estratégia de saúde da família, os problemas são de diferentes ordens e exige ações estratégicas para o seu enfretamento. Entre os casos amplos e complexos para as equipes de saúde faz parte a situação de saúde de pessoas idosas. Caberá aos profissionais de saúde, em todos os níveis, de forma intersetorial e multiprofissional, conforme suas competências, prover os meios para alcançar o propósito do planejamento em saúde dos idosos.

Segundo o Ministério da Saúde, por meio da Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa (PNSPI), estabelecida pela Portaria n° 2.558/2016, e considerando a necessidade de que o setor de saúde disponha de uma política atualizada relacionada à saúde dessa população. Com isso, direciona por intermédio de diretrizes: a promoção do envelhecimento ativo e saudável; às ações intersetoriais, visando à integralidade da atenção; provimento de recursos capazes de assegurar a qualidade da atenção à saúde da pessoa idosa; estímulo à participação e fortalecimento do controle social; formação e educação permanente dos profissionais de saúde do sistema único de saúde (SUS), divulgação e informação sobre a PNSPI para profissionais de saúde, gestores e usuário; promoção de cooperação nacional e internacional das experiências na atenção à saúde da pessoa idosa; e apoio ao desenvolvimento de estudos e pesquisas.

Um novo olhar, de cuidado e respeito, deve ser direcionado aos idosos, dando-lhes dignidade. Os profissionais de saúde, em especial os inseridos na Atenção Básica, exercem papel fundamental nessa mudança (MONIER; SOARES, 2016). Corroborando com as autoras ler-se no documento norteador Programa Acompanhante de idosos São Paulo (2012) cabe aos gestores e profissionais da saúde de todos os níveis de atenção do SUS promover a qualidade de vida da pessoa idosa, bem como preservar sua autonomia e independência funcional.

Entende-se que as equipes de saúde na Atenção Básica têm a oportunidade de conhecer a realidade dos indivíduos em seu contexto social e intervir nela, ou seja, são importantes instrumentos na promoção da saúde (CARDOSO et al., 2011). Então, reflete-se de que forma essas equipes podem desenvolver seu trabalho para um idoso morando sozinho? Ampliar o vínculo entre o usuário e a equipe (Estratégia Saúde da Família e Núcleo de Apoio da Saúde da Família) por meio de visitas domiciliares, envolver a comunidade e buscar por familiares no cuidado deste idoso, acolher este idoso na rede de serviços de suporte social, possibilitando um acompanhamento humanizado de sua condição de vida e saúde.

A assistência à saúde da pessoa idosa deve ser baseada na continuidade, em um cuidado integral, uma vez que o atendimento médico individual esporádico e restrito somente às complicações não tem atendido às necessidades dessa população. Para atingir a meta da continuidade da assistência, os profissionais de saúde precisam, portanto, desvencilhar-se do padrão de cuidado isolado, fragmentado, paternalista e autoritário; renovando o método de trabalho e adotando como filosofia o trabalho em equipe interdisciplinar, com visão de totalidade do ser humano, de forma que a pessoa idosa seja vista como um todo, considerando sua história de vida e deu contexto social (MARIN et al., 2010).

A integralidade ampliada à pessoa idosa permeia a articulação do cuidado de cada profissional, de cada equipe e dos gestores. A construção da rede de atenção é fundamental para esse cuidado integral, universal e equânime. Observa-se que mesmo com todas as políticas, leis e ações voltadas para a população idosa, a atenção ainda é incipiente. Portanto, os profissionais da equipe de saúde da família devem estar atentos à mudança do perfil populacional da sua área de abrangência e estabelecer vínculo de forma a garantir uma atenção integral e contínua a esta crescente população.

Fonte imagem: Freepik.com

 

Referências bibliográficas:

ABRAHÃO, A.L. Notas sobre o planejamento em saúde. In.: MATTA, G.C. Políticas de saúde: organização e operacionalização do sistema único de saúde./ Organizado por Gustavo Corrêa Matta e Ana Lúcia de Moura Pontes. Rio de Janeiro: EPSJV / Fiocruz, 2007.

CAMARGOS, M. C. S.; RODRIGUES, R.N.; MACHADO, C.J. Idoso, família e domicílio: uma revisão narrativa sobre a decisão de morar sozinho. Revista Brasileira de Estudos de População, Rio de Janeiro, v. 28, p. 217-30, jan./jun. 2011.

CARDOSO, A.F.et al. Protocolo de atenção à saúde do idoso. Tubarão: Copiart, 2011. 128p.

HATFIELD, J.P.: HIRSCH, J.K.: LYNESS, J.M. Functional impairment, illness burden, and depressive symptoms in older adults: does type of social relationship matter? Int J Geriatr Psychiatry [internet], (28):190-98. Available from: http://onlinelibra ry.wiley.com/doi/10.1002/gps.3808/epdf. 2013

MARIN, M.J.S; et al. Características sócio-demográficas do atendimento ao idoso após alta hospitalar na estratégia da saúde de Família. Rev. esc. Enferm. USP. 2010.

MONIER, E.B.; SOARES, R.R. Saúde do Idoso e a saúde da Família. Caderno de Saúde da Família. São Luís. Universidade Federal do Maranhão. UMA-SUS/UFMA, 2016.

ROMERO, D. E. Diferenciais de gênero no impacto do arranjo familiar no status de saúde dos idosos brasileiros. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 7, n. 4, p. 777-94, 2002.

VERAS, R. Envelhecimento populacional contemporâneo: demandas, desafios e inovações. Revista de Saúde Pública, São Paulo, v. 43, n.3, p. 548-554, 2009.


Sobre a autora:

Lilian Suelen de Oliveira Cunha

Profissional de Educação Física e com Especialização em Residência Multiprofissional em Saúde da Família pela Universidade Federal de Santa Catarina.

E-mail: [email protected]

 

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SAÚDE EMOCIONAL

2.6-Saúde emocional

Nelson Frederico Seiffert

 

2.6.1-O que é emoção

A emoção é um fenômeno complexo, multifacetado, que tem sido definido em muitas maneiras diferentes por diferentes psicólogos. A pergunta, o que é uma emoção depende para quem e quando é feita a pergunta. No linguajar do dia a dia, emoções são frequentemente concebidas como sentimentos, ou espécies particulares de experiências subjetivas, ou sensações corporais que são incluídas em muitas definições de psicólogos. A emoção tem sido caracterizada como reações expressivas, (tais como sorrisos), por reações fisiológicas (como aceleração de batimentos cardíacos), por ligar-se a um comportamento (fuga, ou procura de aconchego), por cognições (como sentimento de injustiça) e por suas funções (defesa por exemplo).

A maioria dos psicólogos concordam que experiências subjetivas, reações expressivas, reações fisiológicas, reações comportamentais, espécies particulares de cognições, compreendem o domínio do que consideram ser a emoção, mas não estão de acordo sobre quais destes componentes é o mais importante, e qual poderia ser usado para formar uma definição do que é a emoção. No entendimento de que é um fenômeno complexo, multifacetado, nenhum de seus componentes pode ser usado isoladamente para uma definição plena do que é emoção. Ao lado de considerar que a emoção consiste em uma experiência subjetiva, relacionada a reações fisiológicas, cognições, comportamentos, reações expressivas, as emoções precisam ser entendidas por suas funções, que tem elevado significado em conduzir nossa vida ao longo do tempo.

Segundo Cornelius (1996) a pesquisa da emoção em psicologia, discerne quatro perspectivas gerais para orientar como definir, estudar e explicar a emoção, a Perspectiva Darwiniana, Perspectiva Jamesiana, Perspectiva Cognitiva, Perspectiva Construtivista Social, Tabela1.

Tabela 1- Quatro tradições teóricas de pesquisa sobre emoção em Psicologia
Fonte: Cornelius, 1996

Outro pesquisador, Strongman (2004), em seu livro sobre “The Psychology of Emotion”, efetuou uma ampla revisão das teorias de diversos autores, que tratam o sujeito através de uma grande diversidade de perspectivas, que tentam explicar os processos envolvidos na expressão das emoções, podendo ser citadas: Teoria Fenomenológica; Teoria Fisiológica; Teoria Cognitiva; Teorias Ambiciosas; Teoria das Emoções Especiais; Teoria Desenvolvimentista; Teoria Social; Teoria Clínica.

A teoria das emoções teve suas origens na filosofia. Os assuntos relacionados ao tema têm evoluído significativamente e a interação entre a emoção e a cognição ganhou grande importância, e os psicólogos estão cada vez mais atentos ao trabalho de filósofos, sociólogos, antropólogos, linguistas, da área das neurociências, cujo desenvolvimento, afetam a forma como a emoção é estudada.

Uma longa tradição filosófica no ocidente, quase que negligenciou considerar a vida afetiva do ser humano. Nós somos, no entanto, seres emocionais e comovidos, seres de emoções. As emoções nos habitam antes de nosso nascimento e nos habitarão no momento de nossa morte. Possuem uma importância considerável para todos aspectos e em todos domínios de nossa vida.

São as emoções que nos tornam sensíveis ao mundo. Elas nos fazem povoar o mundo com outros seres, de coisas, sobre os quais nós somos sensíveis. São elas que preenchem nossos amores, nossas amizades, nossas intimidades, que enriquecem nossos pensamentos, que nos motivam e nos fazem agir, lutar ou renunciar. Elas irrigam nossas relações, nossas criações, nosso desejo de viver. Elas são a seiva do ser.

As emoções nos ligam aos outros. E porque nós estamos em contato permanente com os outros por nossa simples presença, pelos nossos sentimentos, por nossos corpos, por nossas criações, por nossas ações, por nossa memória (que permite evocar aqueles que já não estão mais presentes), de estar em ligação com pessoas ausentes, nós somos seres de relacionamento. Por sermos seres de relação, nós somos seres de apego, praticamos com alguns de nossas semelhantes ligações particulares de afeição, de amor de indiferença e igualmente de ódio. Através destas ligações nós somos frequentemente suportados e nos suportamos. Por estas ligações, uma parte de outras pessoas vive em nós e uma parte de nós vive em outras pessoas. Por estas ligações, nós compartilhamos frequentemente com outros, o peso da confrontação com o envelhecimento e a finitude (Gineste & Pellissier, 2014).

2.6.2-Neurofisiologia da emoção

O conhecimento corrente considera que existem mecanismos neurofisiológicos que estão subjacentes a maioria das emoções. Nosso conhecimento sobre o cérebro e o sistema nervoso tem evoluído significativamente nas últimas décadas. A Neurociência encontra-se entre as ciências que evoluiu mais rapidamente no conhecimento científico contemporâneo, e está bastante evidenciado que o sistema nervoso autônomo desempenha um papel importante na experiência da emoção.

O sistema nervoso está convencionalmente dividido em duas maiores áreas, o Sistema Nervoso Central, que inclui o cérebro, a medula espinhal, e o sistema nervoso periférico, o qual por sua vez, está dividido no sistema somático, que consiste nas fibras nervosas que transportam e recebem impulsos do cérebro aos músculos, e o sistema nervoso autônomo, que consiste em fibras nervosas que transportam e recebem impulsos do cérebro aos diferentes órgãos como o coração, pulmão, estômago, glândulas. Nervos periféricos também transportam informações dos órgãos dos sentidos, músculos e glândulas de retorno ao cérebro.

O sistema nervoso autônomo possui esta designação, porque seus vários componentes controlam as funções automáticas de glândulas e órgãos que são necessários a sobrevivência do indivíduo. Nós não temos, por exemplo, o controle consciente do comando do batimento cardíaco, do enchimento de nossos pulmões através da respiração. O sistema nervoso autônomo efetua estas operações para nós, e pode-se dizer, que ele mantém nosso corpo em estado de equilíbrio (homeostase) e constantemente ajusta o nível de atividade do nosso sistema de suporte da vida em resposta às demandas do ambiente.

O sistema nervoso autônomo é funcionalmente e anatomicamente dividido em dois sistemas, o sistema nervoso simpático e o sistema nervoso parassimpático. Convencionalmente, o sistema nervoso simpático parece servir para excitar os vários órgãos sob seu controle. Durante exercícios pesados ou em situação em que o indivíduo for subitamente surpreendido por um estímulo que induz ao perigo, é o ramo do sistema simpático que acelera o batimento cardíaco do coração. Responde como um todo, de forma que a maior parte dos tecidos inervados por nervos do sistema simpático são simultaneamente influenciados.

O sistema nervoso parassimpático, por outro lado, é usualmente considerado por exercer uma influência modulatória ou inibitória sobre órgãos excitados pelo sistema simpático. Faz com que o coração volte ao seu batimento normal após ter ocorrida a excitação que causou um aumento da frequência de batimentos cardíacos. No entanto não atua apenas em oposição ao sistema simpático, mas atua especificamente sobre outros órgãos, como no caso das glândulas lacrimais, que estão mais sob controle do sistema parassimpático.

A ativação pelo sistema simpático e parassimpático de órgãos que são inervados por ambos sistemas, pode ter efeitos muito diferentes e não necessariamente opostos. Em contraste ao sistema simpático, o parassimpático tipicamente exerce sua influência individualmente sobre órgãos alvo, e não induz uma reação geral na maior parte dos tecidos e órgão inervados, como no caso do sistema simpático.

Os sistemas nervosos, simpático e parassimpático, são o “hardware” que torna possível tipos de alterações corporais que são consideradas como componentes essenciais da emoção. É bem conhecido que, o sistema nervoso autônomo, particularmente o ramo do sistema simpático, e com isto, as vísceras (coração, pulmão, fígado, etc.) respondem como um todo durante situações que envolvem situações de estresse agudo ou de perigo. Também tem sido constatado que diferentes emoções são acompanhadas por diferentes padrões de resposta corporal e que, provavelmente, corresponde a necessidades específicas do corpo, quando se encontra em uma situação particular de emoção. Tais padrões ocorrem contra cenários de fundo de mais “ativação simpática difusa”, que acompanha a resposta do corpo a muitos tipos de diferentes situações, que reclamam por algum tipo de ação por parte do indivíduo (Cornelius, 1996).

2.6.3-Saúde emocional e psicologia das emoções

De acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde) a saúde emocional é um estado de bem-estar onde o indivíduo realiza suas próprias habilidades, lida com os fatores estressantes normais da vida, trabalha produtivamente e é capaz de contribuir com a sociedade.

O cérebro é o centro do controle do movimento, da fome, do sono, da sede e de quase todas as atividades vitais necessárias à sobrevivência. Todas as emoções, como o amor, o ódio, o medo, a ira, a alegria e a tristeza, também são controladas pelo cérebro. Ele está encarregado ainda de receber e interpretar os inúmeros sinais enviados pelo organismo e pelo exterior. O envelhecimento satisfatório não é apenas uma necessidade humana, mas depende da forma como os indivíduos conduzem o processo de envelhecimento. Em princípio, medidas de auto-gestão contribuem para o quadro individual de saúde corporal e psíquica ao longo de toda a vida, mas em geral, as pessoas apenas efetuam controles preventivos ou tratamento, quando afetados por algum problema específico.

Pessoas idosas são por regra geral atingidas por perdas de recursos, sejam financeiros, sociais ou em diversos campos da saúde funcional física ou psíquica. Neste aspecto é importante a pessoa considerar necessária uma abordagem ampla de autogestão, direcionada a manutenção de suas aptidões gerais, funcionalidades orgânicas e psíquicas e adoção de medidas que contribuam para o seu bem-estar, inclusive o bem-estar emocional. No entanto, este tipo de intervenção, previsto pela Gerontologia Aplicada, é ainda pouco comum, e é possível propor programas que incorporem aspectos gerais de auto-gestão direcionados a manutenção da saúde, autonomia e do bem-estar psíquico e emocional (Steverink, 2012).

Para este objetivo concorre um importante campo de estudos e pesquisa abrangido pela Psicologia das Emoções, que trata do estudo científico das emoções (Srongman, 2004).

Uma emoção é um estado mental e fisiológico associado a uma ampla variedade de sentimentos, pensamentos e comportamentos. Trata-se de um primeiro fator determinante do sentimento de bem-estar subjetivo e parece desempenhar um papel central em muitas atividades humanas. Resultante desta importância, o tema vem sendo explorado, em muitas, senão na totalidade das ciências humanas. Existe, contudo, muita controvérsia sobre como as emoções são definidas e classificadas. A palavra emoção deriva do latim “emovere”, que significa, e: para fora, movere passar”.

Muitos pesquisadores distinguem sentimento de emoção, onde sentimento refere-se à experiência subjetiva da emoção. Alguns pesquisadores acreditam que emoções podem ocorrer inconscientemente, e, portanto, que a emoção é um fenômeno mais geral do que sua sensação subjetiva. Uma segunda distinção incide sobre a diferença entre a emoção e a causa da emoção. Alguns teóricos argumentam que pelo menos algumas emoções podem ser causadas sem qualquer pensamento prévio ou atividade cognitiva e apontam para reações imediatas a um estímulo externo como o medo, a uma ameaça à segurança, a percepção de um odor familiar, etc. Há um debate entre fundamentos cognitivos e não cognitivos sobre o processo de formação das emoções. A teoria somática da emoção alega que respostas corporais são essenciais para emoções e que podem ser constatadas por provas neurológicas. Argumenta-se que a experiência emocional é, em grande parte, devida à experiência de mudanças corporais, que poderiam ser viscerais, posturais ou expressas por reações faciais. Consideram que o evento de uma nova situação conduz a um estado corporal alterado. A percepção destas mudanças corporais leva a manifestação de emoções como choro, culpa, ciúme raiva, irritação, etc. As teorias que argumentam que a atividade cognitiva, sob forma de decisões, avaliações ou pensamentos precedentes é necessária para que ocorra uma emoção consideram o fato de que as emoções são sobre alguma coisa ou têm intencionalidade, podendo a atividade cognitiva ser consciente ou inconsciente.

