Artigos de Associados

Prevenção no curso de vida

2.2- PREVENÇÃO NO CURSO DE VIDA

Nelson Frederico Seiffert

2.2.1 -Formas e significado da prevenção

Prevenção é a ação ou resultado de prevenir-se. Conjunto de medidas ou preparação antecipada (de algo) que visa prevenir (um mal), precaução, cautela. Prevenir é dispor com antecipação (algo) de modo que se evite mal ou danos. Impedir que aconteça, evitar.
A prevenção é um aspecto importante da Gerontologia Aplicada e medidas de intervenção preventivas direcionadas para pessoas idosas tem o objetivo central de assegurar a manutenção dos recursos e controlar o avanço no agravamento do estado de saúde.
A prevenção é também valiosa em idades avançadas. O objetivo de medidas preventivas situa-se sobretudo na manutenção, prevenção da piora da condição de saúde e preservação da autonomia individual. Através de medidas orientadas sobre exigências de saúde, sobretudo de fatores de proteção direcionados ao comportamento das pessoas, é possível que seja alcançado ganhos, não só do tempo de vida, mas também ganhos de vida em boas condições de saúde, com elevado bem-estar, através da compressão da morbidade.
A promoção da saúde deveria ser direcionada para todas as fases do curso de vida, porque os fundamentos de uma vida saudável devem ser incluídos antecipadamente na condução da vida diária. Não deveria ser focada exclusivamente em pessoas com idade avançada porque diz respeito a todos os grupos que ingressam na fase de envelhecimento (Schüz & Ziegelmann, 2012).
Em idades avançadas a prevenção oferece um campo de estudos que apresenta conteúdos valiosos para a pesquisa da Gerontologia Aplicada. Este significado é evidenciado pela Organização Mundial de Saúde, conforme citado por Schüz & Ziegelmann (2012) pelo fato da prevenção indicar que tem um grande valor com o objetivo de formular orientações precoces para pessoas idosas, para que possam usufruir um nível elevado de saúde, autoconfiança, independência e mantenham uma participação ativa na vida social (Weltgesundheitorganisation, 1999).
Estes objetivos indicam sobretudo, que a prevenção na fase de envelhecimento não se situa apenas no estreito conceito do controle e redução do efeito de doenças. Dados atuais de relatórios institucionais da área de saúde indicam, por exemplo, que em grupos de idosos com 64 a 69 anos de idade, 62% sofrem de duas ou mais doenças. No grupo de 70 a 75 anos são cerca de 74% e no grupo de 76 a 81 anos são cerca de 80%.
Isto significa que, o ponto central da prevenção nos estágios mais avançados do envelhecimento, deve concentrar-se, sobretudo, em medidas de prevenção da piora do padrão de saúde, sobre a manutenção dos recursos de saúde ainda disponíveis e para evitar a incidência de novas doenças. Estas intervenções buscam alcançar a compressão da morbidade.
Na subdivisão das etapas de intervenção a prevenção pode ser dividida em Prevenção Primária, Prevenção Secundária e Prevenção Terciária. Sobretudo, não deve deixar de ser considerado que, quando o objetivo é evitar o surgimento de doenças, no caso de doenças específicas como cardiovasculares, estas podem ser evitadas ou reduzidas preventivamente por medidas adequadas de atividade corporal e exercícios físicos.
Pontos de partida para prevenção no envelhecimento:
Os pontos de partida para prevenção, e o grau de sua influência, pelos quais são introduzidas propostas de prescrições de modificações na condução da saúde, são originados a partir de riscos e fatores de proteção para doenças do envelhecimento.
No grupo de idosos não se encontram apenas fatores que são dificilmente modificáveis (ex. predisposição genética, condições ambientais fixas), mas também fatores e variáveis alteráveis (ex. recursos ambientais modificáveis, fatores de risco comportamentais), e também fatores psicológicas e corporais que podem ser alterados. O grau de influência de cada uma destas modificações é variável sobre cada fator, pode atuar de forma simultânea ou ainda agir entre si de forma contrária.
Como exemplo, modificações da fisiologia (estudo das funções e do funcionamento normal dos seres vivos, especialmente dos processos físico-químicos que ocorrem nas células, tecidos, órgãos e sistemas dos seres vivo sadios) do envelhecimento, como a perda de massa muscular, pode ser compensada por treinamento físico orientado. Os efeitos de tais medidas podem ser efetivos e verificados, mesmo para pessoas bastante idosas (até mais de 80 anos). Por outro lado, modificações fisiológicas trazidas pelo envelhecimento podem ser influenciadas através de diferentes medidas de estabilidade, como por exemplo o rearranjo de recursos ambientais, como na substituição de equipamentos residenciais que dificultam a movimentação dentro das dependências da moradia.
Em outra forma a prevenção orienta-se para o modo de conduta individual, sobretudo sobre a capacidade da pessoa de incorporar modificações de comportamento, sobre o qual é decidido e complementado um Plano de Tratamento de Medidas Preventivas.
Enquanto que efeitos estáveis sobre o estado de saúde, como no caso de predisposição genética e alterações psicológicas são pouco influenciáveis, na melhor hipótese podem ser retardados, outros efeitos podem ser modificados em graus variáveis através da aplicação de medidas apropriadas. O resultado da adoção de uma medida preventiva adequada, depende de que seja direcionada para uma doença específica, ou se for uma medida genérica. Dentro do direcionamento a uma doença específica, atividade corporal por exemplo, pode ser apropriada para agir sobre a propensão da ocorrência de doenças cardiovasculares e também diabete mellitus tipo II, e prover para o não surgimento de doenças demenciais.
Dentro de uma moldura de medidas gerais são abordadas por exemplo, prioridades de conduta para pessoas idosas como no caso de controle do tabagismo, consumo moderado de álcool, atividade corporal, nutrição fora do comum, ingestão irregular de medicamentos. A maioria destes hábitos tem a possibilidade de influenciar diversas causas de doenças.
Propostas de condutas orientadas a prevenção:
As sugestões que são relacionadas abaixo para orientar procedimentos, foram levantados em trabalhos considerados com maior grau de influência sobre a saúde no envelhecimento.
Também em pessoas com idades avançadas (80 manos ou mais) o ato de fumar ainda é um fator de risco significativo para mortalidade, o que significa, que ainda neste grupo seja possível conseguir melhoras de saúde, quando a pessoa parar de fumar. São susceptíveis a efeitos detrimentais as vias respiratórias e doenças cardiovasculares, cujos danos podem ser reduzidos. Programas desenvolvidos para grupos alvo jovens, podem também ser aplicados a pessoa idosas, onde a taxa de sucesso é maior que no caso de jovens. Os argumentos repousam sobre ganhos de bem-estar na superação da dependência e no tempo de vida.
No caso da ingestão irregular de medicamentos por indivíduos idosos, muitas pessoas não se mantêm ligadas às orientações recomendadas para o seu uso. Ao lado de razões variáveis não intencionais, como o esquecimento ou troca de embalagem e tempo de consumo, idosos assumem motivações pessoais para alterar as recomendações de uso dos medicamentos. Isto fundamenta-se no fato de que pessoas idosas frequentemente lidam, ao mesmo tempo, com diversas doenças, com prescrições diversas, com diversos medicamentos. Na prática médica, pode acontecer que diferentes médicos prescrevem diferentes medicamentos, os quais interagem e podem causar efeitos colaterais indesejáveis.
O planejamento e a separação mecânica de medicamentos de uso diário e semanal podem ser organizados antecipadamente, sendo bastante útil para evitar erros não intencionais, mas medidas objetivas para evitar a modificação na prescrição precisam alcançar todo o conjunto de medicamentos através do esclarecimento
detalhado para o idoso, de como exatamente cada medicamento atua no controle das doenças.
Atividades corporais são recomendadas sistematicamente em muitos trabalhos de pesquisa, especialmente para pessoas idosas. O Colégio Americano para Medicina e Esporte, que divulga as mais importantes orientações para atividade corporal de idosos sugere por exemplo: para prevenção de quedas o treinamento de equilíbrio; para prevenção de restrições na capacidade de movimentação e flexibilidade, pelo menos exercícios durante 10 minutos, duas vezes por semana. Para melhora geral do estado de saúde, três vezes por semana durante 20 minutos, para exercícios com esforço elevado, ou cinco vezes por semana, por trinta minutos, para exercícios de esforço moderado. Na prática, apenas uma minoria de pessoas idosas alcança este nível de atividade sugeridas nas recomendações.
Para modificações efetivas e duradouras das atividades corporais, ao lado da disponibilização de estruturas nas quais idosos possam desenvolver atividades físicas há necessidade do apoio (um programa) e também são importantes fatores individuais como motivação e planejamento.
Pesam na prevenção da saúde corporal ainda aspectos ligados a saúde cognitiva,
saúde bucal, nutrição, utilização de conhecimentos de programas e medidas preventivas como vacinação, que são relevantes para a incidência de restrições funcionais. A responsabilidade pessoal deve também ser promovida através de adequada orientação sobre o comportamento pessoal, colocando-se à prevenção, como o quarto pilar da ciência da saúde.
Uma medida preventiva relevante, seria ainda a condução de uma formação positiva para idosos, juntamente com a indicação sobre as principais possibilidades de influências positivas sobre a saúde em cada tempo do envelhecimento. Por isto, ao lado de modificações da conduta individual, também modificações da conduta da sociedade sobre conceitos de envelhecimento amigável, sobre a necessidades de recursos institucionais, privados e profissionais que ofereçam um ambiente de vivência saudável aos idosos. Isto envolve possibilidades individuais de acesso a estudo, recapacitação profissional, acesso a postos de trabalho, a redes sociais, a engajamento comunitário e participação social.
Para que atinja um maior número possível de pessoas idosas, as medidas de prevenção precisam ser planejadas, aplicadas e avaliadas sistematicamente. Um claro esboço de ação efetiva é indispensável, no qual, todos os detalhes pertinentes das medidas de prevenção são colocados antecipadamente de forma bem fundamentada e em estreita relação com os resultados obtidos através de sua aplicação. (Schüz & Ziegelmann 2012).

2.2.2-Aconselhamento para um envelhecimento positivo

Aconselhamento para o desenvolvimento pessoal é comumente definido como ajuda profissional para a organização de processos de tomada de decisão e construção de uma orientação para o desenvolvimento de um plano de vida individual, que também é válido para um envelhecimento positivo. Coloca também um contexto
teórico, no qual o suporte intencional da própria vida ocupa um lugar central e se orienta sobre a escolha e implementação de objetivos de vida e a sua condução ao longo do curso de vida, dentro de um ambiente de possibilidades e restrições.
Um desenvolvimento intencional da vida incorpora processos de auto-observação, de auto avaliação e a implementação de objetivos que se situa sobre um fundamento de identidade e representações cognitivas que podem estar associadas a uma respectiva condição de vida. Pode conduzir a uma autorregularão efetiva baseada em numerosas observações precisas da própria pessoa e ligada a perturbações que ocorrem no seu curso de vida. Neste aspecto (interpretação do valor pessoal do próprio comportamento ou falsas concepções de suas próprias possibilidades de desenvolvimento) podem ser levantadas e equilibradas pela pessoa que atua como conselheiro. Na proposição de correções podem ser observadas e comparadas discrepâncias sobre expectativas e a capacidade atual de desenvolvimento da pessoa.
No objetivo geral como conduzir “uma boa vida” por exemplo, precisa ser caracterizado o seu significado sobre ações capazes de ser implementadas, a existência de meios adequados para sua realização e sua sintonização com outros objetivos pessoais, oportunidades disponíveis e restrições existentes. Tais processos dependem de competências de gestão, as quais são empregadas na reconstrução da situação de desenvolvimento, e de como estes conceitos são colocados e ajustados ao comportamento pessoal.
No aconselhamento para o desenvolvimento pessoal é colocado com grande valor, que o cliente explicite seus objetivos de desenvolvimento e que articulem seus projetos de forma concreta. Por outro lado, a isto pertence o levantamento das cadeias de meios e objetivos e seu retrabalho, através de um diálogo claro com o conselheiro. Neste aspecto pode ser importante que as estruturas conceituais do cliente sejam colocadas baseadas em fundamentos e dados da ciência ou da expertise do conselheiro, que deve trabalhar junto com o cliente, sobre quais meios, quais objetivos e qual plano de desenvolvimento, em dada situação, produz melhores resultados.
Planos de desenvolvimento pessoal contém uma sequência de sub objetivos, que se relacionam sobre um curto espaço de tempo e estão interligados com objetivos de longo prazo. A sequência estrutural de tais planos, com sub objetivos intermediários, permite manter a pessoa focada em resultados intermediários, motivando-a para avançar em direção a objetivos maiores. Sem objetivos claros planos de gestão de desenvolvimento pessoal, as intenções podem ficar presas a um desempenho rudimentar, os quais permanecem atrelados a sentimentos, desânimo e incapacidade de se ajudar.
O aconselhamento pode apoiar planos de vida no esclarecimento de objetivos e na construção de planos de desenvolvimento da vida como o uso do tempo, comportamento interpessoal, aproveitamento de recursos e autorregularão. Quando o padrão de “nada fazer para melhorar”, de adiar ou evitar decisões que conduzam a respostas emocionais, e frequentemente a perda de oportunidades, o trabalho de convencimento consegue eliminar tais atitudes, e é considerado que o aconselhamento é exitoso.
O aconselhamento para o desenvolvimento de um envelhecimento positivo tem por base as restrições progressivas de recursos individuais, apesar de elevada variabilidade, e incorporam um conjunto de características gerais que atingem o processo de envelhecimento. A redução da funcionalidade corporal e do potencial sensorial, que declinam a partir da meia idade de envelhecimento é acompanhada de redução da fluidez da inteligência, bem como no aumento de problemas crônico degenerativos. No entanto, através do avanço do conhecimento e tecnologia existe um amplo espaço de manobra para intervenções compensatórias (ex. visão, audição, dispositivos de mobilidade, cirurgias corretivas) as quais atuam sobre a manutenção do nível funcional e na prevenção do surgimento de novas perdas de recursos individuais.
Treinamento corporal, alimentação sadia, exames preventivos, suporte para habitação e ambiente amigável podem da mesma forma atuar de forma compensatória e em aspectos importantes da prevenção ou minimização de perdas funcionais. A compensação é prevista para ser aplicada em aspectos específicos e é bastante restrita em relação a condições funcionais anteriores em estágios mais jovens. Depende também da disponibilidade de recursos que podem estar em situações limitadas. Uma elevação do esforço no sentido compensatório que pode ser conduzido até metade dos anos de vida de 80 anos, indica ser valioso em diferentes aspectos positivos do envelhecimento.
Aconselhamento do desenvolvimento pessoal com relação à compensação de perdas funcionais orienta-se, sobretudo, sobre questões como o nível do esforço e a relação custo benefício. Os pontos considerados (manutenção funcional através da sobrecarga corporal do treinamento x manutenção através de descontração, suporte, prótese) precisam estar apoiados em conhecimentos científicos específicos em cada área problema. Por outro lado, as pessoas idosas passam a estar interligadas com uma elevação e crescimento do nível de conhecimento, descobertas e expertise, sobretudo no campo da regulação emocional, na vivência subjetiva do balanço do conjunto de ganhos e perdas que podem ser desfavoráveis com o avanço do tempo de vida.
Da mesma forma permanece a discrepâncias entre a qualidade de vida subjetiva desejada e a alcançada, mesmo quando ela se encontra estável. Em idosos jovens, investimentos para ganhos futuros são pessoalmente importantes no campo social e material para a qualidade de vida subjetiva. Já para idosos com idades mais avançadas, aspectos de uso do tempo livre, engajamento altruístico, participação religiosas tem maior valor. Estes dados indicam que ocorre um deslocamento da racionalidade individual com o avanço da idade sobre impulsos direcionados a competição, poder e sucesso.
É possível que com a manutenção do bom humor, seja possível trazer a vida para mais próximo de si mesmo e desfrutar, desta forma, o que ainda é possível e resignar-se com as coisas que não são mais possíveis de serem mudadas.
A exequibilidade e aplicabilidade de propostas de aconselhamento por si só não garantem um envelhecimento positivo, mas podem dar suporte ao desenvolvimento intencional pessoal, e desta maneira mobilizar recursos de desenvolvimento pessoal ainda disponíveis e não aproveitados (Gräser 2012).