Muitas disciplinas diferentes têm produzido trabalhos sobre emoções e incluem a psicologia, a neurociência, sociologia, psiquiatria, antropologia, etologia, arqueologia, economia, criminologia, direito, ciência política, história, geografia, educação, filosofia, linguística, literatura, comunicação.

http://redepsicologia.com/psicologia-das-emocoes

2.6.3.1-Neuropsicologia e o comportamento emocional

No campo de estudos da Psicologia das Emoções a Neuropsicologia é a ciência que pesquisa a relação entre o cérebro e o comportamento humano. Tem como objetivo estudar e compreender o comportamento humano considerando o funcionamento das diversas estruturas e áreas do sistema nervoso. Estuda as funções corticais superiores, como a atenção, a memória, a linguagem, o raciocínio lógico-matemático, a percepção visual, as funções executivas, entre outras funções cognitivas.

A Neuropsicologia considera “a participação do cérebro nessas funções mentais como um todo, no qual as áreas são interdependentes e inter-relacionadas, funcionando comparativamente a uma orquestra, que depende da integração de seus componentes para realizar um concerto musical”.

Após a década de 90, chamada de Década do Cérebro, os avanços tecnológicos possibilitaram os estudos de neuroimagem associados ao comportamento, o desenvolvimento de técnicas de reabilitação e a divulgação científica por meio de diversas mídias. Esses fatores, associados ao aumento da formação e capacitação de psicólogos na área, são fatores que promoveram uma maior visibilidade da Neuropsicologia como se observa atualmente.

As pessoas, quando se encontram numa determinada situação extrema de condição emocional, sua percepção tende a variar de acordo com a experiência por elas vivenciadas. Pode-se dizer assim, que os processos mentais, memória e outros aspectos podem influenciar a interpretação dos dados percebidos. Na área de estudos sobre a Neuropsicologia, a função cerebral que atribui significado a estímulos sensoriais tem como base a percepção, através de vivências passadas. A partir do estímulo sensorial, o indivíduo organiza e interpreta as suas sensações para atribuir significado ao meio em que está envolvido. A percepção pode ser estudada precisamente a nível biológico e fisiológico.

Na Psicologia, o estudo da percepção é de extrema importância porque o comportamento das pessoas é baseado na interpretação que fazem da realidade e não na realidade em si. Neste contexto, a percepção do mundo é diferente para cada um de nós, cada pessoa percebe um objeto ou uma situação de acordo com os aspectos que têm especial importância para si própria. Determinados especialistas na área da Psicologia, defendem que, ao deslocar-se ao longo do curso de vida, as pessoas criam um “modelo mental” de como funciona o mundo. Ou seja, um mapa sensorial que o modelo provoca na mente, mas que é temporário, pois somos constantemente bombardeados por novas informações. A medida que acumulamos novas informações.A nossa percepção tende a se alterar.

O processo de percepção inicia essencialmente com a atenção. Os fatores externos mais importantes da atenção são a intensidade, ou seja, a nossa atenção é particularmente despertada por estímulos que se apresentam com grande intensidade ou contraste. Isto significa que a atenção será muito mais estimulada quanto maior for o contraste existente entre estímulos.

Os fatores internos que mais influenciam a atenção são a motivação, ou seja, ponderamos mais as situações que nos motivam e nos dão prazer do que as que não nos interessam. A vivência passada, algo já percepcionado, faz com que estejamos mais atentos ao que já conhecemos e entendemos. O fenômeno social que explica que a nossa natureza social faz com que as pessoas de contextos sociais diferentes não prestem a mesma atenção aos mesmos objetos.

A complexidade das emoções reside no significado que atribuímos às pessoas, aos acontecimentos e aos lugares, que depende de nossos valores, princípios e da nossa história pessoal.

http://esad.ipleiria.pt/PDMIII/3080031/sitegrupo/investigação/neuropsicologia.ht

2.6.4-Autocontrole e bem-estar psíquico

Quando as pessoas envelhecem são confrontadas por modificações e perdas, as quais podem ser uma ameaça para a saúde e bem-estar psíquico. Está bastante estabelecido pelos estudos e pesquisas, que as medidas de autocontrole destas mudanças dependem da capacidade individual e da forma como estas intervenções são conduzidas. Esta capacidade individual de autocontrole e gestão emocional varia entre os indivíduos e pode ser melhorada sensivelmente por medidas de intervenção. A maneira de apoiar pessoas idosas para se manter em boas condições psíquicas significa em primeiro lugar estimular a aptidão da pessoa idosa para zelar pelo seu bem-estar, e em segundo lugar, orientar as pessoas na realização de um treinamento de autogestão do envelhecimento.

No campo psíquico estão disponíveis diversas intervenções de autogestão que estão orientadas para que as pessoas possam lidar com determinados problemas crônicos que estão afetando a saúde corporal, como no caso de reumatismo e diabete.

Na visão da autogestão, dois aspectos são considerados relevantes, além de o indivíduo ter que lidar com o tratamento da própria doença. Primeiro é considerado com clareza, que pessoas idosas não precisam estar em plenas condições de saúde para lidar com problemas específicos de saúde, e que, simultaneamente precisam atender inúmeras exigências psíquicas, sociais e materiais do dia a dia. Por conseguinte, as capacidades de auto-gestão são necessárias para atender estes diversos desafios.

Em segundo lugar, as perdas pelas quais as pessoas são confrontadas trazem dificuldades para o processo de autogestão. Com isto as demandas tornam-se mais difíceis de atender, as habilidades para sua consecução se reduzem e o questionamento que se faz é o que deve ser feito nestas condições.

O envelhecimento implica em geral na redução das reservas e de recursos individuais em diversos campos (saúde, financeiros, sociais) e precisam de fortalecimento para compensação destas perdas. Por exemplo, a perda de papéis sociais pode exercer uma influência negativa sobre a disposição de procurar relacionamentos, que por sua vez deprime a motivação do indivíduo e influencia a sua saúde psíquica. Isto pode então conduzir a uma perda subsequente de recursos ligados a atividades sociais.

Neste caso, uma pequena perda relativa ligada a um determinado papel social pode levar a uma espiral de comprometimento de perdas de outros recursos no campo das condições psíquicas.

A redução das reservas gerais de recursos de saúde torna as pessoas idosas, em seu conjunto, mais vulneráveis física e psiquicamente e reduz também suas habilidades para a autossuficiência. É o caso por exemplo, da pessoa que sofre redução de mobilidade, o que passa a restringir sua capacidade de sair de casa, o que pode levar ao isolamento e solidão. A solidão por sua vez, conduz a sintomas de depressão que afetam a motivação para agregar novas formas de mobilidade e com isto, desenvolver oportunidades de relacionamento.

Como consequência, as pessoas perdem o impulso e a iniciativa para agir. Seu horizonte de tempo se reduz, a disposição para investir em atividades diminui e reduz-se o sentimento de autoconfiança e autogestão sobre aquelas competências para as quais precisa manter-se ativa na condução das tarefas do seu dia a dia. Em seu conjunto as modificações relacionadas ao envelhecimento podem se acumular e interagir na redução da capacidade de autogestão, exatamente no momento em que esta capacidade for especialmente demandada.

O que os estudos demonstram é que as pessoas podem se beneficiar de intervenções de autogestão, que não apenas estejam concentradas sobre problemas específicos de saúde, mas focados em aspectos centrais do bem-estar, os quais conduzem a manutenção ou recuperação das habilidades que estão ligadas a autonomia e satisfação com a vida, ainda que afetadas por inabilitações decorrentes do envelhecimento. O que então, as pessoas idosas necessitam fazer, para conduzir um processo de autogestão do seu processo de envelhecimento na busca do bem-estar e como podem ser capacitadas para isto?

Como uma primeira exigência, direcionar a sua atenção para seus problemas psicossociais, além de apenas direcionar o foco para seus problemas de saúde corporal. Existem evidências de que a condução de intervenções ligadas a auto regulação psíquica traz melhoras sobre efeitos da depressão e solidão, atua sobre indicadores do bem-estar psíquico, satisfação com a vida e autoconfiança.

Pelo fato de que as pessoas desejam manter o controle sobre a sua própria vida e bem-estar o maior tempo possível, o apoio a pessoas idosas através de intervenções que ofereçam treinamento para capacitação em autogestão são uma ferramenta valiosa para a manutenção de sua saúde física e psíquica. Os dados mostram que o apoio de intervenções orientadas psicossocialmente ajuda a poupar recursos e são consideradas estratégias para prevenção e melhora da saúde de pessoas idosas. Isto também significa de que pessoas ainda em idade jovem devam apreender e passar a conduzir adequadamente a gestão de seus recursos pessoais. Quando envelhecerem, terão a possibilidade, pelo aprendizado realizado, de melhor gerir a manutenção de seus recursos de saúde e serão os gestores de seu próprio bem-estar na fase de envelhecimento (Steverink, 2012).

A proposição de orientações gerais de autogestão aplica-se a maioria das faixas etárias, embora algumas pessoas encontrem-se em estágios onde é indispensável a interferência de um profissional, mas quando não for o caso, pode-se evitar que muitos problemas surjam no decorrer do curso de vida, se forem adotadas no dia a dia. São exemplos de comportamentos que atuam no autocontrole e bem estar psíquico: melhore o pensamento; seja otimista; faça o que você gosta; evite o isolamento; tenha sonhos e objetivos.

Melhore o pensamento. O pensamento atua como o ponto de partida. Pensamos, sentimos e depois exteriorizamos. Nossas emoções vêm do pensamento. Se alimentarmos hábitos negativos, pensamentos negativos, eles irão com o tempo se tornar uma realidade, seja através de palavras e ações. Se você quiser alcançar saúde mental e emocional evite o negativismo.

Seja otimista. Adote pensamentos de esperança e otimismo, mesmo quando a situação não for favorável. Lembre-se que este é um processo diário e que deve ser mantido em todos os segmentos, seja no lar, no trabalho ou em sociedade. Da mesma maneira como ficamos viciados com o negativismo, isto também acontece com o positivo, basta praticar. Faça o que você gosta. É preciso ter satisfação na vida. Ela é uma emoção que faz com que a pessoa sinta bem-estar, seja para si mesma ou pelos outros. Manter um hobby, desenvolver uma atividade física, sair com os amigos ou com a família, todos são hábitos que geram satisfação e vontade de desfrutar os pequenos prazeres da vida.

Evite o isolamento. A solidão é uma experiência que deve ser vivida dentro de seus limites e exige uma grande maturidade para ser experimentada sem danos. Mesmo que a pessoa aprecie momentos de solidão, nunca deverá deixar ultrapassar uma certa normalidade. Procure pessoas, faça amigos, esteja com pessoas, converse, procure se distrair.

Tenha sonhos e objetivos. Os sonhos alimentam nossa alma, faz a pessoa ter vontade de viver e ter predisposição para a felicidade. Pense no que você quer conquistar, anote suas metas, estabeleça prazos. Ocupe-se com seus sonhos e corra atrás deles. Na verdade, existe muitas formas de prevenir problemas de ordem mental e emocional. O que importa é ter a consciência de que o cuidado é a chave para uma boa saúde, seja corporal, psíquica ou emocional.

2.6.5-Intervenção na depressão

Depressão são perturbações psíquicas, nas quais os danos manifestam-se por falta de disposição para desenvolver atividades, perda da alegria de viver, vazio emocional, perda de interesse e surgimento de fadigas corporais que tendem a ocorrer simultaneamente.

Em pessoas idosas os sintomas da depressão não são fundamentalmente distintos daqueles que ocorrem em pessoas mais jovens. No entanto, pela probabilidade de estar incidindo juntamente com outras doenças corporais e em uma fase natural de desconstrução cognitiva pelo envelhecimento, o seu diagnóstico torna-se mais difícil.

Em pessoas idosas, muitas vezes certos sintomas corporais como perturbações do sono, disfunções gastrointestinais, deficiência de memória, medo, são formas sintomáticas que acompanham o quadro clínico da depressão. Existem inúmeros estudos que mostram que deficiências corporais como redução hormonal, desconstrução cerebral e doenças neurológicas se encontram associadas a depressão. O diagnóstico que separa os limites entre uma doença degenerativa de uma depressão é, portanto, dificultado.

Para a caracterização de perturbação depressiva em idosos, contribuem fatores como episódios depressivos anteriores, medo de falta de apoio, manifestação de queixas, déficit cognitivo, falta de atenção e de orientação, falha em testes de desempenho, acordar com pensamentos pessimistas, vacilação e falta de equilíbrio, redução da iniciativa, perturbações do apetite e pensamentos de morte.

Na população acima de 70 anos ocorre uma prevalência de depressão de 9% a 10%. Diagnósticos subclínicos e com menor precisão de avaliação detectam depressão em 18% a 20%. Em interação com outras doenças crônicas, e em pessoas debilitadas, com 75 anos ou mais, o número eleva-se para 35% a 40%. Em regra, as formas de depressão mal diagnosticadas são tratadas de forma errônea, o que pode levar a se tornar crônica e contribuir para a piora de outras perturbações corporais. Com a piora depressiva as tendências de suicídio se elevam. Para evitar situações avançadas de depressão o tratamento envolve o uso de antidepressivos, hormônios, corticosteroides e medicamentos adotados no tratamento da doença de Parkinson.

O risco para o desenvolvimento da depressão no envelhecimento eleva-se quando um episódio depressivo atingiu o indivíduo anteriormente, como a incidência de uma doença e a ocorrência de restrição funcional. Perdas recentes de pessoas próximas, de papéis sociais, incapacidade de execução de tarefas e funções, favorecem a depressão. Pessoas com interesses reduzidos, com baixa atividade física e sem objetivos relacionados a atividades sociais são mais predispostas a depressão. São mais susceptíveis pessoas que detém pouca flexibilidade e concepções rígidas, são perfeccionistas e tem uma visão fatalista, o que faz com que tenham dificuldades de se adaptar a modificações no modo de vida que são impostas pelo envelhecimento.

O conceito desenvolvido para o tratamento da depressão propõe o aconselhamento como forma de fortalecimento psicológico para redução dos sintomas. O aconselhamento positivo é efetuado através da busca de influenciar o pensamento da pessoa depressiva. Esta teoria fundamenta-se na intervenção psicológica e está de acordo com a teoria que orienta uma forma de envelhecimento exitoso. É denominado de “Otimização Seletiva com Compensação” –SOK, proposto por Baltes & Baltes, 1990, citado por Hautzinger, (2012). A Seleção foca na escolha, na mudança de objetivos e no modo de conduta ou atitude individual. A Otimização baseia-se no fortalecimento e gestão de meios e recursos individuais orientados a objetivos. A Compensação objetiva a consecução de treinamento para uso de novos meios substitutivos ou de atuação.

A partir do conhecimento desenvolvido e estudos teóricos realizados foi possível estabelecer um programa para intervenção psicológica de perturbações depressivas em idosos. O programa foi proposto para ser desenvolvido para trabalho em grupo, pode ser adaptado através de uma estrutura de módulos, os quais podem variar em função dos diferentes problemas depressivos identificados, abrangendo etapas: aprendizado; delimitação dos problemas; formulação de objetivos para o grupo alvo; definição de tarefas como a condução de um protocolo diário de atividades; a complementação da lista de problemas e objetivos.

Um exemplo de intervenção psicológica (Psicoterapia) em grupos, usando uma estrutura de módulos é apresentada abaixo:

Módulo 1
Duas a três seções em sala de aula
Cumprimentos, se conhecer, mediação conciliatória, problema, análise de objetivo


Cumprimento e apresentação. Estabelecer subgrupos. Explanação individual da experiência pessoal de cada participante e de sua compreensão sobre a depressão. Trabalhar as explanações para evidenciar a espiral depressiva, sua interação com pensamentos, sentimentos, conduta, com foco em exemplos. Levantar a importância da prática de exercícios de controle da depressão dentro e fora da sala de aula. Estabelecer uma lista de problemas para cada um dos participantes, estudar e estabelecer os limites dos problemas. Formular objetivos para o grupo. Tarefa de casa (disposição para executar tarefas, conduzir um protocolo diário, definir problemas e complementar a lista de objetivos).


Módulo 2
Três a seis seções em sala de aula
Atividades diárias agradáveis e sua ação sobre a disposição


Troca de experiências para um protocolo diário para uma boa disposição. Introdução do tema “Atividades e Sentimentos”, bem como sobre o significado de tarefas diárias agradáveis. Preenchimento de uma lista e valoração de atividades agradáveis e incluir estes temas agradáveis no dia a dia. Manter atividades e tarefas diárias. Definir os fundamentos para reconhecimento da má disposição. Buscar estabelecer suporte para “um dia anormal”, ou seja, a troca de tarefas e incluir tarefas agradáveis. Desenvolver um plano semanal e estabelecer consigo mesmo “um acordo” para desenvolver atividades agradáveis. Protocolo de atividades: conduzir um plano semanal, incluir na lista pessoal um aumento da quantidade de tarefas agradáveis na agenda diária. Introduzir o tema “pensar e sentir”. Plano semanal de tarefas de casa: plano semanal, protocolo de disposição, protocolo de condução de tarefas diárias.


Módulo 3
Duas a três seções
História de vida e reminiscências


Apresentação, relato de sua própria história de vida, suas experiências, crises, as experiências positivas e negativas ao longo do curso de vida, infância até a velhice. Nela situa-se o ponto central das boas experiências e o que foi alcançado de bom e obtido êxito. As boas experiências e os objetivos não alcançados na condução da vida são ordenados em uma lista.


Módulo 4
Três a seis seções
Pensamentos positivos e negativos que influenciam o julgamento e o entendimento do estado de saúde


Introduzir o tema “Pensar e Sentir”. Reconhecer pensamentos negativos e denomina-los, achar pensamentos positivos. Fazer uma lista de pensamentos positivos e exercitar a lista de pensamentos positivos. Adotar uma técnica de controle de pensamentos. Quebrar pensamentos negativos. Elevar os pensamentos positivos através de cartões dispostos no ambiente para sua lembrança frequente, o que leva a um maior controle de estímulos. Tarefas de casa: protocolo de estímulos, protocolo de tarefas diárias, revisar os cartões de pensamentos positivos. Incorporar técnicas de controle de pensamentos. Apreender meios para mudar pensamentos que alcancem (se anteponham) a pensamentos negativos. Técnica pensamento sentimento (EbG-Technik). Treinar este protocolo que procura pensamentos alternativos e sua ação sobre o entendimento do julgamento do estado de saúde.