2.2.3-Prevenção de doenças corporais

Prevenção é um dos pilares do sistema de saúde e apoia-se crescentemente sobre o foco da atenção antecipada em relação a ocorrência de efeitos de doenças. Em uma sociedade em que ocorre um aumento no prolongamento do curso de vida, a prevenção passou a desempenhar um papel significativo no controle das consequências dos efeitos acumulativos da redução das aptidões corporais e da morbidade. Ao mesmo tempo, o avanço do conhecimento científico passou a oferecer novas oportunidades de intervenção para a aplicação de medidas de prevenção das doenças que incidem sobre o processo de envelhecimento. Em uma população de idosos há o questionamento sobre a prevenção em situação de pessoas com idades avançadas, de como estas medidas precisam ser adaptadas, dimensionadas e avaliadas cientificamente.
Em uma sociedade que avança em idade surge naturalmente uma elevação da ocorrência de doenças crônicas e cujos efeitos são passíveis de redução através de medidas de prevenção. Na Alemanha, em grupos de pessoas com 65 anos por exemplo, a prevalência de doenças do coração (cardiopatias) e do aparelho circulatório (infarto, angina, trombose coronária) é de 19,1% em mulheres e em homens 28,3%. Para Diabetes mellitus tipo II a ocorrência é de 17,4% para mulheres e 18,72% para homens. A gravidade da incidência destas doenças pode ser influenciada por medidas de prevenção, a qual passou a ser um importante recurso da medicina para o sistema de saúde. (Diabetes mellitus tipo II é um distúrbio metabólico caracterizado pelo elevado nível de glicose no sangue no âmbito à resistência à insulina e pela insuficiência relativa à insulina. O tratamento é feito por exercícios físicos e alterações na dieta).
Enquanto as doenças são tratadas por medidas curativas, o princípio da prevenção é buscar evitar doenças, antes que estas venham a incidir sobre o indivíduo. A prevenção está focada no conceito de precaução e na promoção da saúde, o que significa a tomada antecipada de medidas que controlem os riscos decorrentes da incidência de doenças. A promoção da saúde, por sua vez, está ligada ao conceito de prevenção, por concentrar-se no desenvolvimento de recursos ligados à saúde, os quais, possam reduzir os riscos de incidência de doenças. Com o avanço da idade o significado da saúde desloca-se de um conjunto de doenças conhecidas para a intensidade com que afetam as capacidades funcionais e com isto, também, os objetivos e critérios de sucesso da prevenção. Assim, pessoas em idades avançadas que são atingidas por multimorbidade, passam a ser tratadas não apenas por único objetivo preventivo. Possíveis objetivos passam a ser o adiamento de efeitos de doenças, a obtenção de um grau mais ameno ou uma menor cronificação, um retardamento de perdas degenerativas durante o ciclo da doença e sobretudo, obter menores restrições funcionais e um maior estado de bem-estar, apesar da incidência de múltiplas doenças.
Na prevenção primária, existe para a pessoa com elevado tempo de vida, um grande número de medidas médicas, como no caso de intervenções medicamentosas. Ao mesmo tempo, acentua-se para cada medicamento usado a possibilidade de efeitos colaterais indesejáveis por interações entre medicamentos. Resulta que, para cada recomendação medicamentosa, deve-se tomar preventivamente em consideração as prioridades relacionadas ao seu uso, baseadas em dados substanciais de estudos clínicos e epidemiológicos, os quais precisam estar disponibilizados para os clientes. Um grande leque de medidas de prevenção faz com que se torne necessário uma avaliação das medidas de prevenção. É preciso decidir se, como e para quem uma medida de prevenção é efetiva. Assim a efetividade deveria ser definida por resultados de estudos científicos associados clinicamente e orientados para um indivíduo específico para que se possa obter respostas relevantes. Além da efetividade, a capacidade de atuação deveria ser pesquisada para que medidas de prevenção sucessivas sejam melhoradas quanto a sua efetividade. Além disto, deveria também atuar para indivíduos de subgrupos relevantes de idosos. Deveria ainda ser considerada a necessidade de priorização e aspectos de economia da saúde como custos e benefícios da prevenção.
As especificidades da prevenção no envelhecimento precisam ser avaliadas por sua efetividade e poder ser adaptadas a subgrupos de idosos, como por exemplo, diabéticos, pessoas com restrições cognitivas, condições restritivas ligadas a barreiras ambientais, estilo de vida e características positivas e negativas do próprio envelhecimento que podem apresentar grande significado na tomada de decisão sobre adoção de medidas de prevenção. A heterogeneidade do envelhecimento precisa estar incluída neste cálculo.
A prevenção de quedas é relevante para pessoas com idades avançadas, e cujo objetivo é, por um lado minimizar sua ocorrência e por outro lado eliminar consequências de tratamento posterior. Existem amplas possibilidades de medidas de prevenção relacionadas ao uso do espaço privado e espaço público. No campo da fisioterapia é possível adotar medidas de treinamento para um melhor balanço do equilíbrio corporal, e exercícios físicos, e o medo de quedas precisa ser trabalhado psicologicamente. Boa percepção visual precisa ser promovida através de exames preventivos e uso de equipamento ótico. Além disto, medicamentos devem ser avaliados em relação a seus efeitos sobre o equilíbrio e sobre a necessidade de complementação nutricional para reforço da estrutura óssea através da suplementação de Cálcio e Vitamina D3.
Diversos objetivos preventivos de saúde são alcançados através da adoção regular de exercícios físicos. A atividade corporal atua no adiamento e redução de doenças coronárias, diabetes, na melhoria da saúde funcional, reduze o risco de quedas, retarda a desconstrução cognitiva e leva a uma melhor qualidade de vida. Para a elevação do nível de atividades físicas corporais em idosos podem ser adotadas diversas estratégias como o reforço na participação de grupos praticantes oferecidos pela comunidade, hábito de deslocamento a pé e a realização de caminhadas. Facilitar o acesso à informação e educação para a saúde, através de livros e palestras é considerado um primeiro passo como uma medida preventiva. Um segundo passo para modificação do comportamento sedentário é a reconstrução de competências para um estilo de vida ativo na busca da autossuficiência e auto regulação (Gellert & Hermann, 2012).
Após dezenas de anos, uma evolução recente de nosso conhecimento sobre o aparelho digestivo, revela que o nosso aparelho digestivo é o centro que governa nossa vida. Influencia o sistema nervoso o aparelho circulatório e o sistema imunitário através de nossa microbiota intestinal, o que resulta em efeitos relevantes no processo de envelhecimento. Isto deve levar a uma profunda reflexão sobre a nossa conduta na forma de como orientamos a nossa alimentação (Abdoun et al, 2016).

2.2.4-Prevenção da demência

A identificação de fatores de risco e de ganhos de proteção no caso de doenças que levam a demência, tem um grande significado social, em razão do crescimento significativo de sua prevalência no grupo de pessoas que alcançam idades avançadas. Nesta abordagem são destacados recursos de intervenção, sobretudo no campo do curso de vida individual, aos quais são adicionados resultados e conceitos atuais da pesquisa da Teoria sobre Reservas Cognitivas. Aborda uma revisão sobre os fatores de risco e medidas de proteção de doenças demenciais e o conhecimento sobre os fatores de risco que são relevantes para a implantação exitosa de medidas de prevenção.
A prevenção da demência vem se tornando de importância crescente no debate da saúde. Com fundamentação no alongamento do tempo de vida e da mudança do perfil populacional, no futuro irá aumentar a incidência de doenças degenerativas. Este fato salienta a enorme importância do reconhecimento e desenvolvimento de métodos de prevenção, o mais precocemente possível, para que se possa promover intervenções que tragam ganhos sobre o controle da demência.
Pesquisas indicam que 60 a 70% de todas as causas de demência são decorrentes da doença de Alzheimer (DA), pela qual ocorre um lento e progressivo padecimento da perda das atividades cognitivas. No entanto, é possível reconhecer com antecipação de 10 anos a sua predisposição em indivíduos, enquanto ainda a pessoa não está comprometida por deficiências de autonomia, e mesmo em idosos jovens já é possível detectar deficiências cognitivas ligadas a doença.
O déficit cognitivo individual resulta, não diretamente como consequência de modificações neurológicas, mas são moduladas em seu percurso através de diferentes fatores. Com base neste conhecimento o estudo epidemiológico tem seu foco voltado para a identificação de fatores de risco e de proteção que atuam na incidência da demência.
A capacidade funcional do cérebro humano, a influência de danos neurológicos, e um determinado grau reações compensatórias, estão alicerçadas sobre o conceito de reserva cognitiva. Este conceito orienta-se através da observação clínica de que o dano cerebral, em determinada medida, não é possível de ser caracterizado, e denota uma elevada variação entre indivíduos. Em pessoas falecidas em decorrência da DA foi observado que modificações cerebrais não apresentaram deficiências cognitivas ao longo do tempo de vida. Apesar de modificações patológicas do cérebro, isto não conduziu ao diagnóstico de uma sintomatologia clínica. Em estudos subsequentes foi demonstrado que pessoas com atrofias relevantes não foram afetadas clinicamente da mesma maneira que pessoas com atrofias cerebrais menores. Isto resulta na compreensão de que ocorre uma capacidade individual de compensação na atividade cerebral em pessoas afetadas pela DA. Decorre destas constatações, que tanto em idosos jovens com em idades avançadas há a possibilidade de serem influenciados recursos individuais cerebrais de forma prolongada.
A reserva cognitiva e sua função compensatória é influenciada por diversos fatores como características individuais, nível de atividade cerebral e formação educacional, mas apesar de pesquisas intensivas, ainda não há consenso sobre exatamente quais fatores afetam a reserva cognitiva e como eles interagem.
Apesar de diferenças individuais, as deficiências cognitivas em relação a doenças da mente estão baseadas fundamentalmente sobre modificações do cérebro. Para estas modificações contam a formação e destruição de placas amiloides, uma redução de sinapses e a degeneração de neurônios. Ao lado da ação direta de fatores de risco sobre a função cerebral, são relatados efeitos indiretos de risco e de proteção, cujo comportamento pode influenciar, ou não influenciar o desempenho cerebral.
Entre os fatores indiretos não influenciáveis contam a fase em que se encontra o indivíduo no curso de vida, a predisposição genética e doenças corporais. A demência está altamente correlacionada com o tempo de vida. Enquanto no grupo de faixa etária de 65 a 69 anos, apenas 1% dos indivíduos são afetados por doenças demenciais, após 90 anos de idade, 35% das pessoas são atingidas. Os dados também demonstram que as mulheres, de um modo geral são mais afetadas que os homens, o que decorre do fato de que elas alcançam um maior tempo de vida, compondo a maioria dos pacientes sob tratamento no grupo DA.
Entre os fatores diretos influenciáveis contam o hábito do uso de estimulantes como álcool, cafeína, nicotina e o padrão nutricional. Outros fatores que são incluídos são o tipo de formação educacional bem como o nível de atividade cognitiva e corporal.
Enquanto que um consumo crônico e desmesurado de álcool pode afetar continuamente a capacidade funcional do cérebro, alguns estudos também indicam uma função de proteção sobre a capacidade cognitiva de idosos, quando o consumo de álcool é leve e comedido. No entanto estes resultados não permitem ainda considerar que possa ser incluída como uma medida primária de prevenção.
Os resultados atuais do consumo de cafeína indicam uma interligação positiva entre o seu consumo e uma redução do risco de demência, embora não possa ser classificada como uma medida preventiva.
A interação entre o consumo de nicotina e o desenvolvimento cognitivo está bem caracterizada como fator de risco individual.
Com base em pesquisas científicas não é possível estabelecer uma relação clara sobre a influência de hábitos alimentares sobre riscos a doença de DA. Estudos consideram que uma dieta com alto conteúdo de gordura e colesterol, bem como sobrepeso elevam o risco. Neste sentido a dieta mediterrânea, baseada no consumo regular de frutas, legumes, peixe e produtos alimentares ricos em Ômega 3, são considerados redutores de risco.
Um grande número de estudos tem constatado que existe uma interação forte entre o nível de capacitação cognitiva e a incidência de DA. A incidência e a prevalência em pessoas com elevado nível de formação são significativamente mais baixas que em pessoas com baixo grau de escolaridade. Uma função protetiva decorrente de atividades dedicadas ao uso do tempo livre estimuladas cognitivamente puderam ser estabelecidas em diversos estudos epidemiológicos. Diversos estudos epidemiológicos partem da hipótese de que a atividade corporal regular possa retardar o início da incidência de DA, o que, no entanto, ainda não foi comprovado como efeito protetivo.
Na prevenção de doenças que levam a demência o conhecimento preciso dos fatores que podem exercer influência sobre as causas da doença são de grande significado. Uma prevenção otimizada, situa-se tanto quanto possível na desativação dos fatores de risco conhecidos e ativação dos fatores de proteção disponíveis. São considerados com grande relevo na prevenção o nível de formação educacional, o status sócio econômico, a atividade cognitiva e a atividade corporal. Os resultados de pesquisas confirmam que podem ser utilizados recursos implicados na reserva cognitiva que oferecem funções protetivas sobre a evolução da demência, tanto a nível individual como em pessoas com idades avançadas (Sattler, Wendelstein & Schöder, 2012).