Valoração da experiência com a técnica e introdução no tema “Competência Social e Opinião”. Entendimento do que é mais seguro ou menos seguro. Em que medida é possível manter uma conduta segura. Reconhecer falhas de conduta. Tarefa de casa: protocolo de disposição, e de tarefas diárias. Exercitar o protocolo EbG. Auto-observação de um comportamento social inseguro.


Módulo 5
Três a seis seções
Apreender conduta social competente


Auto-observação de conduta social insegura e nela recuperar e sumarizar os resultados do módulo 4. Trabalhar situações típicas para conduta social insegura. Desempenhar papéis no grupo. Relatório/apresentação de condutas efetuadas. Treinar melhoras. Apreender autoconfiança através de exercícios e administração de problemas. Conduzir papéis (teatro). Dar relatórios. Experimentar melhoras. Controle da disposição. Treinar autoconfiança em diferentes situações. Estabelecer novos contatos. Exercitar a simpatia. Exercitar e desempenhar jogos de papéis. Trabalho de casa: protocolo de disposição e de confiança em situações sociais. Agregar novos contatos.


Módulo 6
Duas a três seções
Tempo para o fim do programa. Passos adiante e incorporação de bons resultados


Relato das tarefas de casa e experiências, recuperação e sumarização do módulo anterior. Olhar para trás e verificar o atingimento de objetivos e refletir sobre os passos adiante. Como posso eu guardar o que aprendi e assegurar sucesso, lidar com crises, organizar-me para crises (plano de emergência). Relatório e crítica do programa grupal. Agradecimentos e encerramento.


Atualmente é considerado que perturbações depressivas em pessoas com idades avançadas podem ser tratadas com perspectivas de sucesso através de intervenções psicológicas. Falta no entanto, um maior volume de estudos terapêuticos baseados em pesquisas de longo prazo e diferentes métodos de controle. Ainda não está claro quais tipos de pacientes idosos se beneficiam especialmente de terapias de conduta cognitiva, quais complementações medicamentosas precisam ser adotadas e em quais pacientes uma psicoterapia é contraindicada. Para estas questões os trabalhos de pesquisa até o presente possuem apenas indicações preliminares, embora sejam encorajadoras para oferecer apoio ao paciente idoso depressivo.

2.6.6-Intervenção em perturbações causadas por medo

Para caracterização da perturbação por medo é necessário um diagnóstico cuidadoso. Nem todos os sintomas de medo preenchem o critério de uma perturbação ligada ao medo, mas uma reação a diferentes motivos que se ligam ao envelhecimento.

A prevalência de perturbações do medo é difícil de se caracterizar, já que os dados epidemiológicos mostram bastante variabilidade, sendo mais frequentes ocorrências genéricas.

A forma terapêutica de tratamento do medo é medicamentosa. Quando for conduzido um tratamento psicoterapêutico, então, por regra, é escolhida uma terapia cognitiva. O foco central é a quebra da manutenção da perturbação e o procedimento terapêutico deve ser estabelecido para condições individuais da pessoa afetada.

Com o avanço da idade é frequente para muitas pessoas a preocupação com sua própria saúde e surgem pensamentos sobre a finitude, ocorrem perdas de pessoas amadas e a confiança sobre o seu ambiente e seus recursos passa a diminuir afetando sua autoconfiança. Todas estas experiências podem ligar-se a sentimentos de medo, que em pessoas idosas deveriam ser examinadas sobre suas fundamentações que podem ser nominados como:

-Estar ligados a uma doença corporal.
-Efeito colateral decorrente do uso inadequado de medicamentos.
-Como sintoma de uma perturbação específica, como perturbação de pânico ou medo de estar sozinha (agorafobia).
-Não ser específica, mas generalizada e ligada a impossibilidade de solução.

Para caracterização da perturbação é necessário que sejam formuladas perguntas ao paciente e de cujas respostas é possível adotar medidas adequadas de controle do medo. Intervenções psicoterapêuticas são então aplicadas quando a perturbação se matem em sua intensidade e não mais sejam reguláveis e poderem ser tratadas para sua eliminação.

Medos intensivos e clinicamente relevantes não são raros em pessoas idosas, embora sintomas subclínicos sejam manifestações mais frequentes. A frequência para tais manifestações é muito variável e a prevalência média atinge cerca de 20% de pessoas idosas e as mulheres são mais afetadas que os homens e sua ocorrência é mais frequente em pessoas com idades entre 65 a 75 anos. Perturbações atuam raramente sozinhas, mas junto com diversas morbidades, sobretudo associadas a depressão e pânico.

A ocorrência prévia de uma perda afetiva é um fator de risco para o desenvolvimento de uma perturbação por medo. Outros fatores de risco para o desenvolvimento clínico são, sobretudo, doenças, más condições corporais gerais ligadas a restrições funcionais. Somam também ocorrência de perdas e falta de apoio social, rupturas críticas e solidão podem levar a perturbações por medo.

Com fatores psicológicos de risco estão a baixa autoestima a baixa competência para reação para o domínio do medo.

A maioria das perturbações do medo no grupo de pessoas idosas é tratada por medicamentos. Muito frequentemente são receitados “Benzodiazipina”, a qual age sobre as perturbações do medo, mas leva ao risco de dependência, que justamente é constatado em pessoas idosas. Também medicamentos que são usados em doenças depressivas podem ser empregados no tratamento do medo, como por exemplo “Duloxetin” ou a anticonvulsivos como “Pregabalin”. Estes medicamentos são aplicados de forma mais intensiva em situações de medo não identificadas e para formas generalizadas de perturbações por medo.

Apenas em uma parte de idosos com perturbações é necessária uma intervenção por ajuda psicoterapêutica por poder estar correlacionada a um conjunto de fundamentações como:

-Deve ser considerada a comorbidade associada a outras doenças psíquicas, sobretudo depressão e também doenças físicas.
-Em muitos casos os sintomas estão cronificados.
-Com o avanço da idade pode ocorrer uma redução da capacidade cognitiva, de forma que para passos específicos da terapia será necessário incluir um plano de tratamento mais alongado.
-Jovens e idosos são afetados por características diferentes do medo, o que influencia a forma de terapia. Por isto são utilizadas diferentes formas de questionamentos existenciais e experiências de perdas em idosos, os quais estão no princípio da vivência do medo, o que é distinto, no caso de pessoas jovens.
-Pessoas idosas apresentam outras exigências para suporte da terapia, cuja perturbação, por exemplo, pode estar ligada a conflitos familiares.
-Para pessoas idosas uma terapia transparente, estruturada, orientada a objetivo é importante para a redução ou eliminação da perturbação e manter esta condição modificada.

A intervenção psicoterapêutica mais frequente no medo em idosos é a “Terapia de Conduta Cognitiva” (KVT- Kognitive Verhaltung Terapie) que preenche critérios de estruturação e transparência e é conduzida em diversas etapas e passos sucessivos:

1-Psicoeducação sobre a perturbação.

Informações sobre o quadro da perturbação são levantadas e mediadas, tendo por objetivo melhor ordenar os sentimentos próprios do medo e reforçar a normalização da vivência subjetiva. Os pacientes são orientados a observar e registrar seus próprios sentimentos de medo e com respeito aos efeitos fisiológicos dos pensamentos, e de sua conduta sobre o seu controle. É esperado que seja possível estabelecer um objetivo de terapia pessoal.

2-Treinamento de descontração.

O aprendizado de medidas de desconcentração é um meio conhecido de combate ao medo. O relaxamento progressivo da musculatura é a melhor forma de controle, domínio, o qual é fácil de ser aprendido pelos idosos e que pode apresentar uma ação eficaz e fácil de ser vivenciada.

3-Reestruturação cognitiva.

Sobretudo devem ser introduzidas auto verbalizações orientadas ao domínio do medo considerando avaliações e valorizações que ajudem a reduzir os sentimentos de medo. Neste caso podem ser adotadas as estratégias KVT (Terapia de Conduta Cognitiva) como “técnicas de corte” dos sentimentos de medo. Esta também pode ser adotada como medida preventiva. Todas estas medidas devem ser conduzidas da forma mais concreta possível e usadas como meios de ajuda para trazer descontração e regularização cognitiva da pessoa idosa.

4-Treinamento para solução de problemas específicos.

Um apoio orientado a objetivo para o domínio racional de problemas do dia a dia pode ser adicionado, para solucionar e eliminar sentimentos potenciais de medo.

5-Ativação de recursos.

Deve ser dada atenção na terapia a uma ativação do uso de recursos individuais previamente disponíveis e também o uso de competências disponíveis. Para as perturbações de medo no método KVT são colocados diversos pontos principais. Em diversos problemas o ponto central situa-se no estabelecimento da conduta, que deve recuar para o ponto de eliminação de situações potenciais de medo. Aqui coloca-se a questão sobretudo de exercícios, os quais buscam selecionar as situações de causa do medo, em graus de graduação de dificuldade. Com isto são selecionadas áreas que podem ser levantadas e atacadas para sua eliminação. Em todos os exercícios de confrontação, a terapia serve a pessoa como um modelo de confrontação, com o qual os pacientes aprendem a se adequar a seus próprios medos, a conduzir concretamente seu controle e a superá-los.

No tratamento da forma de medo generalizado estão disponíveis em primeiro lugar estratégias de reestruturação cognitiva comportamental que deve ser aplicado através de avaliação apoiada na realidade. Como nas outras perturbações do medo o exercício de descontração tem um significado especial, para que seja possível proteger o paciente de efeitos corporais adversos resultantes do sentimento de medo.

É importante que ocorra uma adaptação flexível das medidas terapêuticas às possibilidades individuais de pacientes idosos, algo como um aprendizado e uma ajuda a memória (Kämmerer, 2012).

2.6.7-Intervenção através psicofármacos

Perturbações afetivas, em especial depressão, pertencem as mais frequentes doenças na população. Exatamente em idade avançada ocorre uma maior incidência de sintomas depressivos. A depressão em pessoas idosas, não raro, é um diagnóstico isolado, mas está associado a sintomas justapostos de outras doenças ou inabilitações que são trazidas pelo processo de envelhecimento. Podem estar também associados sintomas de doenças somáticas ou sintomas benignos de demência.

Apenas, através de um diagnóstico acurado é que podem ser adotadas medidas de terapia adequada e que podem incluir intervenções psicofarmacológicas. A prescrição de psicofármacos para pessoas idosas deve merecer atenção, porque a depressão em idosos pode estar associada a uma maior vulnerabilidade decorrente de doenças corporais e a possibilidade de efeitos colaterais que comportam riscos. Há consenso de que os modernos psicofármacos podem levar a redução dos efeitos depressivos e assegurar o seu não retorno, e que influenciam beneficamente a qualidade de vida de pessoas idosas.

As perturbações depressivas pertencem as doenças psiquiátricas mais frequentes e tem um a prevalência de até 15% em idosos, cuja incidência de sintomas depressivos eleva-se com a idade e os dados indicam que tende a se ampliar, enquanto que a prevalência de perturbações por medo oscila entre 2% a 19%. A pratica do tratamento farmacológico de perturbações por medo e de outras incidências afetivas que causam perturbações psíquicas no envelhecimento envolve em grande parte o tratamento da depressão.

As perturbações causadas por depressão no envelhecimento, difere do que ocorre em pessoas jovens. Mais frequente são relatados, perturbações do sono, déficit cognitivo, perturbações de concentração, perda de memória, inabilidade de aprendizado de novas coisas e que pode manifestar-se através de uma demência pseudo depressiva. Manifestação de formas somáticas e queixas de dores não específicas, mas também doenças reais podem encobrir sintomas característicos depressivos, o que pode dificultar ou levar a um diagnóstico falho. Por haver um elevado risco de suicídio em idosos depressivos, o reconhecimento e o tratamento de doenças funcionais que estão incidindo na manifestação do estado depressivo tem elevada importância.

Quando a depressão for diagnosticada, estão disponíveis uma grande variedade de métodos psicoterápicos e diversas possibilidades de intervenção farmacológica. Em pacientes idosos a fisiologia do organismo sofre modificações, o que leva a uma perda de tecidos de componentes bioquímicos que afetam as funções do fígado, rins, nível de gordura, distribuição muscular, havendo uma metabolização distinta de substâncias. No tratamento da depressão, isto significa uma verificação cuidadosa da dosagem e da observação de efeitos colaterais. Além disto, medicamentos usados para o tratamento de outras doenças corporais em idades avançadas, podem também estar induzindo sintomas de depressão e precisam ser previamente checados.

As possibilidades de intervenções psicofarmacológicas no tratamento da depressão usam mais frequentemente medicamentos antidepressivos de diversos princípios ativos. Estes agem através de diferentes produtos farmacológicos que influenciam no cérebro o mecanismo neurotransmissor e sobre o desequilíbrio da Serotonina, Noradrenalina ou Dopamina. Em casos graves que necessitam tratamento mais drástico podem ser associadas aplicações de antipsicóticos como Neuroléptica e Benzodiazipina. Com base nos efeitos colaterais a sua utilização deve ser verificada dentro de um estrito risco de uso.

Fundamentalmente deve ser observado que um tratamento farmacológico precisa ser sempre colocado dentro de um plano de uso geral de quais medidas psicoterapêuticas devem ser mantidas. O objetivo primário deve ser uma redução dos sintomas e no final do tratamento uma libertação dos sintomas sobre um longo prazo.

Uma vantagem adicional do tratamento pode ser a melhora geral do estado corporal e uma maior adaptação psicossocial.

Entre as limitações descritas situa-se que os efeitos somente ocorrem após algumas semanas e pela manifestação possível de reações indesejáveis. Pode também ocorrer a possibilidade de que o medicamento não se adapte ao paciente, sendo necessário sua substituição.

Entre as classes de substâncias atualmente usadas no tratamento depressivo são mencionados com mais frequência os Antidepressivos, Serotonina Seletiva (SSRI), Noradrenalina Seletiva-Serotonina.

Antidepressivos.

Antidepressivos atuam em pessoas idosas da mesma forma que em pessoas jovens. O conhecimento clínico evidencia que o tratamento com antidepressivos em combinação com uma psicoterapia é efetivo por oferecer ao paciente uma chance de remissão da depressão. Antidepressivos não são apenas efetivos no tratamento da depressão, mas também utilizados no tratamento de outras doenças, como no caso de perturbações por medo e do equilíbrio corporal, síndrome da dor, perturbações somáticas e sobrecarga emocional pós-traumática. Embora haja manifestações de receio de uso de antidepressivos por causar dependência, isto não é confirmado e na prática e não há evidências de causar vicio.

Serotonina Seletiva (SSRI).

Serotonina Seletiva (Seletive Serotonin-Wiederaufnahemehemmer- SSRI) é uma das principais escolhas para o tratamento de doenças depressivas. Sua atuação situa-se na elevação da disponibilidade de serotonina no cérebro como matéria prima de reposição. Na Alemanha são permitidos e mais frequentemente usados como princípio ativo: CITALOPRAM; ESCILATROPAM; FLUOXETIN; PAROXETIN; FLUVOXAMIN; SERTRALIN. Todos em conjunto são bem suportados e deve ser acrescentado que Citalopram, Escilatropam e Sertralin tem um reduzido potencial de interação com outros componentes corporais e apresentam elevada seletividade. Para Escitalopram, Fluoxetin e Fluvoxamin são confirmados bons efeitos também em síndrome do medo.

Reações adversas que podem ocorrer são náuseas, vômito, diarreia, desassossego e agitação, perturbações do sono, tontura, dor de cabeça e perturbações sexuais.

Noradrenalina Seletiva-Serotonina (Wieder aufnahme-Hemmer- SNRI), neste medicamento os princípios ativos são VENLAFAXIN e DULOXETIN. Sua ação situa-se na elevação da disponibilidade de Noradrenalina e Serotonina (dupla ação). Ambas mostram na realidade clínica uma boa agregação e são bem suportados organicamente. Venlafaxin é também indicado para tratamento do medo, perturbações de pânico e redução da fobia social. Duloxetin também é usado para tratamento de dores resultantes de poli neuropatia diabética e são ativos em pacientes idosos. Elevações iniciais de pressão sanguínea podem ser observadas e os efeitos colaterais são semelhantes a Serotonina Seletiva.

Como decorrência da mudança demográfica a pesquisa e o desenvolvimento deveriam focar com mais interesse pessoas idosas e efetuar estudos clínicos mais intensivos sobre esta população. Perturbações psíquicas, em especial doenças afetivas são pouco pesquisadas, permanecem quase sempre sub-diagnosticadas e são tratadas de forma inapropriada ou mesmo negligenciadas. Além de um maior cuidado deveria também ser desenvolvidos melhores métodos de diagnóstico.

Médicos não especializados e terapeutas deveriam buscar uma maior capacitação técnica ou frequentar instituições especializadas. Doenças Gerontopsiquiátricas, em especial a depressão, são crescentemente vistas no contexto psicossocial e doenças crônicas somáticas e fatores biográficos incidentes, dificultam até o presente a condução de tratamentos.

Por outro lado, estão atualmente disponíveis boas possibilidades de tratamento farmacológico, os quais através de conhecimento clínico e de resultados de pesquisa são efetivos, tanto para pacientes jovens como idosos. Os princípios ativos mostram, em seu conjunto, uma adequada relação uso/risco e as especificidades de efeitos colaterais em relação ao processo de envelhecimento devem ser observados e tratados devidamente por médicos e terapeutas. Para o futuro é esperado que os medicamentos que serão colocados no mercado sejam crescentemente efetivos e apresentem efeitos colaterais mais baixos, os quais irão ampliar a otimização das possibilidades terapêuticas (Karakaya & Pantel, 2012).