2.2.5-Prevenção de doenças psíquicas

Cerca de um quarto de pessoas com 65 anos ou mais é atingida por doenças psíquicas. Ao lado de serem afetadas por deficiências cognitivas leves e quadros de perturbação por demência, ocorre sobretudo a depressão, perturbações do sono e doenças que decorrem de efeitos de dependência do consumo de substâncias que podem causar efeitos corporais danosos. No grupo de pessoas idosas apresenta-se também dificuldades de que seja efetuado um diagnóstico preciso de causas específicas, sobretudo em caso de manifestações depressivas, que podem resultar de múltiplos fatores incidentes.
A prevenção exitosa de doenças psíquicas requer a participação de um trabalho integrado de profissionais de diferentes especialidades e depende para sua aplicação, em muitos casos, de facilidades financeiras individuais e de acesso a estruturas institucionais adequadas. Com avanço do tempo de vida, medidas preventivas passam a representar uma importante contribuição ao sistema de saúde. Não somente a indivíduos idosos em si, mas também, para a sociedade como um todo, pelo ônus social que representa a capacidade de financiamento do tratamento de doenças psíquicas.
A prevenção de doenças psíquicas assume relevância pelo alongamento do tempo de vida e mudança demográfica. Estudos epidemiológicos indicam que um quarto da população da Alemanha padece de algum tipo de perturbação psíquica. Embora a demência esteja associada a pessoas com alto grau de envelhecimento, a incidência da depressão, suicídio, perturbações do sono e doenças resultantes de dependência de drogas não pode ser subestimada. Perturbações individuais e doenças decorrentes da esquizofrenia são menos relevantes em grupos de idosos.
A redução da prevalência de doenças psíquicas que atingem a fase de envelhecimento necessita de conhecimentos sobre fatores de prevenção do risco e de proteção, bem como, do desenvolvimento de programas de prevenção orientados para grupos de risco. Neste aspecto podem ser feitas diferenciações entre medidas de prevenção primária, secundária e terciária.
As medidas de prevenção primária têm por intenção evitar o surgimento de novas doenças neurológicas e lançam seu foco sobre a população em geral. Buscam medidas de prevenção que possam evitar ou reduzir os fatores de risco e promover fatores de proteção que controlem a sua ocorrência. A aplicação de medidas de prevenção secundária baseia-se na intervenção precoce sobre uma população de risco e objetiva impedir a manifestação da doença. Com a ajuda de medidas de prevenção terciária é buscado eliminar uma determinada perturbação específica ou adotar providências que minimizem ou venham a causar novos danos funcionais. A seguir são abordados fatores de risco e aspectos de prevenção indicados em quadros de doenças não demenciais.

2.2.5.1-Perturbações depressivas

É constatado que frequência de doenças depressivas não aumenta em estados avançados do envelhecimento. No entanto é verificado que a prevalência é de nível mais baixo em ambiente residencial (0,9% a 9,4%) e maior em contexto institucional (14% a 42%) e que ao longo do curso de vida ocorre uma prevalência de 9,5% em pessoas com idades de 61 a 65 anos.
Os preditores mais importantes para perturbações causadas pela depressão estão ligadas ao gênero feminino, doenças somáticas, danos funcionais e cognitivos, perda de ânimo para contatos sociais e histórico de depressões precedentes. São também incluídas como causadoras de perturbações depressivas individuais, doenças neuróticas e o medo e perturbações causadas por dependência de drogas.
A depressão no envelhecimento está associada a uma elevação da morbidade (conjunto de causas capazes de produzir uma doença), e mortalidade associada ao risco de suicídio. Isto restringe a qualidade de vida de forma elevada e coloca uma sobrecarga para a família, para a sociedade, bem como sobre toda e economia social e institucional.
O diagnóstico da depressão em idosos é dificultado pela dissimulação e comportamento que pode mascarar sua presença. Isto pode levar a um insuficiente reconhecimento de suas causas e a um tratamento adequado.
Na prevenção é importante considerar, ao lado de aspectos corporais, psicológicos, sociais e ambientais, também aspectos comportamentais. Situações de perdas individuais podem ser importantes no tratamento. A perda de familiares e pessoas da rede social, a perda de papéis sociais e profissionais, bem como a redução de capacidades funcionais corporais, que afetam a autonomia, podem influir no desenvolvimento da depressão. Junto com estes fatores pode ainda estar contribuindo a inatividade, a baixa disposição para atividades corporais, a perda de perspectivas futuras e a redução da autoconfiança. Na prevenção primária e secundária, tem que ser considerado também, que rupturas e perdas sociais são frequentemente fatos, que possibilitam acertos na adoção de medidas de tratamento para solucionar doenças depressivas.
Um dos objetivos da prevenção psicológica primária na depressão é a adoção de estratégias e competências que possam combater as condições que agem como sobrecarga na vida individual e afetam a autoconfiança. Pertence a esta categoria de tratamento, por sua efetividade, métodos psicológicos e psicoterapia interpessoal, bem como terapia cognitiva. Psicoterapia é o tratamento de doenças e problemas psíquicos que utiliza em geral técnicas sugestivas, persuasivas, reeducativas, relaxantes.
Sob o conceito de medidas primárias sociais, são entendidas todas as medidas que atuam contra o isolamento social. Nela a manutenção e a reconstrução de uma nova rede social tem um papel especialmente importante. Ofertas de apoio e aconselhamento, como grupos de ajuda, deveriam estar próximos aos locais de moradia e poderiam ser disponibilizados em centros comunitários públicos. Neste campo de intervenção situam-se medidas que atuam contra o isolamento social, que agem na construção de uma nova rede social, como no caso de comunidades que elegem morar em condomínios residenciais para idosos.
Ao lado de aspectos psicossociais, deve ser considerada a prevenção primária somática (que diz respeito ao corpo). Pesquisas neuropsiquiátricas mostram que modificações morfológicas cerebrais tardias devem ser consideradas pela possibilidade de poder ter levado a modificações cérebro vasculares. É particularmente importante caracterizar fatores de risco que influenciam como pressão arterial elevada, excesso de peso, tabagismo e falta de exercícios corporais.
Nutrição rica em colesterol, gorduras e álcool, em quantidades elevadas deve ser evitada, é recomendado o consumo regular de frutas, verduras e peixes.
Os sintomas de depressão podem também decorrer de um efeito colateral do uso de numerosos medicamentos prescritos, como por exemplo para doenças cardiovasculares, devendo ser reavaliada a sua indicação no sentido da possibilidade de uma redução da sistemática de seu uso. Para isto, uma adequada farmacoterapia desempenha um papel importante de controle da polifarmacia.
A prevenção secundária da depressão em idades avançadas comporta o reconhecimento e tratamento precoce e a delimitação das diferentes causas que influem na sua manifestação, o que favorece um tratamento antecipado que pode reprimir a forma somatizada da depressão.
A intervenção precoce na depressão através de medidas terapêuticas é importante, não apenas para evitar sua cronificação, mas também pela elevada propensão ao suicídio e mortalidade neste grupo de pacientes. Na prevenção terciária da depressão em idosos é também considerada a profilaxia medicamentosa como por exemplo através do uso de estímulo a neurotransmissores que agem na produção de serotonina e de lítio.

2.2.5.2-Perturbações do sono

Estudos epidemiológicos mostram que perturbações do sono aumentam com o avanço da idade, afetam um quarto da população de idosos e que mulheres são mais afetadas que homens. Com o avanço da idade eleva-se também a ocorrência de problemas decorrentes de doenças corporais e psíquicas que passam a afetar o sono.
Doenças que afetam o aparelho circulatório, do estômago, sistema digestivo e doenças crônicas atuam negativamente sobre a qualidade do sono. Também o consumo de substâncias como o álcool, cafeína, psicofarmacos e medicamentos de controle da pressão arterial podem conduzir a insônia ou a sonolência. Além disto, perturbações do sono estão também influenciadas por doenças psíquicas como depressão e demência, fatores ligados a natureza comportamental como stress, excitação, falta de exercício e hábitos de sono inadequados. Muitas vezes o tratamento da insônia é efetuado por terapia medicamentosa através da ingestão de medicamentos que causam sono e atuam de forma rápida, embora esta terapia esteja ligada a desvantagens, como sobretudo o desenvolvimento de tolerância, dependência, modificação da estrutura do sono, alteração do humor, fadiga matinal.
A psicoterapia e prevenção estão focadas em medidas psicoeducativas que incluem o esclarecimento e aconselhamento sobre a higiene do sono e com o apoio de técnicas de descontração e exercícios corporais regulares.

2.2.5.3-Dependência de medicamentos e drogas

O estudo do uso inadequado de medicamentos e álcool por idosos precisa ser avaliado e mostra que um terço dos medicamentos prescritos acabam sendo usados fora das prescrições. Neste grupo incluem-se tranquilizantes, antidepressivos e para indução do sono, que são adotados como consequência de perdas afetivas, redução de aptidões funcionais e solidão. Cerca de 24.6% de pessoas com 70 anos ou mais são tratadas com psicofarmacos, destacando-se a prevalência (13,2%) de Benzodiazipina.
A prescrição de psicofarmacos é muitas vezes indicada genericamente para tratamento de perturbações não claramente especificadas, mas deveria estar verificada por exigência médica obrigatória relacionada a sensibilização e dependência.
Para pessoas envelhecidas devem ser prescritas doses reduzidas e devem ser monitorados, por precaução, as funções corporais, como fígado, rins e coração.
O uso abusivo de medicamentos múltiplos pode conduzir a uma reação adversa acumulada e mesmo conduzir ao falecimento. O grupo de idosos mais afeto ao uso de Benzodiazipina forma a maior população dos asilos, nos quais prevalece a internação de longa permanência. Na perspectiva da prevenção é de se recomendar que a indicação de psicofarmacos esteja incluída em um contexto de tratamento psicoterapêutico, de forma que o uso de componentes farmacológicos esteja associado a componentes psicoterapêuticos e psicológicos.
Após 2011, os médicos franceses vêm trabalhando sobre uma lista de medicamentos considerados “essenciais” para a saúde da população. 150 a 200 vem sendo avaliados como o número necessário e suficiente para tratar 95% das doenças que ocorrem na França. É uma proposta provocante em um país onde mais de 5.000 medicamentos são disponibilizados, sob mais de 15.000 formas diferentes, e onde o consumo de medicamentos é 40% superior aos principais países vizinhos da Europa. Pela primeira vez, as agências sanitárias serão obrigadas, pela lei, a fazer uma triagem entre todos os medicamentos, que são considerados essenciais para a boa saúde, e os supérfluos. Milhares de medicamentos não servem para nada (Tourbe & Rambert, 2015).
A prevalência do alcoolismo em idosos, apesar de baixa, por condicionar um tempo de vida mais curto, atinge assim mesmo, 3% em homens com 65 anos ou mais e 0,5% em mulheres. Condições de abuso do uso de álcool por homens com 70 anos ou mais chega a 24% e em mulheres 2,10%.
A maioria dos idosos, passam apenas a depender do álcool após 60 anos de idade. É considerado que, como no caso da depressão, intervenções psicológicas, sociais e somáticas, estas possam atuar em conjunto na indução da dependência do álcool. A prevenção ainda está pouco apoiada em conhecimento científico. Para a mudança do hábito, embora pouco eficazes, são adotadas medidas de aconselhamento, grupos de autoajuda e otimização do ambiente social. Rupturas críticas como a morte de pessoas próximas pode levar a uma modificação do comportamento de consumo e desenvolver dependência, assim como perdas funcionais, desgaste dos recursos corporais e depressão. Nestas condições é indispensável realizar, com precedência, um diagnóstico para introduzir terapias que possam ser efetivas. Intervenções que são comumente recomendadas são o aconselhamento, a participação em palestras, a otimização do ambiente social.
Por outro lado, pessoas que adquirem dependência mais tardiamente no curso devida, são caracterizadas por sua maior integração social, e com isto, apresentam uma maior estabilidade de sua estrutura pessoal, resultando em menor sucesso no tratamento da dependência de álcool. Nestes casos é recomendado que sejam adotadas medidas que possam controlar o seu uso abusivo em vez da supressão do seu consumo social (Kuzma, Pantel, & Schröder, 2012).

2.2.6- Prevenção do Suicídio

Em todos os países o número de suicídios em idosos é elevado. Como fatores predisponentes de risco para uma tentativa de suicídio após os 70 anos de idade, contam sobretudo pessoas que vivem só, baixo nível de formação escolar, tratamento pregresso psiquiátrico, tentativas precedentes, doença depressiva e psíquica, mau uso de substâncias, sofrimento corporal e isolamento social. O objetivo da prevenção do suicídio situa-se no tratamento através de apoio sistematizado e terapia que vise a minimização da pressão dos fatores predisponentes, a melhora do ambiente social, fortalecimento dos recursos individuais e o reforço de medidas psicoeducativas.

2.2.6.1-Suicídio na população idosa
Uma grande parte das pessoas idosas manifesta um crescente sentimento de perda de ânimo ou uma forte experiência emocional ligada a perda de recursos, que se torna resistente e ao mesmo tempo, a população idosa apresenta, em dois terços dos países, níveis mais elevados de suicídio que em outros grupos humanos. Dados estatísticos da Alemanha de 2006 indicam que o suicídio em homens com 60 anos ou mais chega a 22,1%, e em mulheres alcança 27,8% do total de pessoas suicidas. Em mulheres com 70 anos ou mais o número chega a 32%, e 23,6% em homens. Estes números, no entanto, podem ser maiores que os indicados pelos dados oficiais, já que a motivação para o suicídio em idades avançadas é maior. Como métodos de suicídio são empregados mais comumente o enforcamento, estrangulamento e sufocamento, seguindo-se o emprego de armas de fogo por homens e envenenamento por mulheres (Kessler, 2012).