2.6.8-A felicidade

O que é a felicidade, todo mundo procura, mas onde ela se esconde, e porque esta alegria da existência não é durável? Alguns indivíduos parecem ser mais felizes que outros. Há uma certeza, a felicidade encontra-se dentro de nós, mas onde exatamente, no cérebro, em nossos genes, dentro de nossa máquina orgânica? Os cientistas, em suas pesquisas tem feito uma descoberta surpreendente: a felicidade existe.

Todos querem ser felizes, querem sentir esta plenitude, esta alegria serena de uma vida exitosa e de um futuro melhor. Pode-se definir e medir a felicidade, distinguindo-se a quantidade de emoções positivas e negativas que são declaradas sentidas durante um dia, e lançar os dados sobre uma escala quantificada. Mas a felicidade possui também uma dimensão cognitiva, que pode ser avaliada através de perguntas como: ”considerando todos os aspectos de sua vida, você sente-se feliz” ou “em qual medida você está satisfeito com sua vida”, respostas que podem ser decompostas em suas diferentes dimensões: autonomia da sua personalidade, controle do seu ambiente, sentido dado a sua vida.

A felicidade se esconde em nós:

Para esclarecer este mistério, é necessário estudar os comportamentos, mas também interrogar os neurobiologistas, os geneticistas e biólogos. Segundo os cientistas, para descobrir onde a felicidade se esconde, é preciso cruzar os mecanismos cerebrais do prazer, do desejo e da representação do futuro.

Existem genes predisponentes:

A felicidade tem sido atribuída, em parte, a carga genética dos cromossomas. Um dos genes ligados a serotonina, neurotransmissor conhecido por sua ação sobre nosso bem-estar, existe em versões longas e curtas. A felicidade é três vezes mais frequentemente expressa quando a pessoa possui a versão longa, cujo gene torna seus portadores menos vulneráveis a ansiedade.

A importância do ambiente:

Os psicólogos dão grande importância ao que torna as pessoas mais sensíveis aos fatores positivos do ambiente. Consideram personalidades plásticas, sensíveis a seu ambiente. Tornam-se infelizes quando o ambiente é desfavorável, mas particularmente felizes quando o ambiente lhes é propício.

No cérebro circuitos específicos ativam a felicidade:

Pesquisas com respostas cerebrais demonstraram que, uma lembrança feliz ou uma promessa de um evento futuro feliz, promove reações que são visíveis na tela dos aparelhos que monitoram zonas cerebrais como hipocampo, amidala, córtex pré-frontal. Respostas que introduzem um novo enigma, quais destas regiões partilham e contribuem para “fabricar a felicidade”. Isto também leva a confrontar a definição do que é a felicidade. Para os neurocientistas comportamentais, trata-se de uma definição comportamental, ativada por circuitos da motivação dos primatas. Pergunta-se para que serve a felicidade e os neurobiólogos respondem, provavelmente para motivar e guiar a ação.

As regiões cerebrais como hipocampo e córtex estão ricamente conectadas e os neurocientistas estão convencidos que definem uma representação de valor e que definem se o indivíduo se sente bem ou não em relação a uma lembrança. Estas regiões disparam uma sensação de bem-estar e o cérebro assume uma representação que está na origem de um sentimento de grande valor.

A felicidade tem sido relacionada às conexões dos neurônios. As pessoas mais positivas apresentam um modelo de conexões particularmente ricas entre certas regiões cerebrais, implicadas na sensibilidade de emoções e a percepção de si mesmo.

A felicidade tem sido também relacionada com os neurotransmissores. A química da felicidade é uma questão de equilíbrio: a dopamina modula o desejo, a serotonina a sensação de bem-estar. Mas é necessário não considerar um processo neuronal desconectado de nosso ambiente. A ativação e nosso córtex pré-frontal não está desconectado ne nosso ambiente. Difundir músicas tristes ou alegres no ambiente muda sua ativação, e o valor associado a uma representação, avaliada pelo nosso córtex, se fará então também em associação ao ambiente no qual a pessoa se encontra no momento.

Circuitos primitivos do desejo:

A região do córtex pré-frontal “conversa” com todos os sistemas antigos (regiões profundas do cérebro) que estão mais diretamente implicadas nas sensações de prazer e também em relação com os sistemas cerebrais implicados nas sensações do desejo, notadamente o “striatum ventral” e a dopamina. Uma comunicação que irá intervir igualmente em outros neuromediadores como a acetilcolina, a noradrenalina ou a serotonina. Ocorre então a comunicação, via o córtex pré-frontal, entre as regiões que criam as representações abstratas, complexas e os circuitos primitivos do desejo e do prazer, mobilizados, como no caso da do apetite por alimentos ou a busca de parceiros sexuais.

Esta parte do córtex parece fazer parte de uma rede mais vasta particularmente desenvolvida e conectada nas pessoas que apresentam um certo número de características “positivas”, como uma forte satisfação em sua vida, mas também uma sociabilidade elevada, um forte QI, um nível de educação mais elevado. Avaliando os indivíduos que os psicólogos designam como felizes (são descontraídos, apresentam controle sobre sua vida, aceitam-se como são, possuem contatos positivos com os outros, etc.), parece que eles possuem mais matéria cinzenta nas duas regiões cerebrais. Ficou evidenciado que os melhores escores de felicidade estavam correlacionados a uma quantidade de neurônios maiores no córtex insular e o “precuneus direito”. A primeira destas regiões está implicada na consciência de si mesmo, a modulação dos estados do corpo e a sua integração com a tomada de decisão. A segunda implicada também na consciência de si mesmo e implicada na participação da felicidade subjetiva integrando os componentes emocionais e cognitivos da felicidade.

A chave da felicidade:

Ela dependeria então de uma atitude de se projetar positivamente no futuro, mas também na capacidade de integrar estes sentimentos positivos a imagem que se tem de si mesmo. Mas existe uma outra forma de felicidade, condicionada pela aptidão do cérebro deixar levar-se pela concentração. Algumas pessoas experimentam um efeito de felicidade resultante de um estado de concentração intensa, ou a atenção concentrada por uma ação em curso, onde tudo o demais, percepção do ambiente, pensamentos se apagam. Porque um domínio total, próximo ao estado de graça seria uma fonte de felicidade? Um mau domínio da atenção causa uma espécie de competição entre processos cognitivos irreconciliáveis, aquele que é gerador de desconforto e de mal-estar.

A felicidade é fruto de uma representação positiva do futuro:

A felicidade pode se definir como um estado, de qualquer um que se alegra com o que irá viver. Experiências de imageamento cerebral mostram que esta representação positiva do futuro ativa três regiões cerebrais:

1) -O cérebro elabora uma projeção. As lembranças registradas no hipocampo são utilizadas para construir uma representação de situações futuras;
2) – Associado a um certo bem-estar ele é avaliado positivamente. Esta representação é transmitida ao córtex pré-frontal ventromediano, que irá avaliar o valor. A associação a um relativo bem-estar, seu valor é julgado positivo.
3) – E indica um bem-estar futuro. Esta sensação irá ser transformada em desejo no “striatum”, centro do comportamento que provoca o desejo.

Concentração sem julgamento:

Suprimir tudo o que pode perturbar nossa atenção favorizaria então naturalmente nosso bem-estar. As pessoas descritas em estado de concentração cerebral, permanecem conectadas a uma atividade, a uma pessoa, a um grupo, sem fazer mil coisas ao mesmo tempo, e sobretudo, sem julgamento sobre sua própria performance. Quando o cérebro está em estado de concentração desativa a rede cerebral que está continuamente avaliando o que está sendo feito e reagindo ao seu desempenho.

Quer se trate de direcionar sua atenção, de se construir uma representação positiva do futuro, ou de saber olhar sobre si mesmo, são atitudes que levam os neurocientistas a confirmar: a felicidade está, em princípio nas mãos de cada indivíduo.

A felicidade se esconde em nosso corpo:

O corpo de uma pessoa feliz não é o mesmo de uma pessoa que não é feliz. Modificações sutis denotam esta serenidade sentida. O sistema nervoso, hormonal e imunitário mantém conexões intimas. Mas quais traços a felicidade imprime precisamente sobre nossos corpos?

Pesquisas efetuadas com grupos de mulheres com mais de 60 anos mostram que o cortisol “hormônio do estresse”, secretado pelas glândulas suprarrenais, apresentam uma taxa particularmente baixa em mulheres mais alegres. Sua taxa de colesterol bom, que protege o sistema cardiovascular, é mais elevada. Outros estudos realizados em pessoas cinquentenárias que se declaravam particularmente felizes, apresentavam uma diminuição do ritmo cardíaco e da pressão sistólica. A felicidade apresenta tendência a se difundir sobre todo o nosso corpo e influenciar o sistema imunitário, o sistema hormonal e o sistema cardiovascular.

Sistema imunitário:

A felicidade influencia nossa resistência às infecções. Em um estudo, aquelas pessoas que se manifestaram mais felizes apresentaram o menor risco de apresentar doenças causadas por vírus, e produziram também mais anticorpos após vacinação.

Sistema hormonal:

Secretado pelas glândulas suprarrenais, o cortisol (hormônio do estresse) está presente em quantidades mais fracas em pessoas alegres, enquanto que a ocitocina mais presente (hormônio da empatia) produz a redução da ansiedade.

Sistema cardiovascular:

Após diversos estudos, foi constatado que as pessoas felizes apresentam uma taxa de bom colesterol (protetor) mais elevada, bem como uma diminuição do ritmo cardíaco e da pressão arterial.

Nós podemos agir sobre o nosso bem-estar:

A ideia de que o corpo pode agir sobre nossa sensação de felicidade não é desconhecida. Numerosas técnicas de relaxamento (massagem, respiração) são utilizadas para eliminar a ansiedade, como se a serenidade do corpo induza a serenidade de nossos sentimentos e pensamentos, e vice-versa. Um hormônio neste aspecto é emblemático: a ocitocina secretada pelo hipotálamo é liberado durante o orgasmo, ou pela mãe que aconchega e aleita seu bebê. Ele aumenta a empatia e o apego aos outros, sendo secretado em situações que favorizem o indivíduo. Uma vez liberado, ele reduz o stress e favoriza o bem-estar (Monnier,E, 2016)

2.6.9-Fontes de consulta

CORNELIUS,R,R. The Science of emotion, Upper Saddle River, New Jersey, Prentice Hall, 1996

BERNOUD,L. Suicide il cache une vraie maladie, Montrouge, Science & Vie, Mondadori/France, avril, nº 1172, 2015

GINESTE,Y. & PELLISSIER,J. Humanitude, Comprendre la vieillesse, prendre soin des Hommes vieux, Paris, Dunot Editeur-Armand Colin, 2014

HAUTZINGER,M. Intervention bei Depression. In: Wahl,H,W., Römer C,T. & Ziegelmann, J,P. Angewandte Gerontologie, Stuttgart, Kohlhammer, 2012

KÄMMERER,A. Intervention bei Ängsten, In: Wahl, H,W., Römmer,C,T. & Ziegelmann, J,P. Angewandte Gerontologie, Stuttgart, Kohlhammer, 2012

KARAKAYA,T. & PANTEL,J. Psychopharmakaintervention bei primär affektiven Störungen. In: Wahl H,W., Römer, C,T. & Ziegelmann,J,P. Angewandte Gerontologie Stuttgart, Kohlhammer, 2012

MONNIER,E. Le Bonheur, mais où se cache-t-il? Science & Vie, France, Montrouge France, Mondatori, nº 1181, Février, 2016

STEVERINK,N. Selbstmanagement und psychisches Wohlbefinden bei älteren Menschen In: Wahl,H,W., Römer,C,T. & Ziegelmann,J,P. Angeewandte Gerontologie, Stuttgart, Kohlhammer, 2012

STRONGMAN,K,T. The Psychology of Emotion, Lisboa, Climepsi Editores, 2ª Edição, 2004

http://redepsicologia.com/psicologia-das-emocoes

http://esad.ipleiria.pt/PDMIII/3080031/sitegrupo/investigação/neuropsicologia.ht


Sobre o autor:

Nelson Frederico Seiffert

Doutor em Engenharia de Produção, com a tese de Doutorado sobre Gestão Ambiental. Trabalhou em Pesquisa na EMBRAPA durante 25 anos.

Desenvolve atualmente estudos na área de Gerontologia Ambiental e Aplicada. Conduziu Seminários sobre Gerontologia Ambiental e Aplicada no NETI/UFSC em 2015, 2016 e é Diretor Técnico Científico da ANG/SC – GESTÃO 2017/2019.

E-mail: [email protected]

Artigos de Associados

Atividade corporal e competência funcional

2.4-ATIVIDADE CORPORAL E COMPETÊNCIA FUNCIONAL

Nelson Frederico Seiffert

 

O crescimento dramático do número de pessoas com 65 anos ou mais, que se verifica atualmente, irá necessitar de uma nova estratégia de abordagem do tratamento de pessoas que alcançam a fase de envelhecimento nos próximos cinquenta anos. Ao mesmo tempo que se eleva o número de pessoas idosas, irá ampliar-se consideravelmente o custo de tratamento de pessoas que são alcançadas por inabilitações físicas e cognitivas.

Por estas razões, torna-se prioritário que sejam desenvolvidos métodos de prevenção que possam ser econômicos e efetivos, de aplicabilidade generalizada, para a prevenção e tratamento de pessoas idosas atingidas por deficiências físicas e cognitivas. Entre estes métodos assume elevada importância cuidados corporais, exercícios físicos e a atividade cognitiva (Erickson et al, 2012).

2.4.1-Os superpoderes do aparelho digestivo

O avanço da pesquisa atual vem revelando os superpoderes de nosso ventre, que vem sendo considerado o nosso segundo cérebro. A ciência não esperava descortinar os incríveis poderes das bactérias que compõe nossa microbiota intestinal. Enviando sinais por todo o organismo as bactérias causam impacto, inclusive sobre nosso cérebro, sobre o sono, sobre o stress, nossa hereditariedade, nossa personalidade, sobre nosso humor, sobre nossa memória, sobre nosso crescimento e vivacidade. Em uma frase, nosso ventre governa nossa existência, uma descoberta que descortina uma nova medicina (Abdoun et al, 2016).

Esta comunidade de microrganismos compreende fungos, vírus, etc., mas permanece largamente dominada por bactérias, que compõe dezenas de bilhões, concentradas principalmente ao nível do cólon (a parte grossa do tubo digestivo, entre o intestino delgado e o reto. Um verdadeiro ecossistema no centro de nosso corpo.

Por trás da parede interna do tubo digestivo do intestino grosso, encontram-se diversas vias de circulação, permitindo nosso ventre de enviar ordens ao organismo: o nervo vago, que se liga ao cérebro; uma importante rede vascular que transporta as mensagens moleculares e celulares; uma grande reserva de células imunitárias, que viajam no sangue e enviam sinais químicos. A partir desta configuração, um esquema geral se desenha: no intestino, as bactérias produzem permanentemente numerosas moléculas (ácidos graxos e neuromediadores) que podem atravessar as mucosas intestinais e penetrar nos vasos sanguíneos, ou modificar a atividade dos neurônios e das células imunitárias.

A microbiota tem sido longamente negligenciada e sua importância apenas começou a ser reconhecida na última década, sendo revelada a incrível complexidade dos microrganismos que povoam o trato intestinal. Cada indivíduo possui sua própria microbiota e porta entre 500 a 1.000 espécies de bactérias, totalizando 600.000 genes diferentes. Isto é trinta vezes mais que os genes que compõe o genoma específico humano. Geneticamente nós somos sobretudo microbianos.

A composição microbiológica varia bastante de um indivíduo a outro, em função do genoma, da idade, do modo de vida (alimentação, higiene, etc.), e das bactérias delegadas por nossa mãe no início da vida. Outras espécies de microrganismos podem estar presentes, serem mais ou menos predominantes ou mesmo ausentes.

Tem sido descoberto que numerosas doenças encontram sua origem, pelo menos parcialmente, na desregulação de nossa flora intestinal, onde as bactérias intestinais, já tem sido relacionada a exercerem influência sobre as vias vasculares, neuronais e imunitárias. Sem dúvida a microbiota abre a via de uma nova medicina. As pesquisas vêm levantando evidências sobre a influência da microbiota intestinal sobre a saúde humana, em surpreendentes aspectos como por exemplo:

  • Nossa moral, ansiedade e sociabilidade;
  • Comanda nosso estado de forma e defesas naturais;
  • Regula nossos ritmos biológicos e nosso sono;
  • Influi sobre nossa vivacidade, espírito e memória;
  • Nossa hereditariedade por parte materna;
  • Dita nossos aportes de energia, crescimento e ganho de peso;
  • Decide sobre nossa fome e sobre alimentos que gostamos de comer;
  • Determina a velocidade como envelhecemos.

Com o tempo de envelhecimento ocorre uma fragilização de todo o corpo humano. Os pesquisadores acreditam que esta fragilização também seria o caso da fragilização de numerosas espécies de bactérias que compõe nossa microbiota intestinal. Pesquisando o conteúdo intestinal de idosos, constataram que com o avanço da idade, ocorre uma redução paralela da estabilidade, e sobretudo da diversidade da microbiota. Esta modificação ocorre progressivamente e é particularmente marcada quando o regime alimentar se torna menos variado. Os pesquisadores descobriram que a senescência causa a degradação da qualidade de nossa flora intestinal, mas que a senescência pode ser também, a consequência do empobrecimento da qualidade da microbiota. Uma verdadeira intoxicação intestinal por nossos próprios microrganismos.