2.2.6.2-Prevenção primária, secundária e terciária
Condicionado pela a mudança demográfica, persiste o risco, de que no futuro o número absoluto de suicídios de pessoas idosas venha a se elevar. Esta tendência mostra que a prevenção do suicídio em idosos venha a se tornar uma importante política pública de prevenção da área de saúde, bem como uma exigência de terapêutica individual.
Em princípio são distinguidos três tipos de medidas possíveis de prevenção designadas como primária, secundária e terciária.
A prevenção primária do suicídio tem por alvo impedir, evitar, uma primeira tentativa de suicídio através de um espectro diverso de medidas preventivas, como por exemplo, através da melhoria da estrutura psicológica, psiquiátrica, de cuidados a idosos, através de campanhas de esclarecimento na mídia e sobre a limitação da disponibilidade de meios que podem ser usados para o ato suicida. São medidas que se situam primariamente no campo das políticas públicas de saúde.
A prevenção secundária baseia-se no reconhecimento e tratamento de pessoas propensas a cometer suicídio. O objetivo é, em uma situação individual de crise (para pessoas que estão afetadas por doenças psíquicas ou que tenham um histórico de tendência ao suicídio), reconhecer e reduzir o risco de comportamento suicida através de adequado aconselhamento, supervisão e medidas de tratamento.
A prevenção terciária tem por alvo (em pessoas que já tentaram procedimentos de suicídio) introduzir um tratamento ótimo e melhorar com isto a sua prognose (conhecimento antecipado).
Tanto na prevenção secundária como na terciária, desempenham uma função central psicólogos, médicos, profissionais do serviço social e pessoas ligadas a serviços de cuidados a idosos. Dentro destes critérios de abordagem é possível adotar medidas de prevenção de forma geral, seja seletiva para grupos de risco (pacientes em instalações geriátricas) ou para pacientes individuais que manifestem tendências suicidas.

2.2.6.3-Formas de expressão do suicídio
Para a expressão do suicídio contribuem o tédio (a vida não é mais considerada como um valor), desejo de morrer (pensamentos de morte, querer morrer), bem como tentativas anteriores de suicídio. Pode influir primariamente o avanço de perdas funcionais, a perda de autonomia. Em idosos é também frequente que ocorram comportamentos passivos ligados ao desânimo como o desinteresse pela alimentação e consequente desnutrição, omissão do uso de medicamentos e o não cumprimento de prescrições médicas.
A psicologia da morte descreve um conceito no qual é considerado que a pessoa, na verdade deseje realmente não mais continuar a viver, que não deseja mais conduzir uma vida prolongada difícil, influenciada por condições como a morte do parceiro ou perdas funcionais graves. Apoio profissional frequentemente subestima o risco de suicídio em idosos, mesmo quando ocorre através de contato frequente com o paciente. Ao lado da falta de qualificação no campo do reconhecimento do suicídio, é também constatado que pessoas idosas, que tem a intenção de suicídio, raramente manifestam esta intenção.
Em pacientes idosos, que se submetem a tratamento psicológico, o número de ocorrências é significativamente mais baixo. Para avaliação da predisposição ao suicídio, os psicólogos e médicos dispõe de sistemas de entrevista e de questionamentos como por exemplo o “Geriatric Mental Status Interviews”.

2.2.6.4-Fatores de risco
Os fundamentos para introdução de medidas preventivas de suicídio em indivíduos idosos precisam estar baseados em dados de pesquisas médicas, psicológicas, epidemiológicos. No entanto, ainda existe pouco conhecimento sobre as interações complexas dos fatores de risco e fatores protetivos da etiologia (estudo das causas das doenças) da propensão suicídio. Todos os estudos realizados internacionalmente caracterizam que, além de um histórico biográfico de tentativa de suicídio, perturbações afetivas são o principal fator de risco para todas as formas de suicídio em idosos.
Em estudos sistemáticos realizados ficou evidenciado que em 86% das pessoas idosas que se envolveram em tentativas de suicídio, houve uma motivação por uma perturbação afetiva (sobretudo depressão). Apesar da pouca consistência dos dados, pode-se afirmar que, multimorbidade, restrições funcionais, fracas perspectivas de cura de doenças e dores contínuas elevam significativamente a tendência ao suicídio.
Contribuem neste sentido a perda de esperança, a ausência de sentimentos positivos, a consciência sobre a limitação do tempo de vida, além do sentimento da falta de apoio de outra pessoa, em geral familiares.
A viuvez é um fator de risco elevado em homens com idade avançada. Contribuem neste sentido a perda de esperança, a ausência de sentimentos positivos, idade avançada, além do sentimento da perda da pessoa mais próxima. Para o desenvolvimento de medidas preventivas, faltam ao lado do conhecimento sobre fatores, psiquiátricos, médicos, dados de pesquisa sobre fatores de risco psicológicos e psicossociais, e que são fundamentais para o delineamento de medidas de intervenção.

2.2.6.5-Campos de intervenção
Medidas concretas de prevenção do suicídio em pessoas idosas podem ser direcionadas a três áreas, no campo social, campo da informação e educação e na melhoria do setor de cuidados a idosos, para as quais são indicados programas de prevenção.
No campo social, da política de apoio a idosos e estruturação de condições amigáveis a idosos situam-se primariamente medidas na esfera da saúde e de política social. Além disto devem ser consideradas medidas contra a discriminação de idosos, na promoção da integração social, através de projetos intergeracionais.
No campo da informação, esclarecimento e educação a finalidade é a orientação sobre a mudança de conduta da população, bem como na formação de recursos humanos especializados para lidar com a problemática do suicídio. Incorpora medidas de implementação de políticas sociais focadas na informação e esclarecimento da população em geral sobre os riscos de suicídio no envelhecimento, na desconstrução de falsos conceitos ligados a tolerância do suicídio de idosos. Uma medida relevante é a inclusão do tema em currículos de cursos ligados à saúde.
No campo da melhoria da estrutura do setor de cuidados a idosos, da medicina psicossocial que se orienta sobre a implantação de serviços itinerantes de apoio a idosos, que possam atuar no controle de crises e estejam ligados a redes locais e regionais de serviços de saúde. Particularmente relevante é a intensificação da organização de serviços de aconselhamento gerontopsiquiátrico e clínicas que ofereçam cuidados psicoterapêuticos mais robustos para idosos. Pessoas que atuam continuamente em contato com idosos podem ser orientadas sobre o reconhecimento precoce de pessoas com tendências suicidas e que poderiam estar integradas aos programas de serviços psicoterapêuticos e de cuidados a idosos (Kessler 2012).

2.2.6.6-O suicídio como uma doença
Segundo Barnéoud (2015) o suicídio encobre uma verdadeira doença. Adversidade social, problemas psicológicos, mas não somente estes, por baixo da decisão do ato escondem-se também predisposições biológicas, uma descoberta que muda a visão do flagelo. Segundo a autora, mais de 80.000 pessoas suicidaram-se no mundo em 2012 (OMS). A mortalidade masculina por suicídio ocorre de maneira generalizada com exceção da China. Na França, embora com esperança de vida elevada, também manifesta uma taxa de suicídio entre as mais elevadas da Europa (uma morte em 50). Em um recente estudo do Inserm (Institut National de la Santé et de la Recherche Medicale – France), mostrou que a taxa de mortandade por suicídio aumenta com a taxa de desemprego. No entanto, se as dificuldades sociais contam para o ato, muitas pessoas que vivem em situações difíceis não se suicidam, colocando a questão de uma possível predisposição biológica para o suicídio.
O suicídio passou a ser considerado como um fato social pela publicação do livro “Le Suicide” do sociólogo Durkheim em 1897, que descreveu o fato, de que certas tentativas contra a vida se deviam essencialmente em razão de fatores exteriores ao indivíduo, professionais (desemprego e assédio) ou afetivos (divórcio, rupturas, perdas de pessoas próximas).
Posteriormente a medicina constatou que 90% das pessoas que se suicidavam sofriam de alguma doença mental, sobretudo depressão (doença psiquiátrica, crônica, recorrente, que produz uma alteração do humor, caracterizado por uma tristeza profunda, sem fim, associada a sentimentos de dor, amargura, desencanto, desesperança, baixa autoestima, culpa, assim como distúrbios do sono e apetite), mas também esquizofrenia (doença psiquiátrica endógena que se caracteriza pela perda do contato com a realidade) e problemas bipolares (doença psiquiátrica caracterizada pela alternância de períodos de depressão e hiperexcitabilidade ou mania). Constataram também que menos de 20% das pessoas atingidas por tais problemas passavam finalmente ao ato. Isto levou a constatação de que a adversidade social e os problemas psicológicos são duas condições necessárias, mas não suficientes para que ocorra o ato.
Mais recentemente, pelo avanço das neurociências, da biologia molecular e da genética, os conhecimentos revolucionaram a compreensão do suicídio, pois elas indicam que seria uma doença biológica por inteiro. Vulnerabilidade para as condições de suicídio permitiram aos pesquisadores e numerosos médicos estimar que somente as pessoas portadoras de uma certa vulnerabilidade de origem biológica se suicidam (Barnéoud, 2015).

2.2.7-Fontes de consulta
ABDOUN,P,E, BETTAYEB,A,K, GRACCI,F & RAMBERT,H. Les super-pouvoirs du ventre. In: Cience & Vie, Mondadori France, nº 1183, avril 2016, pg 49BARNÉOUD, L. Suicide, il cache une vraie maladie, In: Science & Vie, Avril 2015, nº 1171, France, Mondatori, page 86.

KESSLER,E,M. Suizidprävention. In: Wahl,H,W, Römer,C,T, & Ziegelmann,J,P. Angewandte Gerontologie, Stuttgart, Kohlhammer, 2012 KUZMA,E, PANTEL,J & SCHRÖDER,J. Prävention psychischer Krankheiten im Alter. In:
Wahls,,H,W, Römer,CT & Ziegelmann,J,P. Angewandte Gerontologie, Stuttgart, Kohlhammer, 2012.

GELLERT,P. & HERRMANN,W,J. Prävention körperlicher Erkrankungen. In: Wahl,H,W, Römer,C,T, & Ziegelmann,J,P. Angewandte Gerontologie,Stuttgart,Kohlhammer,2012 GRÄSER,H, Entwicklungsberatung, In: Wahl,W,H, Römer,T,C, & Ziegelmann,P,J, Angewandte Gerontologie, Stuttgart, Kohlhammer, 2012.

SATTLER,C, WENDELSTEIN,B, & SCHRÖDER,J. Prävention dementieller Erkrankungen Im Alter. In: Wahl,H,W, Römer,C,T & Ziegelmann,J,P. Angewandte Gerontologie Stuttgart, Kohlhammer, 2012.

SCHÜZ,B, & ZIEGELMANN,J,P. Formen und Bedeutung von Prävention, In: Wahl,N,W, Römer,T,C, & Ziegelmann,J,P. Angewandte Gerontologie, Stuttgart, Kohlhammer, 2012.

TOURBE, C. & RAMBERT,H. Des milliers de médicaments ne servente à rien. In Science & Vie, Mondadori France, nº 1171, avril 2015.

WELTGESUNSHEITORGANIZATION. Gesunheit 21 – Gesunheit für alle im 21. Jahrhundert. Kopenhagen: Westgesundheitorganization Regionalbüro für Europa.


Sobre o autor:

Nelson Frederico Seiffert

Doutor em Engenharia de Produção, com a tese de Doutorado sobre Gestão Ambiental. Trabalhou em Pesquisa na EMBRAPA durante 25 anos.

Desenvolve atualmente estudos na área de Gerontologia Ambiental e Aplicada. Conduziu Seminários sobre Gerontologia Ambiental e Aplicada no NETI/UFSC em 2015, 2016 e é Diretor Técnico Científico da ANG/SC – GESTÃO 2017/2019.

E-mail: [email protected]

Artigos de Associados

Recursos individuais e diagnóstico geriátrico

2.1 RECURSOS INDIVIDUAIS E DIAGNÓSTICO GERIÁTRICO

Nelson Frederico Seiffert

 

2.1.1-Envelhecimento uma experiência subjetiva

Mas como definir o envelhecimento? Em sociologia e demografia o envelhecimento corresponde a períodos do curso de vida, algumas vezes arbitrários, algumas vezes baseados em estatísticas epidemiológicas, segundo as quais, as perdas funcionais maiores surgem em média após os 80/85 anos. (Epidemiologia, ramo da medicina que estuda os diferentes fatores que intervém na difusão e propagação de doenças, sua frequência, seu modo de distribuição, sua evolução e à colocação de meios necessários para sua prevenção).A etapa da vida caracterizada perla velhice, com suas peculiaridades, só pode ser compreendida a partir da relação que se estabelece entre os diferentes aspectos cronológicos, biológicos, psicológicos, sociais e ambientais. Essa interação institui-se de acordo com as condições da cultura na qual o indivíduo está inserido. Condições históricas, políticas, econômicas, geográficas e culturais produzem diferentes representações sociais da velhice e também do idoso. Há uma correspondência entre a concepção de velhice presente em uma sociedade e as atitudes frente às pessoas que estão envelhecendo.
Atualmente, os especialistas no estudo do envelhecimento referem-se a três grupos de pessoas mais velhas: idosos jovens (65 a 74 anos), idosos velhos (75 a 84 anos) e idosos mais velhos (85 anos, 95 ou mais). Idosos jovens mantem-se ainda ativos, apesar de já poder apresentar, ou não, pequenas restrições corporais ou cognitivas, enquanto idosos velhos e mais velhos são segmentos que apresentam maior tendência a manifestar perdas funcionais que impõe dificuldades para desempenhar atividades comuns da vida diária. Embora esta categorização de grupos etários seja usual, as pesquisas revelam que o processo de envelhecimento é uma experiência heterogênea, vivida como uma experiência individual.
O envelhecimento aparece associado a doenças e perdas, e é a maioria das vezes entendido como apenas um problema médico, ligado à deterioração corporal e cognitiva. O avanço da idade é percebido comumente como um processo contínuo de perdas e de dependência que induz uma identidade de falta de condições, responsável por um conjunto de imagens negativas associadas a velhice.
Na realidade, existem diferentes formas de se definir e conceituar a velhice. Uma delas é a definição preconizada pela Organização Mundial da Saúde, que é baseada na idade cronológica, na qual a definição de idoso inicia-se aos 65 anos nos países desenvolvidos, e aos 60 anos nos países em desenvolvimento. O envelhecimento humano, é entendido como um processo influenciado por diversos fatores, como genética, gênero, classe social, cultura, padrões de saúde individuais e coletivos da sociedade, condições ambientais. Não pode apenas ser definido pela idade cronológica, mas pelas condições físicas, funcionais, mentais e de saúde das pessoas, o que equivale a afirmar que podem ser observadas diferentes idades biológicas e subjetivas em indivíduos com a mesma idade cronológica.
A idade biológica é definida pelas modificações corporais e mentais que ocorrem ao longo do processo de desenvolvimento e caracterizam o processo de envelhecimento humano, que pode ser compreendido como um processo que se inicia antes do nascimento do indivíduo e se estende por toda a existência humana.
A idade social é definida pela obtenção, pelo indivíduo de hábitos e status social, para o preenchimento de muitos papéis sociais, ou expectativas em relação às pessoas de sua idade, em sua cultura e em seu grupo social. Um indivíduo pode ser mais velho ou mais jovem dependendo de como ele se comporta dentro de uma classificação esperada para sua idade em uma sociedade ou cultura particular.
A idade psicológica pode ser compreendida como as habilidades adaptativas dos indivíduos para se adequarem às exigências do meio. As pessoas adaptam-se pelo uso de várias características psicológicas, como aprendizagem, memória, inteligência, controle emocional, etc.
Mas o que é o envelhecimento psíquico? Se envelhecer é sobretudo uma experiência pessoal e subjetiva, o que é então sentir-se velho? É evidente que, é menos uma questão de idade, portanto do tempo que passa, mas é por ocorrência de golpes de perda de memória e inteligência súbitos, perdas graves que atingem o indivíduo, que faz com que ele perceba sentir-se envelhecer. Eventos que fazem envelhecer referem-se sempre a perdas, luto, doenças, acidentes e rupturas. Um tempo de etapas que são passadas, que encarnam a partida das crianças de casa, a passagem para a aposentadoria, o divórcio, a morte de pessoas queridas ou alterações da própria integridade física. É por isto que a psicologia (ciência que trata do estado e processos mentais, do comportamento do ser humano e suas interações com o ambiente físico e social) procura definir a experiência de envelhecer em função das reações que provocam estas diversas experiências e perdas.
A partir destas premissas podem ser sugeridas três modalidades psíquicas, que se inscrevem de forma subjetiva no tempo que passa:
1-O avanço da idade, que é um processo permanente, que o calendário modela convencionalmente ao curso, do qual, perdas afetivas, físicas e de identidade são compensadas por ganhos simbólicos, imaginários ou reais. Maturidade, status ou novas liberdades oferecem então um sentimento de enriquecimento ou de satisfação.
2-O envelhecimento caracterizado pela falta de compensação das perdas. O sentimento de perda irremediável predomina, levando o indivíduo a se convencer que nenhuma melhora de sua situação poderá ocorrer e que toda a esperança é em vão.
3-O envelhecimento psíquico, ou se instala em uma condição duradoura de dependência que priva definitivamente o indivíduo de todas, ou parte de sua liberdade e de seu poder sobre a vida. Não somente as perdas podem não ser compensáveis e
irremediáveis, elas obrigam, daqui em diante, o indivíduo a se submeter a outro para efetuar os gestos mais habituais da vida quotidiana.
Pode-se viver longamente, isto é avançar em idade durante numerosos anos, sem necessariamente sentir-se como velho. Pode-se também sentir o envelhecimento em idades muito variáveis, desde logo que o sentimento de perdas predomine e sufoque o desejo de viver. Pode-se igualmente, tornar-se velho em idades muito diferentes, quando se instala a dependência que priva o indivíduo do poder sobre a sua vida. Pode-se ainda avançar em idades como 70, 80 e 90 anos e jamais sentir-se velho, nem mesmo envelhecendo.
É neste contexto que intervém a idade subjetiva. Os avanços de idade medidos pelo calendário e balizado pelos aniversários mostram que os sentimentos de envelhecimento não têm nada a ver com a cronologia. Pode-se envelhecer psiquicamente a 40, 50, 80 anos, e rejuvenescer subjetivamente a 50 ou 70 anos. Numerosos estudos consagrados a idade subjetiva mostram que, após atingir 30 anos, a pessoa se sente geralmente mais jovem do que realmente é. De fato, a idade subjetiva medida por diversas escalas psicológicas, mostra que ela é 10, 15, 20 anos inferior a idade cronológica. Por outro lado, pode-se perceber, quando se festeja um aniversário nos tempos de 60, 70 anos, tendemos a reaproximar a idade subjetiva com a idade cronológica, ou seja, assimilamos nossa idade real.
Pode-se, no entanto, também notar que o luto e acidentes da vida fazem envelhecer subjetivamente. Este senso de envelhecer é um sentimento subjetivo, quando uma acumulação de perdas nos lembra a realidade de nossa idade, e mesmo a percepção individual da idade subjetiva pode ultrapassa a percepção da idade cronológica.
O período de crescimento, que caracteriza a infância e à adolescência é, em princípio, feito de ganhos. A idade subjetiva é nesta época superior a idade cronológica, manifestada pelo desejo de crescer. O avanço da idade do adulto, após 30 anos caracteriza-se, ao contrário, pela necessidade de compensar perdas por meio e novos ganhos. A idade subjetiva torna-se então pouco a pouco inferior a idade cronológica, mas tendo a ilusão da juventude dentro de uma percepção modificada do tempo. O tempo parece, com efeito, passar mais e mais rápido na medida que se passam os anos.
O envelhecimento, sinônimo de alienação e de perda de poder sobre sua vida, corresponde ao tempo de abandono de todas as referências cronológicas em benefício do refúgio em uma idade desligada da realidade do tempo que passa. É por isto que a velhice é um sentimento subjetivo. Este sentimento que pode atingir uma pessoa de 60, como 95 anos, mas também permanecer totalmente estranha a um indivíduo de 90 anos, o qual irá tender a considerar a maior parte das pessoas com 80 anos, como mais velhas que ela (Helson 2008).

2.1.2-Qualidade de vida no envelhecimento

Na Gerontologia a aplicação da intervenção gerontológica pode ser considerada como o resultado dos conhecimentos obtidos pelos estudos e pesquisas comprovadas pela ciência do envelhecimento. Aponta para as múltiplas possibilidades de uso do desenvolvimento de resultados de pesquisas aplicados a aspectos relevantes da individualidade e da plasticidade dos indivíduos idosos, tanto no âmbito físico, psíquico e social (Wahl, Tesch-Römer & Ziegelman, 2012).
A qualidade de vida individual é o resultado de um conjunto de recursos ligados a condição de saúde física, psíquica, de interação social e ambiental que pode estar disponível ao longo do curso de vida. Estas condições são particularmente relevantes no contexto de redução do potencial da efetividade destes recursos durante o processo de envelhecimento. A intervenção gerontológica orientada sobre a baixa disponibilidade destes recursos pode resultar na sua recomposição, na otimização, na realocação de recursos que se fragilizaram ou que não estavam disponíveis previamente. Deve ter em vista, não apenas a reposição e ganhos na funcionalidade dos recursos de saúde individuais, mas também na realocação de recursos ambientais para a manutenção da qualidade de vida. Em diversos campos os recursos de suporte da qualidade de vida podem assumir funções compensatórias, cujo potencial repousa em parte sobre a sua disponibilidade individual prévia. As intervenções orientadas sobre o potencial dos recursos individuais devem sobretudo procurar a sua aptidão para compensação e dentro de uma estratégia preventiva. Isto é particularmente importante na fase inicial do processo de envelhecimento, e que tem uma relevância central nos campos de recursos sócio demográficos, da cognição, da saúde corporal, e do comportamento social. É uma estratégia que tem em mente as futuras perdas que se correlacionam com o curso de vida e pode assegurar a estabilidade e a própria qualidade de vida individual nas fases mais avançadas do processo de envelhecimento. Dentro do foco preventivo da intervenção gerontológica sobre a base de recursos que dão sustentação ao envelhecimento, cabe ainda considerar a necessidade de que seja reforçada a infraestrutura do contexto ambiental onde o indivíduo vivencia o processo de envelhecimento (Röcke & Martin 2012).

2.1.3-Recursos individuais

O conceito de recursos na literatura da Gerontopsicologia é bastante citado, mas mal definido. Adaptações gerais e teorias do stress focam recursos em relação a fatores de risco, como características de pessoas e do ambiente, as quais trazem dificuldades para o controle de condições de vida menos difíceis. Um grande número de características pessoais, genéticas, psicossociais, socioeconômicas, características motoras, cognitivas e sensoriais (comportamento, nível de formação educacional) bem como contextos de vida, junto com sua estrutura de oportunidades (tempo livre, infraestrutura de apoio na comunidade residencial) são incluídos no conceito de recursos.
Quando abordamos aspectos genéticos, nem sempre é fácil traçarmos uma linha de separação entre o que é genético e o que é hereditário. Quando falamos em genes, pensamos em herança direta de características bem definidas. Entretanto não são apenas as características externas que são determinadas pela expressão de genes. Todos os eventos que desencadeiam a formação de um ser com formas definidas, cujas partes possuem função definida, são determinadas por genes ou baterias de genes. Mutações em tais genes podem ser dramáticas para o organismo, como no caso do desenvolvimento do câncer ou também no caso de ocorrer uma transmissão de herança genética da diabete mellitus.
O papel da genética no envelhecimento é complexo, isto porque a herdabilidade é muito baixa, e diferentes genes podem responder a diversos estímulos ambientais, que quando somados, podem determinar maior ou menor tempo de vida, e diferentes genes podem responder a diversos estímulos ambientais, que podem influenciar o tempo de vida (Cruz, 2002).
Da mesma forma, mesmo quando são separados, os recursos pessoais como cognição, saúde corporal, comportamento social, são percebidas ainda habilidades auto reguladoras (estilo de realização) e o contexto de vida (tipo de moradia), as quais são também computados como recursos. Uma determinada função ou microssistema de vida pode também estar contida dentro da perspectiva de recursos, e as possibilidades de um dia a dia autônomo, independente, através de uma boa condição de saúde é um recurso central para o bem-estar subjetivo.
A possibilidade de se manipular a disponibilidade e a qualidade dos recursos individuais oferece um campo importante para intervenções gerontológicas que dirigem seu foco para elementos positivos de desenvolvimento. Recursos disponibilizam ferramentas de manejo para suporte da vida de idosos e definem o campo de operações para intervenções. Pessoas com muitos recursos alcançam, via de regra, um maior nível de bem-estar e uma maior qualidade de vida, do que pessoas com baixa disponibilidade de recursos.
As intervenções na base de recursos de pessoas idosas objetivam a descrição das características do estado de seus recursos e a definição de quais medidas podem ser aplicadas que conduzam a um desenvolvimento exitoso no sentido da maximização de ganhos e a minimização de perdas. Visam o manejo das modificações destes recursos com o sentido de prescrever uma melhor possibilidade de adaptação às modificações e de condução do modo de vida. A prescrição é para orientar a adoção de estratégias para adequado suporte da vida no sentido da melhor alocação de recursos. Tem um papel importante nas intervenções em campos funcionais específicos como diferenças cognitivas, sensoriais e motoras e para modelos de auto regulação emocional.
Um pressuposto fundamental da psicologia do alongamento de vida é que no desenvolvimento do curso de vida ocorrem tanto ganhos como perdas, e que o balanço, com base nas modificações dos recursos, indica que estes podem ser modificados e reforçados para favorecer a saúde a adiar perdas de funcionalidades. O adiamento de perdas produz um necessário reforço do suporte da vida pela redistribuição dos recursos em diferentes âmbitos que favorecem atividades diárias.
O Modelo de Otimização Seletiva com Compensação – SOC, de Baltes & Baltes (1990), citado por Röcke & Martin (2012) por exemplo, é orientado tanto para recursos como a processo. Descreve estratégias exitosas de suporte a vida orientadas sobre modificações do contexto individual. Pode ser, por exemplo, com foco na baixa disponibilidade de determinado recurso (seleção). Pode propor intervenções em recursos já existentes com objetivo em sua melhora (otimização). Pode focar na manutenção do nível funcional de determinado recurso (até então não visado), para compensar o desgaste de outro recurso já em fase de fragilização (compensação).
Diversas características intrínsecas e externas contribuem para o conjunto dos recursos individuais que atuam no desenvolvimento de uma vida prolongada. São parte integrante dos recursos que podem ser considerados como meios positivos de ajuda no desenvolvimento do envelhecimento, mas também como fatores de risco.
Estão correlacionados ao envelhecimento como aptidões para compensar desgastes e possibilitar compensações de perdas funcionais e manutenção da qualidade de vida.
Os recursos individuais colocam-se como ponto de partida para a intervenção gerontológica, que está focada na manutenção, restauração de recursos pessoais, bem como na adequação de características ambientais que cercam o indivíduo. Diferenças individuais no percurso da fase de envelhecimento, nos campos centrais da saúde corporal, cognição, bem-estar, refletem diferentes formas de ajuste dos indivíduos, entre a própria demanda de recursos e sua disponibilidade.
O “Modelo de Pilares Múltiplos que Afetam a Qualidade de Vida” pode ser usado como critério para a orientação de intervenções gerontológicas pessoais. Segundo este modelo as intervenções gerontológicas podem ser direcionadas para a manutenção da qualidade de vida com a ajuda de processos de compensação entre os diferentes recursos disponíveis, de forma que, sua redução, ou perda de algum deles, não leve necessariamente a uma minimização da qualidade de vida (Figura 1).