É difícil ligar diretamente o envelhecimento a um tipo de bactéria, mas está claro que a microbiota empobrecida em espécies, está mais inclinada a induzir uma perda acelerada de funções ligadas ao envelhecimento. O papel da microbiota desempenha um papel relevante no nosso declínio, porque a capacidade metabólica total das bactérias do intestino se torna menor. A “usina” natural de nosso intestino não nos ajuda mais a fabricar os ácidos graxos de cadeia curta, como o butirato e as vitaminas e somos fragilizados. O resultado é que a microbiota influi sobre o estado inflamatório de seu hospedeiro e pode torná-lo menos resistente. Segundo Paul O’Tole (Professor de Microbiologia da Universidade de Cork, Irlanda), nós envelhecemos também, porque nós temos crescentemente mais dificuldades de transformar proteínas em músculos. Em idosos, os intestinos tornam-se menos eficazes em absorver proteínas, e a microbiota teria um papel ativo no aparecimento da sarcopenia. (Sarcopenia é a perda de massa e força da musculatura esquelética – bíceps, tríceps e quadríceps – com o envelhecimento. Cerca de um terço da massa muscular perde-se com a idade avançada, começando a partir dos 40 anos com queda de 0,5% ao ano e aumentando até cerca de 1% ao ano a partir dos 65 anos de idade.

A microbiota seria também responsável pela perda de funções cognitivas, que estão em parte ligadas ao que se denomina o “eixo cérebro-intestino”, o qual habitualmente declina lentamente, mas cujo declínio pode se acelerar, e os compostos tóxicos fabricados pela microbiota poderia desempenhar um papel ativo neste processo. (Abdoun et al 2016).

2.4.2-Nutrição

2.4.2.1-Regulação na assimilação de nutrientes

As modificações na regulação da assimilação de nutrientes para reposição corporal tornam idosos frequentemente suscetíveis a formas de alimentação deficientes em compostos essenciais para manutenção da saúde. Perdas funcionais e doenças são frequentemente relacionadas a nutrição deficiente que, à primeira vista, é mais difícil de detectar, sendo oportuno que seja considerada uma abordagem preventiva.

Uma avaliação de deficiências alimentares deveria ser conduzida rotineiramente e constituir parte importante de cada consulta médica de pessoas idosas. É uma condição necessária para a inclusão de medidas de prevenção e de uma terapia nutricional eficiente, que podem estar associadas a perturbações da saúde. Através de um trabalho estruturado interdisciplinar, combinando medidas médicas, nutricionais, dietéticas e de cuidados ao paciente, a condição nutricional de idosos pode ser revista e otimizada.

Má nutrição em idosos é reconhecida como bastante comum e mais frequente que entre jovens e adultos. Levantamentos indicam que entre pessoas com 65 anos ou mais e que moram em residências, 32% apresentavam risco para uma nutrição deficiente e 6% apresentavam-se subnutridas. Em hospitais o risco de desnutrição em pacientes chegou a 47%, e em instituições de longa permanência foram encontradas 53% das pessoas em condições de risco.

São de grande significado as modificações trazidas pelo envelhecimento na constituição corporal. Com o avanço da idade ocorre uma redução da massa corporal não gordurosa e um aumento da massa gordurosa. A massa gordurosa passa a se acumular no tronco e com uma presença maior de gordura intra-abdominal. A perda de massa não gordurosa incorpora uma redução da manutenção do nível de hidratação da massa celular e da massa óssea, e se manifesta no organismo através de uma atrofia da massa muscular.

Entre a terceira e oitava década de vida a massa muscular sofre redução e com isto uma perda da força muscular, da mobilidade e também na troca de elementos da constituição corporal, o que está ligado ao stress. Perdas que ocorrem em um nível anormal atingem em especial pessoas com idades avançadas e favorece fraturas ósseas.

Como o aparelho gastrointestinal sofre apenas pequenas modificações, os sinais de má absorção devem ser sempre investigados em relação a alguma patologia existente. A frequência de uma gastrite atrópica acompanha o envelhecimento e pode conduzir a uma produção deficiente de ácido clorídrico no estômago e com isto uma exagerada proliferação do crescimento de bactérias no intestino delgado e também leva a uma redução do biometabolismo do cálcio, do ferro e vitamina B12.

A dificuldade de mastigar e engolir em idosos são bastante comuns. Perda de dentes, cáries, dentes danificados e próteses dentárias defeituosas afetam a nutrição, bem como podem trazer infecções e ressecamento da cavidade bucal, o qual pode ser atribuído também a utilização de medicamentos. Perturbações ao engolir trazem consigo a ameaça de engasgamento com alimentos sólidos e líquidos ou mesmo da saliva.

Uma grande parte de pacientes geriátricos e moradores de instituições de idosos é afetada por causas afetivas e psíquicas, as quais são responsáveis frequentemente por problemas de desnutrição. A depressão é considerada em muitos casos como a principal causa da má nutrição em idosos. Mudanças do ambiente social também desempenham um papel substancial na nutrição do idoso. Tomar refeições é um ato social em seu significado, solidão e isolamento social afetam o apetite e a boa alimentação. Eventos de rupturas que ocorrem na vida como a perda do parceiro ou a mudança para um asilo podem ser causas de perda de interesse pela alimentação. Situação de pobreza é um fator de risco adicional para a realização de uma alimentação adequada, o que é especialmente comum em mulheres. Atua também frequentemente de forma aguda a ocorrência de doenças crônicas que incluem a ingestão de múltiplas medicações, que acabam atuando de forma inadequada para a nutrição. Medicamentos podem agir de forma a produzir efeitos colaterais como perda de apetite, perturbações do paladar, boca seca, náuseas, sonolência e atuam de diversos modos na redução da quantidade de alimento ingerido.

Muitas pessoas idosas seguem dietas próprias ou linhas de dietas recomendadas, mas devem ser verificadas com grande atenção porque podem estar restringindo uma boa nutrição. Fatores também relacionados que afetam a nutrição são a escolha e consumo de uma diversidade estreita de alimentos, o abandono de refeições regulares ou um alto consumo de álcool.

Diversas modificações do sistema complexo de regulação da fome conduzem a que, a vontade de comer venha a se reduzir com o avanço da idade. Ocorre uma redução dos sinais de fome, bem como, um aumento dos sinais de saciedade. A redução da sensibilidade do olfato e do paladar podem conduzir a uma condição de anorexia. Períodos de inapetência estão também relacionados a perdas da massa muscular.

Na situação de pessoas idosas que moram em residências deveria ser estabelecido pelos serviços de apoio a saúde um plano anual individual de ingestão de alimentos e bebidas. Em pacientes, que na avaliação preliminar mostram indicações de má nutrição, será necessário um levantamento detalhado de sua dieta para poder definir-se uma terapia nutricional adequada. O instrumento para avaliação nutricional pode ser feito por uma breve abordagem através de seis perguntas que possibilitam estabelecer um escore de pontos que categoriza a situação nutricional das pessoas, como “estado nutricional normal”, “risco para deficiência nutricional” e “deficiência nutricional. As variáveis usadas nas perguntas são descritas como segue:

1-Perda de apetite – 0 (sim) a 2 (não)
2-Perda de peso – 0 (sim) a 3 (não)
3-Perda de mobilidade – 0 (sim) a 2 (não)
4-Incidência de doença aguda – (0) sim a 2 (não)
5-Incidência de depressão – (0) sim a 2 (não)
6-Circunferência da barriga – (0) reduzida a 3 (normal)
A pontuação somada obtida pode indicar:
Nutrição normal: 12 a 14 pontos,
Risco de nutrição deficiente: 7 a 11 pontos,
Nutrição deficiente: 0 a 7 pontos.

Protocolos estabelecidos para a ingestão de alimentos ou líquidos possibilitam estimar o consumo de nutrientes no dia a dia, que pode variar bastante entre indivíduos, e o levantamento deve ser conduzido por 3 a 5 dias consecutivos. É relativamente fácil de introduzir uma avaliação através de anotações da quantidade de alimentos contidos em cada prato que participa das refeições. A ocorrência de um tratamento médico prévio de doença deve ser considerada, como no caso de tratamento dentário, ou de um acompanhamento durante o período de convalescênça.

A avaliação individual de sua condição nutricional deve considerar também os recursos pessoais, costumes individuais, horários das refeições, aspectos religiosos e culturais. No caso da avaliação indicar má nutrição, são estabelecidos objetivos concretos e realizáveis, no qual a quantidade de nutrientes precisa ser suprida em função do peso corporal. A manutenção do peso corporal ao longo do tempo é considerada como decorrente de uma boa nutrição, que objetiva a manutenção da saúde, a funcionalidade e a qualidade de vida.

A deficiência da ingestão de proteína é recorrente. É recomendado como necessário um consumo diário de 1,2 g a 1,5 g de proteína por kg de peso corporal. Isto é proporcional a cerca de 30 quilocalorias por kg de peso corporal por dia, que precisa ser incluído no cálculo para completar a necessidade de energia.

O comportamento antiético, o barulho durante a refeição, uma posição inadequada de sentar-se à mesa, sentar-se ao lado de pessoa vizinhas indesejadas, atendimento desatencioso por pessoas que servem refeições, agem de forma prejudicial sobre a nutrição. Frequentemente diversas pessoas tomam refeições simultaneamente no mesmo ambiente, o que pode tornar as refeições uma sobrecarga emocional, quando as condições individuais não são observadas.

Diversas alterações trazidas pelo envelhecimento oferecem o risco de baixa ingestão de líquidos e causam desidratação. Frequentemente influem na ingestão de líquidos o desconforto de idas noturnas a toalete, de incontinência urinária e o desejo de reduzir a necessidade de urinar pela redução do consumo. Perdas significativas de líquido no verão podem ocorrer através do suor, em ambientes sobre aquecidos, ou por febre, diarreia e vômito. Medicamentos como diuréticos e laxantes podem causar perdas desmedidas de líquido corporal.

É importante que idosos prestem atenção contínua sobre o consumo adequado da quantidade de líquido. Em especial, em situações em que ocorre perda significativa, é fundamental restabelecer o equilíbrio do balanço hídrico corporal. Valores considerados adequados para ingestão diária de líquidos para idosos situam-se em 30 ml por kg de peso corporal. Cerca de dois terços deste valor deve ser suprido com a ingestão de líquidos e o terço restante é suprido através dos alimentos em geral (Bonneau et al, 2016; Sieber, 2012).

2.4.2.2-Jejum, efeitos positivos no envelhecimento

É bastante divulgado que jejuar é bom para a saúde. Curtas privações de alimentos produzem efeitos benéficos podendo revolucionar nossos hábitos alimentares. E se lutar contra o envelhecimento e as doenças a ele associadas seria simplesmente saltar o desjejum da manhã? Esta é uma possibilidade sedutora que resultam de estudos recentes, que revelam numerosos benefícios de curtos períodos de restrição alimentar, de uma dezena de horas por dia, ou de alguns dias por semana ou por mês. O jejum tem sido sugerido como forma de ganhar anos de vida em boas condições de saúde. Mini jejuns ou quase jejum são estratégias ao alcance de todos. (Aboum, 2015).

Os efeitos positivos de uma restrição alimentar são conhecidos a mais de um século. Os resultados de trabalhos de pesquisa que submeteram animais experimentais a diminuição de sua ração são impressionantes. Certas espécies testadas ganharam 30% de tempo de esperança de vida e a maioria tornou-se protegida contra numerosas doenças como Alzheimer, diabete e câncer. Mesmo períodos de curta duração mostraram-se eficientes.

Os mecanismos em jogo não são unicamente ligados a perda de peso. As privações alimentares colocam em ação mecanismos biológicos bem específicos, que são, ao final, muito benéficos para a saúde. Esfomear o organismo induz um estresse fisiológico que aciona mecanismos do sistema de defesa, tais como a produção de moléculas antioxidantes, conhecidas por retardar o envelhecimento, de fenômenos de autofagia, que consiste em degradação pelas células de seus próprios resíduos moleculares. A restrição alimentar induz também um processo de baixa no processo inflamatório, que com o tempo pode degradar tecidos. Pode também impulsionar o corpo, privado de glicídios, a obter sua energia pela mobilização de suas reservas de gordura. Os lipídios são assim transformados pelo fígado em corpos cetônicos, que são moléculas benéficas para as células ávidas de energia, como os neurônios e os músculos.

Segundo Mark Mattson, diretor do Laboratório de Neurociências do Instituto Nacional do Envelhecimento de Bethesda (EUA), uma tal multiplicidade de efeitos positivos não é surpreendente. Durante a maior parte da história evolutiva, a nossa espécie foi confrontada com importantes restrições alimentares. Nossos organismos estão mais adaptados a tal modo de funcionamento, do que no sistema mais recente, que consiste em se alimentar através de três ou mais refeições diárias.

Os cientistas, com base em reflexões sobre este conhecimento, têm proposto testes e estratégias realistas para regular o organismo usando métodos de jejum, das quais podem serem citados, por exemplo renunciar ao desjejum matinal; o regime cinco por dois, que consiste na prática da restrição calórica dois dias por semana; a divisão do aporte de calorias diárias por três ou quatro. Os testes realizados em humanos obesos por seis meses proporcionaram emagrecimento, melhora do estado de saúde, forte produção de corpos cetônicos, uma baixa nos marcadores oxidantes de estresse e de inflamações.

Outro método testado foi a restrição calórica menos intensa e menos frequente, mas que se estendeu sobre uma duração mais longa e que também produziu provas de sua eficácia. Durante três meses, 19 voluntários submeteram-se a cinco dias consecutivos por mês, sendo administrado no primeiro dia a metade do aporte calórico recomendado, seguindo-se a redução para um terço nos quatro dias seguintes. Ao final do teste conduzido pelo professor de Gerontologia e Bióloga da Universidade da Califórnia do Sul, Valter Longo, pode ser verificado que o jejum produziu mais corpos cetônicos e menos proteínas CRP (marcadores de inflamação) e de hormônios EGF-1 (fatores de envelhecimento). O pesquisador notou um fenômeno novo, uma verdadeira renovação de células através da proliferação de células tronco.

Uma forma de jejum que atrai por sua incrível simplicidade, consiste em jejuar a noite. Mais exatamente, espaçar pelo menos 12 horas e se possível 16 horas, a última ingestão de alimentos de um dia e a primeira refeição seguinte. Ou seja, saltar o jantar e o desjejum matinal seguinte.

Está bastante estabelecido que o jejum ativa a produção de corpos cetônicos que degrada células gordurosas, diminui a inflamação através da ativação da produção de células que inibem a inflamação, aumenta as defesas antioxidantes e favorece a degradação de resíduos internos celulares (degradação intracelular).

As três formas mais comuns de mini jejuns que tem sido aplicada:

1-Alimentar-se dentro de uma janela de 8 a 12 horas por dia, 5 dias por semana.
2-Alimentar-se muito pouco (cerca de 500 calorias), 2 dias consecutivos por semana.
3-Alimentar-se muito pouco, 5 dias consecutivos por mês (1000 calorias no primeiro dia e 700 calorias nos quatro dias seguintes ( Abdoun, 2015).

2.4.3-Melhora da função cerebral através atividade corporal

A atividade corporal melhora a funcionalidade de todos os órgãos, inclusive das funções cerebrais e cognitivas. O convencimento sobre este fato e as orientações que decorrem desta constatação são resultantes de estudos e pesquisas sobre pessoas idosas. Os resultados demonstram que uma administração moderada de atividades corporais, por pelo menos um período de 6 meses, foi suficiente para elevar o desempenho de funções cerebrais e também verificado um aumento do volume do cérebro de idosos. Estes dados possibilitaram concluir que o treinamento de atividades corporais oferece um método efetivo para conduzir a função neurocognitiva a um nível mais elevado de desempenho em pessoas idosas.

O treinamento para o desenvolvimento de exercícios aeróbicos pode elevar a funcionalidade de cada órgão do organismo, o que tem resultado em uma melhora geral da saúde e uma redução do risco de ocorrência de diversas doenças. Como exemplo, a atividade corporal é considerada necessária para reduzir a incidência e prevalência de adiposidade, diabete mellitus e doenças de risco como pressão arterial e ataque cardíaco. Tem sido demonstrado que a atividade corporal, na forma de treinamento de exercícios aeróbicos, melhora a funcionalidade do sistema imunológico, sistema ósseo e circulatório, o que por sua vez, reduz o risco do desenvolvimento de doenças do sistema a cardiovascular e osteoporose.

O cérebro é particularmente suscetível aos efeitos positivos dos exercícios corporais. É constatado que a atividade corporal é uma medida positiva para elevar a funcionalidade cognitiva quando incorporada a rotina de vida de pessoas idosas. Inclusive é constatado que a atividade corporal pode atuar positivamente na redução de sintomas de doenças psiquiátricas como depressão e esquizofrenia. A atividade corporal moderada tem sido reconhecida como método capaz de produzir efeitos positivos sobre a capacidade cerebral e cognitiva. Embora ainda seja pouco entendido pela pesquisa em que modo a movimentação corporal influencia o cérebro, os estudos efetuados em animais e humanos tem indicado efeitos positivos:

1-A movimentação corporal influencia diversas regiões interligadas do cérebro, protege os processos cognitivos tais como a memória, o controle da atenção e a coordenação de tarefas.

2-Através de uma atividade de movimentação moderada é possível verificar um efeito positivo na função cerebral e na capacidade cognitiva.

3- Em pessoas com idade avançada, que sofrem uma perda significativa de funções cognitivas, são também verificadas melhoras de desempenho através de exercícios corporais.

Os estudos e pesquisas atuais evidenciam claramente que a atividade corporal melhora o desempenho cognitivo e que os efeitos são gerais, mas também atuam sobre aspectos específicos da cognição. Um efeito geral significa que a maioria das funções cognitivas são melhoradas pelo exercício corporal enquanto que um efeito específico significa que as funções executivas melhoram mais que outras áreas cognitivas. Em seu conjunto, os resultados obtidos em estudos de epidemiologia e aqueles resultantes da pesquisa experimental realizada em animais e humanos mostram que a movimentação corporal traz ganhos de funcionalidade em pessoas com idades avançadas, nos quais o risco de uma desconstrução cognitiva é mais alto.

Os estudos e pesquisas indicam também que a movimentação tem efeitos sobre áreas específicas do cérebro e que o efeito dos exercícios é maior sobre as funções do controle executivo e da memória. Estas funções são guiadas principalmente por regiões cerebrais frontal e medial temporal. Em estudos de longo prazo foi caracterizado que a atividade corporal está ligada a um maior volume da massa cinzenta cerebral, a qual também está correlacionada com riscos reduzidos de desenvolvimento de Alzheimer e de desenvolvimento da demência.

Trabalhos de pesquisa conduzidos com grupos experimentai durante seis meses puderam verificar que ocorreu um aumento da massa cerebral no grupo que efetuava exercícios comparado ao grupo de controle que não praticava exercícios. Pelo resultado obtido pode ser concluído que o desenvolvimento de atividades corporais de intensidade moderada durante seis meses resultou em uma alteração do volume do córtex em pessoas idosas com atrofias cerebrais decorrentes do avanço da idade.

Embora algumas pessoas possam se beneficiar da atividade corporal para melhoria de sua capacidade funcional, outras não obtém bons resultados. Esta variabilidade pode estar fundamentada em diferentes fatores como causas genéticas, hábitos nutricionais, atividade intelectual, entre outros. Está claro que, além da atividade corporal, outros fatores ligados ao estilo de vida, genética e atividade cognitiva exercem efeitos relevantes na cognição. Como exemplo é bastante evidenciado que a ligação entre a atividade física e social reforça o desempenho cognitivo, além da ação exclusiva da atividade física isoladamente.

É conhecido que a nutrição age sobre o desempenho corporal e cerebral. Os estudos indicam que baixa atividade física associada a dietas elevadas em gordura atuam negativamente sobre a cognição. Há também o reconhecimento de que ocorrem vantagens da atividade corporal sobre outras doenças como Parkinson e Depressão.

A atividade corporal aeróbica reduz os sintomas depressão em pessoas acometidas por depressão grave, e que esta redução de sintomas depressivos é durável, e mais efetiva que a farmacoterapia. A ideia geral é que a atividade corporal contribui para desenvolver efeitos positivos em diversas doenças psiquiátricas e neurológicas.

Os trabalhos de pesquisa reforçam o conceito de que que a atividade corporal é considerada um meio para modificação da função cerebral. Os estudos estabeleceram também o conceito de que o cérebro pode manter sua capacidade de modificação e melhoria durante todo o curso de vida, que nunca é tarde para se iniciar atividades corporais, de forma que pessoas idosas podem se beneficiar de sua prática, tanto em sua capacidade cognitiva, como medida voltada para o tratamento de doenças cerebrais, neurológicas e psiquiátricas (Erickson et al, 2012).

2.4.4-Manutenção e recuperação de competências quotidianas

Em um sentido geral a competência quotidiana fundamenta-se na capacidade do indivíduo de conduzir de forma independente as tarefas domésticas, sociais e atividades de lazer no dia a dia.

No curso do envelhecimento, com a redução das aptidões corporais e cognitivas, são previstas intervenções que possibilitem a manutenção, a recuperação e a melhoria da competência individual em desempenhar atividades diárias de forma autônoma. Estas intervenções são particularmente importantes no caso de pessoas que apresentam doenças crônicas, inabilitações físicas, declínio cognitivo, depressão. Além de atuar sobre pessoas que tem enfermidades, as intervenções são também orientadas para realizar efeitos positivos nas condições pessoais, sociais, ambientais, sócio econômicas e sobre o bem-estar e qualidade de vida dos idosos.

No estudo do envelhecimento é preciso efetuar a caracterização da capacidade do indivíduo idoso de realizar atividades físicas e cognitivas para a condução do seu dia a dia, mesmo porque, deve ser levado em consideração, que a capacidade de condução destas atividades não é mais realizada com a mesma facilidade e dentro das condições de saúde de idosos jovens. Isto vale para tarefas simples como levantar da cama, fazer a higiene corporal, tomar refeições, mas também para atividades mais complexas como preparo de refeições, atividades de controle financeiro, do uso de transporte público.

Em um sentido mais amplo, a competência diária, trata ainda da resolução de um número expressivo de tarefas como ministrar o uso de medicamentos, saber conduzir tarefas de manutenção residencial, realizar compras e efetuar pagamentos, conduzir atividades de lazer e de relações sociais. Pode incluir, além destas atividades normais, exercícios de reabilitação e treinamento no campo físico e cognitivo e tratamento de doenças que estão afetando o indivíduo. Pode ainda incluir o desafio da aquisição de novas competências que são impostas pelas inovações tecnológicas e que necessitam um novo aprendizado sobre seu manuseio.

Esta multiplicidade de atividades faz com que a intervenção no campo da competência quotidiana do idoso venha a exigir uma abordagem multidisciplinar e multiprofissional, que está ligada a disponibilidade de recursos individuais e que salienta orientações para abordagens de treinamento e capacitação. Algumas áreas que demandam medidas de intervenção podem ser relacionadas como segue.

1-Doenças crônicas com efeitos negativos sobre a mobilidade. A mobilidade é um pressuposto da autonomia como no uso do banheiro, na execução de tarefas domésticas, utilização do serviço de transporte público, entre outras.

2-Capacidade muscular corporal. Os idosos são atingidos por perdas de massa corporal que afeta a capacidade de desempenho físico em atividades diárias como subir escadas, deslocamento com sacolas pesadas, que sobrecarregam a capacidade muscular e o sistema cardiovascular.

3-Capacidade visual e auditiva. Muitas atividades diárias exigem competência visual, como no caso de uso e dosagem de medicamentos e direção de veículos. Já no caso de dificuldades auditivas, estas são menos impactantes sobre a competência de resolução de tarefas diárias.

4-Capacidade cognitiva. A condução autônoma de atividades diárias exige diversas habilidades cognitivas tais como planejamento da execução de tarefas, rapidez de tomada de decisão, processamento de informações e mesmo a fluidez no desempenho da memória.

5-Depressão. A atividades diária de pessoas, particularmente quando vivem sozinhas, necessita de um impulso de motivação e também habilidades para sua execução. Episódios depressivos atuam de forma inibidora da motivação, enquanto que emoções positivas elevam o ânimo e desenvolvem o interesse sobre inovar em atividades quotidianas na busca de novos objetivos e atuam de forma compensatória sobre a desmotivação causada pela depressão.

6-Características individuais. Pessoas que apresentam características extrovertidas investem na condução de atividades que envolvem outras pessoas, mesmo sob graves limitações corporais.

7-Aspectos sociais e ambientais. O ambiente social pode estimular a condução do dia a dia como no sentido da realização de encontros regulares fora de casa com outras pessoas. Na organização do espaço residencial, sobretudo a eliminação de barreiras que dificultam o deslocamento, o que facilita e estimula a competência diária na execução das tarefas.

8-Autonomia e percepção do envelhecimento. A busca da autossuficiência e uma perspectiva positiva do envelhecimento estimulam o investimento em sua própria saúde e na capacitação das competências quotidianas do idoso.

9-Recursos sócio econômicos. O significado de variáveis ligadas ao orçamento e formação escolar é sempre considerado como forma de melhoria da disponibilidade de condições que influem consideravelmente sobre a autonomia.

A competência diária para condução de uma vida autônoma é um preditor de satisfação de vida e efetivo bem-estar. É por isto um fator importante para a regulação psíquica e adaptação à condição de perdas de origem física e cognitiva.

Os resultados empíricos no campo da reabilitação geriátrica cobrem uma ampla gama de intervenções para manutenção, recuperação e elevação do nível de competência diária de pessoas idosas. Além de programas de reabilitação em situações de perdas graves de condições de saúde, estão disponíveis programas para manutenção e melhora da atividade física e treinamento cognitivo. Exercícios corporais são considerados especialmente eficientes para manter competências diárias no longo prazo.

Em relação ao ambiente social encontram-se diversas abordagens para treinamento por profissionais da área de cuidadores, que propõe a necessidade de reforço sistemático, também para pessoas em idades mais avançadas, por intervenções orientadas para a melhoria de contatos sociais.

A melhoria introduzida na organização do espaço residencial e de acesso ao espaço público disponível nas imediações da moradia, tem-se mostrado significativa para elevar o desempenho da competência diária no desenvolvimento de atividades quotidianas e na ampliação o raio de ação de mobilidade da pessoa idosa.

A competência diária está influenciada por diversas variáveis e determina que é necessária a aplicação de diversas formas de intervenção, quando as habilidades da pessoa idosa sofrem redução, e torna-se evidente, que as rotinas anteriores deverão sofrer modificações. Isto vale tanto para aspectos da capacidade física como cognitiva.

O conhecimento atual disponível, evidencia que grande parte de pessoas idosas pode efetuar modificações nas condições de mobilidade, no manejo saúde e no próprio curso de vida. No aspecto sócio econômico, as intervenções não atuam somente sobre o indivíduo, mas também no campo do mercado, nos serviços sociais públicos e privados. As intervenções que podem ser efetuadas para manutenção da competência diária em idosos, são também afetadas significativamente pelo nível cultural dos indivíduos.

As evidências levantadas pelos estudos e pesquisas sobre o envelhecimento indicam que há um substantivo potencial de autonomia que pode ser desenvolvido e que ainda não é utilizado de forma plena (Wahl, 2012).

2.4.5-Sexualidade

2.4.5.1-Sexualidade no envelhecimento

Com a evolução do processo de envelhecimento modifica-se a capacidade de reação sexual do corpo humano, bem como a vivência e a conduta sexual em pessoas idosas. No processo de envelhecimento podem ocorrer perturbações da sexualidade que não são decorrentes do envelhecimento em si, mas surgem em conjunto com doenças somáticas ou danos psicológicos.

O fenômeno da sexualidade no envelhecimento é fortemente influenciado através de imagens sociais, da publicidade, de artigos, os quais também influenciam a cultura e a pesquisa científica. Alguns aspectos da sexualidade em idosos, como por exemplo homossexualidade, fatores de risco ou abusos sexuais, são ainda pouco tematizados na literatura gerontológica.

Uma avaliação da literatura do tema no campo da sexualidade no envelhecimento torna logo evidente, de que existem interpretações distintas dobre este fenômeno. Os estudos estão impregnados, em primeiro lugar da pesquisa no campo médico com os fundamentos anatômicos da sexualidade no envelhecimento, no qual são focados a incidência de alterações fisiológicas e por outro lado, é comum na literatura a exploração de mitos negativos, como “no envelhecimento não há mais nada”, (Mito: relato amplificado de fatos ou personagens através do imaginário coletivo, de aspectos da condição humana, que podem guardar um fundo de realidade) e contra o qual são contrapostos fatos da medicina corretiva. Por outro lado, são tematizadas perdas funcionais e são oferecidas possibilidades medicinais, farmacológicas, psicológicas, as quais podem compensar perdas funcionais da sexualidade.

Um outro ramo da pesquisa de orientação da gerontologia psicológica ocupa-se com a vivência sexual e o comportamento de pessoas idosas. Também nela, observa-se uma tendência, de que estereótipos negativos são colocados em questão. Há um conceito generalizado, de que para as mulheres, ocorre uma interação, que associa o declínio da sexualidade com a chegada da menopausa. No caso de homens, nos quais as modificações biológicas ocorrem de forma mais lenta ao longo do tempo, não ocorre a caracterização de uma linha divisória no tempo, no qual a sexualidade passa a ser uma atividade declinante. Na maioria dos estudos empíricos quantitativos, a linha divisória entre o estado adulto e idoso, para ambos os gêneros, é traçada a partir dos 50 anos.

Uma definição satisfatória do conceito de sexualidade representa ainda um desafio, colocando-se a questão de que com qual abrangência este conceito deve ser tomado para que o fenômeno seja adequadamente contemplado. (Sexualidade:qualidade do que é sexual; conjunto de caracteres externos e internos determinados pelo sexo do indivíduo. Psicanálise: conjunto de excitações e atividades presentes desde a infância de um indivíduo, que está ligado ao coito, assim como os conflitos daí resultantes).

O conceito de sexualidade liga-se também com a prática física sexual em si, mas também com sentimentos, papéis sexuais, orientação sexual, atratividade corporal e relacionamento romântico. Em quais formas da expressão da sexualidade são válidas normas culturais para se colocar sexualidade com respeito aos outros? A maioria dos estudos empíricos respondem estas questões de forma implícita, através da operacionalização de como é destacada, e torna possível que seu conceito possa denominar diferentes fenômenos.

Na literatura científica gerontológica estes conceitos implícitos da sexualidade em idosos vem sendo pesquisada através das modificações fisiológicas e de modificações na vivência e conduta das pessoas que se encontram na fase de envelhecimento.

2.4.5.2-Modificações fisiológicas

O ciclo de reação sexual dos seres humanos desenvolve-se como um processo psicossomático, que passa por influência, tanto psíquica somo somática, razão pela qual o esclarecimento do seu significado, apenas por um destas variáveis torna-se insuficiente. Perturbações sexuais funcionais, perturbações do desejo sexual, agitação sexual ou a capacidade de atingir o orgasmo, são quase sempre o resultado de diversas etiologias (diferentes causas de doenças).

Para o entendimento das modificações na sexualidade que ocorrem no envelhecimento é importante diferenciar, se estas modificações são decorrentes de processos patológicos que atuam nas perturbações das funções sexuais, ou se simplesmente decorrem de modificações do ciclo de reação sexual resultante do envelhecimento psíquico e somático natural.

Quando se abordam perturbações funcionais sexuais em seu sentido mais estrito, deveriam, em princípio, ser considerados fatores médicos corporais, que possam estar influenciando, os quais precisam ser identificados e tratados. Desta forma, modificações trazidas por doenças ou de substâncias que atuam no sistema hormonal, no sistema nervoso ou no sistema circulatório podem ser os responsáveis primários da piora nas funções sexuais.

Para homens idosos, não havendo danos fisiológicos ou psicológicos, a evolução do ciclo de reação sexual não é diferente do que ocorre em homens em estágios mais jovens. No entanto ocorrem alterações nas reações fisiológicas, de forma que sua intensidade se reduz, leva mais tempo para serem ativadas e para que completem sua condição de desempenho sexual. Uma plena ereção em idosos ocorre de forma mais lenta, exige maior estimulação direta e não se mantém por um tempo mais prolongado. Durante a fase de orgasmo a ejaculação é menos intensa e as contrações no pênis, próstata e reto são mais fracas. Homens idosos relatam um baixo impulso para ejaculação e um maior controle sobre a ejaculação.

Em mulheres, a exemplo do que ocorre em homens, são aptas a fruir prazer mesmo em idades avançadas. Permanece a capacidade de obtenção de orgasmos múltiplos quando forem mantidos por apropriada estimulação, mas a duração e a intensidade podem ser reduzidas. As principais modificações fisiológicas que ocorrem em mulheres pelo envelhecimento estão associadas a uma redução do nível de estrogênio (hormônio cuja ação está relacionada com o controle da ovulação e desenvolvimento de características femininas), que leva a uma atrofia da genitália externa e interna, que se torna mais suscetível a lesões e infecções. É constatado também que ocorre uma forte redução da capacidade de lubrificação e uma deficiência de androgênio (hormônio esteroide) o que conduz a redução da libido (libido: procura instintiva de prazer sexual, desejo).

2.4.5-3-Modificações na vivência e conduta

Estão disponíveis até o presente poucas pesquisas sobre a vivência subjetiva da sexualidade conduzida em grupos experimentais e direcionada a captar, em profundidade, dados do significado sobre comportamento sexual de idosos. Uma pesquisa realizada com 21 homens e 23 mulheres com idades entre 50 a 92 anos, sobre a importância da sexualidade indicou que ocorre uma interdependência de condições, circunstâncias, transtornos que geram modificações adaptativas na sua regulação, sua orientação e sintonia para com a sexualidade. Nas respostas da entrevista para avaliação de sua sexualidade, foi colocada como não diretamente relevante, mas influenciada por consequências de restrições trazidas por multimorbidade ou viuvez. Para estes entrevistados, na sua vida a sexualidade foi considerada com baixa prioridade, sobretudo, sobre o interesse por um novo parceiro sexual e a baixa probabilidade de se tornar mais uma vez sexualmente ativo. Um tempo e vida prolongado e uma longa parceria foram considerados fatores significativos para a sexualidade. Todos os entrevistados que tinham parceiros sexuais, consideram que a sexualidade em sua vida, pelo menos, tinha um significado gradualmente médio. Uma minoria considerou, inclusive, a ocorrência de significado crescente com o avanço da idade. Outras pesquisas indicaram também, que no caso dos homens, estes consideraram que mulheres idosas são pouco atrativas
sexualmente.

2.4.5.4-Tratamento de perturbações sexuais

Tratamento farmacológico

As possibilidades de tratamento farmacológico de perturbações das funções sexuais em homens idosos desenvolveram-se nos anos recentes como no caso do campo da ereção, que pode ser tratada pela ingestão oral de estimulação de Sildenafil (Viagra), que influencia a duração e a robustez da ereção, bem como a capacidade de orgasmo. Novo estudos indicam que a adesão de pacientes é influenciada pela aceitação geral de tratamento medicamentoso, aceitação através da parceira, duração da abstinência sexual e tipo de perturbação, os quais podem ser modificados pelo tratamento.

Para mulheres o tratamento farmacológico orienta-se sobretudo sobre terapias que modificam o nível hormonal, combinado com um tratamento que restabelece a lubrificação da genitália antes do coito. Entretanto, aqui também devem ser observados a interação de processos corporais e psíquicos.

Terapia comportamental

No campo da terapia comportamental, por um lado há o esclarecimento de clientes sobre as modificações fisiológicas relacionadas ao envelhecimento e uma resposta na expectativa do resultado que pode ser alcançado pela prática da sexualidade. Por outro lado, a psicoeducação pode desempenhar um importante papel sobre as possibilidades de compensação de dificuldades sexuais, como no caso de problemas ligados ao prolongamento da fase de estímulo, uso de fantasias ou recursos eróticos, realização da atividade sexual durante a manhã, reforço de práticas de estimulação manuais e modificações de posições para realização do coito. A exploração destas alternativas é proposta para contornar perturbações psíquicas, e neste caso é recomendável o aconselhamento através de terapeutas. A terapia psicológica não se orienta sobre a sexualidade perturbada em si, mas ocupa-se sobre os fundamentos psíquicos existentes, como problemas de relacionamento entre parceiros. Perturbações sexuais espelham frequentemente conflitos não solucionados da autonomia e dependência dos clientes idosos, como por exemplo, a desconstrução de papéis, e com isto, a incorporação de sentimentos de aversão e de medo podem tornar-se fator limitante (Heidenblut & Zank, 2012).