6-Saúde corporal; 2-Cognição; 4-Relacionamento social; 3-Recursos financeiros;
5-Ambiente residencial; 1-Infra-estrutura

 

São exemplos de intervenção para melhora da qualidade de vida individual:
Por Seleção:
Se o Recurso 1 for infraestrutura deficiente na área de moradia, como transporte precário, distância dos serviços de saúde, vizinhança perigosa, este recurso poderia ser selecionado como sendo o objetivo de ser alterado prioritariamente, efetuando-se a mudança para um novo local de moradia em local mais apropriado.
Por Otimização:
Se o Recurso 2 for Cognição, este pilar da qualidade de vida no envelhecimento pode ser otimizado, buscando-se participar de novos treinamentos e capacitações que reforcem a atividade cerebral (curso de línguas, informática, treinamento da memória), e com isto, reforçando este pilar do bem-estar individual.
Por compensação:
Se o recurso 6 for Saúde corporal, estiver afetado por perdas funcionais e fragilizando a mobilidade da pessoa idosa, esta poderá compensar estas perdas por reforçar o ambiente residencial (recurso 5) ajustando-se a uma nova realidade, pela redução do mobiliário para favorecer o transito entre dependências, adequação das portas ao deslocamento por cadeira de rodas, etc.
A perda de familiares ou pessoas amigas, que fragilizam o Recurso do relacionamento social (Pilar 4), deve também desencadear a busca pelo estabelecimento de uma nova rede de relacionamentos sociais, que atuem de forma compensatória, o que também pode resultar de esforços no reforço do pilar 2 relacionado atividades participativas em grupos de capacitação.

2.1.4-Intervenção gerontológica orientada a recursos

Os recursos individuais, colocam-se, ao lado de outros fatores contextuais e objetivos pessoais, como um ponto central de abordagem para a intervenção gerontológica. As diferentes características internas e externas de cada pessoa, comportam a maior parte das abordagens da intervenção gerontológica orientada a recursos. Todas estas abordagens têm em comum a característica de se orientarem aos objetivos de: regulação de perdas; uma maior efetividade de recursos que podem ser modificados em idades avançadas; a maximização de ganhos; e ao mesmo tempo, a minimização de perdas de recursos funcionais.
Intervenções orientadas a recursos podem ser diferenciadas, de um modo geral, sob o seu ponto de abordagem. Podem ter o objetivo de equilibrar perdas pela reconstrução doe recursos, pela prevenção do desgaste de recursos, ou pelo reforço do nível de determinado recurso. Quando um recurso sofre modificações ou perdas causadas pelo envelhecimento, existe um grande conjunto de possibilidades de aplicação de resultados do aprendizado sobre o potencial de plasticidade do indivíduo. Ganhos de recursos são, por exemplo, obtidos por treinamento da memória, pela concretização de novos contatos sociais, assumir novas atividades de uso do tempo livre, melhorias no tratamento e manutenção da saúde.
Intervenções que visam recursos disponíveis no ambiente externo ao indivíduo também podem ser incluídas neste contexto. Contextos de vida externos podem conter diferentes campos sociais, culturais, características de infraestrutura locais, os quais, no sentido de possibilidades de intervenção, atuam como compensação para perdas internas de recursos pessoais, como mobilidade, saúde e comportamentos sociais (pontos de encontro de idosos, sistema de transporte, vizinhança, etc.).
A alocação ótima de recursos já existentes pode ainda ser considerada uma estratégia para reforço de demandas individuais. É exemplar o Modelo de Pilares Múltiplos de Sustentação da Qualidade de Vida (Figura 1), que tem por foco o princípio do equilíbrio, composição, ajuste de perdas de recursos, através de uma reconstrução ou um reforço preventivo. O foco central é a busca da manutenção dos pilares de sustentação da qualidade de vida e não necessariamente a sua elevação. O ponto de partida é o conjunto de recursos que estão disponíveis e que são bastante distintos entre os indivíduos.
Uma característica do modelo é que o reforço de recursos individuais após uma perda pode levar a estabilização da qualidade de vida e não, automaticamente, a uma
melhora da qualidade de vida. O modelo sugere intervenções que tem por foco assumir funções compensatórias em pilares com recursos fragilizados. Como exemplo, em perdas funcionais de saúde, pode um reforço no pilar de recursos sociais levar a uma estabilização da qualidade de vida. O modelo também indica que, a possibilidade de reforço em determinados pilares de recursos possa ser efetuada preventivamente. Pode também, em uma fase posterior à perda de um determinado recurso, assumir uma função compensatória, pelo reforço em outros pilares de sustentação da qualidade de vida.
A disponibilidade de um maior conjunto de recursos oferece um maior leque de oportunidades de compensação. Estas abordagens são suportadas por teorias que consideram que, um maior número de facetas de características individuais oferece um maior campo de atuação para intervenções, que atuem na manutenção da vivência pessoal, mesmo quando haja a ocorrência de perdas significativas em determinados recursos (Röcke & Martin 2012).

2.1.5-Diagnóstico geriátrico

A intervenção gerontológica na esfera do indivíduo parte do princípio de que existe um diagnóstico geriátrico que caracteriza o estado físico e psíquico do idoso. O Diagnóstico Geriátrico pode ser descrito como a “medicina multifuncional, psicológica e de análise”, com o objetivo de se estabelecer um plano de longo prazo para o tratamento e cuidados do indivíduo idoso. Em um diagnóstico padronizado, aspectos cognitivos, status emocional, mobilidade, funções orgânicas, autossuficiência na condução do dia a dia e aspectos ambientais do entorno do indivíduo são sistematicamente caracterizados e incorporados aos cuidados e tratamento de idosos. Para diferentes Intervenções (prevenção, tratamento de doenças, reabilitação, tratamento de longa duração) é previsível que estas ações interagem na manutenção da funcionalidade, autossuficiência e redução de tratamento em hospitais e da internação em instituições de longa permanência.
Primeiro Passo:
O tratamento médico e o cuidado ao idoso é resultante de um diagnóstico geriátrico que avalia diversos aspectos fundamentais, podendo ser nominados:
1-Multimorbidade e complexidade
Muitas pessoas idosas sofrem simultaneamente danos por diversas doenças e com um método de avaliação multidimensional é possível estabelecer prioridades de intervenção.
2-Problemas desconhecidos
Muitas pessoas sofrem doenças desconhecidas e problemas que podem ser potencialmente modificáveis. Com isto podem ser interpretadas como consequência normal do envelhecimento, como restrições das funções cognitivas, auditivas e da visão.
3-Enfermidades crônicas
O tratamento de doenças crônicas visa atuar sobre a minimização de seus efeitos sobre a vida quotidiana. Ao lado do tratamento medicinal também é necessária uma avaliação funcional com base no diagnóstico geriátrico.
4-Interação com fatores sociais e ambientais
Condições de saúde do dia a dia são influenciadas pelos recursos sociais como a rede social e situação do ambiente residencial da moradia.
5-Exames laboratoriais.
Um diagnóstico geriátrico inclui inicialmente dados de um exame minucioso de resultados de análises laboratoriais.
Segundo Passo
Os dados do primeiro passo são complementados por verificação de aspectos funcionais do indivíduo, que são considerados o segundo passo do diagnóstico, e compreende:
1-Função afetiva
Uma avaliação sistemática de ocorrência de depressão. Um questionamento direcionado a depressão é oportuno, porque mesmo sintomas leves de depressão podem sugerir uma terapia combinada, medicamentosa e psicossocial.
2-Atividade diária
A avaliação da autonomia do dia a dia é um elemento central do diagnóstico por poder captar possíveis influências de doenças crônicas de funções que influenciam no contexto físico e social. O status funcional pode ser avaliado através de: 1- condução de atividades diárias como: nutrição, higiene, trato corporal, uso das instalações sanitárias, movimentação. 2- Desempenho de funções diárias como realização de compras, manuseio de roupas, preparo de refeições, uso de medicamentos, controle financeiro e quitação de contas. 3 – Cumprimento de agendas em atividades sociais, profissionais, esporte e viagens.
3-Cognição
Um teste mental mínimo compreende a identificação e controle da evolução da demência no envelhecimento e deve despertar precocemente a sensibilidade para uma avaliação neuropsicológica completa.
4-Mobilidade e quedas
Devem ser realizados testes para avaliar a mobilidade e a insegurança no deslocamento que são precursoras de quedas.
5-Saúde bucal
Tanto do ponto de vista funcional como estético o aspecto dentário tem um significado especial no envelhecimento e inclui o apoio de serviços odontológicos. Através de métodos atuais preventivos e de reabilitação é possível manter uma saúde bucal até estágios avançados do envelhecimento.
6-Dores
Sem considerar um órgão específico é importante a caracterização da dor. Nela não é somente considerada a intensidade da dor, mas também a sua influência sobre a autonomia, mobilidade, contatos sociais.
7-Audição e visão
A capacidade auditiva e visual é avaliada por testes objetivos com relação a sua funcionalidade em diferentes estágios do envelhecimento e avaliação de deficiências e formas de reabilitação podem ser conduzidas precocemente.
8-Avaliação social
Pressupõe uma descrição da rede de suporte social, o que pode ser realizada por um questionário simples, o qual pode revelar risco de isolamento e necessidade de medidas de integração social.
9-Vizinhança
A condição da área do entorno residencial é frequentemente pouco analisada, mas é de importância central no diagnóstico e aconselhamento. Uma visita a
residência permite avaliar qual o itinerário utilizado para deslocamentos no espaço próximo e se este apresenta condições favoráveis ao indivíduo idoso.
As evidências indicam que a aplicação do Diagnóstico Geriátrico tem um resultado relevante, de forma que são caracterizadas prioridades individuais e que possam ser aplicados planos de tratamento pessoais eficientes, seja na prevenção, na reabilitação, no tratamento hospitalar ou o caso de internação em instituições de longa permanência (Stuck, 2012).

2.1.6-A intervenção pela terapia Genética

Surgido nos laboratórios em 2012, uma ferramenta molecular genética (CRISPR-Cas9) está, a partir de agora, a fazer história. CRISPR-Cas9 agrupa o nome de uma grande proteína (Cas9) a um acrônimo – CRISPR – (palavra formada pela inicial, ou por mais de uma letra de cada um dos segmentos sucessivos de uma locução, ou pela maioria destas partes, ex. ONU).
CRISPR em inglês “Clustered Regularly Interspaced Short Palindromic Repeats”, significa “curtas sequências palindrômicas repetidas, agrupadas e regularmente espaçadas”. Palíndromo significa palavra que pode ser lida, indiferentemente, da esquerda para a direita ou da direita para a esquerda.
Em três anos apenas, CRISPR-Cas9 ganhou a fama de revolução. Trata-se de uma ferramenta de “edição genética”, que funciona de modo similar ao algoritmo de tratamento de texto (tipo word), e permite editar qualquer texto através de toques como procurar, copiar, colar, etc.
Isto é o que exatamente pode fazer o CRISPR-Cas9, mas transportado à genética, atuando sobre o DNA, que no caso da espécie humana possui mais de 3 milhões de letras. É uma ferramenta que permite aos cientistas inserir ou suprimir pedaços de DNA com uma precisão incrível e realizar coisas impossíveis, afirmam as pesquisadoras Jennifer Doudna e Emmanuelle Charpentier do Institut Max-Plank, Alemanha (Science & Vie, nº 1180, pg. 44, janvier 2016). Tais possibilidades foram já testadas com bactérias, plantas, leveduras, mamíferos e agora, sobre humanos.
O DNA – Ácido Desoxirribonucleico é um composto orgânico cujas moléculas contém as instruções genéticas que coordenam o desenvolvimento e funcionamento de todos os seres vivos e alguns vírus, e que transmitem as características hereditárias de cada ser vivo.
O seu principal papel é armazenar as informações necessárias para a construção das proteínas de ARN’s. Os segmentos de DNA que contém a informação genética são denominados genes. Do ponto de vista químico, o DNA é um longo polímero de unidades simples (nanômeros) de nucleotídeos, cuja cadeia principal é formada por moléculas de açúcar e fosfato, intercaladas, unidas por ligações fosfodiester. Ligada a molécula de açúcar está uma das quatro bases nitrogenadas. A sequência de bases ao longo da molécula de DNA constitui a informação genética. Dentro da célula, o DNA pode ser observado em uma estrutura chamada cromossoma durante a metáfase. Antes da divisão celular os cromossomas são duplicados por um processo de replicação. https://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%81cido_desoxirribonucleico
Otimizar os genes.
Nada pode ser feito em relação ao que a natureza nos tem dado? Não se contentar com a grande loteria genética, que dota cada um de um patrimônio único,
herdado de nossos parentes e seres ancestrais? Quem nunca sonhou em poder um dia refazer suas próprias características genéticas para se tornar mais inteligente, belo, permanecer jovem por mais tempo? Algum reforço tem sido feito através da cirurgia e uso de fármacos, que oferecem pontualmente alguns efeitos corporais e cognitivos.
Editar o genoma de um adulto.
E se for possível fazer modificações de fundo no DNA? Apropriar-se definitivamente de boas bases genéticas e as integrar a alguns de nossos órgãos? Esta é a perspectiva que abre o CRISPR-Cas9, poder retocar as capacidades psíquicas e intelectuais no seio do texto genético presente em cada um de nossas células. A maior parte das pessoas apresenta genes funcionais, mas não forçosamente sua versão mais eficiente e eficaz. Uma constatação, que abre enormes perspectivas de otimização. Editar o genoma de um adulto, seria então simplesmente apelar para o uso de técnicas disponibilizadas pela terapia genética, através de transportadores microscópicos, capazes de entregar o gene de interesse, integrando-o nas populações de células visadas.
O pesquisador, George Church, que desenvolve estudos com diversos grupos humanos, estuda o patrimônio genético da longevidade de centenários para descobrir os segredos de uma juventude que possa ser durável. Levantou uma lista de 10 versões raras de genes com efeitos positivos, dos quais seis aumentam a resistência a doenças cardiovasculares (PCSK9), aos cânceres (GHR), a diabete (SLC30A8; IFIH1), a Alzheimer (APP), ou aos vírus (CCRS; FUT2).
As possibilidades de correção e a facilidade de utilização do CRISPR-Cas9 pode também relacionar-se a outros tipos de genes como: SCN9A, que reduz a sensibilidade a dor; LRPS que confere uma ossatura mais densa; MSTN uma musculatura mais robusta; EPO, que favorece a produção de glóbulos vermelhos no sangue. Todos já vem sendo estudados por razões médicas.
Dezenas de laboratórios estão convencidos de que o CRISPR-Cas9 será uma possibilidade definitiva de tratar doenças genéticas, câncer, aids, e mesmo corrigir o patrimônio genético de toda a descendência. Com esta ferramenta revolucionária os médicos esperam, de fato, ter sucesso em realizar uma cirurgia reparadora do DNA (Abdoun, Rauscher, Sciama & Tourbe, 2016).
CRISPR-Cas9, uma revolução que traz medo.Pelo fato de que se torna incrivelmente fácil qualquer manipulação de seres vivos, CRISPR-Cas9 coloca a questão de saber quem vai utilizar, com qual objetivo, com quais fins? Desde já, se impõe uma moratória sobre este avanço científico, que é portador de grande inquietude. Paradoxalmente, de todos os riscos trazidos pelo CRISPR-Cas9, a produção de embriões “sobre medida” é um dos melhores exemplos da “edição genética de embriões”, cujos efeitos posteriores sobre o adulto e sua geração são imprevisíveis. A espécie humana não é evidentemente a única afetada por intervenção genética conduzidas pelo CRISPR-Cas9. Pode atuar, como no caso do interesse agrícola, dotando outras espécies de animais, plantas, microrganismos de supergenes.
A multiplicação destes projetos coloca a questão do “Business do ser vivo”, que permite o setor privado investir na biologia, eldorado financeiro do futuro. Ocorre também o problema da “biologia de garagem”, tocado por um conjunto de equipes não oficiais que realizam manipulações fora dos laboratórios. Pode ser imaginada, toda a sorte de experiências, de mais geniais às mais tóxicas, segundo a identidade e
motivação dos experimentadores. Existe ainda o risco de bioterrorismo, no qual a fabricação de microrganismos artificiais, “supermicrobios”. Estes, podem constituir uma armada de agentes perigosos. Tornar-se uma ameaça biológica que, potencialmente, poderá pertencer a seitas ou pequenos grupos de indivíduos mal-intencionados (Abdoun et al 2016).