2.4.6-Administração do tempo livre

Para a Gerontologia Aplicada, a administração do tempo livre é um tema importante da fase de envelhecimento, no qual são abordados os diferentes significados, funções e usos do tempo disponibilizado após a fase de aposentadoria. Os estudos mostram uma clara ligação entre o nível de atividade, a saúde, o tempo de vida e o status social no comportamento de uso do tempo livre por idosos. As atividades relacionadas ao uso do tempo livre compõem um importante fator dentro de uma nova cultura de envelhecimento ativo e exercem uma influência positiva em qualquer estágio de vida.

Na segunda metade do século vinte, decorrente do encurtamento do tempo de trabalho profissional, do aumento do tempo após a atividade profissional e da melhora das condições de saúde das pessoas que ingressam na fase de aposentadoria, ocorreu a percepção de estas pessoas não ingressavam apenas em um período de repouso, mas em uma nova fase de vida ativa. Este fato levou a literatura gerontológica a incorporar aspectos ligados ao planejamento de atividades de uso do tempo livre e políticas sociais foram propostas para que o nível de atividade possa atuar sobre a saúde e satisfação de vida de pessoas que envelhecem. A atividades de lazer que são incluídas na administração do tempo livre são um importante fator de integração social e desenvolvimento de capacidades que propiciam uma melhor condução do dia a dia das pessoas idosas.

A concepção mais frequente do tempo livre compreende a ideia do tempo, no qual, as atividades obrigatórias, em especial o trabalho e cumprimento de tarefas não são mais obrigatórias ou estão terminadas. Muitas pessoas, no entanto, incorporam o trabalho remunerado ou voluntário em sua agenda de uso do tempo livre e com grande espaço dentro do seu interesse e satisfação pessoal. Percebem o tempo livre como monótono ou preenchido com tarefas pouco gratificantes e nestas condições o trabalho passa a incorporar o tempo livre.

O tempo livre pode ter diversas conotações, que podem ser entendidas como consumo, como atividades de negócios, como fator importante da economia e da produtividade, mas também no desfrute do lazer. Nesta abordagem as pessoas idosas deixaram de ser classificadas como segmento improdutivo, mas tornaram-se reconhecidas como um importante segmento que demanda bens e serviços. Como segmento de consumo passaram a apresentar um papel significativo na atividade social e de impulso do crescimento econômico. São exemplos, o consumo no setor de lazer, turismo e participação no emprego de novas tecnologias de mídia e informação, onde o segmento alvo situa-se no grupo de idosos jovens, com idade de 50 anos ou mais.

Um outro significado de tempo livre no envelhecimento está relacionado ao conceito de atividade. A atividade realizada por idosos pode abranger prática de esportes, participação cultural, atividades de interação social. Pode estar associada a lazer, mas também a atividades obrigatórias, como no caso de exercícios corporais para a manutenção da saúde.

Conta para o desenvolvimento de atividades a motivação individual, que pode ser estabelecida pela forma de utilização das oportunidades de lazer, bem como pela participação em atividades relacionadas ao desenvolvimento de tarefas, hobbies, trabalho remunerado ou voluntário. No caráter central do conceito de atividade de uso do tempo livre está a dimensão de liberdade.

Considerando que há uma motivação, o indivíduo irá buscar definir a razão e a forma de condução de uma atividade de uso do tempo livre. Neste sentido, o conceito de tempo livre passa a ser caracterizado de forma subjetiva, que oferece uma orientação na busca de uma nova experiência de percepção pessoal ou uma busca da própria identidade. Tempo livre incorpora uma concepção que não está apenas ligada a atividade desempenhada no tempo, mas sobretudo ligada ao ator. Se uma pessoa age, ela também efetuou uma escolha. A escolha efetuada está interligada, em princípio com a motivação individual e menos influenciada por motivações externas. Tempo livre significa algo para manejar, algo para descobrir, significa uma escolha livre, significa uma atividade criativa, com um forte caráter de vivência.

Um conceito positivo do tempo livre no envelhecimento é oposto a ideia de descanso, de escapismo, de monotonia e se estrutura modernamente sobre a percepção de que há um grande potencial individual em pessoas que alcançam a fase de envelhecimento.

Embora haja uma grande variabilidade entre indivíduos, uma grande parte das práticas de uso de atividades de tempo livre está correlacionada com o avanço da idade. O avanço da idade determina uma moderação progressiva do tempo dedicado ao lazer, o que em geral resulta de precarização das condições de saúde e de fatores sócio econômicos. Deste modo, há uma redução crescente do interesse e da frequência na participação cultural, em eventos sociais e prevalece a utilização de atividades que demandam menor esforço corporal para uso, como consumo de mídia, televisão, rádio, leitura de jornais e revistas. Este comportamento é constatado para idosos com idades mais avançadas, independentemente de sua camada social.

Entre mulheres e homens mostram-se diferenças no uso do tempo livre. Homens idosos praticam mais frequentemente hobbies, escutam música, fazem excursões, praticam esportes, utilizam novas tecnologias de informação, enquanto que mulheres idosas escutam radio frequentemente, fazem passeios de compras, praticam jardinagem e fazem trabalhos manuais artesanais.

No grupo de pessoas com 60 anos ou mais as diferenças verificadas no comportamento do uso do tempo livre estão influenciadas, em grande parte, por diferenças de formação educacional. Em seu conjunto os dados também mostram uma participação mais significativa no uso do tempo livre por mulheres quando comparado com homens.

Na avaliação de atividades diárias é necessário incluir também a análise do estilo de vida praticado por idosos, cujos eventos passados e mudanças na estrutura do envelhecimento podem causar alterações no modo uso do tempo. Os estudos indicam que a alteração da condução de um modelo de vida ativo na passagem para a aposentadoria tem pouco significado. De um modo geral os idosos que se aposentam tendem a manter modelos tradicionais de uso do tempo livre. Mesmo quando uma sociedade pós-moderna seja pregada através de uma cultura de consumo, isto não significa, que automaticamente, o grupo de idosos com 60 anos ou mais, irá assumir uma nova cultura de consumo e desenvolvam novos estilos de vida. As principais atividades diárias de lazer ainda continuam sendo ver televisão, resolução de palavras cruzadas e passeios a pé. É, no entanto, esperado, que a condução do tempo livre venha a ser alterada significativamente nos anos futuros pelas novas gerações que ingressarem na fase de envelhecimento. Esta perspectiva fundamenta-se no maior nível de formação educacional, o qual irá influenciar na modificação dos hábitos de consumo de pessoas que irão envelhecer.

O conhecimento atual do modo de vida de pessoas com idade entre 50 e 75 anos, e que mantém um elevado nível de atividade mostram que detém um alto grau de suporte da autonomia, mobilidade e inclusão social. No caso de pessoas com idades avançadas, existe, no entanto, maior vulnerabilidade decorrente de restrições físicas e cognitivas que levam a monotonia, solidão e a redução da qualidade de vida.

Os estudos sobre uso do tempo livre e ocupação do tempo no envelhecimento, revelam um campo específico para a adoção de estratégias de gestão da idade avançada, a qual tem a ver com as condições de saúde, e que possa promover a adaptação das capacidades funcionais e institucionais para compensar vulnerabilidades individuais.

No caso do uso do espaço público destinado ao uso do tempo livre (parques e jardins) por exemplo, sobressaem as condições de segurança. Pessoas idosas acabam restringindo o uso do espaço público por dificuldades de deslocamento nas vias públicas e medo da criminalidade. A região onde se encontra a moradia, é por isto, de grande significado, porque o quotidiano de pessoas aposentadas e de pessoas com idades avançadas concentra-se nas proximidades do seu local de residência. As facilidades de deslocamento dentro da estrutura urbana tende a estimular a frequência e o exercício da interação social, que representam uma função de fortalecimento e estimulação da motivação para criação de um suporte social para uso do tempo livre.

O objetivo da pesquisa e do debate sobre a vida no envelhecimento concentra-se na busca de modelos de atividades diárias que sejam plenas de sentido e gratificantes. O tempo livre do idoso é construído, menos como uma extensão dos hábitos do tempo de trabalho que precede a aposentadoria, mas mais, como a absorção de uma nova estrutura de estilo de vida. É uma mudança do estilo da vida diária, e pode acontecer que o tempo livre possa se constituir em um fardo carregado de ociosidade. Pode haver também um processo, no qual pode persistir uma maior pressão para que seja mantido um elevado grau de atividade, e que não deve ser vivido de modo a representar uma sobrecarga para a pessoa idosa (Kolland, 2012).

2.4.7-Referências

ABDOUN,E. Mini-jeûnes. Une panacée à la portée de tous? In: Science & Vie, Mondatori, France, nº 1177, octobre, 2015

ABDOUN,E, BETTAYEB, A,K, GRACCI,F & RAMBERT,H. Les super-pouvoirs du Ventre, In; Science & Vie, Mondadori France, nº 1.183, avril, 2016

BONNEAU,C,SAUMET,M,BETTAYEB,K,ABDOUN,E,DELPORT,A. Notre Assiete em Question. Science & Vie, Hors Série 274, mars, Mondadori France p.99, 2016

ERICKSON,K,I, MILLER,D,L, & WEINSTEIN,A,M. Verbesserung der Gehirnfunktion und Der kognitiven  Leistungsdfähigkeit durch körperliche Acktivität. In: Wahl,H,W, Römer,C,T & Ziegelmann, J,P, Angewandte    Gerontologie, Stuttgart, Kohlhammer 2012

HANCOK,C. Tels parentes, telles bactéries. Science & Vie, Hors Série 272, septembre Mondadori France, p. 85, 2015

HEIDENBLUT,S. & ZANK,S. Sexualität. In: Wahl, H.W, Tesch-Römer C. & Ziegelmann,J,P. Angewandte          Gerontologie, Stuttgart, Kohlhammer, 2012

KOLLAND,F. Freizeitgestaltung, In: Wahl,H,W, Römer,T,C & Ziegelmann, J,P. Angewandte Gerontologie, Stuttgart,    Kohlhammer, 2012

SIEBER,C, Ernährungsintervention. In: Wahl,H,W, Römer,C,T & Ziegelmann,J,P. Angewandte Gerontologie,            Stuttgart, Kohlhammer, 2012

WAHL,H,W. Erhalt und Wiedergewinung von Altagskompetenz. In: Wahl,H,W, Römer,C, T, & Ziegelmann,J,P,          Angewandte Gerontologie, Stuttgart, Kohlhammer, 2012

 


Sobre o autor:

Nelson Frederico Seiffert

Doutor em Engenharia de Produção, com a tese de Doutorado sobre Gestão Ambiental. Trabalhou em Pesquisa na EMBRAPA durante 25 anos.

Desenvolve atualmente estudos na área de Gerontologia Ambiental e Aplicada. Conduziu Seminários sobre Gerontologia Ambiental e Aplicada no NETI/UFSC em 2015, 2016 e é Diretor Técnico Científico da ANG/SC – GESTÃO 2017/2019.

E-mail: [email protected]

 

 

 

Artigos de Associados

O desafio da realização da vida no envelhecimento

2.3-O DESAFIO DA REALIZAÇÃO DA VIDA NO ENVELHECIMENTO

Nelson Frederico Seiffert

No primeiro plano de uma realização exitosa da vida em idosos situa-se o desafio de lidar com perdas nos diferentes aspectos de competências funcionais, tanto da saúde corporal como cognitiva. Modelos de configuração da vida em idades avançadas precisam incluir processos de controle das perdas. Resultados de pesquisas indicam que a imposição de objetivos pessoais desempenha um importante papel e que a escolha de objetivos pessoais (seleção), o esforço em melhorar e perseguir objetivos (otimização) e a substituição de perdas (compensação) conduzem a um envelhecimento bem-sucedido.
Uma definição clara de novos objetivos pessoais para substituir e condicionar perdas, com um foco centrado sobre o processo de condução da vida, em vez de focar apenas sobre a expectativa de resultados, pode ajudar a evitar novas perdas em épocas futuras (Freund & Hennecke 2012).

2.3.1-Configuração da vida em idade avançada

Em idade avançada ocorre numerosas modificações, as quais representam um desafio para o suporte das condições de vida. Estas modificações ocorrem em grande parte por perdas no processo de desconstrução somática, como perdas da funcionalidade corporal, perdas da fluidez da inteligência e da capacidade da memória. No entanto, estas perdas não são uma regra geral para todas as pessoas, muitas das quais apresentam maior estabilidade funcional em idades avançadas, como por exemplo, no âmbito individual da fala e da capacidade cognitiva.No campo individual, em idades avançadas, podem ocorrer inclusive ganhos, como por exemplo, maior satisfação pessoal através do incremento de contatos sociais. No caso da aposentadoria ocorrem efeitos de perdas e ganhos. Por um lado, a aposentadoria está ligada a perdas de contatos com colegas de trabalho e de uma estrutura diária baseada em uma rotina estável. Por outro lado, a aposentadoria oferece a abertura de novas possibilidades através da liberdade de utilização do tempo livre, como a realização de passeios e viagens, o desenvolvimento de hobbies, prática de esportes, entre outras. O tempo após a aposentadoria traz consigo um grande potencial para incrementar ações otimizadas que ofereçam suporte a vida de pessoas idosas.
As modificações individuais que surgem em idades avançadas, representadas por perdas crescentes de habilidades corporais e decorrentes de normas sociais ou de expectativas para esta fase da vida, impõe desafios especiais para a sustentação da qualidade de vida de pessoas que envelhecem. Por esta razão, assumem elevada relevância os processos que atuam sobre a forma de como lidar com as perdas que atingem o envelhecimento.
Diversos estudos e pesquisas propuseram modelos que oferecem orientações de apoio ao envelhecimento, os quais possibilitam administrar modificações e manipular recursos de saúde que se alteram com a idade. A diferença central entre estes modelos situa-se no foco, que pode ser direcionado a uma abordagem proativa, reativa ou pela adoção de controles psicológicos. O modelo de Seleção, Otimização e Compensação (SOC) coloca na formulação de sua teoria de aplicação, prioritariamente, processos proativos e motivacionais.
O modelo da Seleção, Otimização, Compensação – SOC, proposto por Baltes & Baltes (1990) citado por Freund & Hennecke, (2012) postula que o desenvolvimento exitoso do envelhecimento pode ser definido como a maximização simultânea de ganhos de desenvolvimento pessoal e a minimização de perdas. Estas podem ser promovidas através da ação conjunta da seleção de objetivos, da otimização de fatores de desempenho e na compensação de inabilitações funcionais, adoção de estratégias de comportamento, auto regulação e uso de recursos de apoio funcional. O modelo estabelece que a persistência em alcançar objetivos pessoais é o princípio fundamental de suporte a uma vida exitosa no envelhecimento.
A Seleção é definida como o desenvolvimento de escolhas, priorização e contextualização de objetivos (a caracterização de objetivos individuais dentro de seu contexto pessoal de vida), bem como o comprometimento com os objetivos escolhidos.
A seleção exitosa indica que a escolha de objetivos está baseada no pressuposto de que ocorre um leque de alternativas que podem ser introduzidas no processo de envelhecimento para a melhora do desempenho físico e cognitivo individual. O processo de seleção leva o foco a um certo número de possibilidades limitadas que sejam realizáveis pelos indivíduos, e de um modo geral, idosos em idades avançadas estabelecem e conduzem apenas um pequeno número de objetivos. Tal abordagem conduz mais realisticamente a um desempenho exitoso destes objetivos na superação de desabilidades e permite conduzir melhor o dia a dia, quando comparado com pessoas que se conformam com os fatos que os afetam ou deixam-se conduzir pelos acontecimentos, aceitando as perdas.
A otimização orienta-se sobre a persistência na melhoria de objetivos, os quais buscam um ganho de desenvolvimento pessoal. Para isto conta a aquisição e ganho de novas habilidades, o reforço de recursos pessoais, o treinamento de habilidades, a orquestração de habilidades e o investimento de tempo com foco no alcance de objetivos claramente estabelecidos. Os processos de otimização conduzem a elevação ou manutenção de níveis de funcionalidade mais elevados.
Pelo fato de que as perdas se acentuam no envelhecimento o processo de compensação apresenta uma elevada importância. Compensação significa a inclusão de meios para atuar no controle ou substituir perdas, como por exemplo no uso de cadeira de rodas quando o aparelho locomotor apresenta restrições de mobilidade.
Estratégias típicas de compensação são a substituição de habilidades perdidas através da aquisição de novas habilidades, o uso de recursos não utilizados ou a inclusão de suporte através de outra pessoa.
Na administração de modificações no estado de saúde causadas por perdas funcionais, os procedimentos adotados no modelo SOC estão ligados ao planejamento de manutenção da saúde. A aplicação diária de seus princípios possibilita a reabilitação em pessoas, mesmo em idades mais avançadas. Na prática de intervenção deveria estar incorporado o treinamento sobre o uso de estratégias de suporte e proteção a perdas por inabilitações corporais e cognitivas. Os resultados demonstram que na adaptação de objetivos de manutenção da saúde, após a incidência de restrições físicas, a introdução de recursos de compensação pode minimizar o efeito de perdas.
Enquanto que, em idosos jovens a prioridade é o acúmulo de recursos, de facilidades, da otimização na formação educacional, das finanças, da interação familiar, do uso do tempo livre, em idades mais avançadas, as pessoas passam a ser confrontadas com perdas de motivação, da mobilidade e da capacidade cognitiva, havendo necessidade da adoção de medidas que estimulem a manutenção do nível funcional. Não apenas elevar o nível de motivação para evitar agravamento de perdas, mas também perseguir objetivos ligados a valores subjetivos de bem-estar.
Em idosos com idades avançadas os objetivos buscam medidas que possam reduzir perdas funcionais, enquanto que em adultos jovens os objetivos buscam alcançar níveis elevados de desempenho funcional corporal e cognitivo.
A adoção de medidas de suporte para a realização da vida em idades avançadas não depende apenas do domínio do controle exitoso da evolução das perdas, mas também na configuração da própria vida, através do estabelecimento de objetivos pessoais capazes de ser perseguidos. Ao longo do curso de vida é necessária uma orquestração de estratégias que previnam o agravamento de perdas e possam elevar o desenvolvimento de ganhos.
Na prática, parece que a auto regulação para perseguir objetivos pessoais descortina um campo de atuação no qual ainda é possível que sejam obtidos ganhos pessoais. No caso da nutrição e de dietas para emagrecimento, por exemplo, idosos conseguem bons resultados. Outros resultados de auto regulação indicam a importância da imposição de objetivos na regulação emocional que causam efeitos negativos e no reforço da manutenção de efeitos positivos. Os resultados indicam também que a auto regulação é um processo que pode ser treinado através de intervenções objetivas, e que é possível o seu desenvolvimento, mesmo em idades avançadas (Freund & Hennecke, 2012).