2.1.6-Fontes de consulta

ABDOUN,E, RAUSCHER,E, Y,SCIAMA & C,TOURBE, Bricoleurs du Vivant. Science & Vie, Nº 1.180, Mondadori France, Janvier 2016.

CRUZ,I,B,M, da. Alguns questionamentos biológicos sobre o envelhecimento e morte: Da levedura ao homem. In: Jeckel Neto, E,A. Aspectos biológicos e geriátricos do Envelhecimento, 2ª. Ed, Porto Alegre, EDIPUCRS, 2002.

HELSON,C. Accompagner le grand âge – Psycho-gérontologie pratique, Paris,Dunod, 2008.

RÖCKE,C & MARTIN,M, Ressourcen, In: Wahl,H,W, Römer, T,C & Ziegelmann,J,P, Angewandte Gerontologie, Stuttgart, Kohlhammer, 2012.

STUCK,A,E, Geriatrisches Assessment, In: Wahl,H,W, Römer,C,T & Ziegelmann,J,P, Angewandte Gerontologie, Stuttgart, Kohlhammer, 2012.

WAHL,H,W, RÖMER,C,T & ZIEGELMANN,J,P, Angewandte Gerontologie, Stuttgart Kohlhammer, 2012
https://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%81cido_desoxirribonucleico


Sobre o autor:

Nelson Frederico Seiffert

Doutor em Engenharia de Produção, com a tese de Doutorado sobre Gestão Ambiental. Trabalhou em Pesquisa na EMBRAPA durante 25 anos.

Desenvolve atualmente estudos na área de Gerontologia Ambiental e Aplicada. Conduziu Seminários sobre Gerontologia Ambiental e Aplicada no NETI/UFSC em 2015, 2016 e é Diretor Técnico Científico da ANG/SC – GESTÃO 2017/2019.

E-mail: [email protected]

 

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Artigos de Associados

A intervenção gerontológica na esfera individual

PARTE 2 – A INTERVENÇÃO GERONTOLÓGICA NA ESFERA INDIVIDUAL

Nelson Frederico Seiffert

 

1-Gerontologia e a Intervenção Gerontológica

Um dos sonhos mais antigos da humanidade de cancelar o envelhecimento ou torná-lo reversível é espelhado na pintura de Lucas Cranach, de 1546, “a fonte da juventude”. Passado o tempo, temos atualmente a impressão de que a “fantasia da juventude” pode estar ao nosso alcance, porque neste meio tempo, a ciência estabeleceu uma medicina “antienvelhecimento”, a qual já participa do dia a dia das pessoas, como no caso mais simples da aparência física de idosos, decorrente de avanços na dermatologia, indústria cosmética e do avanço no emprego de próteses.
O sucesso dos mecanismos de suporte desenvolvidos para um bom envelhecimento, objeto da Gerontologia, é evidenciado pelo prolongamento do curso de vida, tanto para indivíduos em si, como para o conjunto da sociedade. Características de uma vida prolongada estão ligadas ao de qualidade de vida, como um maior nível de bem-estar, maior integração e participação social, mas também relacionados a problemas de custos no campo do sistema previdência e do sistema de saúde. Trata-se, tanto, no sentido de que é aumentado o tempo de vida, mas também da qualidade do bem-estar ao longo da fase de envelhecimento, que tem revelado novos potenciais e novos riscos.
Nos ramos da Gerontologia Aplicada e Gerontologia Ambiental, a Intervenção Gerontológica compreende um conjunto de esforços ligados a cuidados, corporais, psicológicos e ambientais, que visam conferir o maior nível possível de bem-estar a pessoas que envelhecem. Este foco direcionado ao aspecto aplicado do saber gerontológico é a parte essencial da Gerontologia.
A Intervenção Gerontológica é entendida como um processo de avaliação de dados resultantes de estudos e pesquisas, com o propósito de implementar a transferência de seus resultados para a prática.
Baltes & Baltes (1992) citado por Wahl et al (2012) definiu a Gerontologia como a descrição e o esclarecimento sobre a a modificação de aspectos corporais, psíquicos, sociais, históricos e culturais de pessoas idosas, incluindo a análise de aspectos relevantes que constituem o ambiente do envelhecimento e suas instituições sociais.

Esta definição, aborda em primeiro lugar as modificações que atuam sobre pessoas que envelhecem, bem como sobre as respostas do processo de envelhecimento. Em segundo lugar salienta que estas modificações não são penas do âmbito corporal e psicológico e indica que, apenas intervenções médicas não são suficientes para recomendação de intervenções gerontológicas. Em terceiro lugar é evidenciado que, para os idosos e envelhecimento (com vista a descrição, interpretação e modificação), seja necessário a incorporação dos recursos ambientais e pressupostos das instituições sociais que abrangem o indivíduo idoso.

 

2-A proposta da intervenção gerontológica

Entre as razões da intervenção gerontológica, encontra-se o convencimento de que o percurso do envelhecimento normal possa ser também melhorado através de medidas de intervenção que otimizem as condições corporais, cognitivas e ambientais. O conceito clássico de “enriquecimento ambiental” tem evidenciado novos resultados e uma verdadeira “renascença” para a intervenção gerontológica. Desenvolvimento negativo, bem como processos patológicos, como por exemplo demência, não são mais vistos como fatalidades naturais, como uma herança de curso de vida, mas como reação a um conjunto de fatores, dos quais, pelo menos alguns, podem ser influenciados de forma duradoura, e com isto, propiciar significativas melhoras na vida quotidiana de pessoas afetadas.
Tais concepções não foram sempre imaginadas pela Gerontologia, que anteriormente incorporava um determinado pessimismo sobre as possibilidades de intervenção, o que atualmente já não é mais aceito. Nas décadas de 1950/60 havia um quadro deficiente de conhecimento e de que o sucesso da pesquisa e da sua aplicação prática trouxesse espaço para modificações positivas. Nos anos 1970/80 desenvolveu-se nos EUA um verdadeiro “culto da intervenção no envelhecimento”, o qual foi portador de esperança, o que pode, em grande parte, banir e retardar o sentimento da perda de ânimo que atinge pessoas idosas.
A motivação para este otimismo intervencionista situou-se nos resultados de pesquisa e estudos de recapacitação, nos quais foi percebida a elevada plasticidade dos idosos em sua capacidade mental e na capacidade corporal de movimentação e administração de atividades do quotidiano.
Seguiu-se a este período, um efeito de distanciamento de uma visão determinística biológica do envelhecimento. Em lugar de uma perspectiva biológica de dependência no estágio mais avançado da vida, surgiu uma perspectiva de modificação do envelhecimento, através de intervenções nas condições corporais e cognitivas do indivíduo, bem como modificações espaciais nos recursos ambientais disponíveis para as pessoas. Neste mesmo impulso, ocorreu também, uma revalorização da pesquisa de intervenção. Gero-intervenções foram então compreendidas como orientadas a objetivos e ações planejadas para influenciar sobre o curso de vida, no estabelecimento de uma teoria de orientação do processo de envelhecimento, em uma avaliação empírica e também uma reflexão ética sobre o âmbito da Gerontologia.
Esta nova visão foi influenciada de forma muito acentuada pela Gerontologia Psicológica e Gerontologia Social, mas também, determinada paralelamente, pela perspectiva de reabilitação trazida pelo avanço da Geriatria. Em conjunto, estes impulsos direcionados a uma intervenção gerontológica desenvolvida nos anos 1970/80, vem conduzido os avanços atuais da ciência do envelhecimento. Sobretudo nos anos 1990, o quadro continuou a se diferenciar, e a perspectiva de intervenção no envelhecimento também gerou a concepção de um novo foco de desdobramento da Gerontologia, a Gerontologia Aplicada, para a qual foi colocado à disposição um largo espectro sobre modificações e alvos de possibilidades de intervenção decorrentes de resultados de pesquisa. Por outro lado, também foram demonstrados os limites das intervenções gerontológicas, em torno da reabilitação geriátrica de pessoas atingidas por características de multimorbidade somática, por doenças demenciais ou por reações indesejáveis do processo de alongamento do tempo de vida (ex. baixa escolaridade, desemprego prolongado, falta de competências individuais).
Na visão da intervenção gerontológica sobre os indivíduos é de se considerar que nas últimas décadas foram dados amplos avanços, como por exemplo no treinamento cognitivo. A temática da melhoria da qualidade de vida de pessoas idosas com perdas cognitivas, vem sendo intensamente estudadas e tem mostrado avanços significativos e práticos sobre o que era conhecido até os anos 2000.
Estudos sobre o papel das atividades físicas tem mostrado que, não são apenas efetivas sobre a prevenção de doenças corporais, mas também sobre a capacidade cognitiva. Avanços, também vem se acentuado sobre a metodologia de pesquisa, melhorando o potencial dos resultados e a aplicação prática de intervenções no processo de envelhecimento. São exemplos, práticas como: visitas preventivas a residências de idosos; visitas a comunidades residenciais para grupos de pessoas com tipos específicos de perdas funcionais, como demência; técnicas de cuidados e novas orientações aos usuários de serviços de apoio a idosos como psicoterapia, e utilização de informática como meio para tratamento de saúde.
A Gerontologia da intervenção estabelece uma diferenciação nos processos de intervenção entre aquela direcionada para o apoio a pessoas que se situam em um envelhecimento normal, e aquela direcionadas a pessoas que se encontram em um envelhecimento patológico. Exatamente no tempo atual, em que se eleva o número de pessoas idosas, torna-se cada vez mais evidente que o potencial de pessoas idosas deva ser melhor explorado, e que intervenções sejam desenvolvidas na direção da otimização de um envelhecimento exitoso. Ao mesmo tempo em que se eleva o número de pessoas com severas desabilitações e formas graves de multimorbidade, maior deverá ser o esforço do desenvolvimento de novas formas de intervenção gerontológica.
A intervenção gerontológica é parte objetiva da Gerontologia Aplicada e aproxima-se de um papel central dentro da moldura de uma sociedade idosa forte, que esteja situada dentro de um processo de envelhecimento normal, cada vez mais distante de um envelhecimento patológico (Wahl et al 2013).
O envelhecimento normal deveria ser aquele, cujo curso de vida avança no tempo, no qual as perdas funcionais, orgânicas, cognitivas, são controladas ou compensáveis, possibilitando a manutenção da autonomia, da independência, o interesse pela vida, mesmo em estágios mais avançados do envelhecimento. As intervenções gerontológicas podem ser vistas como o teste do sucesso da ciência do envelhecimento. Mostra as múltiplas possibilidades de aplicação de seus conhecimentos e pesquisas, mas também revela a significativa plasticidade do sistema de envelhecimento humano nos seus âmbitos físico, psíquico e social.
Intervenções gerontológicas ressaltam em seu extremo, a capacidade de suporte da vida também em idades mais avançadas e nutrem a perspectiva de uma vida prazerosa e utopias de que é possível desfrutar de bem-estar no envelhecimento.
Estes conceitos fundamentais destacam o significado da intervenção gerontológica para a pesquisa do envelhecimento, para pessoas idosas, para seus familiares, para uma grande série de profissionais e para a sociedade. Ela oferece esclarecimentos que indicam objetivos e estratégias de intervenção e caracteriza campos de aplicação para a ciência do envelhecimento e para a aplicação prática ao dia a dia de pessoas idosas. Intervenções exitosas e eficientes demostram a grande plasticidade do sistema de envelhecimento humano e espelham ao mesmo tempo o potencial da Gerontologia na transferência do conhecimento científico para a prática gerontológica, um dos objetivos maiores de todas as ciências.