2.3.2-Gestão da multimorbidade e doenças crônicas

Em estágios mais avançados do envelhecimento os indivíduos estão sujeitos a sofrer a incidência de doenças decorrentes da multimorbidade e de doenças crônicas. As pessoas são atingidas simultaneamente por diversas doenças, nas quais não há possibilidade de uma cura definitiva, o que impõe modificações orgânicas e psíquicas e que exigem uma nova adaptação do modo de vida. Nesta etapa a tarefa de gestão das inaptidões decorrentes da doença requer uma forte cooperação entre o doente e as pessoas que irão oferecer apoio e tratamento.
As enfermidades que ocorrem no envelhecimento são influenciadas por recursos pessoais dos indivíduos, por terapias desenvolvidas a partir do conhecimento das características das doenças, por intervenções terapêuticas e pelo apoio disponível no ambiente social do idoso. Em pessoas com idades mais avançadas os recursos cognitivos tendem a sofrer regressão. Esta condição pode influenciar o desenvolvimento de um tratamento efetivo, pela dificuldade de obter informações através do doente para a caracterização das diferentes causas de inabilitações que o atingem e o desenvolvimento da terapia adequada.
Em idades mais avançadas as doenças que afetam os indivíduos apresentam características especiais de multimorbidade e ser de caráter crônico. A morbidade manifesta-se com grande probabilidade através de diversas enfermidades simultâneas. No grupo de pessoas com 70 anos ou mais, o número de indivíduos que são afetados por cinco ou mais doenças chega a 30%, e com isto, também se eleva o número de pessoas que passam a tomar um maior número de medicamentos. Estas enfermidades manifestam-se como doenças crônicas, caracterizam-se por sua longa duração e não oferecerem possibilidades de cura.
A gestão de doenças crônicas e das limitações decorrentes de sua incidência está centrada fundamentalmente no manejo conjunto de aspectos subjetivos da vida individual e dos efeitos resultantes que sobrecarregam a pessoa através das restrições no uso dos recursos corporais e cognitivos.
Para a gestão da administração exitosa de doenças crônicas é indispensável conhecer a condição dos recursos individuais, físicos, cognitivos e ambientais disponíveis, a clara compreensão e aceitação da doença pelo indivíduo e a introdução de medidas de intervenção capazes de atuar sobre os recursos pessoais e sobre a compreensão e aceitação da doença pelo doente.
Para a tomada de decisão sobre medidas de tratamento, os estudos levam em consideração, além da listagem das enfermidades incidentes no indivíduo, a caracterização dos recursos pessoais que podem ser lançados mão, a orientação a ser dada para a terapêutica e o convencimento da pessoa doente sobre a eficiência de medidas de controle do stress resultante. Contam para o tratamento, ao lado do conhecimento detalhado da doença, a disponibilidade de recursos sociais e de apoio familiar.
Pelo lado da aceitação da doença é de importância central que haja uma conscientização pela pessoa afetada de que a doença incorpora em seus aspectos de tratamento uma modificação no comportamento e do modo de vida. Neste aspecto existem diversos conceitos de intervenções como programas de aprendizado no caso da diabete, no controle do stress, medidas de terapia familiar, os quais são disponibilizados por instituições públicas ou privadas e que contribuem para a efetividade de medidas de tratamento direcionadas aos doentes.
Entre os diversos modelos de intervenção que são propostos, dois distinguem-se por seu foco de atuação sobre crises em geral e limitações causadas por doenças. Em um modelo por exemplo, a pessoa atingida experimenta modificar ativamente a vivência da doença. Noutro é modificado o conceito das limitações que atingem o indivíduo, caracterizados quais valores são modificados e quais objetivos serão adaptados, de forma a desconstruir as limitações ou mesmo propor a sua não aceitação. Neste caso, por exemplo, é possível introduzir controles que exercem influência sobre as condições do ambiente externo, como na redução de barreiras existentes no ambiente residencial que afetam a mobilidade e podem causar lesões e quedas.
As medidas de intervenção são estruturadas para levar ao enfraquecimento ou eliminação de dificuldades causadas por doenças crônicas e baseiam-se em especial no trabalho conjunto ativo do paciente. Além de mudanças no modo de vida diário, contam por exemplo, a auto regulação da ingestão dos medicamentos e a visitação regular para consulta e acompanhamento médico.
A gestão de doenças direcionada a pessoas idosas deveria estar focada especialmente sobre as reservas de recursos da pessoa, em fatores motivacionais, bem como em variáveis cognitivas. Os modelos de terapias estão fortemente influenciados por especificidades individuais e os objetivos para uma intervenção otimizada precisam decorrer do planejamento e conduzidas no contexto biográfico dos pacientes (Kliegel et al, 2012).

2.3.3-Lidar com a viuvez

Uma das perdas mais graves que pode ocorrer em idades mais avançadas é o falecimento do cônjuge, no entanto, o dano que pode causar nos indivíduos é variável. É verificado que muitas pessoas idosas podem lidar de forma positiva com a perda do seu companheiro e dificuldades prolongadas de adaptação somente são identificadas em pequenos grupos menos significativos. Um objetivo importante do tratamento da viuvez é compreender as dificuldades e necessidades das pessoas atingidas e oferecer as melhores medidas de apoio possíveis.
A morte de uma pessoa próxima é uma das experiências de ruptura mais cortante que pode ocorrer no curso de vida do indivíduo. A forma de como lidar com a viuvez é uma parte do estudo do envelhecimento que envolve um tema permanente e de importância para a gerontologia aplicada.
O que esta perda significa para os indivíduos varia bastante. Pode significar em primeiro lugar a perda da única pessoa íntima confiável, e da pessoa com quem se desenvolveu a fundação de uma família, a construção de um lar e a criação dos filhos e descendentes. Através do compartilhamento da organização da vida diária ocorre uma interação pessoal que dá significado a existência na velhice e a perda desta condição representa um aspecto muito difícil de administrar. Para a pessoa que sobrevive, parece que uma parte de si mesmo foi suprimida. Acrescente-se a este momento delicado, que as providências que precisam ser tomadas pela pessoa que permanece, assume uma sobrecarga administrativa elevada, que se adiciona a uma fase emocionalmente dura e com forte influência sobre o estado de saúde do indivíduo.
No caso do falecimento após um longo período de enfermidade é provável que os familiares que atuaram nos cuidados ao doente estejam extenuados e o falecimento venha a se constituir em um momento de alivio.

A orientação da maneira de como se lidar com a viuvez pode assumir diferentes formas e há um entendimento de que as medidas de controle de suas consequências são importantes. Em uma situação considerada “normal” ou “saudável” ocorre uma fase intensa de tristeza e luto, na qual a pessoa atingida se concentra no abatimento, seguindo-se por uma fase de “normalização gradual”, a qual em determinado momento desemboca em um estado que se define como de “superação”. Desvios neste padrão de reação, como no alongamento do estado de luto, a conduta é considerada como sinal de uma reação patológica, que irá desenvolver ou agravar problemas de saúde. O prolongamento da fase de luto só tem significado para diversas culturas, que em geral não são ocidentais.
Os estudos mostram uma grande variabilidade entre indivíduos nas reações sobre a viuvez e indicam duas orientações para se superar o trauma da perda. A primeira concentra-se sobre a sensibilidade ao luto e sobre a realidade das perdas, enquanto a segunda orienta-se para a tentativa de mitigar a dor, buscar distanciar-se da tristeza e concentrar-se sobre as demandas diárias da vida.
A pessoa atingida precisa dosar a vivência do luto e ao mesmo tempo, suprir espaço, reunir forças para efetuar a modificação necessária da vida quotidiana. Na prática, a adoção de ambas estratégias é o mais comumente eficaz.
Pessoas, que no período anterior à perda, estiveram afetadas por perturbações psíquicas, como depressão ou pânico, vivenciam com maior dificuldade a viuvez. Quando a viuvez ocorre em idades avançadas é provável também ocorrer o agravamento da saúde do idoso remanescente. No caso de uma longa fase de cuidados dedicados ao cônjuge doente, antes de seu falecimento, isto representa uma sobrecarga de cuidados e desgaste do estado emocional, o que pode ser agravado pela falta de apoio dos familiares no processo de divisão de responsabilidades na prestação de cuidados ao doente.
Também é encontrada frequentemente uma relação negativa entre baixos níveis de rendimentos e o grau de formação escolar da pessoa viúva. Esta condição causa uma tensão significativa na fase de prestação de cuidados ao enfermo pelo grupo de pessoas responsáveis, e na adaptação da pessoa viúva na fase da vida após o falecimento.
Outro aspecto que influi no modo como as pessoas lidam com a viuvez é a forma de organização individual ou familiar frente a realidade da finitude. É bastante claro que as pessoas se sentem despreparadas para a morte, mesmo após longos períodos de tratamento da pessoa doente. Os estudos indicam que ocorrem três campos que podem ser focados no enfrentamento da morte: o emocional (paz decorrente do falecimento após fase de tratamento); o programático (planejamento e providências antecipadas); o campo da informação (entendimento de aspectos médicos da fase final da vida). No entanto mesmo pessoas que se organizaram antecipadamente ainda podem sofrer reações e influencias emocionais inesperadas.
Como regra geral, deve ser reconhecido que muitas pessoas viúvas não irão necessitar medidas de intervenção de apoio especial. Os dados indicam inclusive que elas superam melhor a viuvez, quando suas reações adaptativas naturais podem transcorrer sem ser perturbadas por intervenções desnecessárias. Ao mesmo tempo deve ser reconhecido que a pessoa atingida em sua experiência pessoal de perda precisa ser apoiada. Uma validação de sua vida por pessoas do seu ambiente de relacionamento é considerada como uma forma importante de ajuda. Neste sentido grupos profissionais que atuam em apoio ao luto desempenham um papel relevante na ajuda pessoal para a busca da definição de novos objetivos. Algumas perguntas e respostas que podem ser levantadas são oportunas, e ajudam a reestruturar a vida da pessoa viúva, entre as quais podem ser citadas: em que medida a pessoa se sente deprimida ou amedrontada; quanto amparo através da famílias e amigos foi encontrado; no caso de um tratamento prolongado, quanto esforço e sobrecarga atingiu a pessoa; em que medida a pessoa se sentiu organizada/preparada para lidar com o falecimento e apoio a sua vida após a morte. Opções de apoio e tratamento a viuvez podem resultar destes questionamentos, através da forma como estas perguntas são respondidas, e podem conduzir um tratamento medicamentoso ou psicoterápico no caso de pânico ou depressão (Boerner, 2012).
2.3.4-Planejamento e administração da aposentadoria
A saída da pessoa da atividade profissional e a adaptação para a fase pós trabalho tem importantes repercussões, tanto para o interesse individual como público. A passagem para a aposentadoria é entendida como uma experiência crítica para a vida pessoal e traz responsabilidades que exigem uma nova adaptação e planejamento individual. Medidas de planejamento para a aposentadoria tem sido oferecida por empresas através de cursos que incluem aspectos da legislação que afetam aposentados e sobre o direito de idosos. O engajamento de instituições públicas neste trabalho tem oferecido resultados positivos na orientação de gestão da aposentadoria.
O financiamento do sistema de aposentadoria no Brasil tem se mostrado um enorme desafio para a sociedade em função de mudanças demográficas e alongamento do tempo de vida. O desequilíbrio da Previdência Social alcançou nos primeiros 11 meses de 2014 o valor de R$58,4 bilhões ante R$55,3 bilhões registrados para o mesmo período de 2013. Como proporção do PIB o desequilíbrio previdenciário foi de 1,25% e tem sido influenciado pela assunção de compromissos com aposentados do setor rural, que contribuem com valores ínfimos e o descumprimento histórico da União na obrigação de custear um terço das despesas do INSS, cabendo um terço às empresas e um terço aos empregados. Se a regra tivesse sido cumprida não haveria desequilíbrio (Editorial Econômico, Estado de São Paulo, 02/01/15).
Com a passagem para a fase pós trabalho, surge um desafio para os indivíduos e seu ambiente pessoal, e cuja nova condição de vida precisa ser avaliada de forma crítica. As condições de vida de pessoas aposentadas são influenciadas por seu nível de formação e de qualificação profissional, pelo seu histórico econômico e social e por características pessoais e familiares, as quais são bastante diferenciadas entre os indivíduos que se aposentam. No contexto histórico individual influi de forma marcante a realização de um planejamento antecipado para o tempo da aposentadoria o que inclui conhecimentos adquiridos nos anos da vida profissional e fatos que incidiram sobre as condições sociais e de saúde.
A condição de vida modificada pela aposentadoria levou a Gerontologia, a Sociologia e a Psicologia a realizar inúmeros estudos para desenvolver orientações sobre a necessidade de adaptação ao tempo pós trabalho, o qual indicou um quadro de resultados bastante diferenciado entre grupos de pessoas aposentadas. Com o ingresso na aposentadoria altera-se a situação financeira. Em média, perdas de receitas alcançam 25% a 30%, mas ocorrem diferenças significativas ligadas ao nível de educação, status profissional prévio e entre homens e mulheres. No caso de casais o nível de renda da aposentadoria é maior, enquanto que solteiros, separados, viúvos e mulheres, tem receitas mais baixas.
O status de saúde pode sofrer melhoras em pessoas que se aposentaram em razão de inabilitações decorrentes do trabalho, mas isto também implica em uma receita menor decorrente do tempo de aposentadoria antecipada.
O bem-estar geral, embora seja um aspecto subjetivo, permanece em geral alto, o que decorre de ganhos específicos de tempo livre e pequenas perdas de status e de receitas não chegam e exercer uma influência negativa expressiva.
Grandes pioras na condição de vida na fase de aposentadoria estão ligadas a pessoas com baixo nível educacional e sócio econômico, sobretudo em mulheres e em pessoas mal inseridas na rede social. Com a perda de contatos em seu grupo de trabalho, o status social passa a se reduzir e depender do círculo familiar, de amigos, de inclusão em grupos de relacionamento, de grupos religiosos e de apoio institucional.
A aposentadoria também pode definir uma nova forma exitosa de se lidar com a estrutura do tempo, o que permite o estabelecimento de novos objetivos e criação de interesses que substituem atividades anteriores menos prazerosas. Neste aspecto podem ocorrer efeitos positivos, por haver maior disponibilidade de tempo para ser dispendido com familiares, estabelecer novos contatos, desenvolver atividades de lazer, hobbies e participar de grupos sociais.
A adaptação ao período de aposentadoria é melhor conduzida através do planejamento antecipado. Estratégias de adaptação estão atualmente impregnadas da imagem de “um envelhecimento produtivo” e integração social através de uma participação ativa. Para incorporar estes objetivos, estão disponíveis para pessoas aposentadas, inúmeras ofertas de formação complementar como Universidades da Terceira Idade, Cursos Técnicos de reciclagem e atualização profissional para grupos seniores, que desejam continuar no mercado de trabalho. Contam também iniciativas de pequenas e médias empresas que incorporam aposentados em seu quadro funcional e organizações que aceitam voluntários para atuarem em ações comunitárias e sociais.
O conceito de projeto orientado para a adaptação de aposentados tem sido objeto de estudos e pesquisas, nos quais participam idosos, contribuindo com troca de experiências, no desenvolvimento de alternativas de interesse comum e engajamento comunitário. O financiamento destas iniciativas tem ocorrido através, tanto da iniciativa privada como por instituições públicas (Clemens, 2012).

2.3.5-Fontes de consulta

BOERNER,K, Umgang mit Verwitwung, In: Wahl,H,W, Römer,T,C & Ziegelmann, Angewandte Gerontologie, Stuttgart, Kohlhammer, 2012.

CLEMENS,W, Vorbereitung auf und Umgang mit Pensionierung. In: Wahl,H,W, Römer, C,T, & Ziegelmann,J,P. Angewandte Gerontologie, Stuttgart, Kohlhammer, 2012.

FREUND,A,M, & HENNECKE,M. Lebensgestaltung im höheren Alter. In. Wahl,H,W, Römer,C,T & Ziegelmann,J.P. Angewandte Gerontologie, Stuttgart, Kohlhammer, 2012.

KLIEGEL,M, BROM,S,S,MELZER,M & AKGÜN,C. Krankeit und Krankeitsmanagement. In: Wahl,H,W, Römer,C,T & Ziegelmann,J,P, Angewandte Gerontologie, Stuttgart, Kohlhammer, 2012.

O ESTADO DE SÃO PAULO, Economia-Editorial Econômico, Aumento sazonal do déficit do INSS, 02/01/2015.


Sobre o autor:

Nelson Frederico Seiffert

Doutor em Engenharia de Produção, com a tese de Doutorado sobre Gestão Ambiental. Trabalhou em Pesquisa na EMBRAPA durante 25 anos.

Desenvolve atualmente estudos na área de Gerontologia Ambiental e Aplicada. Conduziu Seminários sobre Gerontologia Ambiental e Aplicada no NETI/UFSC em 2015, 2016 e é Diretor Técnico Científico da ANG/SC – GESTÃO 2017/2019.

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