 

3-A perspectiva multidisciplinar

A Gerontologia caracteriza-se como um campo de estudos multidisciplinar recebendo contribuições metodológicas e conceituais da biologia, psicologia, ciências sociais e de disciplinas como biodemografia, neuropsicologia, história, filosofia, direito, enfermagem, psicologia educacional, psicologia clínica (Neri, 2008). Nos EUA a Gerontologia é caracterizada pela US Davis School of Gerontology, e que também é mencionada pela California State University, Sacramento, como o estudo de aspectos sociais, psicológicos e biológicos do envelhecimento. Incorpora pesquisas e prática nos campos da biologia, medicina, optometria, odontologia, trabalho social, terapia física e ocupacional, psicologia, psiquiatria, sociologia, economia, ciência política, arquitetura, geografia, planejamento urbano, farmácia, saúde pública, moradia e antropologia.
http://gero.usc.edu/gtraduate-programs; http://www.CSUS.edu/gero/
Na Alemanha a Gerontologia pesquisa os fenômenos ligados ao envelhecimento e ao idoso, problemas e recursos interdisciplinares que utilizam fontes ligadas a natureza, ciências humanas, sociais e culturais. A Gerontologia se ocupa com a descrição, conhecimento e modificação de aspectos corporais, psíquicos, sociais, históricos e culturais dos idosos, e consequentemente da análise de questões relevantes do ambiente social de idosos. Os atuais problemas de pessoas idosas e a Política Social cunham as questões de pesquisa da gerontologia. Ela segue a metodologia interdisciplinar, pelo fato de que o envelhecimento interage em um processo natural através de diferentes facetas.
Na Áustria a Gerontologia é parte de uma formação profissional que está incluída na profissão de Assistência Social, e na Alemanha na formação de Assistência Técnica a Idosos. Na Gerontologia contam em sentido amplo: Ajuda a Idosos (Suporte a pessoas idosas através de instituições); Sociologia de Idosos ou Gerontosociologia (investigação/estudo de aspectos sociológicos); Biogerontologia (estudo/investigação de causas biológicas); Demografia (desenvolvimento populacional); Geriatria (investigação, diagnose, terapia e reabilitação de doenças do envelhecimento; Gerontopsiquiatria (diagnose e terapia de doenças psíquicas em idosos – “Psiquiatria: ramo da medicina que se ocupa do diagnóstico, da terapia medicamentosa e da psicoterapia de pacientes que apresentam problemas mentais”); Gerontopsicologia (investigação de aspectos psicológicos –“Psicologia: ciência que trata dos estados e processos mentais, do comportamento do ser humano e de suas interações com o ambiente físico e social”); Gerontopsicoterapia (suporte psíquico de idosos – “Psicoterapia: técnica de tratamento de doenças e problemas psíquicos, que utiliza geralmente técnicas sugestivas, persuasivas, reeducativas, relaxantes, etc., que emprega técnicas catárticas – libertação, expulsão ou purgação do que é estranho à essência ou natureza do ser, e com isto o corrompe – , como a psicanálise e o psicodrama”); Seniorenmanagement (organização de atividades diárias de pessoas idosas); Gerontologia social (investigação de aspectos sociais) e Teologia prática (significado teológico do envelhecimento).
A Gerontologia reflete a mudança da imagem do envelhecimento na sociedade. Os grupos alvo são o público idoso em geral, mas particularmente o grupo sênior, que é formado por pessoas intelectualmente e fisicamente ativas, que se ocupam com o processo de envelhecimento e a política. Atuam como intermediários entre o setor público, universidades e sociedade que presta serviços a idosos. Para pesquisa gerontológica contam a investigação dos fundamentos biológicos do envelhecimento bem como a modificação do sistema social. Cientistas sociais de demografia agregam pesquisadores com conhecimentos próximos da Gerontologia.
O objetivo da Gerontologia é a combinação de diferentes campos de disciplinas como Geriatria, Gerontopsiquiatria, Assistência Social e Trabalho Social para constituição de uma disciplina científica específica. Deve ser verificado que é um apoio reforçado para questionamentos pragmáticos. Também disciplinas do ensino da economia, oferecem a busca de um ótimo de estruturação do sistema de aposentadorias. Deverá também haver um crescimento futuro da necessidade de conhecimentos científicos com base na orientação administrativa para a Gerontologia.
http://de.wikipedia.org http://www.gero.uni-heidelberg.de
No trabalho conjunto e concreto de diversas disciplinas na pesquisa no campo da Gerontologia, tem ocorrido, não raro, que uma disciplina condutora tenha assumido a responsabilidade do direcionamento, questionamento e interpretação metódica dos resultados de estudos e pesquisa. Na Alemanha, a pesquisa em Gerontologia tem sido liderada pela Psicologia, na Áustria pela Sociologia, e no contexto europeu é principalmente dominada pela Medicina, o que também ocorre nos EUA.
Este condicionamento vem sendo discutido nos últimos anos, pela necessidade de uma perspectiva multidisciplinar, multiprofissional, que possa aglutinar esforços das diferentes áreas do conhecimento. Que tenham em vista estudos de longo prazo, aplicáveis a adultos idosos que estarão vivendo por um período mais longo, e que precisam incorporar a psicologia, medicina, psiquiatria, ciências dos esportes, sociologia, bioquímica, odontologia, neuropsicologia, economia. Abordagem que busque a cooperação em uma pesquisa interdisciplinar em planos de pesquisa compartilhados. (Brandemburg, 2012).
Em seu conjunto é evidente a necessidade de solução de uma abordagem interdisciplinar, sobretudo na avaliação e interpretação de dados sob a luz de diversas perspectivas disciplinares. Se por um lado existe boa vontade para a cooperação, por outro lado é desejável intensificar a prática de uma estrutura que interaja em uma cooperação sustentável. Especialmente devem ser considerados (e se refletir) sobre barreiras que se formaram nas estruturas de pesquisa de grupos monodisciplinares, que relutam em cooperar em uma intervenção gerontológica interdisciplinar. Ocorrem também barreiras que decorrem do posicionamento de profissões e carreiras que podem ser afetadas em suas vantagens quando precisam partilhar seus conhecimentos em atividades interdisciplinares.
Multi, inter e transdisciplinaridade, somente poderá ser estabelecida, quando ocorrer uma franca cooperação entre os diferentes atores monodisciplinares comprometidos com a Gerontologia, que por sua natureza é uma ciência multidisciplinar.
O ponto de partida para tal cooperação, é a aceitação de que todos os participantes se atenham a algo novo, de forma que o trabalho coletivo possa ser encarado como um processo necessário para produzir um resultado exitoso. Propósitos e práticas individuais precisam ser questionadas e mantidas a uma distância da especificidade profissional, e com isto, a visão particular seja relativizada.
Condições francas de cooperação na Gerontologia podem ser concretizadas por uma reciprocidade antecipada. Todos os profissionais que contribuem com seu trabalho, adotam regras preestabelecidas para estudo e pesquisa em grupos interdisciplinares, compartilham e se beneficiam dos resultados obtidos pelo trabalho multiprofissional. Este é o melhor caminho para produzir resultados científicos e oferecer avanços necessários para uma intervenção gerontológica eficaz que atenda os desafios de nosso tempo. (Brandemburg, 2012).

4-Objetivos e estratégias da intervenção

Como primeiro objetivo da estratégia de intervenção na esfera individual, devem ser diferenciados os processos da Otimização, da Prevenção, da Reabilitação/Terapia, da Manutenção e Gestão da condição de recursos de saúde (corporal e cognitiva) que apresentam dificuldades de serem melhorados.
Intervenção pela Otimização diz respeito a estabelecer condições gerais adequadas ao desempenho individual, equilibrar ou compensar os pontos fracos e reforçar os pontos fortes das pessoas que estão na fase de envelhecimento.
A Prevenção, como estratégia de intervenção individual é entendida como a introdução de medidas de ação antecipada que devem ocorrer para a desconstrução, minimização ou eliminação de perdas pessoais de saúde e funcionais, corporais, mentais e psicossociais.
Intervenção como Reabilitação e Terapia baseia-se no tratamento de doenças e efeitos dos tratamentos direcionados para recuperação de habilidades funcionais que foram perdidas pelo indivíduo.

No sentido da Manutenção e Gestão da condição do indivíduo, que apresenta perdas irreversíveis, isto significa a aceitação e a busca de se conviver, tão bem como possível, com as restrições corporais e mentais impostas pelo envelhecimento.
Medidas de intervenção exitosas, precisam também não exercer pressão para que se obtenha necessariamente uma melhora, mas trabalhar com o indivíduo, para obter conscientização sobre a possibilidade do retardamento de efeitos de perdas que não mais possam ser eliminadas.
No seu plano fundamental, a pesquisa no campo da intervenção busca descortinar e avaliar os limites da plasticidade do envelhecimento em suas diferentes facetas, corporal, psíquica e social. Ela pode indicar quais estratégias mostram-se mais promissoras e eficientes para explorar a plasticidade do sistema de envelhecimento humano, a capacidade das reservas humanas, mesmo em pessoas em idades avançadas, possibilitando desenvolver uma imagem diferenciada do envelhecimento que caracterize não só os pontos fracos, mas também pontos fortes. Mesmo em pessoas com idades avançadas, atingidas por fortes perdas funcionais, as intervenções ainda são possíveis e podem ser eficientes. São conhecidos exemplos de pessoas com 90 anos de idade, que conseguiram pela reconstrução muscular melhorar significativamente sua qualidade de vida, mas também, por outro lado, é verificado que mesmo intervenções intensivas e treinamento no campo das habilidades cognitivas não tem alterado o avanço da dinâmica de perdas mentais.
No longo prazo, intervenções perseguem o objetivo de contribuir para suprir uma vida melhor durante a fase de envelhecimento. Elas mostram para os indivíduos e sociedade, que tudo ainda é possível em fases mais avançadas do envelhecimento. Podem com isto oferecer utopias, de que na fase de envelhecimento situam-se possibilidades ilimitadas de suporte, a um ainda pouco explorado sistema de desenvolvimento humano.

5-Fundamentos epidemiológicos

A epidemiologia ocupa-se com a frequência, evolução, riscos e as consequências das doenças. Com base no sentido prático da epidemiologia, são desenvolvidos métodos para controle, manejo da reabilitação e na comprovação de sua eficácia, riscos e a organização de sistemas de tratamento e cuidados.
Ao lado das ciências da natureza, biológicas e pesquisa clínica, a epidemiologia coloca-se como fundamento para a medicina e intervenção gerontológica. Doenças corporais e psíquicas, bem como a incidência de restrições nas atividades do dia a dia, acometem um grande número de pessoas idosas e tendem a avançar para uma situação crônica. Isto resulta na necessidade de intervenções através da internação em instituições médicas ligadas ao envelhecimento. Em idades avançadas as intervenções médicas e de cuidados a idosos assumem um elevado significado econômico para o sistema de saúde dos idosos (Weyerer 2012).

6-Fundamentos da Neurociência

A neurociência é o ramo da ciência, ou conjunto de conhecimentos que se refere ao sistema nervoso. Atualmente já estão bastante caracterizadas as alterações cerebrais por modificações de sua anatomia e de suas funções. O volume do cérebro reduz-se e em pessoas idosas e podem ser evidenciadas mudanças significativas de atividades cerebrais, quando comparadas com pessoas jovens. Estas mudanças podem também ser interpretadas como exemplos de processos de compensação e assimilação, particularmente quando são observados resultados de exercícios específicos ou a subativação do cérebro, bem como na sua reorganização funcional.
Modificações causadas pelo envelhecimento podem ser originadas por doenças, influências ambientais e comportamentais. As regiões cerebrais podem ser atingidas de modo diferenciado por doenças e as características dos indivíduos tem grande influência sobre seus efeitos. Com isto, existem também no envelhecimento inúmeras possibilidades para intervenções, as quais retardam o processo de envelhecimento e podem manter funções cognitivas por um tempo mais prolongado (Voelcker-Rehage, 2012).

7-Multimorbidade

A multimorbidade manifesta-se pela ocorrência simultânea de problemas de saúde e incidência simultânea de diversas doenças. É um fenômeno comum em pessoas idosas e ocorre com o avanço da idade, afetando habilidades funcionais da condução da vida diária e aspectos subjetivos como a qualidade de vida e a autonomia, e que são focos da intervenção gerontológica.
Debilidade e vulnerabilidade, desempenham um papel relevante na avaliação de situações de saúde e, sobretudo, em situações crônicas, a intervenção gerontológica tem por propósito, não mais unicamente a cura, mas uma melhora da saúde através de diversos objetivos de reabilitação da autonomia e condução de tarefas diárias. A complexidade da multimorbidade é um desafio para a Gerontologia Aplicada. Exige novos caminhos de intervenções, planos de tratamento e abordagens individualizadas, os quais tendem a prometer maiores chances de sucesso e precisam ser colocadas em prática e validadas por sua efetividade (Holzhausen & Scheidt-Nave, 2012).

8-Fontes de consulta

BRANDENBURG,H. Multi-und interdisziplinäre Perspectiven.In Wahl,H,W., Römer,C,T. &Ziegelmann,J,P. Angewandte Gerontologie, Stuttgart, Kohlhammer, 2012.

CRANACH,L. “A Fonte da Juventude”. Pintura e realizada por Lucas Cranach, der Ältere. pintor germânico em 1546. In: http://pt.Wikipedia.org/wiki/Lucas_Cranach_o_Velho

HOLZHAUSEN,M. & SCHEIDT-NAVE,C. Multimorbität als Interventionsherausforderung In. Wahl,H,W., Römder, C,T. & Ziegelmann, J,P. Angewandte Gerontologie, Stutttgart, Kohlhammer, 2012.

NERI,A,L. Palavras chave em gerontologia, Campinas, 3ª. Ed. Alínea, 2008.

VOELCKER-REHAGE,C. Neurowissenschaftliche Grundlagen. In Wahl,H,W, Römer,C,T, & Ziegelmann,J,P. Angewandte Gerontologie, Stuttgart, Kohlhammer, 2012.

WAHL,H,W. Stellenwert und Ziele von Interventionsforschung und – práxis. In: Wahl, H,W, Römer,C,T. & Ziegelmann,J,P. Angewandte Gerontologie, Stuttgart, Kohlhammer, 2012.

WAHL,H,W., RÖMER,CT. & ZIEGELMANN,JP. Gerontologie – auch eine angewandte Wissenschaft. In: Wahl,H,W., Römer,C,T. & Ziegelman J,P. Angewandte Gerontologie Stuttgart, Kohlhammer, 2012.

WEYERER,S. Epidemiologische Grundlagen.In: Wahl,H,W., Römer, C,T. & Ziegelmann,J,P. Angewandte Gerontologie, Stuttgart, Kohlhammer, 2012.


Sobre o autor:

Nelson Frederico Seiffert

Doutor em Engenharia de Produção, com a tese de Doutorado sobre Gestão Ambiental. Trabalhou em Pesquisa na EMBRAPA durante 25 anos.

Desenvolve atualmente estudos na área de Gerontologia Ambiental e Aplicada. Conduziu Seminários sobre Gerontologia Ambiental e Aplicada no NETI/UFSC em 2015, 2016 e é Diretor Técnico Científico da ANG/SC – GESTÃO 2017/2019.

E-mail: [email protected]

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